1- A invenção de Hugo Cabret, 2- O homem que mudou o jogo, 3 - A árvore da vida, 4- O artista, 5 - Histórias cruzadas, 6 - Os descendentes, 7 - Tão forte e tão perto, 8 - Cavalo de guerra, 9- Meia-noite em Paris
O BBB
É compreensível o tipo de preconceito que filmes como Histórias cruzadas despertam em cinéfilos e espectadores mais sofisticados, mas a fita de Tate Taylor é aquele filme de comunhão popular difícil de se desvencilhar. É um dramalhão, é edificante, é manipulador, mas é, também, estranhamente sincero em suas pretensões. Com a ajuda de um elenco coeso e de muito brilho, Histórias cruzadas chega ao Oscar com a pecha de “filme menor”, mas com a maior bilheteria entre os indicados e a maior aprovação entre os variados setores da indústria do cinema.
Prós:
- É um drama construído sobre o trabalho do elenco, o que pode valer votos sentimentais do maior colegiado da academia, justamente os atores
- Pode se beneficiar do hype de suas duas principais atrizes que estão sendo bastante premiadas na temporada
- É um drama de cunho racial e a academia gosta de reconhecer esse tipo de filme
- É, inegavelmente, o filme que reunirá mais “expectadores médios” da cerimônia na torcida
Contras:
- É um filme com sérios problemas narrativos e um formato demasiadamente convencional
- Não possui indicações para direção e roteiro, o que torna praticamente impossível um triunfo
- É um drama construído sobre o trabalho do elenco e Oscars para membros desse elenco (e dois deles são bem prováveis) já honraria essa condição
- Não é um filme que proponha qualquer tipo de reflexão, diferentemente de alguns dos principais indicados do ano
O independente aprazível
Os descendentes é um filme independente. Mas nem parece. Nem tanto pela presença de George Clooney, mas mais pela extrema sutileza do registro de Alexander Payne e da forma como ele usa o Havaí na história. É um filme praticamente impossível de se desgostar. Isso pode ser uma vantagem na hora h. O drama que flerta conscientemente com a comédia ao mostrar as vias tortas do amadurecimento não é a melhor pedida do ano, mas não deixa de ser uma boa pedida.
Prós:
- Depois de O artista, foi o filme mais premiado pela crítica no ano
- Ganhou o Globo de ouro de melhor filme dramático
- É a opção mais consistente para quem resiste embarcar na nostalgia proposta pelos filmes O artista e A invenção de Hugo Cabret
- É estrelado por uma das figuras mais queridas da Hollywood atual, George Clooney
- É uma opção independente que não desagradaria os chefões de estúdios - diferentemente da consagração de O artista, por exemplo
- É um filme palatável que se não desperta paixões, não gera animosidades
Contras:
- Não é o melhor filme de Alexander Payne e isso pode pesar contra a candidatura do filme
- Muita gente pode resolver premiar o roteiro e George Clooney – notadamente os maiores trunfos do filme – e preterir a fita na disputa principal
- Perdeu a posição de “independente do ano” para o independente e parcialmente estrangeiro O artista
- A maioria dos prêmios que recebeu foi no início da temporada
Manifesto de amor
Quem pode bater O artista? O filme de Michel Hazanavicius não é o melhor do ano. Mas, vencidos os preconceitos, talvez se apresente como o melhor dos nove filmes indicados. Que é o mais charmoso de todos já é favas contadas. Mas O artista também é a prova definitiva de que foi o cinema americano que moldou o cinema – e veio da França essa homenagem. O artista também pode ser a prova definitiva de que a academia está disposta a premiar um filme mudo e em preto e branco em plena era do 3D e em meio a uma consternação midiática por mais audiência na cerimônia de TV. Eleger como melhor do ano um filme com essas características não deixa de ser a concepção ideal do Oscar e uma escolha significativamente progressista.
