domingo, 10 de abril de 2011

Claquete repercute - Quanto mais quente melhor


Indicado a sete Oscars, vencedor de três Globos de ouro entre outros prêmios, Quanto mais quente melhor (Some like it hot, EUA 1959) é a melhor concepção de cinema de vanguarda. A fita de Billy Wilder é categórica em apresentar um tipo de comédia que conjuga elementos maliciosos, introduzindo noções sexuais em uma ambientação casta, e elementos tão pudicos quanto inocentes. Quanto mais quente melhor é, em uma análise mais encorpada, um filme agudo no que se propõe. Ironias veladas e subtextos profundos.
É sintomático que o filme se passe na época em que a lei seca redefiniu hábitos e costumes americanos. Esconder era preciso e Wilder inscreve seu filme em prestigiada posição nos arquétipos da manipulação de bastidor. Tudo emula o disfarce. Os músicos vividos com brilho por Jack Lemmon e Tony Curtis precisam se travestir de mulheres para escapar à forca que um proeminente gangster de Chicago lhes acena. Eles também vivem de simular para postergar as dívidas que contraem e tentam, por meio de simulação, seduzir a loira sensual Sugar (Marilyn Monroe). Dissimular e simular, em suas similaridades e diferenças, eram a ordem do dia. E é da nuvem de fumaça dessa consternação que Wilder tira a graça de seu filme. Com diálogos ágeis e uma câmera sempre curiosa, Wilder tira ótimas performances de seu trio de protagonistas.
Quanto mais quente melhor está para a comédia americana como o arroz está para o feijão no principal prato da cozinha brasileira. Foi nesse filme que os cânones do gênero foram definitivamente estabelecidos. Gente como Charles Chaplin, Buster Keaton e o próprio Wilder já tinham patenteado o humor como expressão de arte, mas é em Quanto mais quente melhor que esse humor ganha contornos mais sofisticados ao embutir tabus que durariam anos em cenas antológicas e festejadas até mesmo por quem não as entendia por completo. O poderoso arremedo sexual presente na fita de Wilder não se limitava a presença de Monroe ou ao descalabro de colocar dois homens vestidos como mulheres. Quanto mais quente melhor trazia muito mais subversão em seu entorno. A homossexualidade, talvez, seja o tema mais óbvio observado de hoje. Mas havia outros. A descompostura feminina ante certos rigores da época parece interessar particularmente a Wilder aqui. Um diretor que não tinha medo de ridicularizar certas instituições e dogmas sociais, mas que o fazia com tamanha sofisticação que arrancava aplausos até de quem com ele não compactuava.

5 comentários:

  1. Ótimo texto Reinaldo. É bom ler um clássico aqui no Claquete.

    O filme é um clássico absoluto da comédia, quando ela era muito mais inteligente na época censura ferrenha.
    Além de Wilder citou aí outros gênios: Chaplin e Keaton. Não poderia discordar de você amigo.

    Abs.
    RODRIGO

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  2. Ah, que bom ler sobre este filme aqui no Claquete. Talvez este seja uma des minhas comédias favoritas. Wilder está ótimo com suas ironias e "cutucadas" rs. Além do mais, o filme tem um charme incrível... ainda mais com MM em cena!!

    Excelente texto!
    abs.

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  3. O Billy Wilder é um dos meus diretores favoritos, então sou muito suspeita para falar dele. Mas, "Quanto Mais Quente Melhor" é simplesmente genial como comédia e como filme também! Desde às atuações, passando pelo roteiro, às clássicas cenas. Um filme inesquecível!

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  4. Belo texto, Reinaldo e boa idéia de trazer esse clássico aqui. Billy Wilder merece mesmo, adoro seu humor irônico.

    bjs

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  5. Rodrigo Mendes: Obrigado Rodrigo. Seu apoio, sem dúvida, torna esse Claquete repercute mais especial. Abs

    Alan: Valeu meu brother. É um filme muito charmoso mesmo. Tb é uma de minhas comédias favoritas. E Marilyn nunca esteve tão voluptuosa...
    abs

    Kamila: Inesquecível. Taí uma boa palavra para classificar este filme... Bjs

    Amanda: Nós adoramos o humor de Wilder.
    bjs

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