Páginas de Claquete

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Claquete repercute - Duo Antes do amanhecer/Antes do pôr-do-sol


Há quem acredite que de todas as artes, o cinema é a mais romântica. A justificativa é de que harmoniza todas as outras e lhe dá viço emocional através da imagem. É um raciocínio pertinente que se transforma em uma ideia ainda mais sedutora se sobreposta ao díptico orquestrado pelo cineasta Richard Linklater. Não era algo premeditado, mas o resultado nos permite atentar à simplicidade de ideias e conteúdos ajustados em dois filmes que se complementam e juntos produzem sentido uníssono, ainda que funcionem maravilhosamente bem separados.

O que Linkater alcança é a sensação de que o cinema pode ser, ao mesmo tempo, sensorial, leve, profundo, romântico, inadequado, pop, cult e sofisticado. Sem prescindir de rearranjos estilísticos e opções estéticas que facilitem a identificação de um cinema bem específico, no caso o panorama independente americano.
No primeiro filme, datado de 1995, Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) passam uma noite em Viena com a sombra da certeza de que aquele encontro é definitivo. Existe um tentador charme romântico na ideia da impossibilidade dos desejos, de imaginar o “e se” e Antes do amanhecer é um filme que se impregna dessa atmosfera. É um filme falado. Do tipo que são Closer-perto demais e Cenas de um casamento – outras perolas do cinema que versa sobre relações pessoais e suas bifurcações amorosas.
Juventude, sonhos e maravilhamento são matérias-primas bem adornadas por Linklater e que, na ebulição química que os dois protagonistas apresentam, nos conduzem a um estado de imersão sensorial.
A ideia de retornar àqueles personagens, surgida totalmente do aleatório uma década depois, parecia fazer sentido narrativamente. E fazia. Em Antes do pôr-do-sol (2004), que teve seu roteiro indicado ao Oscar, Linkater divide os créditos do texto com seu par de atores que, na trama, se encontram nove anos depois durante uma excursão à França de Jesse para divulgar um romance. 
O filme segue a mesma estrutura do primeiro, mas cresce dramaticamente ao trabalhar com o conflito entre o que os personagens sonhavam dez anos antes e o que eles eram naquele momento. O que eles almejavam, como guardaram na memória aquele mágico momento desfrutado em Viena e como o ensejo do reencontro lhes afetaria. Em um contexto mais amplo, o segundo filme dialoga com o primeiro, mas também lhe rouba alguns encantos e devaneios. Ainda que o faça de maneira poética – como sugere o título. Não se trata mais da esperança antes do dia chegar e sim das realizações antes da noite cair.
Como experiência cinematográfica, o díptico de Richard Linklater sobeja no afirmamento de que o cinema é um celeiro infindável, desde que bem articulado, para tudo que pode ser pensado – como diria o mestre Stanley Kubrick. 

Momento Claquete # 29

Oscar moments

Os estrangeiros: um extasiado Jean Dujardin posa ao lado do introvertido Asghar Farhadi e troca dicas de como evoluir na língua inglesa

 O ator Matthew Lillard, que compõe o elenco de Os descendentes, chega "abastecido" para a festa da Weinstein company realizada após a cerimônia

Trio ternura: Sergio Mendes, Carlinhos Brown e Carlos Saldanha foram Brasil no Oscar 

Ufa, mais um para a conta: o host Billy Crystal acompanha pela tela Tom Cruise anunciar O artista como o melhor filme do ano minutos antes de passar a régua na cerimônia de 2012 

I gonna show you my magic: Emma Stone acerta os ponteiros com Ben Stiller antes de ambos apresentarem um prêmio

Make me immortal: o diretor Michel Hazanavicius observa seu nome sendo gravado na estatueta. Glória que nenhum outro cineasta francês experimentou...  

Quase irmãos: Christopher Plummer brinca com a própria idade e a do Oscar e lança a pergunta "onde você esteve por toda a minha vida?"

1,2,3...: Natalie Portman dá aquela concentrada antes de adentrar o palco para anunciar o prêmio de melhor ator

Laços de família: a atriz Kate Mara foi torcer bem de pertinho pela maninha Rooney que concorria ao Oscar de melhor atriz por Os homens que não amavam as mulheres

O homem do ano: Harvey Weinstein chega acompanhado de sua mulher, Georgina Chapman, à festa promovida pelo próprio. Harvey foi o grande vencedor da noite; os filmes por ele distribuídos ficaram com oito oscars

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Oscar Watch 2012 - Crítica da 84ª edição do Oscar

