quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - O caso Jeff Bridges

É curioso como ao longo dos anos a academia se especializou em inverter as bolas nas premiações para atores. É pacífico que muitos prêmios para a classe de atores se prestam mais a uma homenagem pela carreira do que pelo papel lembrado propriamente dito. Com diretores, embora muitos argumentem que a premiação de Scorsese em 2007 por Os infiltrados se enquadre nessa estatística, essa garimpagem é mais difícil. Restam os oscars honorários, como foram os casos de gente como Hitchcock, Kubrick, Blake Edwards, entre outros. Não é necessário estar no fim da carreira para “justificar” um Oscar. Julia Roberts, por exemplo, estava no auge da popularidade e ainda a quase uma década de chegar aos famigerados “enta” (a atriz tinha 33 anos em 2000) quando ganhou um Oscar pelo papel título no filme (com jeito de telefilme) Erin Brockovich- uma mulher de talento. Prevalecendo sobre concorrentes muito melhores como Ellen Burtsy por Réquiem por um sonho. A premiação a Roberts ocorreu porque existia a necessidade de consagrar artisticamente a maior estrela de Hollywood naquele momento (o mesmo aconteceria com Reese Witherspoon em 2006). Quatro anos mais tarde, a estrela entregaria uma atuação digna de tal reconhecimento no Oscar em Closer –perto demais (no mínimo, muito mais densa do que a que foi premiada), mas não foi sequer lembrada.
Não é preciso ir muito longe para ver que a academia, vira e mexe, troca as mãos pelos pés. Em 2000 (que ano hein?!), premiou Russel Crowe pela boa perfomance em Gladiador. O gesto não foi muito discutido porque a concorrência estava nivelada e, de quebra, configurava-se um novo astro. Mas no ano seguinte veio o castigo. Crowe estava duas escalas acima de seus concorrentes em 2001 por Uma mente brilhante (papel pelo qual amealhou prêmios a torto e direito), mas perdeu o Oscar de melhor ator para Denzel Washington por Dia de treinamento (outro injustiçado histórico que chegava assim a seu segundo Oscar, boa média para distinguir os grandes dos demais).


Julia Roberts em cena de Erin Brockovich: ela ainda entregaria a grande performance de sua carreira anos mais tarde, mas a academia não punha muita fé que isso pudesse acontecer...


E o que dizer de Peter O´Toole? O ator mais derrotado na história do Oscar? Foram sete indicações, sem nenhuma vitória. Em 2003, a academia lhe concedeu o famigerado Oscar em homenagem a vistosa carreira. Tudo para dali a três anos se ver na contingência de indicá-lo novamente ao prêmio. Sua atuação em Vênus (2006) foi, certamente, a melhor da temporada. Contudo, para evitar uma saia justa maior ainda, optou-se pelo favorito Forest Whitaker (que justiça seja feita também merecia o prêmio). O´ Toole, além de aumentar o recorde de ator mais derrotado da história dos Oscars, ainda acrescentou a curiosa estatística de ter sido o único a concorrer a um Oscar após ter recebido um prêmio de homenagem pela carreira.

Russel Crowe, soberbo, em Uma mente brilhante: a academia achou que ele não "merecia" uma segunda estatueta e negou-lhe o Oscar mais merecido


E o Jeff Bridges?

Pois é. Ano passado Jeff Bridges, apesar de merecer a indicação, não tinha nem de longe a melhor atuação do ano. O fato de ser um ator veterano, com bom trânsito junto à comunidade artística e que nunca tinha sido reverenciado a contento, pesou mais do que as melhores atuações de Colin Firth (Direito de amar) e George Clooney (Amor sem escalas) na hora H. Ok. Mas qual é a celeuma aí? A história se repete. Para a ironia ficar mais gostosa. Firth (O discurso do rei) e Bridges (Bravura indômita) retornam a cena em 2011. Firth, dessa vez com o favoritismo. Apesar de sua performance em Direito de amar ser apontada como superior, ele pode faturar o prêmio este ano - como uma mea-culpa pela omissão da academia. Que por sua vez pode nem mesmo indicar Bridges, por um papel, no limiar, mais complexo e exigente do que o do cantor decadente Bad Blake em Coração Louco. Configuraria-se, dessa maneira - ainda que hipoteticamente, uma injustiça dupla. Ou quadrúpla, se atentarmos à matemática.
Claquete não advoga que Firth não mereça o prêmio pelo papel do rei George ou que Bridges merece a dobradinha. Apenas antecipa e contextualiza para o leitor uma “maldição” que parece se renovar anos após ano nos bastidores do principal prêmio da indústria cinematográfica.

