quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Crítica - Elefante branco


Um elefante extraordinário!

Depois de Abutres (2010), parecia difícil crer que o argentino Pablo Trapero fosse superar a força e contundência daquele filme em seu projeto seguinte, o drama com fundo social (como todos os filmes do excelente cineasta argentino) Elefante branco (ARG/ESP 2012). No entanto, Trapero surpreende sua audiência com uma história de alta voltagem emocional, grande impacto visual e estético e um discurso profundo que vai se descortinando em camadas cada vez mais sutis, ainda que administradas com mão forte pelo cineasta.
Na trama, acompanhamos o padre Júlian (Ricardo Darin com sua habitual competência) na luta por legitimar seu projeto social em uma favela argentina na periferia de Buenos Aires. Ele atua junto a uma assistente social (Martina Gusman) e resgata da Amazônia um antigo pupilo, o padre Nicolás (vivido com força pelo belga Jéréme Renier), a quem planeja erigir sucessor – já que enfrenta uma doença terminal.
A grande força do filme se apresenta nos conflitos internos vividos pelos dois padres e, também, na saga fadada ao fracasso que elegeram para suas vidas. Em um dado momento, quando Nicolas agoniza com a culpa em virtude de circunstâncias mostradas no início do filme, Júlian exorta: “É fácil ser mártir, é fácil ser herói. Difícil é trabalhar todos os dias sabendo que seu trabalho é insignificante”. Uma frase poderosa que dá contexto não só ao trabalho dos padres naquela favela, como ao exercício da busca pela paz executado desde ONGs a organismos internacionais. Júlian, homem de paciência exacerbada e doação irrestrita a Deus, se vê em crise conflagrada consigo mesmo ao perecer de uma doença incurável. O registro de Trapero ganha ainda mais relevo quando Júlian é destacado pelo bispado argentino a investigar um possível milagre atribuído ao padre Mugica – principal fonte de inspiração para a composição do personagem Júlian – sobre cura de uma doença incurável.
Já Nicolás, por razões diversas, questiona sua vocação clerical.

Dois padres unidos pela dúvida: A natureza dos conflitos de Júlian e Nicolás, no entanto, é distinta


A violência na favela surge como ponto de desequilíbrio entre os dois protagonistas e, também, como fator preponderante na aproximação entre Nicolás e a assistente social vivida com intensidade e sensibilidade por Martina Gusman – atriz cada vez mais poderosa sob os comandos do marido (melhor em cena do que já estivera em Leonera e Abutres).
A resolução de Elefante branco é um caso à parte. Trapero parecer ser incapaz de devolver a plateia o estado de tranquilidade após o fim da sessão. É preciso garantir que o filme permaneça no subconsciente do público por meio de finais ostensivamente contraditórios, alarmantes e, no caso de Elefante branco, visceralmente poéticos.
Um diretor que faz de seu cinema um grito social, que olha para uma Argentina escondida e subjugada, mas que acima de tudo, realiza um cinema pungente e esteticamente vigoroso.

2 comentários:

  1. Ainda não assisti a este filme, mas a sua crítica é a segunda que leio que elogia - e muito - a obra. Fiquei curiosa, ainda mais por se tratar de um filme com um dos melhores atores da atualidade: Ricardo Darín.

    Beijos!

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  2. Kamila: Darín está ótimo e o filme vale muito a pena Ka.
    Bjs

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