Saudosismo e pragmatismo


A consagração de O artista movia um interesse mórbido entre indústria e cinéfilos. Estaria a academia de Artes e Ciências de Hollywood disposta a premiar um filme não anglo-saxão? A campanha perpetrada pelo todo poderoso Harvey Weinstein – que pelo segundo ano garante a um filme por ele distribuído o Oscar de melhor filme – induzia a uma flexibilização desse raciocínio. Weinstein focava menos no fato de O artista ser francês e mais na homenagem ao cinema que a fita emanava. Menos na simplicidade da proposta e mais no exotismo da estética. Por coincidência, a consagração de O artista rimou com a poesia visual de Martin Scorsese, cujo A invenção de Hugo Cabret angariou cinco Oscars (fotografia, direção de arte, efeitos especiais, edição de som e mixagem de som). Coincidência? Premiar Woody Allen quase 20 anos depois de seu último Oscar e, finalmente, conduzir Meryl Streep à distinta galeria dos intérpretes que possuem três Oscars desfazem essa impressão. O Oscar 2012 potencializou o culto à indústria que o próprio Oscar é em sua concepção. Mas Por quê? Porque o cinema anda saudoso de si mesmo. O que ajuda a explicar porque A invenção de Hugo Cabret triunfou na área técnica e O artista em prêmios mais nobres. O filme de Michel Hazanavicius nos lembra de uma narrativa mais simples e do poder embevecedor que o cinema desperta quando transpira meramente pelo cinema. Virou lugar comum apontar a segregação entre a academia e o público. Mas é deverás injusto taxar a academia de elitista. Como instituição, reveste-se da autoridade de premiar o que de melhor foi produzido no ano. Não são as bilheterias que distinguem o que foi produzido de melhor. Ainda que não possam ser desconsideradas. A academia, ainda que de forma bastante trôpega, tem tentado afinar essa relação.
Em 2012, o Oscar para O artista foi justo, entre outras razões, pelo fato de ser o melhor filme entre os nove concorrentes. Simples assim. O filme francês sobeja em algo que falta a seu sinônimo americano em matéria de homenagem ao cinema: ele não aliena o público médio. A audiência contemporânea – aquela desacostumada dos filmes mudos e em preto e branco – entra ressabiada para uma sessão e sai maravilhada com esse pequeno manifesto de amor à Hollywood de ontem e que fala, também, sobre a Hollywood de hoje. Vive-se um novo momento de crise no cinema. O assédio da pirataria, a profusão de novas mídias (ipads, celulares e outras plataformas) como lembrou o host Billy Crystal e a franca uniformização da produção cinematográfica – cada vez menos criativa – acendem o sinal de alerta. O sentido político da escolha de O artista como o melhor filme de 2011 se circunscreve nesse miolo. É um filme que fala sobre como Hollywood se saiu após uma crise de igual estatura: o advento do som. Todo um modelo de produção teve de ser repensado. É mais ou menos a situação que se vive agora. Se o Oscar fosse para A invenção de Hugo Cabret, esse manifesto talvez não ficasse tão evidente. Ao optar por O artista, além da ode à nostalgia, revela-se a preocupação com o futuro. Essa preocupação também deu o tom do show produzido por Brian Grazer e ancorado pelo comediante Billy Crystal.

Berenice Bejo e Jean Dujardin aplaudem: noite francesa no Oscar que abre bons precedentes...


Ossos do ofício
Foi uma cerimônia mais dinâmica e enxuta do que as anteriores. Crystal exibiu aquela confiabilidade característica de quem é veterano na função de apresentar o Oscar. Não ofendeu ninguém, flertou com as piadas politicamente incorretas ao brincar com George Clooney e Nick Nolte e deixou alguns dos apresentadores brilharem como Angelina Jolie – que resolveu reavivar seu sex appeal – Emma Stone, Robert Downey Jr. (uma aposta sempre segura) e Chris Rock.
Se a cerimônia de tv não foi um arroubo de criatividade, teve na sobriedade e no humor sutil sua marca registrada.
Também foram sóbrias as escolhas da academia nas categorias técnicas. Com o franco domínio de A invenção de Hugo Cabret. Os Oscars de fotografia, efeitos especiais e mixagem de som não são exatamente justos, mas não são exatamente injustos. Serviram ao propósito de engrandecer o apuro técnico do filme de Scorsese.
As escolhas para melhor roteiro já eram mais antecipadas. Roteiro adaptado foi para Os descendentes – o filme independente americano mais aclamado pela crítica na temporada. E o prêmio de roteiro original foi para Meia-noite em Paris, fita que viabilizou o maior sucesso comercial da carreira de Woody Allen. São prêmios válidos, ainda que houvesse concorrentes melhores em ambas as categorias. A mesma lógica se aplica para as escolhas dos coadjuvantes do ano. Tanto Plummer, mais pela carreira do que pelo papel em Toda forma de amor, como Octavia Spencer (uma força indesviável em Histórias cruzadas) são opções legítimas, ainda que não fossem as melhores em suas respectivas categorias.
O que mais chama a atenção no Oscar 2012 é sua incrível vocação estrangeira. O que pode dar pistas para uma nova orientação daqui para frente. A vitória de uma produção não anglo-saxônica na categoria principal, eminentemente, reverberará nos corredores da indústria. Em que termos, porém, ainda é uma incógnita. Também foi a primeira vitória do cinema iraniano e do cinema paquistanês no Oscar. A primeira vitória de um diretor e ator franceses nas categorias principais. Roman Polanski, é bom lembrar, é franco-polonês. Mediante tantas “primeiras vezes” e sob o signo francês é até reconfortante saber que a primeira vez do Brasil ainda segue por vir. Tanto "Real in Rio" quanto "Man or muppet" são canções sofríveis e, para o bem da utopia nacional, é positivo que a alardeada “vitória” do Brasil no Oscar não tenha vindo em 2012.

