domingo, 17 de abril de 2011

Questões cinematográficas - O ano em que fizemos contato

É pontual que uma coluna que se preste a repercutir e a esmiuçar questões intrínsecas ao cinema tenha como pontapé inicial o ano de 1939. O convite para adentrar aos bastidores do ano definidor do cinema foi feito pelo leitor Rodrigo Mendes. E não foi um convite despropositado. Foi em 1939 que o cinema americano se estabeleceu comercialmente e excedeu-se como arte representativa. Foi o ano de E o vento levou (Gone with the Wind), O mágico de Oz (The wizard of Oz), No tempo das diligências (Stagecoach), O morro dos ventos uivantes (Wuthering Heights), A mulher faz o homem (Mr. Smith goes to Washington), Vitória amarga (Dark victory), Ninotchka (Ninotchka), Sangue de artista (Babes in arms), Carícia fatal (Of mice and men), Anjos sem asas (Only angels have wings) e Adeus Mr. Chips (Goodbey, Mr. Chips).
Com esses lançamentos, no ano que ficou conhecido como o melhor da história do cinema, Hollywood alinhou gêneros e métodos de produção. O épico romântico, na figura de E o vento levou, encontraria um par em expressão quase 60 anos depois (o Titanic de James Cameron), mas no ínterim um sem número de produções se fiaram na lógica do clássico em technicolor produzido por David O. Selznick.
John Ford já tinha um Oscar quando rodou No tempo das diligências, um western seminal, ainda que o gênero – e Ford debruçado sobre ele – já tivessem sido levados a tela grande. No tempo das diligências alavancou a mitológica figura de John Wayne e referendou Ford como autor mor do western americano. O sucesso de bilheteria do filme impulsionou a produção de westerns que se daria na década seguinte e ajudou a patentear o gênero como o mais célebre da cinematografia daquele país. Howard Hawks é outro cineasta que transitou maravilhosamente bem pelo western, mas em 1939 sua contribuição foi em outra seara. Anjos sem asas impressionou o mundo com seus efeitos especiais, as cenas de vôo realistas e a força do carisma de Cary Grant.
Em 1939, o cinema americano patenteou alguns gêneros. Frank Capra envernizou o cinema político com A mulher faz o homem, em que James Stewart resiste a tornar-se uma marionete de seu partido. Carícia fatal foi um dos primeiros filmes a chegar ao Oscar valendo-se de histórias de pessoas deficientes. Hoje, sabe-se que filmes com esse contexto são favoritos da academia. Foi nesse ano que surgiram os primeiros filmes alinhados pelo estúdio à proeminência de algumas de suas estrelas. Essa era a ideia por trás de Sangue de artista. Judy Garland (a estrela em evidência) e Mickey Rooney ajudaram a tornar esse musical um dos grandes sucessos da década.



Consolidação de gêneros

Adaptações literárias tornaram-se referência em Hollywood. O mágico de Oz e O morro dos ventos uivantes foram produções conturbadas, mas que se transformaram em filmes cultuados, ainda que não tenham rendido muito nas bilheterias. Os dois filmes são lembrados como clássicos destacados dentro da cinematografia americana. O mágico de Oz viabilizou a fantasia como um gênero a ser explorado no cinema sem pudores. Ainda hoje a história da menina Dorothy em Oz reverbera como vanguarda e inspiração para os realizadores de obras como Harry Potter e O senhor dos anéis.
Adeus Mr. Chips é o filme homenagem, outro expoente hollywoodiano que em 1939 se cristalizou. A fita, construída em flashbacks, narra a trajetória de um professor pelos anos de sua vida.
Também estavam em ebulição as cinematografias japonesa, francesa, espanhola e italiana. Jean Renoir filmou o seu Regras do jogo, uma análise cínica sobre a sociedade francesa às vésperas da segunda guerra mundial.
Como pode se ver ao rememorar essas obras, o cinema, em sua essência, pouco mudou. Houve evolução notável em diversos campos. Contudo, os interesses em termos de dramaturgia e as maneiras de lhe dar viço foram delimitados ali. Em 1939. O ano em que fizemos contato.

Volta para casa: o clássico O Mágico de Oz é um dos 10 filmes mais importantes da história segundo o AFI (American Film Institutue)

5 comentários:

  1. Belo ano mesmo, grandes obras e gostei da forma como você fez os paralelos com o que veio depois em seu texto. Parabéns pelo post Reinaldo e para Rodrigo pela sugestão, hehe.

    bjs

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  2. Parabéns Reinaldo!
    A melhor matéria que li sobre 1939. Você soube resumir muito bem e pautou lindamente grandes obras deste ano (do cinema)! Gostei de sua menção ao filme de Jean Renoir também.

    É...foi o ano em que fizemos contato e gostei de fazer contato com vc para com a idéia do post! Rs!
    Ótimo mesmo!

    Abs.
    RODRIGO

    p.s. deu vontade de rever 'Babes in Arms' - melhor par teen de todos os tempos!

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  3. Eu acho que 1939 é, sem dúvidas, o melhor ano da história do cinema. Isso se reflete até no número de indicados ao Oscar de Melhor Filme daquele ano, que foi fora do comum. É só também a gente ver o tanto de obras permanentes do cinema que foram produzidas nessa época, as quais estão tão bem explicadas em seu texto.

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  4. Realmente, 1939 respirou cinema! Neste ano surgiram grandes obras.... Adoro 'A Mulher faz o Homem' e 'O Mágico de Oz', mas, tem algo que melhor que o cinismo de Sacarlett O'Hara e a grandiosidade de "...E o vento levou"?!

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  5. Amanda: Obrigado mesmo pelos elogios e um obrigado mais especial ainda pela leitura atenta a esses pequenos detalhes como os paralelos.
    Bjs

    Rodrigo:Grande Rodrigo. Essa foi para vc meu brother! Obrigado pelos elogios e um obrigado especial pela inspiração.
    Abs

    Kamila: Eu, particularmente, não acho que tenha sido o melhor ano da história do cinema.Mas é indiscutivelmente um dos melhores. Agora, o caráter definidor é dele e ninguém tasca...
    Bjs

    Alan: Só o cinismo de Clarke Gable... rsrs. Vc está coberto de razão meu caro...
    Abs

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