domingo, 23 de junho de 2013

Insight - A moda do crowdfunding pega?

Em meio às discussões a respeito das novas plataformas de distribuição de cinema, uma nova modalidade de produção ganha corpo e reverbera com propriedade no cinema americano. Trata-se do crowdfunding. Essa modalidade de financiamento, que consiste em capitalizar doações majoritariamente anônimas, não é efetivamente uma novidade. Até a contratação do jogador Wesley pelo Palmeiras em meados de 2011 foi tentada dessa maneira, mas é uma novidade no cinema independente americano. Um site americano, o Kickstarter, está gozando de muito prestígio atualmente e está no centro gravitacional dessa onda do crowdfunding no cinema. Primeiro foi a viabilização do filme da extinta série de TV "Veronica Mars". A Warner Brothers disse que produziria o filme se a produção levantasse U$ 2 milhões no sistema de Crowdfunding. Se a princípio a ideia parecia um balde de água fria para os produtores, transformou-se em uma demonstração eloquente do desejo dos fãs em ver o filme ganhar vida. O case de sucesso serviu para a elaboração de diversos parâmetros e propósitos para o crowdfunding no cinema. Tem gente que já fala em uma revolução. Scott Steinbeirg, autor de "The crowdfunding bible", é mais moderado em seu diagnóstico. “Os grandes sucessos tendem a ser propriedades conhecidas ou terem marcas famosas ligadas a eles”, disse à Variety, que recentemente veiculou reportagem sobre o assunto. “Não é o campo dos sonhos. Se você construiu, eles não virão. Você terá que fazê-los vir ou levar até eles”.
Zach Braff na genial capa da 1ª quinzena
de junho da Variety:
vá se financiar, sem trocadilho
A reportagem da Variety, no entanto, demonstra que o Kickstarter está de vento em polpa. Nos últimos quatro anos, projetos cinematográficos angariaram impressionantes U$ 119 milhões no site e 10% dos filmes que debutaram em Sundance em 2013 são frutos dos financiamentos patronados pelo Kickstarter.
Recentemente, o ator, roteirista e diretor Zach Braff recorreu ao site para obter financiamento para seu novo filme  Wish I was here. “Nós procuramos a tradicional rota do cinema indie e ela se provou restritiva”, disse a produtora associada a Braff, Stacey Sher. Duras críticas a Braff, mesmo com ele depositando U$ 5 milhões de seu bolso no orçamento do filme, foram erguidas por ser ele uma celebridade usando um recurso desenhado para o cinema independente.
Esse atrito também pôde se verificar na falência do projeto de David Fincher em angariar U$ 400 mil para rodar a animação The Goon, em que o diretor de A rede Social seria produtor executivo.
Mais recentemente, James Franco embarcou na onda do Crowdfunding. Ele anunciou que pretende arrecadar U$ 500 mil em um site de crowdfunding para rodar uma trilogia baseada em três contos de seu livro “Palo alto”, lançado em 2010. Franco já teria até conversado com os potenciais diretores para adaptação desses contos inspirados em sua juventude. Ele também anunciou os mimos que pretende conceder aos doadores mais entusiasmados. Quem doar U$ 450 recebe uma mensagem de voz do ator. Quem doar U$ 7 mil receberá uma de suas pinturas e o maior doador, um jantar com Franco.

 James Franco faz sua melhor pose "give some love" e promete mimos para quem ajudá-lo a produzir sua trilogia

Nem mesmo o prestigiado David Fincher conseguiu verbas no crowdfunding...

É cedo para dizer até onde vai o crowdfunding como recurso para financiamento e produção de cinema.
Certo é que, combinado com as múltiplas e inovadoras plataformas de distribuição, favorece uma democratização jamais vista. Favorece, também, uma involução do cinema. O amadorismo e oportunismo de certos projetos pode comprometer a proposta. Como estratégia publicitária, já está provado, o crowdfunding é uma faca de dois gumes. Pode cortar tanto para um lado como para o outro. Como mecanismo de expansão e recolocação do cinema independente pode ocupar uma posição importante. Sua relevância no contexto do cinema dependerá da soma e equivalência desses fatores.

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