Os homens de preto: Jim Rash, Alexander Payne e Nat Faxon são os roteiristas premiados pelo texto de Os descendentes


O que veio foi o terceiro Oscar de Meryl Streep. E alguém discorda? A própria atriz brincou com a agonizante espera que virou um dos paradigmas do Oscar. “Quando disseram meu nome eu pensei em metade do público dizendo: ela de novo... mas que seja”. Uma frase sintomática do que significa esse terceiro, aguardado e merecido Oscar. A atriz não defendia a melhor performance do ano, apesar de sua presença em A dama de ferro ser, de longe, o que de melhor este filme tem a oferecer. Mas o Oscar a Streep é daquelas coisas inquestionáveis como 2 e 2 são 4.
Ironicamente, apesar de mais justo e merecido, o Oscar para o francês Jean Dujardin é mais questionado. Há quem acredite que esse era o momento de “consagrar” George Clooney. Se Clonney está soberbo em Os descendentes, Dujardin está extraterrestre em O artista. Há de se louvar a academia por honrar um estrangeiro em uma categoria em que concorriam dois dos maiores astros americanos vivos. Dujardin era, de fato, o melhor ator do ano. E o Oscar teve o discernimento, amparado pelo charme cativante do francês, de reconhecer isso.
A edição 84 dos prêmios da academia foi mais justa do que as três últimas; e essa deferência precisa ser feita. O último vencedor do Oscar inquestionável foi Onde os fracos não têm vez em 2008. De lá para cá, em menor ou maior grau, Quem quer ser um milionário?, Guerra ao terror e O discurso do rei provocaram descontentamento e suscitaram dúvidas sobre o desprendimento da academia. Ainda que tenha sido uma premiação previsível, o Oscar foi honesto com suas proposições e com as expectativas daqueles que o cercam. Essa condição, em última análise, é que mais precisa ser louvada. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Oscar Watch 2012 - Cenas de cinema (Oscar 2012)

"Eu tenho o sentimento de que será uma noite francesa"
    George Clooney, no tapete vermelho ao ser indagado sobre suas expectativas para a noite do Oscar



Fim de semana preto e branco
Começou na sexta. O artista, presumivelmente, ganhou os principais prêmios no César, o chamado “Oscar francês”. Filme, direção, figurino e trilha sonora entre eles. No sábado foi a vez do filme triunfar no Independent spirit Awards. Mais quatro troféus: filme, direção, ator e fotografia. E veio o Oscar. Conforme o esperado, O artista foi o grande vencedor da noite. Levou as estatuetas de filme, direção, ator, trilha sonora e figurino. Foi uma vitória justa e que encerra uma das campanhas mais vitoriosas de um filme na história do cinema.

Alguns recordes de O artista
É o primeiro filme a vencer o Spirit Awards e o Oscar em 25 anos. É a primeira produção não anglo-saxônica a vencer o Oscar de melhor filme na história da premiação. É o primeiro filme mudo a ganhar o Oscar principal desde o primeiro filme a vencer o Oscar em 1929. É o primeiro filme em preto e branco a ganhar o Oscar de melhor filme desde o triunfo de A lista de Schindler. Representa a quinta vitória na disputa de melhor filme para os irmãos Weinstein em 17 anos.

Uma deferência a Meryl...

Aconteceu. Meryl Streep ganhou, finalmente, seu terceiro Oscar pelo desempenho como Margaret Thatcher em A dama de ferro. Se é preciso pontificar que Meryl Streep não era a melhor atriz na disputa, é preciso – mais do que reconhecer a premência desse terceiro Oscar – a deferência feita pela academia ao honrá-la com a terceira estatueta em um ano com interpretações femininas tão maravilhosas. Se tivesse a premiado em 2010 por Julie & Julia, por exemplo, um trabalho infinitamente inferior em relação ao qual concorreu este ano o sabor seria menos palatável. A concorrência, naquele ano, também era mais fraca. Da maneira como ocorreu, Meryl Streep foi exaltada como deveria ser: soberana entre todas as atrizes em atividade. 