Colin Firth em cena de O discurso do rei e Jeff Bridges em Bravura indômita: So we meet again...

12 comentários:

  1. Bom texto, a academia é mesmo um jogo de interesse estratégico. É sempre "difícil" entender algumas indicações e premiações. Faz parte do show.

    bjs

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  2. Casos como esse são típicos da Academia... Típicos... A Academia premia por momento, por reconhecimento, por mercado. É uma votação na qual, na maior parte das vezes, infelizmente, o mérito passa longe...

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  3. Já faz algum tempo que ando por fora do Oscar, não vejo mais a festa e só dou uma lidinha nos tablóides os resultados, rs! Prezo mais a Palma De Ouro do que qualquer outro award.

    Acho que a formidável Ellen Burstyn já deveria ter ganho por 'Alice Não Mora Mais Aqui' do Scorsese e concordo contigo que em 'Closer', a Julia está mais performática.

    Agora uma curiosidade. O Kubrick ganhou Oscar honorário? Ou póstumo? Eu sei do D.W Griffith Award ele fez até um discurso. E os prêmios; Leão de Ouro , Director's Guild of American pelo conjunto da obra e o prêmio Luchino Visconti na Itália, em 1998. E o Hitchcok dando discurso quando ganhou o Irving G. Thalberg é uma das coisas que não esqueço, rs! Esta nos extras de Psicose Edição de Colecionador!

    Ótima claquetada no mundo do Oscar!

    Abs.
    Rodrigo

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  4. Se a Academia fosse realmente honesta em premiar a melhor atuação do ano, com certeza, seria mais revigorante e claro, haveria uma justiça maior. Bridges esteve ótimo em "Coração louco", mas concordo que não merecia o Oscar de Melhor Ator [que pelo visto, este ano faria mais sentido com o filme dos Coen]. Enfim, o jeito é aprender a viver conforma a coreografia imposta pelo Oscar...

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  5. Sou cético quanto a premiações ou disputas em que se escolhe sem critérios bem definidos.

    No Oscar fica impossível "calcular" a melhor atuação, a escolha é feita por votos que se baseiam no critério que o votante quiser (simpatia, força, amizade, dinheiro, etc), ficando desta forma mais fácil a manipulação do dos votos.

    Abraço

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  6. Ótima análise Reinaldo. Parabéns, não só por esse texto, como também todos os OSCAR WATCH que estão ótimos!

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  7. Marcelo: Sim, sim. Mas a ideia aqui não era discutir as chances de cada um... abs

    Amanda: faz parte do show e confere graça ao "jogo". bjs

    Kamila: pois é... bjs

    Rodrigo: Valeu Rodrigo. Como assim vc não vê mais o Oscar????!!! rsrs. Adoro Cannes, mas o Oscar ainda é o Oscar. E não só pelo glamour. Até pq Cannes, ultimamente, têm sido mais ostentação do qualquer outra coisa...
    enfim, conforme pûs no Tira-teima. Tanto Hitch quanto Kubrick só ganharam, na figura de diretores, Oscars honorários...
    abs

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  8. Alan: Honesta a academia até é. Ela quer premiar quem merece, o problemas é que em virtude disso incorre em uma incascata de injustiças... abs

    Hugo: Concordo com vc. Mas com quase seis mil votos, esses critérios são diluídos. Por isso é que se assemelha a uma campanha política... abs

    Por que vc faz poema? Ok. Abs

    Luis Galvão: Poxa valeu Luis. Que bom que alguém está acompanhando e gostando!
    Abs

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  9. Será que esse não vai ser o caso da Natalie Portman esse ano? Ela também foi esquecida por Closer. Abraços

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  10. Afo.maia: Natalie vai ganhar pq está acima das demais concorrentes mesmo. Mas concordo contigo, daria para a gnt encaixar nesse contexto, já que Cate Blanchet ganhou naquele ano por um de seus papéis mais fracos (O aviador).
    abs

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