Prós:
- É uma declaração de amor aberta ao cinema – em particular a Hollywood – e isso parece computar pontos em favor do filme
- É o postulante mais charmoso e simpático de todos e houve anos em que isso foi suficiente para vitórias francas
- É o filme mais premiado da temporada
- Venceu os principais termômetros para o Oscar como o Critic´s Choice Awards, o Bafta, o Globo de Ouro, o Producer Guild Awards e o Director Guild Awards
- É o favorito ao prêmio
- Pode se beneficiar da lógica “se for para premiar um filme que clama à nostalgia, que seja um que a assume de vez em forma e conteúdo”
Contras:
- É demasiadamente progressista para os padrões da academia. Seria o primeiro filme mudo a vencer o Oscar desde o primeiro vencedor do Oscar (Asas)
- Seria o segundo vencedor do Oscar de menor bilheteria da história. Atrás apenas de Guerra ao terror. Mais alarmante ainda é a constatação de que as escolhas seriam tão próximas
- Ainda que se tenha algum financiamento americano, é um filme francês
- A invenção de Hugo Cabret é uma opção de estúdio à nostalgia proposta por O artista
- A trama, descolada das opções estéticas da realização, é demasiadamente simples para um filme vencedor do Oscar
Filme classe A
Um diretor elegante, um super astro, um tema envolvente e roteiristas brilhantes. O homem que mudou o jogo faz jus as suas credenciais. É um filme de incrível força narrativa e improvável apelo emocional. Um filme de estúdio que conjuga clichês de blockbuster com a assertividade do cinema independente. Uma excelente condecoração na lista dos melhores de 2011 no Oscar.
Prós:
- É um filme que faz uso inteligente de variadas metáforas
- Tem um verdadeiro batalhão de profissionais admirados em sua ficha técnica
- É um filme adulto para adultos. Um dos poucos entre os nove finalistas
- Tem o mote da “segunda chance” como um de seus principais alicerces e a academia aprecia isso
- Depois de Histórias cruzadas, é o filme de maior bilheteria em competição
Contras:
- Apesar do filme ter recebido prêmios da crítica, nenhum foi para a fita em si
- É um filme esportivo e isso pode esbarrar no preconceito de muitos votantes
- Não emplacou uma nomeação para direção, o que diminui consideravelmente as chances do filme
- A pecha de que a indicação já é reconhecimento suficiente
O Cinema como elemento transformador
Martin Scorsese é um gênio. Isso é sabido. Mas o que ele faz com A invenção de Hugo Cabret, filme que exalta o cinema como mecanismo definidor de vidas, é mostrar como essa percepção está associada às possibilidades ofertadas pela sétima arte. O próprio diretor admitiu que possui muita identificação com o protagonista de seu filme. Essa confissão diz muito sobre o que é A invenção de Hugo Cabret, em sua concepção primal, e sobre suas chances no Oscar.
Prós:
- É um legítimo "feel good movie" que mistura história e ficção. O Oscar já consagrou filmes desse perfil como, por exemplo, Forrest Gump – o contador de histórias
- Assim como O artista, é uma homenagem altiva ao cinema. Só que mais poética
- É dirigido por Scorsese e, ao que parece, ele anda mais pop do que nunca
- É uma opção de estúdio à nostalgia proposta por O artista
- É um filme familiar e isso poderia pegar bem para o Oscar
- A vitória de um filme em 3D poderia legitimar a tecnologia como ferramenta autoral no cinema
Contras:
- É, na embalagem, um filme infantil. Gênero pouco apreciado pelo perfil majoritário dos votantes no Oscar
- Scorsese foi consagrado no Oscar em período relativamente recente (2007). É raro a academia agraciar um artista em grande escala em período tão curto
- Não tem no elenco um forte chamariz, ao contrário de seus principais concorrentes
- É em 3D e o formato ainda desperta muito preconceito, inclusive entre os acadêmicos
- Não é o melhor filme do ano e há quem possa resistir conceder um Oscar a um “filme homenagem”
A unanimidade invertida
Parece difícil crer que Stephen Daldry, um diretor aclamado pela academia e pela crítica, é o responsável pela inclusão mais discutível da lista. Mas é a verdade pura e simples. Tão forte e tão perto na disputa pelo Oscar de melhor filme é fruto da diversidade de critérios que não se ajustam às flexíveis regras para eleger os concorrentes na categoria. Daldry conheceu, em seu quarto filme, seu primeiro revés crítico, mas ainda não sabe o que é ser preterido pela academia – ainda que tenha ficado pela primeira vez fora da disputa pelo troféu de diretor.
