domingo, 20 de março de 2011

Insight

A (possível) verdade por trás do afastamento de Darren Aronofsky de The Wolverine



Era setembro de 2010 e a produção da sequência de X-men origens: Wolverine queria mudar radicalmente o rumo da cinessérie que, em 2009, embora tenha feito boa bilheteria, decepcionou público e crítica. Darren Aronofsky surgiu como um nome confiável nas hostes do estúdio Fox. O diretor era amigo do protagonista (rodou com Hugh Jackman o pesudofilosófico Fonte da vida), mantinha boa relação com o estúdio (seus dois últimos filmes foram lançados pelo selo independente da Fox, a Fox Searchlight) e, assim como Christopher Nolan na franquia do Batman, era um cineasta de retórica artística e com potencial comercial. Em outras palavras, um achado.
Aronofsky foi contratado e, às vésperas da exibição de Cisne negro em Veneza, anunciado como o novo diretor do filme. O entusiasmo foi imediato. Em toda oportunidade em que promovia Cisne negro, Aronofsky demonstrava satisfação e ansiedade com seu novo projeto. Via com bons olhos uma guinada na carreira e a chance de se provar um cineasta de trânsito e confiança.
Há pouco mais de dois meses, Aronofsky deu uma longa entrevista ao Hollywood Reporter em que esclarecia que o filme se passaria no Japão, que o roteiro era maravilhoso, que a fita não seria uma continuação do filme de 2009 e que se chamaria The Wolverine.
A produção do filme foi agendada para o final de março, para que Aronofsky – que acabou indicado ao Oscar como diretor – pudesse acompanhar a promoção de Cisne negro durante a temporada de premiações. Estava tudo certo. Estava.
Essa semana foi anunciado, com certa dose de espanto, que Aronofsky estava se desligando da produção do filme. Às vésperas do início das gravações e com a pré-produção praticamente encerrada. A justificativa oficial é de que Aronofsky não se sentia preparado para passar um longo período (aproximadamente um ano), no Japão, longe de sua família. A Fox lamentou a desistência de Aronofsky, reafirmou a intenção de colaborar com o diretor no futuro e garantiu que está tudo pronto para o início da produção com outro diretor à frente do projeto.
No entanto, reportagem do Hollywood Reporter sugere que o que de fato se deu foi bem diferente. Segundo apurou o semanário americano, Aronofsky teria reivindicado controle absoluto sobre o corte final do filme, algo que está acostumado a ter no cinema independente e que o colega Nolan teve assegurado com a franquia do Batman. O estúdio não teria concordado. Como política compensatória, teria oferecido um aumento no salário de Aronofsky. O diretor, no entanto, teria insistido no controle total sobre a obra e, em consequência disso, amigavelmente demitido do cargo.


                                                        Foto: AFP
Aronofsky, ao lado de Natalie Portman, em coletiva realizada no último festival de Toronto: a boa receptividade aos últimos filmes do diretor não vingou como trunfo nas negociações com o estúdio


A justificativa oficial realmente é mais furada do que queijo suíço. Com a aprovação do roteiro e do orçamento, já era possível mensurar o período de filmagens no Japão e um cronograma familiar para que pudesse ser ajustado ao do filme. É sempre assim em Hollywood. Embora não se possa confirmar efetivamente, pelo menos não agora, é muito provável que a saída de Aronofsky de The Wolverine derive de uma briga por controle criativo.
Christopher Nolan só teve seu controle assegurado na franquia do Batman porque era necessário arriscar depois da passagem de Joel Schumacher nos filmes do homem morcego. O mesmo Nolan passou apuros com a Warner para garantir que o terceiro Batman de sua autoria não fosse rodado em 3D. Ele ainda não conseguiu dissipar as intenções do estúdio de realizar uma sequência para A origem. Recentemente, a Sony demitiu a equipe criativa do quarto Homem aranha por discordar dos rumos da série no cinema. O novo Homem aranha chega ano que vem. Será a primeira oportunidade de se mensurar o impacto da mão de ferro dos estúdios na qualidade dos blockbusters; nos quais buscam cineastas com visão só para se dar o trabalho de tapar-lhes a vista.

7 comentários:

  1. Quem reportagem cool! Um verdadeiro insight!
    Parabéns, meu caro!

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  2. Verdadeiro insight mesmo! Parabéns, Reinaldo! Eu não esperaria atitude diferente do Aronofsky depois da recusa à exigência que fez.

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  3. Quer saber? Fico feliz que tenha se desligado da franquia. Nõ conseguia associar ELE com o WOLVERINE, sabe? Enfim, esperando agora que o próximo projeto seja tão bom quanto foi Cisne.

    abs :)
    ps: ótima reportagem!

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  4. Uau! Texto com pegada forte este ("oportunidade de se mensurar o impacto da mão de ferro dos estúdios na qualidade dos blockbusters; nos quais buscam cineastas com visão só para se dar o trabalho de tapar-lhes a vista"), hein?

    Realmente a tese que vc comunga com o Hollywood Reporter faz todo o sentido.

    Beijos,
    Aline

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  5. Verdadeiro insight mesmo. Com certeza, ele quis o controle do filme e os estúdios não deram. Coisas de Hollywood. Será que nem com o sucesso do Batman de Nolan eles aprendem?

    bjs

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  6. Essa coisa de domínio criativo é mesmo chata. Cria um clima pesado sobre toda a produção. O bom é que o cinema independente ganha mais uma safra de ótimos diretores

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  7. Cássio: Obrigado meu amigo. Sempre levantando minha moral... abs

    Kamila: Valeu! Bjs

    Alan: Valeu (2)!

    Aline: Pois é... as vezes é necessário subir o tom da análise,né?
    Bjs

    Amanda: Não é questão de aprender. É questão de expectativa de mercado. Nolan tinha a correnteza a favor, Aronofsky não tem...
    Bjs

    Luis Galvão: É aquela coisa do cinema comercial e indenpendente brigando para ver quem tem maior...
    Abs

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