O Oscar da nostalgia cede a nostalgia...
Já era sabido que a edição de 2012 era pendente à nostalgia, em virtude dos candidatos favoritos. Contudo, o tom nostálgico estava presente desde o cenário do Hollywood and Highland Center (ex-Kodak theather), até a distribuição dos prêmios. Os dois favoritos da noite dividiram os prêmios irmãmente, ainda que O artista tenha prevalecido nas categorias mais nobres, e teve prêmios para Meryl Streep (uma lenda já sacramentada e há muito negligenciada), Woody Allen (quer coisa mais nostálgica do que premiar Woody Allen?), Christopher Plummer (ator longevo que se configurou como o mais idoso a vencer um Oscar competitivo) e Billy Crystal fazendo aquilo que ele já fazia há 20 anos atrás. Foi um Oscar saudosista de tempos passados, ainda que mais enxuto e dinâmico em sua extensão.


Dujardin, o incrível...
A vitória era, até certo ponto, esperada. Além de merecida. Quando subiu ao palco para agradecer pelo Oscar de melhor ator, Jean Dujardin se mostrou ainda mais charmoso e mais a vontade com seu inglês que, notadamente, evolui. “É como ganhar uma copa do mundo”, disse o ator no backstage para os repórteres. Na França, as vitórias de O artista e Dujardin foram comemoradas até mesmo pelo presidente Nicolas Sarkozy. 
Nos últimos três anos, o detentor da Palma de ouro de melhor ator em Cannes concorreu ao Oscar. Em 2010, o austríaco Christoph Waltz levou o prêmio de coadjuvante por Bastardos inglórios; ano passado Javier Bardem disputou com o espanhol Biutiful e Dujardin, em 2012, sagrou-se o primeiro francês premiado com um Oscar de interpretação na categoria principal. Dujardin, além de derrotar os astros outrora favoritos George Clooney e Brad Pitt, o fez sem dar um pio. Ou quase...

Dujardin em êxtase: um merci bocu para vocês...

As pernas de Angelina...
Angelina Jolie estava surpreendentemente bem humorada. Os sorrisos quando flagrada pelas câmaras da transmissão ansiosas por ela e seu marido (Brad Pitt) eram mais amenos e naturais e quando subiu ao palco demonstrou inesperado senso de humor. Reencarnou a verve de mulher fatal que tanto lhe serviu nos anos 90 e deixou a fenda do vestido falar por ela. Exibindo a perna direita propositadamente e fazendo voz sexy, Angelina respondeu por um dos bons momentos da cerimônia. E as pernas de Angelina já têm mais seguidores no twitter do que você.

Como um garoto...
Christopher Plummer, a maior unanimidade entre os intérpretes na temporada, destilou graça e sofisticação em seus discursos de agradecimento no curso da Oscar season. Não foi diferente no Oscar. Ao receber seu prêmio, saudou a estátua lembrando que é apenas dois anos mais novo do que ela e indagando onde esteve o Oscar durante toda a sua vida. Na sala de imprensa, quando questionado sobre aposentadoria, saiu-se com a seguinte: “morrerei em um set de filmagens”. Era júbilo puro!

Comodidade e monotonia
Reparem que só agora o host Billy Crystal recebe um tópico. Se não é exatamente um desprestígio, tão pouco é sinal de excitação. Billy Crystal fez o que dele se esperava. Conduziu uma cerimônia morna, sem grandes arroubos egocentrados e com algumas piadas certeiras como a que dirigiu para Nick Nolte (antecipando pensamentos confusos do ator que tem fama de beberrão). Elegeu George Clooney como o “novo Jack Nicholson” e cutucou a academia por deixar os principais blockbusters do ano de fora da festa. Se não foi o salvador da pátria que muitos esperavam, o comediante foi a “cara” do tom do Oscar 2012: um apelo à nostalgia.

O Oscar continua
Nesta terça-feira, 28 de fevereiro, será publicada em Claquete a crítica da 84ª edição do Oscar com uma análise detalhada do significado histórico do Oscar 2012, bem como uma análise pormenorizada da distribuição dos prêmios.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Oscar Watch 2012 - Crítica dos indicados a 84ª edição do Oscar

Já está pacificado que o Oscar 2012 agrega grande componente nostálgico e demonstra grande potencial globalizante. Mas quais são os registros a serem feitos a respeito da 84ª edição do Oscar? O primeiro deles, certamente, é que a safra do Oscar 2011 poderia ser muito melhor se melhor peneirada pela academia. Muitos ótimos filmes ficaram de fora e outros, lembrados em categorias menores, tiveram passe negado na mais almejada disputa: a de melhor filme.
Outra observação inerente é que, ao contrário do que pregam seus detratores, o Oscar mostrou que é mesmo a arte que mais lhe interessa em matéria de cinema. Prova disso é a configuração da principal categoria da noite (como pode ser visto no post "A peleja dos filmes").
E quem deve ser o grande vencedor do Oscar? Salvo uma grande mudança de rumos, O artista deve ser consagrado. O filme de Michel Hazanavicius é uma carta de amor a tudo que Hollywood já foi e sonha em voltar a ser. É um lobby pronto para ser premiado. Nem precisaria da ajuda do megamarqueteiro Harvey Weinstein. Mesmo assim ainda contou com sua providencial expertise na campanha pelo Oscar. E que campanha! O artista levou praticamente todos os prêmios possíveis e deve coroar a performance invejável com o Oscar. É mesmo o melhor filme entre os nove concorrentes. A invenção de Hugo Cabret é, de fato, quem mais lhe ameaça. É uma opção de estúdio ao charme nostálgico representado por O artista, dirigido pelo cada vez mais pop Martin Scorsese e legitima o 3D como ferramenta autoral. Seria uma forma de academia premiar o que O artista significa e manter o ouro em casa (já que a fita de Hazanavicius, apesar de algum investimento americano é francesa). Os descendentes seria uma terceira e honrosa via. Contudo, o filme está desconectado do clima que parece conduzir o Oscar 2012.

