domingo, 3 de abril de 2011

Insight

 O pecado de Bruna surfistinha



Com mais de dois milhões de espectadores, já é possível apontar Bruna surfistinha como um sucesso do cinema nacional. Talvez se firme como o de maior público do ano, talvez não. Estrelado por uma atriz global que não cansou de dizer que essa era sua verdadeira “estréia” como atriz, Bruna surfistinha é um filme sobre uma personalidade polêmica, um produto que se pretende pop e, também, uma auto-afirmação do cinema nacional que navega em direções distintas. Atualmente em cartaz nas telas do país está a história de um mentiroso profissional (Vips), de uma prostituta famosa e empreendedora, uma animação em 3D (Brasil animado 3D) e um romance com influência astrofísica (Corpos celestes). Essa diversidade mostra que o cinema brasileiro está avançando em questões mercadológicas e estruturais que não são pertinentes a esse artigo.
Mas, afinal, o que tem a contribuir Bruna surfistinha? O que impede que a fita dirigida por Marcus Baldini concilie sucesso de crítica e público? Ou mesmo sobeje no âmbito do público?
Todos esses filmes são os primeiros de diretores de uma nova geração. No caso de Corpos celestes, do paranaense Marcos Jorge, o filme, lançado agora, foi rodado antes de Estômago – seu primeiro lançamento comercial.
Todos os filmes pecam pela indulgência da realização em provar-se viável, revolucionária e vendável. Pode ser uma contingência do meio publicitário (de onde vem Baldini e Toniko Melo, diretor de Vips), mas pode ser uma efemeridade do cinema nacional impulsionada pelo interesse em seduzir um público mais transgressor (no sentido de liberalismo de fachada, de pretensão). Esse anacronismo é reforçado pela estrutura narrativa de Bruna surfistinha. O filme fala de libertinagem e pede que o espectador entre sem preconceitos no cinema, mas submete sua personagem a uma maré de clichês ao ponto de transformá-la em uma Cinderela a espera do príncipe encantado (leia mais sobre isso na crítica do filme aqui). A direção de Baldini parece se interessar em mostrar a rotina de Bruna surfistinha na mesma intensidade e escopo de quem frequentava o blog dela. Não há interesse sociológico ou cinematográfico na construção da personagem e de seus conflitos (diferentemente do que ocorre em Vips, por exemplo). Bruna surfistinha, a personagem, é enquadrada em uma estrutura conservadora de narrativa, ainda que a dramaturgia se permita algumas liberdades, como quando Bruna cospe sêmen ou urina em um cliente entusiasta da chuva dourada. O grande pecado do filme é ser flagrado em sua bipolaridade: a necessidade de ser um blockbuster com uma história de grandes potencialidades dramáticas. É por isso que custou a chegar aos dois milhões (a expectativa era que rompesse essa barreira em pouco mais de uma semana) e não deve chegar aos três. É por isso que a crítica recebeu a fita com frieza. O meio termo é o repouso de um filme que, mais do que qualquer outra coisa, explica maravilhosamente bem o status do cinema nacional. E, ainda que involuntariamente, traceja as alternativas para o futuro próximo.

3 comentários:

  1. Você foi perfeito nesse texto, Reinaldo. Realmente, não houve interesse de desconstruir a personagem de Bruna Surfistinha nesse filme. A prova maior disso estava no grande erro do roteiro: a motivação para a entrada da Raquel na vida de prostituição. Quem cai nessa balela de ser independente e não depender de ninguém mais na vida???

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  2. Ainda não é o que cinema brasileiro precisa, mas é bom ve-lo ganhando ousadia, saindo da mesmice de favelas e comedias, aprovado por causa disso, mas ainda é fraco!!!

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  3. Kamila: Obrigado Ka.
    Bjs

    Diego: Não vejo Bruna surfistinha como um movimento de ousadia do cinema brasileiro... mas entendo sua percepção.
    Abs

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