quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Retrospectiva 2011: Cenas de cinema (fatos)

O 3D em perigo
Quem não viu um filme em 3D em 2011 levanta a mão! Serão poucos aqueles com as mãos levantadas. Então como o 3D pode estar em perigo? Por uma razão muito simples. A força do atrativo já passou. Não que o perigo esteja na banalização, mas o 3D é um recurso válido para alguns filmes e não para todos os filmes lançados no formato.
Em 2011, Spielberg e Scorsese, dois cineastas de ponta, aderiram ao 3D. Werner Herzog foi outro maravilhado com as possibilidades do formato. No entanto, o recado que emerge das bilheterias é para que haja mais parcimônia no uso da tecnologia. Filmes que não foram lançados em 3D fizeram bilheterias tão boas quanto, ou até melhores, do que filmes lançados no formato. Mas a verdadeira estatística é a de que os filmes lançados em 3D arrecadaram mais nas bilheterias com suas cópias em formato convencional do que em terceira dimensão.


Por um clube do bilhão mais pobre...
Três filmes lançados em 2011 ascenderam ao grupo do bilhão de dólares arrecadados. Mas não há argumentos qualitativos que os legitimem nesse grupo que já foi mais prestigiado. A maior bilheteria do ano foi de Harry Potter e as relíquias da morte- parte II. Os U$ 1,400 bilhões valeram ao filme o posto de terceira maior bilheteria de todos os tempos no cinema. Acima do último filme de Harry Potter só Titanic, que por muito tempo figurou como o único filme a ter cruzado a barreira do bilhão de dólares, e Avatar que está no patamar dos dois bilhões de dólares.
Piratas do Caribe: navegando em águas misteriosas e Transformers: o lado oculto da lua são as duas outras produções do ano que ingressaram no clube do bilhão. Em 2010, outras três já haviam chegado lá. O já citado Avatar, lançado no final de 2009, Alice no país das maravilhas e Toy story 3. Todos impulsionados pelos abusivos ingressos do 3D. Apenas Batman – o cavaleiro das trevas (2008), O senhor dos anéis: o retorno do rei (2003) e Piratas do Caribe: o baú da morte (2006) chegaram lá de forma isenta, ou seja, sem a ajudinha dos tickets do 3D. James Cameron tentará em 2012 diminuir a diferença entre Avatar e Titanic relançando este último em terceira dimensão. Apesar das vultosas quantias e do número de membros cada vez maior, é difícil evitar a sensação de que esse clube do bilhão está cada vez mais pobre.

Jack Sparrow chegou pela segunda vez ao clube do bilhão em 2011; seu intérprete, Johnny Depp, ostenta a impressionante marca de quatro filmes no clube


O cinema nacional esbanja prosperidade
Não teve nenhum Tropa de elite 2 nos cinemas em 2011. Mas teve O palhaço, Bruna surfistinha, Os 3, Meu país, Vips, O homem do futuro, Trabalhar cansa, Desaparecidos, Amanhã nunca mais, Assalto ao banco central  e muitos outros filmes que, se não convergiram para números tão vistosos quanto os de 2010, denotam uma musculatura criativa e comercial cada vez mais próspera da produção cinematográfica brasileira.
É possível que, no futuro, 2011 seja lembrado como o ano em que o Brasil começou a diversificar de fato sua produção de cinema. Afinal, foi este o ano da primeira comédia de ficção científica tupiniquim!


O triunfo de Veneza
Em comparação com 2010, os festivais de cinema tiveram bastante brilho nesse ano que se despede. Dos mais famosos, como Veneza e Cannes, aos que ainda tentam um lugar ao sol no concorrido circuito de festivais, como Londres e Roma.
O mais antigo festival de cinema do mundo, Veneza, foi um destaque particular. O leão de ouro foi para o russo Fausto, de Alexander Sokurov, mas havia filmes de excelente qualidade em disputa como Carnage, de Roman Polanski, Tudo pelo poder, de George Clooney, Shame, de Steve McQueen, entre outros. A crítica internacional se demonstrou empolgada com a alta qualidade dos filmes exibidos no festival.
A excelência de Veneza se gabarita ainda mais quando comparada ao seu principal concorrente, o festival de Cannes. Apesar de ostentar autores consagrados com Pedro Almodóvar, Terence Malick e Lars Von Trier na seleção, o festival foi rotulado como mediano e a premiação à A árvore da vida não foi recebida sob os bastões da unanimidade. 


