sábado, 31 de dezembro de 2011

Crítica - Compramos um zoológico

20 segundos de insanidade!

Filmes para família têm um léxico particular. Cameron Crowe, grande entusiasta da humanidade que é, parece ser um dos diretores capazes de extrair algo mais desse subgênero tão em voga nos fins de ano. Compramos um zoológico (We bought a zôo, EUA 2011), adaptação do livro de mesmo nome do jornalista Benjamin Mee, é um daqueles filmes em que tudo dá certo. Desde o casting até a escolha das músicas para embalar a jornada (algo que Crowe é um especialista).
Há mudanças significativas em relação ao livro para tornar o filme mais palatável para a audiência, mas o espírito da obra – que é testemunhar a força daquela família catalisada por um gesto até certo ponto desaconselhável – está preservado. Uma alteração bastante significativa é que no filme, Benjamin já é viúvo quando compra o zoológico como uma espécie de terapia, enquanto no livro isso acontece com sua esposa ainda em estágio final do câncer que a acometeu.
Matt Damon vive com equilíbrio o protagonista. O Benjamin Mee de Damon é um homem desorientado, engolido por uma situação que não sabe ao certo como administrar: uma família fraturada. Ele enxerga na aquisição do zoológico uma tentativa de acalentar almas machucadas. As coisas não fluem exatamente como ele desejava, mas fluem de maneira a levar sua família para um lugar (espiritual e emocional) melhor.

Sutilezas e lágrimas: Crowe flerta com o sentimentalismo, mas não se entrega a ele em Compramos um zoológico


Crowe se situa o tempo todo entre o sentimentalismo açucarado que pauta produções sem qualquer outro objetivo que não fazer chorar e o genuíno afeto pelos personagens. Felizmente, Compramos um zoológico transita muito bem nessa linha tênue e, inclusive, se fortalece dessa condição. Há cenas memoráveis e Crowe constrói excelentes subplots como o envolvimento entre o filho de Benjamin (o competente Colin Ford) e graciosa Lilly (Elle Fanning), prima da tratadora dos animais.
Compramos um zoológico, portanto, não se resolve apenas como um “entretenimento familiar”, ainda que seja dos mais indicados. É mais um filme que dialoga intimamente com uma filmografia calcada na crença no homem, como é a de Cameron Crowe. Ele não deixa de acreditar que, acreditando, podemos chegar lá. “Tudo que precisamos são de 20 segundos de insanidade”, exclama Benjamim para seu filho. Os personagens de Crowe se dão bem quando lançam mão dos tais 20 segundos. O próprio diretor se recupera do irregular Tudo acontece em Elizabethtown com esse novo filme. Fazer um filme para a família poderia soar insano para quem já foi considerado um dos cineastas mais talentosos dos EUA nos anos 90 e que só rodou um filme na última década. Mas os 20 segundos de insanidade fizeram bem a Crowe.

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Claquete agradece os leitores pelo prestígio, dedicação e atenção nesse ano que se encerra e deseja a todos um 2012 repleto de alegrias, realizações e muita paz e saúde. Feliz ano novo e com muito cinema para todos nós!

3 comentários:

  1. Estou pra conferir, mas vou esperar o lançamento em DVD. O filme em si, desde o início não foi muito aguardado por mim.

    Reinaldo, tenha um excelente fim de ano e que 2012 seja um ano infinitamente melhor (:

    Abraços, fera!

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  2. Já assisti, fiz uma crítica, e achei fraco. Mesmo sendo travestido por um drama familiar, é, na realidade, apenas, sim, um filme familiar padrão. Segue cartilha e cai em clichês óbvios, mas sem medo de assumir tudo isso, o que é admirável, por um lado! Uma pena que Crowe não seja tão intenso quando se demonstrou em Quase Famosos, por exemplo.

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  3. Alan: Um excelente 2012 para vc tb Alan. E com muito cinema. Abs

    Júlio: Grande Júlio. Prazer em recebê-lo por aqui. Cara, me diz que filme não caiu em clichês em 2011? Talvez só A pele que habito. Até Von Trier e Malick caíram em clichês. O clichê não é algo necessariamente ruim como vc faz crer com seu comentário. Certamente não é desabonador no caso deste filme. Acho que Crowe teve um bom 2011. Além dessa boa parábola familiar, lançou o Pearl Jam twenty.
    Abs

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