sexta-feira, 2 de março de 2012

Crítica - A dama de ferro

Faltou sustância!

É preciso dizer que A dama de ferro (The iron lady, ING 2011) não dá conta da complexidade da personagem principal, a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher (Meryl Streep). Isso em virtude de três aspectos que estão intimamente relacionados. O primeiro deles é que a diretora Phyllida Llyod não só não esconde sua simpatia pela personagem como a sublinha com opções que modificam o caráter do filme: trata-se, afinal, mais de uma homenagem à controvertida figura de Thatcher do que uma biografia propriamente dita. O segundo ponto é a falta de perspicácia de Llyod na construção dramática da fita – demérito que precisa ser compartilhado com o roteiro preguiçoso e mal articulado. Se Llyod acerta em situar seu filme na velhice de Thatcher e, a partir desse recorte temporal, estabelecer uma comparação entre a mulher que experimentou o ápice do poder na Inglaterra e no Ocidente e a mulher que não consegue se desvencilhar de alucinações causadas pela esquizofrenia que lhe vitima, ela erra ao imprimir tom didático e quadrado na construção da personagem. Os flashbacks que mostram a admiração de Thatcher por seu pai, seu ingresso na vida política, o surgimento do amor e algumas das crises de seu governo são engessados por uma lógica narrativa pouco inventiva que, não só arrefece qualquer chance de A dama de ferro ser minimamente satisfatório enquanto cinema, como transforma o filme em um pastiche feminista mal elaborado.

Meryl Streep levanta o dedinho: não ousem estragar meu filme...


O terceiro ponto que faz A dama de ferro sucumbir ante as expectativas ensejadas é a falta de contexto histórico que lhe caracteriza. Além de não abarcar a política de maneira inteligente, de apresentar um retrato simpático e profundamente equivocado do ponto de vista histórico de Thatcher, A dama de ferro erra ao querer cobrir uma vida, e um governo, em um filme de hora e meia. Parece oportuno dizer que um recorte temporal específico talvez fosse mais fiel à essência de Thatcher enquanto personagem histórico.
A dama de ferro é um filme narrativamente pobre, com opções estéticas discutíveis e uma atriz que faz o possível para driblar as limitações da realização. Se A dama de ferro é minimamente tolerável é em virtude do trabalho de Meryl Streep. Atriz detalhista, intuitiva e que sabe chamar a responsabilidade para si.
Se se restringisse à cena inicial, em que flagra uma desorientada Thatcher impotente em um supermercado, A dama de ferro seria genial. Mas o filme segue, sem essa aptidão para a sugestão, e submete seu espectador à constatação de que existem grandes filmes e existem aquelas grandes ideias que poderiam ter resultado em grandes filmes. Meryl Streep, no final das contas, não faz milagres.

4 comentários:

  1. Hum, Reinaldo... Vou discordar de você em um ponto de seu texto: a simpatia de Phyllida Lloyd pela Margaret Thatcher não comprometeu o filme, uma vez que o retrato sobre os bons e os maus momentos dela no poder estão aqui, sem disfarces. O que mais me incomodou nesse filme foi a edição histriônica que, pra mim, não combina com a sobriedade que essa história pedia.

    Beijos!

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  2. Kamila: Ka, acho que comprometeu no sentido de que é um retrato bem parcial de Thatcher. Além do que provê um contexto pobre de seu legado político e do cenário político-econômico da época de seu governo. O único momento em que ela é mostrada como a "tirana" que ficou conhecida foi naquela reunião em que destrata seu chefe de gabinete. E mesmo esse momento autoritário não é bem contextualizado. Enfim, um filme bem fraco mesmo na minha avaliação. O único acerto é Meryl Streep.
    Bjs

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  3. Eu acho incrível como Meryl Streep e sua atuação poderosa conseguem sair incólumes da tosquice que é "A Dama de Ferro".

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  4. Elton: Pois é... Divindade da atuação é outra história...
    Abs

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