Cena de Os homens que não amavam as mulheres, que assim como Tudo pelo poder, Drive e Margin call- o dia antes do fim, merecia maior atenção no Oscar


A disputa pelo troféu de melhor direção reprisa a batalha pelo Oscar principal. Scorsese já foi favorito outras vezes a ganhar o Oscar e, novamente, é apontado por setores da crítica como o provável vencedor. No entanto, o Oscar deverá ir merecidamente para a estante de Michel Hazanavicius. Mas o prêmio a Scorsese não seria de maneira alguma injusto.

As atuações
George Clooney é um artista completo. E um astro completo também. Fica difícil o Oscar se desviar dele e, em Os descendentes, o ator torna tudo ainda mais complicado com uma atuação soberba. Mas Jean Dujardin é outra história. Tão charmoso quanto Clooney, perigosamente estrangeiro e, sim, melhor do que o americano em O artista, o francês deve “roubar” o Oscar do outrora favorito. Justiça por justiça, os dois merecem muito, mas Dujardin desfruta de um timing que lhe é mais favorável.
E timing é o que Meryl Streep procura a 29 anos. E não deve ser em 2012 que ela levará para casa o sonhado terceiro Oscar. Viola Davis, que deve converter o favoritismo em prêmio, tão pouco merecia. Rooney Mara, por Os homens que não amavam as mulheres é a melhor atriz do ano. Talvez só encontrasse rival em Tilda Swinton que escandalosamente ficou de fora pelo trabalho realizado em Precisamos falar sobre o Kevin.
Entre os coadjuvantes, como nos últimos anos, a disputa já chega à cerimônia definida. Seria gratificante se houvesse surpresas aqui, mas é muito improvável que isso ocorra. O veterano Christopher Plummer, que defende um personagem carismático em Toda forma de amor, não merecia sequer a indicação, mas vai levar o Oscar em virtude de uma homenagem torta que a academia deve lhe prestar. Já Octavia Spencer está muito bem em Histórias Cruzadas e, apesar de não ser a melhor da categoria, seu triunfo não caracterizaria uma injustiça.

Viola Davis e Octavia Spencer em foto do mês passado: ambas devem vencer o Oscar neste domingo por seus trabalhos em Histórias cruzadas


O melhor do resto
O melhor roteiro adaptado do ano é o de O homem que mudou o jogo. O justo seria Aaron Sorkin, que venceu na categoria ano passado por A rede social, levar o Oscar novamente; dessa vez em companhia de Steve Zaillian. Mas a tendência é que a academia opte por premiar Os descendentes nessa categoria. Uma espécie de compensação para um filme aclamado e que, merecidamente, não ganhará muitos prêmios.
Entre os originais, Woody Allen deve prevalecer pelo texto de Meia-noite em Paris. A separação é uma potencial surpresa e o roteiro de O artista pode sair vitorioso no caso de um entusiasmo desmedido em relação ao filme.
Esse panorama deixa A invenção de Hugo Cabret confinado às categorias técnicas. Aqui o filme deve prevalecer em direção de arte e edição de som. Talvez som e fotografia, mas Os homens que não amavam as mulheres e A árvore da vida, respectivamente, são os “vencedores morais” dessas categorias.
A melhor trilha sonora do ano é de O artista e qualquer resultado diferente, além de criminoso, é zebra. O artista também deve ganhar os Oscars de montagem e figurino, totalizando sete prêmios na noite.
A separação e Rango devem ser escolhidos entre os estrangeiros e as animações respectivamente.