Prós:
- É sobre o 11 de setembro e há quem possa se sentir tentado pelo aspecto sentimental que o filme envolve
- Tem um verdadeiro batalhão de profissionais admirados em sua ficha técnica
- É um drama edificante e vai que...
Contras:
- Só tem uma indicação fora a de melhor filme e seria desmoralizante para o Oscar um filme triunfar nesses termos
- Sem indicações para direção, roteiro ou montagem a pecha é mesmo de figurante
- A falta de aprovação crítica lhe é amplamente desfavorável
- De todas as premiações majors, só esteve entre os finalistas do Critic´s Choice Awards
Nostalgia do presente
Tem quem enxergue em Meia-noite em Paris uma ode ao passado. Não deixa de ser. Mas a verdadeira meta de Woody Allen aqui é valorizar o presente. A nostalgia, advoga o autor, é muito recomendável desde que manejada com moderação e sobriedade. Não podemos nos confinar em nós mesmos. O filme, por conciliar tão bem essas propostas aparentemente antagônicas, é classificado como “o melhor Woody Allen em anos”. Exageros a parte, é um filme romântico sobre como manter uma postura otimista em relação a vida.
Prós:
- É um filme afável e “pra cima”. Difícil de alguém não gostar
- Pode se beneficiar da máxima “a volta de Woody Allen”
- Seria um jeito de a academia prestigiar as comédias e com o pedigree internacional de Woody Allen
Contras:
- É um filme leve, mas não é o único do ano
- Já foi lançado há muito tempo nos EUA
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- A preferência de honrar Woody Allen na categoria de roteiro original
- O baixo número de indicações também é um empecilho
Abraçando o mundo
A ideia de falar sobre a criação do universo, a concepção de fé humana e a relação entre graça e natureza, a partir do microcosmo de uma família conservadora americana dos anos 50 parece uma ideia megalomaníaca e é. Não a toa, o cineasta Terrence Malick levou anos para materializá-la em um filme que gerou opiniões dissonantes, mas igualmente apaixonadas. A árvore da vida não é um legítimo vencedor do Oscar de melhor filme, mas sua presença na categoria ajuda a desmistificar a sisudez da academia.
Prós:
- É o vencedor da Palma de ouro
- Seria uma demonstração de que a academia pensa mais o cinema como arte do que como indústria
- É um filme que conta com cabos eleitorais poderosos
- É um projeto grandioso e o Oscar já reconheceu filmes desse perfil
Contras:
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- Não é o melhor filme do ano e todo mundo sabe disso
- Seria uma forma de reconhecer Cannes como uma plataforma mais importante em termos de reconhecimento artístico e isso pode despertar a rivalidade dos membros da academia
- É um filme difícil, pouco visto e nem um pouco pop (ao contrário do pouco visto, mas muito midiático O artista)
Épico sentimental
É bem verdade que a participação de Steven Spielberg no Oscar 2012 é menor do que se antecipava, mas o intuito foi parcialmente alcançado. Cavalo de guerra, um filme à moda antiga, sobre uma guerra pouco retratada pelo cinema e sob o improvável ponto de vista de um cavalo está na disputa por seis estatuetas, incluindo melhor filme. Cavalo de guerra é um filme que apela às emoções fáceis, mas o faz com generosidade, honestidade e exuberância técnica. É justa sua presença na categoria.
Prós:
- É um épico que dialoga com grandes filmes do passado como os dirigidos por John Ford e Howard Hawks
- É filme de Steven Spielberg e esse nome tem um peso...
- É genuinamente emocionante
- O Oscar já premiou filmes que se utilizam descaradamente de artifícios manipulativos como Crash – no limite e Quem quer ser um milionário?
Contras:
- A ausência nas categorias de direção e roteiro adaptado podem lhe ser fatais
- Não goza de unanimidade crítica
- Premiar um filme em que o herói é um cavalo pode soar estranho
- O tom fabular da história vai contra as últimas escolhas da academia na categoria
- Não ganhou um prêmio sequer de melhor filme na temporada de premiações