terça-feira, 3 de maio de 2011

Crítica - Como você sabe

Camisinhas e crises profissionais!


Em um dado momento de Como você sabe (How do you know, EUA 2010), nova comédia de James L. Brooks, um personagem indaga ao outro como saber se está apaixonado. O outro lhe responde que sabe que está apaixonado quando começa a usar camisinhas com outras garotas. A anedota pode sugerir uma comédia cínica ao gosto de platéias jovens. Não é o caso. O título do filme que parece espremer-se entre uma afirmação e uma indagação alude a uma angústia que Brooks objetiva eleger como sua matéria prima aqui: “Sabe o que se quer e como pedir isso”, exclama outro personagem em outro momento do filme.
Essas pistas são o recheio de diálogos inteligentes e ariscos que Brooks, o homem por trás de perolas do cinema como Laços de ternura (1983) e Melhor é impossível (1997), nunca perde de vista.
No filme, Lisa (Reese Witherspoon) é uma atleta confrontada com uma aposentadoria forçada. Com mais tempo livre, se pega pensando na necessidade de reordenar prioridades. E o lado sentimental aflora com certa naturalidade. Nessa trincheira surgem Matty (Owen Wilson), um atleta sem tato para relacionamentos, mas que cativa com seu charme infantil e George (Paul Rudd), um executivo algo neurótico que está na eminência de ser processado por atividades fraudulentas. Lisa se divide, meio que por inércia, entre esses dois tipos tão díspares.

Reese Whiterspoon e Paul Rudd em cena do filme: é preciso descobrir as próprias demandas para que se possa antendê-las


James L. Brooks, é verdade, não apresenta a sagacidade de outrora. Como você sabe, no entanto, ainda é um filme revestido do interesse genuíno de entender o ser humano em suas miudezas. O filme foi um sonoro fracasso nas bilheterias americanas. Mas o foi mais por ser uma comédia refinada e cúmplice da inteligência alheia do que por qualquer outra coisa. Essa ironia se viabiliza pelo fato do público dos multiplexes estar condicionado a certas fórmulas de humor que não estão presentes em Como você sabe. A escalação de figuras que ajudaram a patentear essas fórmulas (Owen Wilson, Paul Rudd e Reese Witherspoon) talvez contribua para a inversão de sinais.
Isso posto, é preciso dizer que Como você sabe cumpre brilhantemente seu propósito. Ainda que apresente um ou outro problema de edição (algumas cenas mereciam enquadramentos melhores e outras poderiam ser facilmente sublimadas), a fita faz um belo coro ao clichê de que há males que vem para o bem. A personagem de Reese faz o tipo que adora frases de auto-ajuda a ponto de pregar uma porção delas no espelho do banheiro. Como você sabe busca se comunicar com quem se identifica com Lisa. Para o bem e para o mal o faz com a convicção de quem usa uma camisinha por que está apaixonado. Como você sabe ainda oferece o melhor dos temperos na figura de Jack Nicholson que faz um mau caráter pego em um pretenso instinto paternal.

9 comentários:

  1. Ah, ainda que tenha tido uma repercussão muito negativa, estou super afim de ver. O elenco me é muito tentador... Só não posso dizer o mesmo de James L. Brooks (tenho uma relação de amor e ódio com o seu filme Laços de Ternura, rs).

    Abs.

    ResponderExcluir
  2. Pois é, Reinaldo, também achei o filme interessante, e os diálogos ótimos.

    Ah, quanto ao Paul não achei ele péssimo no filme todo, apenas na cena em que está bêbado, aquilo foi muito forçado. Mas, no geral acho ele caricato como os demais personagens masculinos.

    bjs

    ResponderExcluir
  3. Sinceramente amigo, para mim o último grande filme do James L. Brooks é Melhor É Impossível!
    E Laços de Ternura, evidente é um clássico!
    Abs.
    RODRIGO

    ResponderExcluir
  4. Quero ver, o elenco me chamou muito a atenção.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  5. Ah, não é o que temíamos, parece que a Reese até que está bem no filme. Pelo menos o personagem dela parece ser algo como um Cesar Cielo "legalmente loiro", rsrsrs Vou tentar ver entre essa semana e a outra.

    Beijos

    ResponderExcluir
  6. Para ser sincera, sua crítica foi a mais animada que já li até agora para esse filme. Estava com um pouco de medo, porque não achei muito interessante o trailer. Fiquei mais animada para dar uma chance.

    Beijos! ;)

    ResponderExcluir
  7. Alan: Se assistir, o faça mais por Brooks do que pelo elenco... Abs

    Amanda:Entendi quanto ao Rudd. Bem, quanto aos arquétipos, que vc chamou de caricatos, acho que Brooks sempre trabalhou dessa maneira. Vide Os simpsons, sua famosa criação. Sinceramente não vejo uma caricatura tão desmedida no filme (talvez Wilson, mas mesmo assim...)
    Bjs

    Rodrigo: Concordo plenamente que esse foi o grande último filme de Brooks. Mas esse aqui é trivialmente agradável...
    Abs

    Rafael W: Repito, não vá pelo elenco...
    Abs

    Aline: Ela não compromete. rsrs. Mas tb não empolga. Para variar é o ponto mais fraco do elenco.
    Bjs

    Mayara: Que bom que eu te dei uma animada. É um filme que não ofende e levanta algumas questões que tem passado ao largo de comédias... É válido nem que seja por isso.
    Bjs

    ResponderExcluir
  8. Atores de clichês, tentando dar um tom cult a personagens quase nada interessantes. O roteiro é muito fraco, pois começa, desenvolve-se e termina num universo de três indivíduos que, se não são dementes, esforçaram-se para parecer como tais. O filme só fez mostrar o limite de dramaticidade que esse atores conseguem dar aos seus personagens. "Nós somos monogâmicos"? Que diálogos idiotas - qualquer matuto brasileiro elabora um diálogo melhor. Imensa perda de tempo.

    ResponderExcluir
  9. Eu também estou bastante a fim de ver o filme, mais pela presença de Reese Witherspoon, que, desde Cruel Intentions, me cativa bastante.

    ResponderExcluir