Abaixo, um escalonamento das principais categorias pelo crivo de Claquete:

Filme
Vai ganhar: O artista
Deveria ganhar: O artista
Faltou na lista: Os homens que não amavam as mulheres

Direção
Vai ganhar: Michel Hazanavicius
Deveria ganhar: Michel Hazanavicius
Faltou na lista: David Fincher (Os homens que não amavam as mulheres)

Roteiro original
Vai ganhar: Meia-noite em Paris
Deveria ganhar: Margin call – o dia antes do fim
Faltou na lista: 50%

Roteiro adaptado
Vai ganhar: Os descendentes
Deveria ganhar: O homem que mudou o jogo
Faltou na lista: Os homens que não amavam as mulheres

Ator
Vai ganhar: Jean Dujardin
Deveria ganhar: Jean Dujardin
Faltou na lista: Ryan Gosling (Drive ou Tudo pelo poder)

Atriz
Vai ganhar: Viola Davis
Deveria ganhar: Rooney Mara
Faltou na lista: Tilda Swinton (Precisamos falar sobre o Kevin)

Ator coadjuvante
Vai ganhar: Christopher Plummer
Deveria ganhar: Nick Nolte
Faltou na lista: Jeremy Irons (Margin call – o dia antes do fim)

Atriz coadjuvante
Vai ganhar: Octavia Spencer
Deveria ganhar: Jessica Chastain
Faltou na lista: Shailene Woodley (Os descendentes)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Oscar Watch 2012 - A peleja dos filmes

1- A invenção de Hugo Cabret, 2- O homem que mudou o jogo, 3 - A árvore da vida, 4- O artista, 5 - Histórias cruzadas, 6 - Os descendentes, 7 - Tão forte e tão perto, 8 - Cavalo de guerra, 9- Meia-noite em Paris



O BBB

É compreensível o tipo de preconceito que filmes como Histórias cruzadas despertam em cinéfilos e espectadores mais sofisticados, mas a fita de Tate Taylor é aquele filme de comunhão popular difícil de se desvencilhar. É um dramalhão, é edificante, é manipulador, mas é, também, estranhamente sincero em suas pretensões. Com a ajuda de um elenco coeso e de muito brilho, Histórias cruzadas chega ao Oscar com a pecha de “filme menor”, mas com a maior bilheteria entre os indicados e a maior aprovação entre os variados setores da indústria do cinema.

Prós:
- É um drama construído sobre o trabalho do elenco, o que pode valer votos sentimentais do maior colegiado da academia, justamente os atores
- Pode se beneficiar do hype de suas duas principais atrizes que estão sendo bastante premiadas na temporada
- É um drama de cunho racial e a academia gosta de reconhecer esse tipo de filme
- É, inegavelmente, o filme que reunirá mais “expectadores médios” da cerimônia na torcida

 Contras:
- É um filme com sérios problemas narrativos e um formato demasiadamente convencional
- Não possui indicações para direção e roteiro, o que torna praticamente impossível um triunfo
- É um drama construído sobre o trabalho do elenco e Oscars para membros desse elenco (e dois deles são bem prováveis) já honraria essa condição
- Não é um filme que proponha qualquer tipo de reflexão, diferentemente de alguns dos principais indicados do ano


O independente aprazível

Os descendentes é um filme independente. Mas nem parece. Nem tanto pela presença de George Clooney, mas mais pela extrema sutileza do registro de Alexander Payne e da forma como ele usa o Havaí na história. É um filme praticamente impossível de se desgostar. Isso pode ser uma vantagem na hora h. O drama que flerta conscientemente com a comédia ao mostrar as vias tortas do amadurecimento não é a melhor pedida do ano, mas não deixa de ser uma boa pedida.

Prós:
- Depois de O artista, foi o filme mais premiado pela crítica no ano
- Ganhou o Globo de ouro de melhor filme dramático
- É a opção mais consistente para quem resiste embarcar na nostalgia proposta pelos filmes O artista e A invenção de Hugo Cabret
 - É estrelado por uma das figuras mais queridas da Hollywood atual, George Clooney
- É uma opção independente que não desagradaria os chefões de estúdios - diferentemente da consagração de O artista, por exemplo
- É um filme palatável que se não desperta paixões, não gera animosidades

Contras:
- Não é o melhor filme de Alexander Payne e isso pode pesar contra a candidatura do filme
- Muita gente pode resolver premiar o roteiro e George Clooney – notadamente os maiores trunfos do filme – e preterir a fita na disputa principal
- Perdeu a posição de “independente do ano” para o independente e parcialmente estrangeiro O artista
- A maioria dos prêmios que recebeu foi no início da temporada


Manifesto de amor

Quem pode bater O artista? O filme de Michel Hazanavicius não é o melhor do ano. Mas, vencidos os preconceitos, talvez se apresente como o melhor dos nove filmes indicados. Que é o mais charmoso de todos já é favas contadas. Mas O artista também é a prova definitiva de que foi o cinema americano que moldou o cinema – e veio da França essa homenagem. O artista também pode ser a prova definitiva de que a academia está disposta a premiar um filme mudo e em preto e branco em plena era do 3D e em meio a uma consternação midiática por mais audiência na cerimônia de TV. Eleger como melhor do ano um filme com essas características não deixa de ser a concepção ideal do Oscar e uma escolha significativamente progressista.

