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sábado, 25 de junho de 2011

Crítica - Meia noite em Paris

Paris sob chuva!


Meia noite em Paris (Midnight in Paris, FRA/ING 2011) é daqueles filmes que tocam o íntimo do espectador. E o faz por ser agradável, inteligente e, mais do que qualquer coisa, pertinente. Com a história de Gil (Owen Wilson), um roteirista de Hollywood enamorado de Paris e do ideário que cerca a cidade, Allen atenta para a importância da fantasia e, de maneira concomitante, adverte que é preciso estar com os dois pés no presente. Saber saborear a vida no que ela nos provê. É preciso apontar que o grande trunfo de Meia noite em Paris, esse filme tão apaixonante e climático, é abraçar essas duas causas sem fazer com que uma anule a outra.
Toda a mise-en-scène remete a um típico filme de Woody Allen e aqui ele dialoga com sua própria obra. A referência mais óbvia é A rosa púrpura do Cairo, ótimo filme de 1985 em que os personagens de um filme ganhavam vida e interagiam com Mia Farrow, mas outras produções surgem na memória do cinéfilo. A declaração de amor que Gil faz à Paris com Adriana (Marion Cottilard) como confidente parece tirada de Manhattan (1979). Woody Allen foi a Paris para se inspirar. Se Carla Bruni surge discreta como musa, Allen se permite reimaginar angústias e picardias de alguns dos seus musos inspiradores (a sugestão que Gil dá a Luis Buñuel para um filme é daqueles momentos que fazem o cinema se tornar algo maior).
Meia noite em Paris vai se construindo sobre cenas memoráveis (como quando Gil corrige o pedante Paul sobre a inspiração de Pablo Picasso para um quadro) e sobre fragmentos de nostalgia de seu diretor. Para embarcar nessa experiência proposta por Allen é preciso estar disposto a se deixar maravilhar pela digressão que se avoluma quando os sinos tocam meia noite em Paris.
Em seu 48º filme, Allen se apresenta mais sentimental, menos irônico, mas não menos cínico. A esnobe noiva de Gil (vivida com gosto por Rachel McAdams) e sua família, e mesmo o intragável Paul de Michael Sheen, não deixam de ser representações de uma sociedade divorciada do romantismo que extravasa em Gil – o sujeito que se regozija com a possibilidade de chuva em Paris.
Meia noite em Paris quer ser esse passeio em Paris sob chuva. Melhor publicidade para a cidade e terapia para o nostálgico não há. Resta saber se o leitor se importa de se molhar?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Filme em destaque: Meia noite em Paris

Em busca de uma nova obra-prima

Na foto, Woody Allen instrui Carla Bruni, seu primeiro casting para o filme. Com Meia noite em Paris, o diretor americano oxigena sua obra com poesia e nostalgia e Claquete ajuda a entender o por quê 


“Trata-se de um Woody Allen mais sentimental”, avaliou o New York Times em sua resenha para Meia noite em Paris, 48º filme do cineasta americano e o 6º rodado na Europa. O filme, que abriu o festival de Cannes, é – no rótulo mais óbvio – uma declaração de amor de Allen à cidade luz dos apaixonados, Paris. “Só tinha o título do filme. Não sabia o que fazer com ele. Estava apavorado”, admitiu o diretor em entrevista coletiva no último festival de Cannes.
Mas Meia noite em Paris também pode ser descrito como uma ode a nostalgia de um diretor a vontade com seus vícios e suas manias. “A Paris do filme é a Paris que vi nos filmes”, pontuou em entrevista ao Hollywood Reporter. O filme também é uma homenagem a arte. Com menções a Pablo Picasso, Luis Buñuel, Salvador Dalí, F.Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, Allen clama pela cumplicidade da platéia e, mais que isso, por sofisticação e cultura.
“Nunca me considerei um artista”, exclamou para espanto de todos na abertura do festival francês. Na ocasião, o diretor disse que frequentemente somos pegos na armadilha de fantasiar de que viver em outra época seria melhor. Segundo Allen, esse romantismo é inerente ao ser humano. “Todos querem escapar da vida que vivem agora. Mas, se você pensa em tempos passados, você pensa nas coisas maravilhosas. Só que não tinha novocaína, não tinha ar-condicionado, nada das coisas que tornam a vida de hoje tolerável. Parece sedutor, mas é uma armadilha”, afirmou para gargalhadas do público.

Owen Wilson é o alter ego da vez de Woody Allen e, para variar, está em crise... mas está em Paris

Meia noite em Paris tenta capturar essa dicotomia a qual se refere o diretor. É um filme que mergulha na nostalgia para tirar o positivo do presente. Para isso, Woody Allen contou com um elenco dos mais ecléticos e chamativos. Owen Wilson faz Gil, o protagonista. Um roteirista de Hollywood com dificuldades para escrever um romance. Ele viaja com sua namorada (vivida por Rachel McAdams) e a família dela para Paris, esperançoso de que a inspiração lhe encontre. E ela encontra. Não na figura do ex engomadinho de sua namorada (vivido por Michael Sheen), mas em encontros luminosos com esses grandes artistas do passado. Obviamente, também há um luminoso encontro com o amor. Não é com a namorada que pouco parece compreendê-lo, tão pouco com a primeira dama francesa Carla Bruni que, presença ilustre, faz uma ponta como uma guia de museu. O amor resplandece na figura de Adriana (Marion Cottilard).
Allen, no final das contas, parece ter capturado a poesia do título. Em sua fase européia, o cineasta alterna amargura (Você vai conhecer o homem dos seus sonhos), pessimismo (O sonho de Cassandra), paixão (Vick Cristina Barcelona), humor (Scoop – o grande furo) e poesia (Meia noite em Paris), com a desenvoltura de quem busca uma nova obra-prima (a última foi Match point – que marcou o início da temporada na Europa). A cada filme ele parece mais perto.