Eles piraram em Bangcock e ganharam milhões, mas...
Uma das continuações mais aguardadas de 2011 era Se beber não case – parte II. O filme de Toddy Phillips levou a ação e os protagonistas do último grande sucesso surpresa do cinema americano para a Tailândia, mas não conseguiu manter o “mojo” do filme original. Até a participação de Mike Tyson, um dos trunfos do primeiro filme, soa deslocada e constrangedora. 
A fórmula do primeiro filme é repetida e Phillips resolveu potencializar as piadas de mal gosto que, se no primeiro filme flertavam com certa ingenuidade e camaradagem, no segundo filme se apresentam pesadonas e infantilóides. De qualquer maneira, com a promessa de uma terceira aventura, o filme se sagrou a comédia de maior bilheteria de todos os tempos. O que vale este registro, no caso do leitor está se questionando.

 Antes de ficar careca: sem o fator supresa, Zach Galifianakis não foi o trunfo da turma...


A maconha e o ex-presidente
Um dos filmes mais polêmicos da temporada foi brasileiro. Quebrando o tabu, do diretor Fernando Grostein Andrade, iluminou uma discussão muito mal acampada pela sociedade: a liberação da maconha. O filme, ainda que seja parcial e ingênuo em alguns momentos, é uma demonstração da força democrática representada pelo cinema. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se apresenta como o principal fiador da tese aventada por Andrade em seu filme. A quem interessar, a análise de Claquete sobre a fita pode ser lida aqui. Em 2011, outra produção abraçou o debate e não se furtou às ideologias que caracterizam a contradição que permeia a discussão sobre a maconha. Cortina de fumaça não desfrutou do status pop de Quebrando o tabu, mas compartilhou a mesma linha de raciocínio com o primo mais famoso. Ambos os filmes se encontram disponíveis legalmente na internet.


O ano em que a “censura” não foi censura
Muito se falou sobre um filme que nem sequer foi exibido oficialmente no país. O terror gore A serbian film foi proibido em diversos países devido ao alto teor de violência, contendo, inclusive, cenas fortes de violência sexual a menores.
A serbian film foi proibido pela justiça carioca, teve sua classificação indicativa suspensa pelo ministério da justiça e, posteriormente, foi proibido pelo Tribunal Federal de Minas Gerais.
A questão é que muito se discutiu sobre censura, mas como Claquete noticiou à época da pendenga, o veto à A serbian film não caracteriza censura. Vale reproduzir um trecho da referida seção Em off:

“O próprio uso da palavra censura é equivocado. O que a justiça brasileira está fazendo, ainda que de maneira bem atrapalhada, é tutela; pois visa impedir a veiculação de algo que induza à degradação. O termo, comum ao meio jurídico, pode confundir os leigos, mas exprime bem o impasse que cerca A serbian film. A gratuidade e a virulência com que a violência é encenada no filme pressupõe cuidados que extrapolam a alçada da mera classificação indicativa.
A Folha de São Paulo, um dos jornais que mais se engajam na cobertura do caso, ouviu juristas que – embora discordem acerca da proibição da exibição da fita – concordam que o uso da palavra censura é equivocado.
Diante de tamanha consternação, o blog se posiciona a favor da proibição de A serbian film. São frágeis os argumentos pró ou contra a proibição, mas é legítimo o objetivo de resguardar o menor. Embora se lamente a proibição da fita, não se pode condenar o princípio que a norteia. Isso seria ainda mais gratuito do que a violência no filme”


 O fim e o começo do fim
2011 testemunhou dois momentos apoteóticos da cultura pop contemporânea. Em julho despediu-se do cinema o maior fenômeno de bilheterias da história: Harry Potter. Harry Potter e as relíquias da morte – parte II não foi o fecho ideal para a saga de maior musculatura da história do cinema, mas foi um fim digno, melancólico, nostálgico e profundamente comovente. Os fãs irão relembrar com carinhos dos dez anos que dividiram com esses personagens queridos.
Nos últimos tempos Harry Potter só encontrou equivalência em termos de fanatismo em Crepúsculo. A saga do amor de Bella e Edward que também vem da literatura infanto-juvenil. Consideravelmente mais fraca do que Harry Potter, Crepúsculo aderiu a mesma “saída estratégica”  do bruxo de Hogwarts e dividiu o tomo final em dois filmes. O primeiro, Amanhecer-parte I, estreou no final de 2011 com toda aquela força que já se esperava.