Prós:
- É uma declaração de amor aberta ao cinema – em particular a Hollywood – e isso parece computar pontos em favor do filme
- É o postulante mais charmoso e simpático de todos e houve anos em que isso foi suficiente para vitórias francas
- É o filme mais premiado da temporada
- Venceu os principais termômetros para o Oscar como o Critic´s Choice Awards, o Bafta, o Globo de Ouro, o Producer Guild Awards e o Director Guild Awards
- É o favorito ao prêmio
- Pode se beneficiar da lógica “se for para premiar um filme que clama à nostalgia, que seja um que a assume de vez em forma e conteúdo”

Contras:
- É demasiadamente progressista para os padrões da academia. Seria o primeiro filme mudo a vencer o Oscar desde o primeiro vencedor do Oscar (Asas)
- Seria o segundo vencedor do Oscar de menor bilheteria da história. Atrás apenas de Guerra ao terror. Mais alarmante ainda é a constatação de que as escolhas seriam tão próximas
- Ainda que se tenha algum financiamento americano, é um filme francês
- A invenção de Hugo Cabret é uma opção de estúdio à nostalgia proposta por O artista
- A trama, descolada das opções estéticas da realização, é demasiadamente simples para um filme vencedor do Oscar

Filme classe A

Um diretor elegante, um super astro, um tema envolvente e roteiristas brilhantes. O homem que mudou o jogo faz jus as suas credenciais. É um filme de incrível força narrativa e improvável apelo emocional. Um filme de estúdio que conjuga clichês de blockbuster com a assertividade do cinema independente. Uma excelente condecoração na lista dos melhores de 2011 no Oscar.

Prós:
- É um filme que faz uso inteligente de variadas metáforas
- Tem um verdadeiro batalhão de profissionais admirados em sua ficha técnica
- É um filme adulto para adultos. Um dos poucos entre os nove finalistas
- Tem o mote da “segunda chance” como um de seus principais alicerces e a academia aprecia isso
- Depois de Histórias cruzadas, é o filme de maior bilheteria em competição

Contras:
- Apesar do filme ter recebido prêmios da crítica, nenhum foi para a fita em si
- É um filme esportivo e isso pode esbarrar no preconceito de muitos votantes
- Não emplacou uma nomeação para direção, o que diminui consideravelmente as chances do filme
- A pecha de que a indicação já é reconhecimento suficiente


O Cinema como elemento transformador

Martin Scorsese é um gênio. Isso é sabido. Mas o que ele faz com A invenção de Hugo Cabret, filme que exalta o cinema como mecanismo definidor de vidas, é mostrar como essa percepção está associada às possibilidades ofertadas pela sétima arte. O próprio diretor admitiu que possui muita identificação com o protagonista de seu filme. Essa confissão diz muito sobre o que é A invenção de Hugo Cabret, em sua concepção primal, e sobre suas chances no Oscar.

Prós:
- É um legítimo "feel good movie" que mistura história e ficção. O Oscar já consagrou filmes desse perfil como, por exemplo, Forrest Gump – o contador de histórias
- Assim como O artista, é uma homenagem altiva ao cinema. Só que mais poética
- É dirigido por Scorsese e, ao que parece, ele anda mais pop do que nunca
- É uma opção de estúdio à nostalgia proposta por O artista
- É um filme familiar e isso poderia pegar bem para o Oscar
- A vitória de um filme em 3D poderia legitimar a tecnologia como ferramenta autoral no cinema

Contras:
- É, na embalagem, um filme infantil. Gênero pouco apreciado pelo perfil majoritário dos votantes no Oscar
- Scorsese foi consagrado no Oscar em período relativamente recente (2007). É raro a academia agraciar um artista em grande escala em período tão curto
- Não tem no elenco um forte chamariz, ao contrário de seus principais concorrentes
- É em 3D e o formato ainda desperta muito preconceito, inclusive entre os acadêmicos
- Não é o melhor filme do ano e há quem possa resistir conceder um Oscar a um “filme homenagem”

A unanimidade invertida

Parece difícil crer que Stephen Daldry, um diretor aclamado pela academia e pela crítica, é o responsável pela inclusão mais discutível da lista. Mas é a verdade pura e simples. Tão forte e tão perto na disputa pelo Oscar de melhor filme é fruto da diversidade de critérios que não se ajustam às flexíveis regras para eleger os concorrentes na categoria. Daldry conheceu, em seu quarto filme, seu primeiro revés crítico, mas ainda não sabe o que é ser preterido pela academia – ainda que tenha ficado pela primeira vez fora da disputa pelo troféu de diretor.

Prós:
- É sobre o 11 de setembro e há quem possa se sentir tentado pelo aspecto sentimental que o filme envolve
- Tem um verdadeiro batalhão de profissionais admirados em sua ficha técnica
- É um drama edificante e vai que...

