sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Panorama - Caché


Até lançar A fita branca no ano passado, este era o melhor filme de Michael Haneke. Para alguns ainda é o mais dialético, profundo e complexo trabalho do diretor alemão. Em Caché (França 2005) o diretor questiona o poder da imagem. Mas não só. Antes disso está em cheque a subjetividade. O protagonista de Caché, vivido com extrema eficiência por Daniel Auteuil, esconde em um passado ingrato. É na manipulação das imagens (e também das memórias) do personagem e de outras figuras recorrentes de seu passado que Haneke constrói a tensão de seu filme e o comentário que objetiva fazer sobre como percebemos o mundo em paralelo com nossos medos e anseios. O próprio filme, e sua construção, é um paradigma narrativo nesse sentido. Caché é uma obra vistosa e de profundo valor cinematográfico justamente por essa riqueza que mais lembra uma tese sociológica do que um trabalho artístico propriamente dito. O filme valeu a Haneke muitos prêmios (inclusive uma segunda Palma de ouro por direção no festival de Cannes) justamente por manter o cinema como fluxo de ideias e expoente de uma inquietação intelectual que parecia distante da arte mais popular de nossos tempos.

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