domingo, 4 de março de 2012

Insight

Vamos falar mal do Oscar?

Em plena ressaca da temporada de premiações, uma semana após a realização da 84ª cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, parece pertinente apresentar um debate curioso. Acerca da efemeridade de algumas discussões que cercam justamente os prêmios da academia. Já há alguns anos postula-se que a academia tem se divorciado do público, em uma guinada elitista e sofisticada, elegendo filmes difíceis, pouco vistos, quadrados ou acadêmicos demais. É um argumento que, em consonância com certa angulação, procede. Mas é também um tanto hipócrita. Não precisamos nem ir muito longe para virar do avesso essa teoria. Nos anos 90, em que filmes como Titanic, Shakespeare apaixonado, Jerry Maguire - a grande virada, Forrest Gump - o contado de histórias, O sexto sentido e Um sonho de liberdade dominam os prêmios da academia, a queixa era de que o Oscar era por demais industrial e esquivava-se de filmes pequenos (independentes) e mais difíceis.
Ignorando as constantes mudanças nas regras – um reflexo da busca por conduzir a cerimônia de TV a uma relevância outrora gozada do que de redefinir os padrões da academia – é preciso reconhecer que o Oscar evolui e reflete o mercado de cinema em sua conjuntura macroeconômica. Isso posto, é fatídico que falar mal do Oscar, mais do que um esporte daqueles que o praticam, é uma contingência espaço-temporal. Como toda a instituição (governo, casamento, etc) o Oscar está sujeito às controvérsias. E isso é muito positivo. No entanto, o que tem se verificado ultimamente é um desdém desmedido. A cerimônia é sempre ruim, a festa é sempre brega, a distribuição dos prêmios sempre previsível e as orientações da academia sempre equivocadas. Ano após ano, a mesma história. A distorção chega a cansar. Sobre isso, o jornalista e escritor Inácio de Loyola Brandão escreveu no O Estado de São Paulo um texto bastante elucidativo sob o título de “Bizarro, sublime, patético: Oscar” em que atenta para o ridículo da festividade e para o encantamento que provoca. Esse é o Oscar. Um evento capaz de municiar paixões, abafar críticas e fomentar outras tantas. Falar mal do Oscar jamais sairá de moda. Tão pouco combater essa digressão hipócrita de pseudo-críticos que se ressentem de uma premiação que ainda preserva influência suficientemente notável para fazer de um filme mudo e em preto e branco um marco cultural relevante.

Exemplo de bom humor no trato com as omissões do Oscar

4 comentários:

  1. Olha, é claro que o Oscar necessita de reformulações. Acho que o sistema de votação para Melhor Filme tem que fechar num número mais conciso do que nove indicados. Se tem nove concorrentes, poxa, coloca 10! Tínhamos qualidade e filmes pra isso!

    Acho que eles deveriam ver também o que têm que fazer com a categoria de Canção Original, que está totalmente desprestigiada na AMPAS. Só dois indicados nesse ano, sem apresentações dos indicados no telecast do Oscar. Eles precisam rever urgentemente essa categoria. Ou excluí-la de vez do prêmio.

    E outra: esse cartaz do Ryan Gosling. Eles poderiam ter reclamado também do Critics Choice, Golden Globes, SAG... Não foi somente o Oscar que o esnobou... As outras premiações também. E a gente sabe: recebe indicação ao Oscar quem tem buzz contínuo e precedência nas outras premiações. Portanto, é uma forma bem humorada de criticar a AMPAS, mas a culpa não é exclusiva deles.

    Beijos!

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  2. É a velha história de "falamos mal, mas adoramos". O Oscar tem extrema importância na minha formação cinéfila, e apesar de ano após ano me frustrar com as suas escolhas, acompanho sempre, torço sempre para os melhores, enfim... é o grande evento anual do cinema, não tem como ficar indiferente a ele.

    Gostei da discussão e li o texto de Brandão, que é bastante lúcido. E muito pertinente o argumento do "espaço-temporal", Reinaldo, e é bem isso. E por mais que esse diagnóstico prossiga, os críticos que levantam esses dados sempre fazem questão de amargar seus textos com um leve desgosto... então, poxa, decidam-se! Não sejam hipócritas, como vc bem aponta no texto.

    Enfim, estou falando, mas tenho um pouco de culpa nisso aí também rs. Faz parte, ora bolas! =]


    abraço!

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  3. Pois é, a hipocrisia não leva a nada. E sempre vão haver controvérsias, agora mesmo estava respondendo a um comentário no Facebook que estava achando vergonhoso O Artista ter ganho o Oscar e que no ano seguinte, ninguém iria se lembrar dele que só teve méritos por ser preto e branco, sem falas. Mas, é isso, falar mal do Oscar virou um tipo de esporte cult.

    bjs

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  4. Kamila: Entendo as necessidades das reformulações Ka. Tb vejo essa necessidade, mas o prisma da discussão aqui é outro. Existe uma força gravitacional que impele muitos a falar mal do Oscar e não necessariamente com argumentos válidos como os que vc apresentou. Eu, por exemplo, acho que só devem ser cinco os finalistas a melhor filme. Mas essa é uma análise que independe da matéria aqui analisada.
    Quanto ao cartaz de Gosling, pera lá! rsrs. O ator foi sim indicado ao Critic´s choice awards. Assim como o filme que tb foi lembrado em múltiplas categorias no Bafta - ainda que Gosling não tenha concorrido a este prêmio. Posto dessa forma, o cartaz é legítimo sim. Gary Oldman, por exemplo só foi indicado ao Bafta e entrou no Oscar. Eu, particularmente, prefiro o desempenho de Gosling em Tudo pelo poder.
    Bjs

    Elton: Adorei seu comentário. Sepre lúcido e oportuno em suas colocações Elton. Obrigado por engrandecer esse debate aqui.
    Abração

    Amanda: Pois é. Aliás, essa é uma das grandes críticas que a academia recebe. Deixa passar os grandes filmes como Avatar, A rede social, etc. Trato essa percepção com o relativismo que ela merece.
    Bjs

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