quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Retrospectiva 2011: Os dez melhores filmes do ano

Foi um ano inferior às expectativas. O ano não teve grandes filmes. O grande filme de 2011 é, na verdade, de 2010. No entanto, na média, foi um ano superior às expectativas. Foram muitos os filmes ótimos. De maneira tal, que o nível dos filmes que integram esse TOP 10 não é muito distinto dos que ficaram no quase – como os lembrados na quarta parte da seção CLAQUETE DESTACA (dois posts abaixo).
É possível dizer que foi um ano minimalista. Há uma comédia indie; uma comédia de estúdio com alma indie; uma fita de horror psicológico do mestre do melodrama; um filme sobre a gênese e o êxodo de uma relação amorosa; uma fita política travestida de filme de super herói; um filme político de fato; uma fita que homenageia uma forma de entretenimento esquecida; um filme que não nos deixa esquecer o passado recente; um filme sobre a busca obsessiva pela perfeição e outro sobre a força da família em circunstâncias adversas.
Encerrando a Retrospectiva 2011 em Claquete, os dez melhores filmes do ano:


10 – Namorados para sempre, de Derek Cianfrance (Blue valentine, EUA 2010)

Um filme pungente que captura momentos dicotômicos de uma relação amorosa. Namorados para sempre é um retrato borrado dos sonhos uma vez compartilhados. Abusando do naturalismo e confiando em seu par de atores, Ciafrance realiza um triste soneto sobre o escoamento de um sentimento sufocado por uma vida conjugal atordoante e expõe a fragilidade das promessas apaixonadas.


9- Ganhar ou ganhar, de Thomas McCarthy (Win Win, EUA 2011)

Crítica Claquete (será publicada em breve)
Se existe um underdog nesse Top 10, é Ganhar ou ganhar. A fita independente, sucesso de crítica no festival de Sundance, nem sequer foi lançada nos cinemas brasileiros. Mas a história de superação tão cara a esse segmento do cinema americano chegou ao DVD. A fita encanta quem se predispuser a assistir a jornada de um advogado com ataques de pânico e um garoto introspectivo fera em luta Greco-romana que tornam a vida um do outro um pouco mais palatável.
O filme de Thomas McCarthy, mesmo diretor dos ótimos O visitante (2008) e O agente da estação (2003), é um conto simples, mas cheio de sentimento e transbordante em inteligência.


8 – O palhaço, de Selton Mello (Brasil 2011)

Emoção e riso dão rima nesse trabalho sensível de Selton Mello. O palhaço é um filme em busca da própria vocação cinematográfica. É um pouco terapia para seu autor; é cinema homenagem a uma forma de entretenimento esquecida; é reflexão sobre os desencontros de certas aspirações e é uma demonstração algo felliniana de que reside na arte, à expiação das angústias humanas.


7- Margin call – o dia antes do fim, de J.C. Chandor (Margin call, EUA 2011)

2011 viu nascer um novo subgênero, o do thriller financeiro. Mas os méritos dessa fantástica estréia no cinema de J.C. Chandor não se resumem a isso. São desse filme os diálogos mais ácidos e afiados do ano. Ágil, sombrio, engraçado, dinâmico e profundamente sutil nas abordagens que faz primeiro das humanidades e depois do sistema financeiro viciante e viciado de nossos tempos.


6 – A pele que habito, de Pedro Almodóvar (El piel que habito, ESP 2011)

Um cineasta de primeira classe precisa ser louvado quando sai de sua zona de conforto. Agora, quando esse cineasta sai de sua zona de conforto e tece uma obra prima ainda mais inquietante e prolixa em suas estranhezas de fundo psicanalíticas, é preciso gritar ‘bravo!’. Almodóvar se reinventou em 2011 e estabeleceu um novo patamar em sua filmografia com A pele que habito. Não há outro que tenha fundido melodrama e terror de maneira tão orgânica e poética em 2011 ou qualquer outro ano.


5 – X-men: primeira classe, de Matthew Vaughn (X-men: first class, EUA 2011)

Nenhum blockbuster foi tão altivo em suas proposições e tão inteligente no desenvolvimento das ideias que as gravitam como esse filme que revigora a saga mutante no cinema. Um filme de notório lastro político que apresenta  personagens com dilemas morais e pessoais que influenciam na forma como percebem o mundo. A saga mutante nunca teve suas potencialidades exploradas em nível tão satisfatório como na fita de Matthew Vaughn que ainda brinda seu público com um entretenimento de primeiro nível.


