segunda-feira, 10 de junho de 2013

Crítica - Dois mais dois

Tirando o peso da polêmica

O maior sucesso dos cinemas argentinos em 2012 é finalmente descoberto, em 2013, pelo público brasileiro. E a experiência é muito boa. Não seria de todo estranho supor que em alguns anos, o cinema nacional apresente uma refilmagem do filme. A exemplo do que fez com as bem sucedidas produções Entre lençóis e Sexo com amor?, refilmagens de produções chilenas. Em comum, o fato de que todos os filmes abordam o sexo e suas reminiscências em uma roupagem leve e com potencial cômico. Dois mais dois (Dos más dos, ARG 2012), no entanto, distingue-se dos demais – chilenos ou contrapartes brasileiras – tanto pela qualidade do texto, como pela disposição em ir além da fachada no tema do qual se alimenta.
O filme de Diego Kaplan começa com os sócios de uma renomada clínica de cardiologia, Diego (Adrian Suar, sensacional) e Richard (Juan Minujin) comemorando junto a suas respectivas mulheres, Emilia (Julieta Diaz) e Betina (Carla Peterson) um prêmio concedido a eles. Conversa vai, conversa vem e Diego e Emilia, casados a mais tempo, acabam descobrindo que o casal de amigos pratica o swing. Aos olhos de Emilia, a química entre eles nunca esteve melhor e o desejo mais aceso. Segundo Betina, essa sintonia se deve à liberdade com que abordam o sexo dentro da relação. A partir daí, o filme diverte a audiência com a tentativa de Emilia em convencer Diego, o notório conservador, a descobrir os prazeres do swing, sob pena de travar de vez o casamento deles.
O que difere Dois mais dois de um filme como o francês Para poucos, já resenhado em Claquete, não é apenas o pudor com as cenas de nudez ou a opção por um registro menos dramático - sim porque há drama enxertado na trama - mas a disposição de investigar o que leva as pessoas a procurarem essas variações liberais em uma união já estabelecida. Betina, por exemplo, se descobre uma mulher submissa e insegura, quando cria ser o avesso disso. E revê todas as decisões que tomou ao lado de Richard sob diferente perspectiva. Richard, por outro lado, é o macho alfa que acredita que não pode ser domado e uma relação extraconjugal ou o sexo consentido com outras mulheres sob o olhar de sua mulher são paralelismos que não ostentam grande distinção em sua lógica. Emilia busca sedução, aventura, revigor sexual e encontra a paixão onde não procurava. Diego tem medo de que os outros acreditem que ele não é quem diz ser. O amor pela mulher, então, se apresenta como subterfúgio para sua saga de negação e aceitação. Não à toa, é quem mais se empolga com o novo status de sua relação após iniciar-se no swing.
Isso tudo são postulações que se inserem muito naturalmente nessa ótima comédia argentina. Não há moralismo ou psicologização nos personagens ou na realização. Tudo é conduzido com muito esmero no intuito de tirar o peso da polêmica, mas não os conflitos que ela enseja. Nesse sentido, é um filme muito feliz e que dá ao sexo seu devido valor. Isto é, elemento fundamental para a construção de uma vida a dois mais satisfatória.

2 comentários:

  1. É uma ótima comédia mesmo, gostei da forma como você define cada personagem. Uma ótima surpresa desse ano.

    bjs

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