quarta-feira, 28 de abril de 2010

Top 10 especial: Discursos/Monólogos do cinema

5 – “Are you a news man or a business man?”, Al Pacino em O informante


Existem atores que transcendem credibilidade. Al Pacino é um desses atores. Em O informante, ele vive o jornalista e produtor do programa jornalístico de TV 60 minutes (muito popular nos EUA). Era preciso que Pacino usasse todo o seu capital para fazer esse personagem crível. Pacino o fez. Em uma de suas últimas grandes performances no cinema, o ator dá um show. Nessa cena em especial. Lowel Bergman (Pacino) se oposiciona à direção da emissora de TV CBS que vetou a participação de Jeffrey Wigand (Russel Crowe), testemunha ocular de um importante e virulento processo envolvendo a indústria tabagista, no programa.
Além do vídeo que Claquete apresenta, para que o leitor possa ter noção de seu efeito, há a principal parte da fala de Lowell Bergman transcrita aqui. Poucas vezes as relações corporativas foram tão bem capturadas em um discurso a ganhar vida no cinema.


“You pay me to go get guys like Wigand, to draw them out. To get him to trust us, to get him to go on television. I do. I deliver him. He sits. He talks. He violates his own fucking confidentiality agreement. And he's only the key witness in the biggest public health reform issue, maybe the biggest, most-expensive corporate-malfeasance case in U.S. history. And Jeffrey Wigand, who's out on a limb, does he go on television and tell the truth? Yes. Is it newsworthy? Yes. Are we gonna air it? Of course not. Why? Because he's not telling the truth? No. Because he is telling the truth. That's why we're not going to air it. And the more truth he tells, the worse it gets!"

Tradução:
Você me paga para pegar caras como Wigand, para colocá-los para fora. Para fazê-lo confiar em nós, para pô-lo na TV. E eu faço isso. Ele senta. Ela fala. Ele viola a porra do acordo de confidencialidade dele. E ele é simplesmente a testemunha chave no maior caso de reforma de saúde pública, talvez o maior, mais caro caso de malignidade corporativa na história dos EUA. E Jeffrey Wigand, que está no limbo, ele vai na televisão e fala a verdade? Sim. É notícia? Sim. Vamos levar isso ao ar? Claro que não. Por quê? Porque ele não está falando a verdade? Não. Porque ele está falando a verdade. Essa é a razão de nós não levarmos isso ao ar. E quanto mais ele fala a verdade, pior fica!”


5 comentários:

  1. Gosto do filme, entretanto confesso que nem me lembrava desse monólogo!

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  2. Eu gosto bastante desse filme, e Al Pacino, como você disse, está em um dos seus últimos melhores papéis.

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  3. Ka:Pois é Ka, essa é uma das melhores cenas do filme. Bom que pude te lembrar dela. bjs

    Luis Galvão: Falou e disse Luis. ABS

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  4. Caro Reinaldo: mais uma vez tive a oportunidade de entrar em seu blog e constatar a qualidade de seu trabalho. E novamente te dou meus parabéns pelo tópico (discursos/monólogos), que sempre me causou admiração. Al Pacino, aliás, nesse papel, tem o merecido destaque. Não poderia, entretanto, perder a oportunidade de provocá-lo, como competente jornalista que é. Aí vai: no discurso mencionado, o tema “Are you a news man or a business man?” retrata o constante conflito entre a notícia como retrato da verdade e os interesses comerciais, inerentes a qualquer economia de mercado, que muitas vezes a contaminam ou distorcem. Detendo o poder decisório numa situação em que este conflito se encontrasse presente, qual seria sua postura? Qual a postura você acha que vem sendo assumida pela imprensa nacional nessas mesmas situações? Abraço.

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  5. Muito obrigado por me visitar aqui no blog dr. Alexandre. Fico muito feliz pelo prestígio, reconhecimento e, mais ainda, por seu entusiasmo em escrever este comentário e fomentar o debate.
    De fato, esse foi justamente o ponto que quis sublinhar com a fala transcrita do personagem de Pacino. O informante ilumina uma das maiores mazelas de nossa sociedade. O corporativismo e suas maleficências ao bem estar social. O jornalismo é figura central nesse cenário. Pois embora se invista da responsabilidade de ser mediador social, bastião da moralidade e implacável perseguidor da justiça, o jornalismo também está subordinado a uma lógica corporativista. É quando o jornalista se choca com ela, de maneira incontornável, que o mundo vai se tornando um lugar menos interessante para se viver (como ocorre aqui com o personagem de Pacino). Esse é um clichê que permeia as faculdades de jornalismo, embora ninguém entenda exatamente suas implicações.
    Acho, também, que poucos jornalistas detém esse poder decisório ao qual o senhor alude. Pelo menos jornalistas em estado de espírito, não apenas por rótulo. Isso fica claro na imprensa brasileira, em que grandes e tradicionais famílias, em geral conservadoras, detém o controle da grande imprensa. Ou então, políticos como Collor, Sarney e Severino Cavalcanti que controlam a grande imprensa em seus respectivos estados.
    Isso posto, penso que a imprensa brasileira - que não prima por um jornalismo investigativo de tanta qualidade quanto o desse episódio retratado em O informante - se alinhe a posição adotada pela emissora de TV CBS neste caso. Como exemplo cabal temos a postura da Globo ante a candidatura Lula em 1989 e nas duas últimas eleições. Mesmo com o risco Lula nas alturas em 2002 e com o dólar a R$4, ele não foi devassado e dinamitado como em 89, em especial naquele fatídico debate eleitoral.
    O personagem de Philip Baker Hall no filme, preferiu resguardar seu programa de TV a vê-lo sucumbir a uma enxente de processos judiciais e a "lavagem de mãos" da emissora. Daí a pergunta de Pacino. É, sem dúvidas, uma decisão muito difícil de se tomar. No contexto do filme, era preciso ter a ciência de que a decisão certa em termos éticos, poderia configurar um suícidio profissional. Suícidio que renderia alguns prêmios de jornalismo mais tarde, mas não o pão à mesa.
    Essa distorção, é bem verdade, já foi maior. Mas como atesta a cena, é ainda muito mais onerosa do que podemos suportar.
    Agradeço sua participação e interesse e,aproveito, para convidá-lo a participar mais. Sempre que achar oportuno.
    Grande abraço!

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