4- Amor a toda prova, de John Requa e Glenn Fiquarra (Crazy stupid Love, EUA 2011)

Relações amorosas são tentativa e erro? Pode o amor superar tudo? Como lidar com frustrações pessoais em um contexto de um relacionamento amoroso? São temas perpassados com maturidade e leveza em Amor a toda prova, um dos filmes mais inteligentes, charmosos e divertidos da temporada. Sem se incumbir do final feliz hollywoodiano, John Requa e Glenn Fiquarra apresentam um fecho, não um final para seu filme. Essa solução tão liberal, em um filme com fachada ainda mais liberal, estabelece que comédias românticas não precisam necessariamente ser apoteóticas e fabulares. Se tiver um elenco com Ryan Gosling, Steve Carrel, Julianne Moore, Emma Stone e Marisa Tomei ajuda.


3- Tudo pelo poder, de George Clooney (The ides of march, EUA 2011)

George Clooney demonstra cada vez mais o artista completo que é. Tudo pelo poder é um filme magnificamente dirigido por um cineasta que, mais do que domínio da técnica, apresenta total conhecimento da matéria prima do filme: política. Não é um Clooney desencantado que se testemunha em Tudo pelo poder, é um artista em plena consciência autoral. Tudo pelo poder é um drama profundo, frequentemente sombrio, dotado de um pessimismo incomodado e inquieto com as verdades que o gravitam. Como se não bastasse o brilhantismo do texto e da realização, o elenco é outro show à parte.


2- Um novo despertar, de Jodie Foster (The beaver, EUA 2011)

A melhor atuação da carreira de Mel Gibson? Sim, mas Um novo despertar é muito mais do que isso. É um retrato devastador e, ainda assim incrivelmente belo, dos alcances da depressão em um ser humano e em sua família. Foster confia em Gibson à alma de seu filme. E a escolha é acertada. Mas a diretora tem outros trunfos na manga. É no paralelo que estabelece entre pai e filho que Um novo despertar encontra abrigo dentro de cada um de nós. É um filme sobre o potencial enlouquecedor de nossas famílias, espelhos e expectativas. Mas também sobre o viés regenerador que só o seio familiar pode ostentar.


1- Cisne negro, de Darren Aronofsky (Black swan, EUA 2010)

Se existe apoteose cinematográfica, Darren Aronofsky a tangenciou com Cisne negro. Registro grandiloquente e visualmente delirante de uma menina frágil sucumbindo à própria obsessão. Com referências claras a um jovem Roman Polanski, Aronofsky constrói o filme mais reverberante do ano em suas bifurcações psicanalíticas e digressões narrativas. Um tour de force de uma atriz instigada até seus limites como há muito não se via no cinema e uma ostentação técnica que resulta em uma obra hermética e popular. Com direito a toda a estranheza que os dois adjetivos, quando juntos, conferem.  

14 comentários:

  1. "Tudo pelo Poder" é ótimo mesmo! Pena você não tê-lo assistido antes de me mandar a sua lista de indicados do Pipoca, pois poderia ter me ajudado a colocar Philip Seymour Hoffman como um dos melhores coadjuvantes do ano. rsrs.
    Gostei muito da sua lista e, ainda que não seja muito parecida com a minha, me identifiquei com muitas escolhas aí. "Amor a Toda Prova" é a comédia romântica do ano; "Um Novo despertar" é o tipo de filme que eu amo e as pessoas mal comentam; e "Cisne Negro" é, a meu ver, o melhor filme do ano mesmo. Para encerrar, vejo "Namorados para Sempre" como uma espécie de "Closer" - filme que venero e, pelo que vejo aqui no Claquete, você também -; é uma obra que marca não só pela qualidade do filme em si, mas pelo íntimo de cada um, pela história de cada um e os paralelos que podemos fazer com a nossa própria realidade.

    Enfim, parabéns pela lista!
    Grande Abraço!

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  2. Achei um ótimo ano, principalmente no cinema fora de Hollywood.

    X-Men First Class é ótimo e na minha opinião é de LONGE o melhor filme da franquia.

    Infelizmente, ainda não assisti a UM NOVO DESPERTAR... parece interessante.

    PS: Cisne Negro é unanimidade!

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  3. ah, adicionei o seu blog nos links... achava que já tinha ele por lá.

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  4. Ótima lista, Reinaldo. Tivemos algumas semelhanças nas nossas, principalmente no grande campeão, e você colocou alguns que por pouco não entraram na minha, como o ótimo X-Men, Margin Call, O Palhaço, A Pele que Habito...
    Agora Um Novo Despertar é bom, mas o filme que a meu ver melhor retratou a depressão esse ano foi mesmo Melancolia.

    Ah, vc não tem facebook? Volta e meia falo de cinema por lá e o assunto sempre gera discussões interessantes, com certeza você acrescentaria bastante nesses debates.

    Um abraço e feliz ano novo!

