domingo, 16 de junho de 2013

Insight - A implosão do cinema e o que isso significa


Uma declaração de Steven Spielberg na última quarta-feira (12) durante um painel do qual participou em uma universidade californiana, assombrou o mundo do entretenimento e colocou indústria e imprensa cultural em alerta. Spielberg, no que foi acompanhado por seu amigo e também palestrante naquele dia, George Lucas, disse que o cinema como conhecemos hoje está à beira de uma implosão.
Mas o que quis dizer Spielberg? O maior Midas de Hollywood e o grande responsável, ao lado de Lucas, pelo surgimento do conceito de filme blockbuster, ou arrasa-quarteirão em nossa tradução mais eficiente, engrossa as fileiras daqueles que enxergam nas novas plataformas de lançamento (em especial na internet) uma ameaça real à forma como consumimos cinema na atualidade. Mas Spielberg não credita à profusão de alternativas (TV a cabo, streaming e lançamentos on demand) o ocaso do cinema, mas sim à prática cada vez mais turva dos grandes estúdios de se ensimesmarem nos grandes lançamentos com orçamentos de U$ 200 milhões e marketing que beiram outros U$ 200 milhões. Para Spielberg, trata-se de uma lógica insana que irá conduzir a uma indesviável saturação. O diretor acredita que estamos nos aproximando do fim dessa era das megaproduções. Essa percepção vir de Spielberg e Lucas é demasiado simbólica.
Lucas e Spielberg percebem a excelente fase pela qual atravessa a TV americana como um sintoma preliminar dessa implosão. Para eles, tudo de mais criativo e original não será lançado no cinema e sim nessas plataformas alternativas. Seja na internet, na TV à cabo ou mesmo por conteúdo on demand. Os cinemas, nessa conjuntura, se aproximariam da Broadway em matéria de cardápio. Se sofisticariam, ficariam mais restritos (tanto em termos de acesso como de quantidade) e exibiriam durante meses poucos filmes altamente antecipados.
Se essa visão de Spielberg, compartilhada por Lucas, abre uma janela de muitas e potencialmente positivas possibilidades, encerra uma visão romântica do cinema como principal polo da sétima arte. Não estaríamos ferindo de morte um conceito de arte? Banalizando um ritual centenário e revigorante como o ato de ir ao cinema? São inquietações que devem se avolumar nos próximos anos.
Como prova desse status, Spielberg pontuou que seu mais recente filme, o oscarizado e festejado em círculos da crítica Lincoln, por pouco não foi lançado na HBO. A fala revela outra questão oculta nesse presságio. O Oscar se transformaria a tal ponto que incorreria no risco de tornar-se obsoleto.
No fundo, Spielberg e Lucas atentam para a mesura do sucesso. Estúdios de cinema se perderam de algumas das diretrizes que norteiam essa medição, enquanto que canais de tv e distribuidoras de conteúdo como a Netflix, que rapidamente se consolida, também, como produtora de conteúdo, não.
Como tudo na vida, há os aspectos positivos e negativos. Mas uma transformação dessa magnitude, principalmente para os mais românticos, preponderaria na angústia de ver partir um tempo de mágica e fascinação que não mais voltaria.

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