Reunidos para o adeus: o último Harry Potter foi um dos eventos cinematográficos do ano


O revival dos anos 80 continuou em 2011
Não foi em 2011 que a onda de remakes e continuações dos “clássicos esquecidos” dos anos 80 ganharam vez. Contudo, certamente, se intensificou neste ano que se encerra. Um novo capítulo de Transformers, o remake de A hora do espanto, o filme dos Muppets, dos smurfs, Footlose, O enigma do outro mundo e a conta continua...


Spielberg, eu te amo
E por falar em anos 80, um dos grandes expoentes da década se mostrou bem ativo em 2011. Trata-se de Steven Spielberg. Em 2011 ele lançou dois filmes como diretor (As aventuras de Tintim: o segredo do Licorne e Cavalo de guerra) que estrearão no próximo mês nas salas brasileiras. Contudo, os brasileiros já puderam ver os outros quatro filmes que tiveram a mão do mago maior de Hollywood. Spielberg foi o principal produtor por trás do inesperado (?) sucesso Gigantes de aço e do improvável fracasso Cowboys & aliens. Voltou à produção executiva do terceiro filme da saga Transformers e assistiu a homenagem que J.J abrams fez ao seu cinema de muito perto em Super 8 – no qual também atuou como produtor.
A pergunta é: Aos 64 anos, Spielberg poderia ser mais ativo do que isso?


Suspenses irritadiços
Não foi um bom ano para os suspenses. Trivais, óbvios e montados nos clichês, os filmes do gênero lançados no cinema em 2011 chamaram a atenção pelo baixo nível. Reféns, dirigido pelo contestado Joel Schumacher, apresentou Nicolas Cage e Nicole Kidman em momentos de deplorável adjetivação. O sonolento A inquilina, estrelado pela atriz que quer por que quer ser a rainha do terror (estamos falando de Hilary Swank), ganharia fácil na imaginária categoria de pior roteiro do ano e 2011 ainda teve a perola 11/11/11, cabalístico filme de terror que queria capitalizar sobre a data. O pior de tudo é que conseguiu.


O amor esteve no ar... e na tela
Se para os suspenses 2011 foi uma caca, o mesmo não se pode dizer para os romances. Eles vieram para todos os gostos. Teve romance embalado pela alcunha de best seller internacional (Um dia), romance nacional embalado por viagens temporais (O homem do futuro), romance moderninho (Amizade colorida e Sexo sem compromisso), entre outros.
O ano foi generoso com as comédias românticas que modernosas ou tradicionais agradaram mais do que nos anos anteriores.

4 comentários:

  1. Boa retrospectiva!
    Quanto aos filmes nacionais, eu vi a maioria deles, mas estou até agora esperando pelo filme "Os 3", que, pelo jeito, jamais chegará aqui. Sobre os filmes 3D, nunca os vi! Se isso é bom ou ruim, não sei... mas ainda estou esperando sentir mesmo vontade de conferir um.
    E eu perdi muita coisa - não fui ver nem Pirata sdo Caribe nem Harry Potter no cinema, não vi a história de Bella e Edward, não consegui assistir Carnage, embora queira desesperadamente. Vi 11/11/11 e me decepcionei, digo o mesmo de "Reféns" - pobre Nicole Kidman! Vi também todas essas bobagens dos amigos que fazem sexo só por fazer e, olha, achei tudo isso bem chato. Minhas relações de amizade com sexo são bem mais interessante e atrativas.

    Belo post, um abraço.

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  2. Boa retrospectiva mesmo, Reinaldo. Parabéns.

    O 3D cansa mesmo, principalmente por ser usado apenas para aumentar o ingresso do filme, sem muita utilidade na narrativa. Quanto ao clube do bilhão, está de fato, mais pobre, só defendo Harry Potter por tudo que ele representa pro cinema e era o final da saga.

    Já o cinema nacional está mesmo com tudo. Assim como velho garoto Spielberg. hehe.

    bjs

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  3. Ótima retrospectiva, Reinaldo!
    De fato, 2011 foi um ano constrangedor em alguns aspectos, mas super positivos por outros (a qualidade do cinema brasileiro junto à diversidade de temas abordados).

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  4. Luís: Valeu grande Luís! Não se preocupe quanto à Carnage. O filme ainda não estreou por aqui.
    Abs

    Amanda:Obrigado Amanda.Pois é, HP 7-2 merecia adentrar o clube.Estou com vc nessa. Bjs

    Luis Galvão:E é sempre assim não é mesmo?
    Bjs

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