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  5. Que lista mais supimpa, Reinaldo! rs
    Não pensei que você fosse colocar Cisne em primeiro, mas enfim... Impossível não concordar. Pra mim, foi o filme do ano!

    Abs.

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  6. Acredita que destes aí só vi o 8,5, e o 1? Estou em déficit...rsrsrs


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    Faço um ano de blog hoje, e fiz um breve comentário, inclusive destacando nossos parceiros, como vc.
    Valeu e feliz 2012!

    __
    http://algunsfilmes.blogspot.com/

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  7. Sua lista ficou bem interessante, pena eu não ter gostado do PALHAÇO como todos gostaram, mas só em ter A PELE QUE HABITO já fico satisfeito. Fiquei curioso com esse GANHAR, GANHAR passou no cinema? Vou pegar ele para assistir. Abração!

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  8. Hell yeah!
    Cravamos 4 títulos semelhantes em nosso ranking, Reinaldo. Na verdade, eu diria 5, porque "Ganhar ou Ganhar" entraria com facilidade no meu top 10, mas eu me limito (e sei disso) a filmes lançados apenas nos cinemas, o que fez essa preciosidade humanista de McCarthy ficar de fora... como eu adoro esse filme!

    E temos muitos filmes que chegaram por "último", não? "Margin Call" e "Tudo pelo Poder" são ótimos mesmo, thrillers políticos sagazes e envolventes.

    Fiquei muito surpreso com a fita da Jodie Foster estar em uma posição tão privilegiada... eu gostei do filme, Gibson em sua melhor atuação, concordo!

    Parabéns pela lista!
    Nenhum "Simplesmente Complicado" esse ano, thanks to God HAHAHAHA. Brinks!

    abração e feliz 2012, meu caro!

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  9. Ótima lista! Alguns filmes eu não cheguei nem a assistir, mas vou procurar, já que confio bastante nas suas escolhas.

    Abs,

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  10. pra mim faltou Meia noite em Paris...

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  11. Matt: Obrigado Matheus. Pois é, fiquei te devendo Tudo pelo poder. Mas ele entrou na lista aqui. rsrs. Gostei da tua comparação entre Namorados para sempre e Closer. Ainda que Closer seja um filme mais completo, digamos assim.
    Abs

    Bruno Knott: Valeu Brunão. Certeza que vc irá apreciar Um novo despertar e Cisne negro é mesmo uma unanimidade entre cinéfilos. Tb acho que foi um ano especial para o cinema de fora de Hollywood.
    Abs

    Diego: Grande Diego. Pois é, Melancolia bateu na trave na minha lista. Mas ficou entre os 20 mais, como pode ser conferido no post abaixo.
    Pois é, não tenho Facebook. Não gosto do site. Simples assim. Ainda sou um dos ilhados no Orkut. Um excelente 2012 para vc tb.
    Abs

    Alan Raspante:Foi o filme do ano e com sobras Alan.
    Abs

    Marcos Rosa: Tá em déficit mesmo hein seu Marcos?

    Celo Silva: Valeu meu caro. Pois é, como cito na justificativa pela escolha do filme, Ganhar ou ganhar foi lançado diretamente em DVD no Brasil.
    Abs

    Elton Telles: rsrs. Feliz 2012 pra ti tb meu brother. Pois é, até teve a "cota" da comédia sofisticada né (Amor a toda prova)? Mas esse vc gostou, né? rsrs
    Aquele abraço!

    Luis Galvão: Obrigado pela deferência Luis.
    Abs

    Anônimo: O filme de Woody Allen não entrou no top 10, mas ficou entre os 20 melhores como mostra o post abaixo.
    Abs

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  12. Gostei mt de "Amor a Toda Prova", sim. Duas vezes no cinema em 1 semana xD

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  13. Olá Reinaldo. Cheguei na sua lista por indicação do Elton Telles. Da sua lista de 10, cinco estão na minha lista tb.
    Da sua lista, só não gostei mesmo de Um Novo Despertar. Infelizmente, o filme não me convenceu.
    Ao contrário do que dizem, este ano foi muito bom em termos cinematográficos, e agora em janeiro e fevereiro teremos a febre dos filmes 'premiáveis' de 2011.
    Confira a minha lista:http://amoscabranca.com/2011/12/29/os-melhores-filmes-de-2011/

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  14. Adorei a lista. Ainda não vi a maioria deles, mas estão entre os "quero-muito-ver-logo".
    Ainda assim, me surpreendi por 3 dos filmes terem no elenco o Ryan G.
    Acho que 2011 foi um ano bom para ele.
    Agora é esperar as refilmagens e adaptações que aparentemente, serão o forte do cinema esse ano.

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