quinta-feira, 11 de abril de 2013

Crítica - Uma história de amor e fúria


O tipo de filme que o Brasil precisa...

Uma história de amor e fúria (Brasil 2013) é um filme corajoso na proposta, estética e narrativa, e também na maneira como aborda o Brasil, sendo figura de uma cinematografia que por anos se tornou refém da necessidade de explicar, ou traduzir, o país. A estreia na direção de Luiz Bolognesi é imaginativa, educativa, criativa e mimetiza, na forma e no conteúdo, aquilo que o cinema brasileiro tem potencial de alcançar, mas esbarra em vícios de mercado.
Bolognesi realiza uma animação que lhe provê a liberdade de apresentar um filme histórico que se bifurca em ficção científica emendada em um drama político de cores fortes. É um feito e tanto para um filme surpreendentemente curto, com cerca de 75 minutos.
Se há um porém em Uma história de amor e fúria é a percepção de que o roteiro poderia ser mais bem explorado. O filme poderia render mais. Pensar mais. Mas é preciso ter em mente que tirar um projeto como esse do papel em uma realidade como a do audiovisual brasileiro não é fácil. Portanto, é preciso  alguma condescendência nesse aspecto. Justamente por isso, o trabalho de Bolognesi é notável. Ele “explica” o Brasil sem ser professoral. Realiza um filme tão divertido quanto educativo e adentra com propriedade ímpar a cena da ficção científica, tão esquecida pelo cinema brasileiro. Ainda que haja um lastro esquerdista no filme, que está mais lá para aferir sentido ao pathos do personagem principal (voz de Selton Mello) do que como um ponto de vista fechado da realização, Uma história de amor e fúria concatena memória e imaginação de uma maneira inédita no cinema nacional.

O Rio como elite econômica mundial: o episódio futurista de Uma história de amor e fúria é um deleite

O sistema, figura tão demonizada em produções como Tropa de elite, aqui ganha uma roupagem mais cristalina e existencial na figura de Anhangá (o mal na crença dos índios tupinambá). A primeira encarnação do herói defendido por Mello se dá como um índio dessa tribo em meio à colonização portuguesa no Brasil. Cabe a ele, ao longo de seiscentos anos, investir contra Anhangá, que seria responsável pelas injustiças do mundo, e zelar por seu amor, Janaína (voz de Camila Pitanga). A figura de Janaína é, também, um lembrete de que lado se deve ficar. O lado do amor é sempre o lado pródigo, ainda que não seja o lado mais forte. É dessa mistura tão bem amaciada entre inquietação política, espiritismo, fé, resistência e brasilidade que Uma história de amor e fúria se articula.
Nas outras passagens do filme, testemunhamos a revolução conhecida como balaiada nos idos do século XIX, a guerrilha contra a ditadura militar no século XX e um futuro pós-apocalíptico no século XXI em que a água é escassa.
Não é um filme perfeito. Nem mesmo flerta com a excelência. Contudo, é suficientemente oxigenado para arejar a produção cinematográfica nacional à medida que aponta um caminho a ser seguido.

7 comentários:

  1. Concordo com você que filmes como "Uma História de Amor e Fúria" é justamente o que o cinema brasileiro precisa, justamente por se tratar de uma proposta diferente do que costumamos fazer. Só assim para nosso cinema evoluir e tentar chegar no nível de um cinema argentino, por exemplo. Espero ter a chance de assistir a este filme, que ainda não estreou em minha cidade.

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  2. É isso mesmo, Reinaldo, um filme corajoso que merece ser aplaudido por isso, tem mesmo seus problemas, parece que perde o fôlego no decorrer da jornada, poderia ser melhor explorado, poderia ser mais longo até. Mas, não deixa de chamar a atenção uma iniciativa assim;

    bjs

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  3. Kamila: Espero que vc possa ver o filme logo.
    Bjs

    Amanda:É vero!
    Bjs

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  4. Fiquei com mais vontade de assistir. É curioso e diferente, com relação as produções nacionais, desde o início. Deixei passar na estreia.

    Belíssimo texto. Sem mais.

    Abs.

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  5. Rodrigo Mendes: Poxa, obrigado pelo prestígio. Fico sempre muito feliz quando vc, o Cássio, a Amanda ou a Kamila aferem esse peso às críticas que escrevo. Valeu mesmo!
    Abs

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  6. Assisti e é verdadeiramente bom!
    Eu não esperava muito do filme por ser brasileiro que na maioria das vezes segue a mesma temática, mas esse me surpreendeu! Nunca vi um filme nacional que aborda um tema desses.
    A Capa e o nome do filme não despertaram minha curiosidade de assistir, só quis vê-lo depois de saber que era uma animação. Valeu à pena!

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  7. O filme denota muito a profundidade dos mangas em termos estórico, e com a estética dos cartoons "desenhos norte americanos", mas acho que a falta de frame prejudica um pouco a qualidade do filme e o roteiro não é lá essas coisas, no mais este filme esta no caminho certo, ficou muito feliz por um filme genuinamente brasileiro.

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