Paris sob chuva!
Meia noite em Paris (Midnight in Paris, FRA/ING 2011) é daqueles filmes que tocam o íntimo do espectador. E o faz por ser agradável, inteligente e, mais do que qualquer coisa, pertinente. Com a história de Gil (Owen Wilson), um roteirista de Hollywood enamorado de Paris e do ideário que cerca a cidade, Allen atenta para a importância da fantasia e, de maneira concomitante, adverte que é preciso estar com os dois pés no presente. Saber saborear a vida no que ela nos provê. É preciso apontar que o grande trunfo de Meia noite em Paris, esse filme tão apaixonante e climático, é abraçar essas duas causas sem fazer com que uma anule a outra.
Meia noite em Paris vai se construindo sobre cenas memoráveis (como quando Gil corrige o pedante Paul sobre a inspiração de Pablo Picasso para um quadro) e sobre fragmentos de nostalgia de seu diretor. Para embarcar nessa experiência proposta por Allen é preciso estar disposto a se deixar maravilhar pela digressão que se avoluma quando os sinos tocam meia noite em Paris.
Em seu 48º filme, Allen se apresenta mais sentimental, menos irônico, mas não menos cínico. A esnobe noiva de Gil (vivida com gosto por Rachel McAdams) e sua família, e mesmo o intragável Paul de Michael Sheen, não deixam de ser representações de uma sociedade divorciada do romantismo que extravasa em Gil – o sujeito que se regozija com a possibilidade de chuva em Paris.
Meia noite em Paris quer ser esse passeio em Paris sob chuva. Melhor publicidade para a cidade e terapia para o nostálgico não há. Resta saber se o leitor se importa de se molhar?