sábado, 2 de outubro de 2010

Cantinho do DVD

Alan Ball, mais conhecido atualmente por ser o criador do hit True blood, é um contumaz crítico da sociedade americana. Depois da consagração com o roteiro de Beleza americana e de uma bem sucedida parceria com a HBO (criou e produziu duas séries para o canal), Ball estreou como diretor em um drama chancelado pelo Alan Ball roteirista. Tabu é um pequeno filme, cujo valor de seu texto resplandece. Ball não é um grande diretor, mas isso não afeta o impacto que esse debute tem no público. Vale a pena conhecer este pequeno filme que aborda sexo e preconceito com a parcimônia de evitar o moralismo.

 
Ficha técnica:
Título original: Towelhead
Direção: Alan Ball
Roteiro: Alan Ball
Elenco: Summer Bishil, Aaron Eckhart, Maria Bello, Toni Collete, Matt Letscher e Peter Macdissi
Gênero: drama
Duração: 100 min
Estúdio: Califórnia
Status: disponível para locação em DVD



Crítica

Alan Ball é um cara que enxerga a dicotomia de ser americano. Ele escreveu o libelo de humor negro que relativizava o american way of life (Beleza americana) e ganhou um Oscar por isso. Para a HBO produziu duas séries que punham as idiossincrasias americanas no microscópio. Agora ele escreve e dirige (seu debute como diretor de cinema) um drama em que novamente mexe com tabus sociais. Tabu (Towelhead, EUA 2007) é um filme onde tanto a sexualidade quanto os preconceitos estão em ebulição. Também estão intrinsecamente relacionados.
Jazira (a talentosa Summer Bishil) é uma garota de 13 anos de ascendência libanesa que está descobrindo sua sexualidade. Seus pais, divorciados, estão pouco propensos a assisti-la durante essa fase. A mãe (Maria Bello), depressiva, se afunda em relacionamentos fugazes com homens que não necessariamente aprecia; o pai (Peter Macdissi), um conservador radical entende que sexualidade não deve ser discutida nessa fase. Jazira, então, submete-se ao interesse que percebe de seu vizinho (Aaron Eckhart), um reservista que espera para ser convocado para a guerra no Iraque (a primeira) a qualquer momento. A curiosidade da menina é de um fluxo assustador (o comentário de Ball aqui é sobre a incorreção dos métodos repressivos de educação). Paralelamente a isso, ela se envolve com um colega de classe, amizade que contraria o pai pelo fato do rapaz ser negro.
Em Tabu, Ball quer discutir como insinuações – por mais inocentes que sejam – podem eclodir em fatos irreversíveis. A hipocrisia também é um alvo. Todos os personagens de alguma maneira são hipócritas. Os únicos que escapam desse jugo (talvez porque não tenhamos tido a chance de conhecê-los melhor) são Milina (Toni Collete) e Gil (Matt Letscher) um casal simpático que acolhe Jazira em momentos de consternação.
Alan Ball evita qualquer ranço moralista e deixa que seus personagens falem por si mesmos. Tabu é um filme incomodo porque fala, em camadas de alto relevo, de coisas que não gostamos de repercutir em reuniões sociais. Como a visão retrógrada que guardamos quanto a educação de nossos filhos ou o preconceito que lançamos mão para definir um vizinho. Contudo, definitivamente, o que há de mais incomodo em Tabu é constatar que aos 13 anos uma menina pode, sim, ser um vulcão sexual em erupção. Mesmo que este vulcão tenha sido despertado de forma precoce e inadvertidamente. Alan Ball não veio nos prover respostas, mas nos fazer o tipo de perguntas que não queremos ouvir.

8 comentários:

  1. Gosto de Alan Ball desde "Beleza Americana" e estou me perguntando agora o porquê que ainda não assisti este filme. Vou tentar vê-lo em breve, ótimo texto Reinaldo.

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  2. Não sou admiradora de "True Blood", mas "Beleza Americana" tem um belo trabalho do Ball. Se "Tabu" pegar o clima do filme de Sam Mendes, já está de bom tamanho.

    Beijos! ;)

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  3. Alan: Valeu Alan. Assista, vc vai gostar! abs

    Mayara: Beleza americana é muito superior, mas Tabu não deixa de ser um filme interessante. Vale a conferida! Bjs

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  4. Interessante, até por ser do Allan já era esperado um acerto. Vou procurar.

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  5. Espero que goste Luis. É, de fato, muito bom. Abs

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  6. Gostei mto do filme. Vários temas são abordados como: o despertar da sexualidade, pedofilia, pornografia e o acesso a ela pelos adolescentes, racismo e discriminação, falta de diálogo entre pais e filhos refletindo em inadequada educação. Bons atores, particularmente gostei do Aaron Eckhart, mas principalmente da Toni Collete e da protagonista que faz a Jazira. Consegue contar uma história com temas tão difíceis, porém de uma forma fluida (não conseguia tirar os olhos da tela) e muito interessante. Filme muito crítico ao levantar todos esses temas.

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  7. Contém alguns spoilers.

    Lixo de filme. A garota age como uma piranha (transar com 2 homens numa mesma noite não é uma coisa que a mais vagabunda que conhecemos costuma fazer) e todos a tratam como uma coitadinha. Tirando o exagero da punição do seu pai quando descobre que a filha tá agindo como uma messalina (até compreensível diante de tamanha decepção), é o único que age com alguma sensatez, tentando salvar a dignidade da filha, mas de nada adianta pois a vagabundinha quer agir como tal, mas não quer que ninguém sabe.

    Ah... Faça-me o favor, né?

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  8. Ótima análise sobre o filme. Acabei de assisti-lo e fiquei maravilhada como o filme aborda com clareza a dificuldade de se falar de sexo e de assuntos relevantes na adolescência. Ressalto a importância que destacou sobre como uma menina de treze anos pode ser um vulcão sexual em erupção. Perfeito!

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