domingo, 24 de abril de 2011

Insight

Para onde vai o cinema de Sofia Coppola?



Após quatro filmes, muita festa, um Oscar de roteiro, uma indicação ao Oscar de direção, um leão de ouro e de ter concorrido a Palma de ouro, a indagação se impõe: para onde vai o cinema de Sofia Coppola? A pergunta se justifica pelo culto à cineasta que divorciou-se do status de “filha de Coppola” para criar uma marca pessoal da qual, nesse momento, parece refém.
Muitos defendem que Sofia realiza o mesmo filme, sem acrescentar nenhuma espécie de juízo ou percepção, variando apenas o espaço-tempo. A afirmação carrega uma certa dose de intolerância, mas não é desprovida de sentido. O cinema de Sofia Coppola guarda algumas reminiscências e se Sofia avançou na técnica de diretora – algo que pode ser sentido em Um lugar qualquer – não dá para dizer, em uma separação pontual, que avançou como cineasta. Sua obsessão temática a faz apurar o escopo sobre solidão, incompreensão e outros ardis que tanto lhe interessam, mas dá pistas de que Sofia seja uma cineasta enclausurada em si. Incapaz de pensar além do espelho. De guiar-se pelo imaginativo. De curiosidade arguta e sensitiva.

 Sofia em momento "I´m the fucking deal": moda e cultura indie se sintonizam com seu cinema


Kirsten Dunst desnuda-se como a Maria Antonieta de Sofia Coppola: diferente de todas as outras leituras...


Encontros e desencontros parece tão vivo em Um lugar qualquer não por mero acaso. Toda a estrutura do filme estrelado por Bill Murray está presente em seu mais recente trabalho. A diretora parecia disposta a refinar (do ponto de vista narrativo) uma história que já havia contado. As características presentes em seus quatro filmes sugerem que essa será uma constante em seu cinema. A recepção a seu último filme sugere, também, que a crítica lhe será cada vez mais reticente.
As vaias na exibição oficial em Cannes de Maria Antonieta (em 2006) sintetizavam um descontentamento da crítica em perceber que Sofia havia ajustado a célebre personagem francesa a desajustes modernos e que se correlacionavam com as demandas emocionais verificadas nos filmes anteriores. A subversão proposta por Sofia não havia sido bem recebida. O viés feminista inerente ao cinema da filha de Coppola (muito forte nos três primeiros filmes) não passava de um instrumento. Não era em si significativo. Essa percepção também esvaziou o conceito do cinema de Sofia. Não que toda mulher que dirija deva fazer um cinema feminista, mas as personagens de Sofia (e Maria Antonieta mais do que todas) tragavam esse pathos em essência. Pelo menos teoricamente. O feminismo no cinema de Sofia Coppola se resolvia como um subterfúgio narrativo. Não que os filmes resultassem menos sensíveis, aprofundados e dialéticos em razão disso. Mas uma vez notada essa idiossincrasia, a magia do que Sofia tinha a dizer, menos se parecia com magia.

Sofia nos sets de Um lugar qualquer: um cinema preso em divagações do próprio mundo



Talvez por isso, em Um lugar qualquer haja tanto esmero técnico. Sofia quer certificar-se de que o público vivencie o que seu protagonista experimenta (o tédio). Novamente ensejada em falar de solidão, a diretora consegue evoluir dentro desse objetivo; mas faz sua audiência crer que ir ao cinema ver Sofia Coppola será sempre uma análise, nem sempre tão satisfatória, da inadequação solitária (redundante assim mesmo). De preferência, envolta em luxo.

5 comentários:

  1. É, Reinaldo, não sei pra onde vai, nem se ela vai continuar se repetindo, ou se referenciando. Mas, tenho boas expectativas em relação a seu trabalho. Já é uma diretora com nome na história.

    bjs

    ResponderExcluir
  2. Muito bom texto. Acho que no momento a própria Sofia pode estar se indagando quanto ao seu papel como diretora e se de fato vem se repetindo.
    Desses todos, o que mais goto ainda é Encontros e Desencontros. Assisti ao Somewhere no London Film Festival do ano passado e a recepção do público foi muito positiva.
    Continue o bom trabalho.

    ResponderExcluir
  3. Sofia Coppola, para mim, é uma das cineastas mais superestimadas por crítica e cinéfilos. Não acho nada demais no cinema dela.

    ResponderExcluir
  4. Faço as palavras da Kamila as minhas. E isso se confirmou no filme recente dela, pelo menos para mim. Mas gosto muito da direção dela naquele comercial da Dior Cherie, não com a Natalie Portman, mas o primeiro ao som de "Moi Je Joue" da Brigitte Bardot.

    Beijos! ;)

    ResponderExcluir
  5. Amanda: Acho que a história será dura com ela se ela não se desafiar. Mas concordo que seu cinema, em algum nível, é cativante. Bjs

    Bruno Peixoto: Obrigado pelos elogios e pelo pontual comentário Bruno. Conto com sua audiência aqui em Claquete.

    Kamila: Eu já sei dessa posição. Não sou tão radical, mas concordo que ela seja superestimada. Prova disso, é que realizou um filme tecnicamente superior mas que nunca encontrará o status quo de Encontros e desencontros.
    Bjs

    Mayara: E faço minhas as palavras que já eram minhas para a Kamila. rsrs. Bjs

    ResponderExcluir