Contras:
- Só tem uma indicação fora a de melhor filme e seria desmoralizante para o Oscar um filme triunfar nesses termos
- Sem indicações para direção, roteiro ou montagem a pecha é mesmo de figurante
- A falta de aprovação crítica lhe é amplamente desfavorável
- De todas as premiações majors, só esteve entre os finalistas do Critic´s Choice Awards


Nostalgia do presente

Tem quem enxergue em Meia-noite em Paris uma ode ao passado. Não deixa de ser. Mas a verdadeira meta de Woody Allen aqui é valorizar o presente. A nostalgia, advoga o autor, é muito recomendável desde que manejada com moderação e sobriedade. Não podemos nos confinar em nós mesmos. O filme, por conciliar tão bem essas propostas aparentemente antagônicas, é classificado como “o melhor Woody Allen em anos”. Exageros a parte, é um filme romântico sobre como manter uma postura otimista em relação a vida.

Prós:
- É um filme afável e “pra cima”. Difícil de alguém não gostar
- Pode se beneficiar da máxima “a volta de Woody Allen”
- Seria um jeito de a academia prestigiar as comédias e com o pedigree internacional de Woody Allen

 Contras:
- É um filme leve, mas não é o único do ano
- Já foi lançado há muito tempo nos EUA
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- A preferência de honrar Woody Allen na categoria de roteiro original
- O baixo número de indicações também é um empecilho


Abraçando o mundo

A ideia de falar sobre a criação do universo, a concepção de fé humana e a relação entre graça e natureza, a partir do microcosmo de uma família conservadora americana dos anos 50 parece uma ideia megalomaníaca e é. Não a toa, o cineasta Terrence Malick levou anos para materializá-la em um filme que gerou opiniões dissonantes, mas igualmente apaixonadas. A árvore da vida não é um legítimo vencedor do Oscar de melhor filme, mas sua presença na categoria ajuda a desmistificar a sisudez da academia.

Prós:
- É o vencedor da Palma de ouro
- Seria uma demonstração de que a academia pensa mais o cinema como arte do que como indústria
- É um filme que conta com cabos eleitorais poderosos
- É um projeto grandioso e o Oscar já reconheceu filmes desse perfil

Contras:
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- Não é o melhor filme do ano e todo mundo sabe disso
- Seria uma forma de reconhecer Cannes como uma plataforma mais importante em termos de reconhecimento artístico e isso pode despertar a rivalidade dos membros da academia
- É um filme difícil, pouco visto e nem um pouco pop (ao contrário do pouco visto, mas muito midiático O artista)


Épico sentimental

É bem verdade que a participação de Steven Spielberg no Oscar 2012 é menor do que se antecipava, mas o intuito foi parcialmente alcançado. Cavalo de guerra, um filme à moda antiga, sobre uma guerra pouco retratada pelo cinema e sob o improvável ponto de vista de um cavalo está na disputa por seis estatuetas, incluindo melhor filme. Cavalo de guerra é um filme que apela às emoções fáceis, mas o faz com generosidade, honestidade e exuberância técnica. É justa sua presença na categoria.

Prós:
- É um épico que dialoga com grandes filmes do passado como os dirigidos por John Ford e Howard Hawks
- É filme de Steven Spielberg e esse nome tem um peso...
- É genuinamente emocionante
- O Oscar já premiou filmes que se utilizam descaradamente de artifícios manipulativos como Crash – no limite e Quem quer ser um milionário?

Contras:
- A ausência nas categorias de direção e roteiro adaptado podem lhe ser fatais
- Não goza de unanimidade crítica
- Premiar um filme em que o herói é um cavalo pode soar estranho
- O tom fabular da história vai contra as últimas escolhas da academia na categoria
- Não ganhou um prêmio sequer de melhor filme na temporada de premiações

Momento Claquete # 28

Momentos do Oscar...

 Charlton Heston empunha seu Oscar conquistado pelo épico Ben-Hur em 1960

O taiwanês Ang Lee foi o primeiro diretor oriental a ganhar o Oscar de direção. Ele já havia concorrido em 2001 com chinês O tigre e o dragão, mas a vitória veio com o independente americano O segredo de Brokeback mountain 

Jessica Lange e Meryl Streep empunham seus Oscars em 1983. A primeira ganhou como coadjuvante por Tootsie e a segunda como atriz principal por A escolha de Sofia. Meryl, em 2012, disputa o Oscar pela 17ª vez 

Halle Berry, a primeira atriz negra premiada na categoria principal, posa ao lado de Denzel Washington após a consagração dos dois na cerimônia de 2002. Berry surpreendeu ao vencer por A última ceia e Washington superou o favorito Russell Crowe e ganhou por Dia de treinamento

Robert De Niro com aquele olhar malicioso após a conquista de seu primeiro Oscar pela segunda parte da trilogia O poderoso chefão. Ele voltaria a triunfar alguns anos mais tarde por Touro indomável

Angelina Jolie, com um corpo mais libidinoso do que apresenta atualmente, é alegria incontida após a vitória como atriz coadjuvante em 2000 por Garota interrompida 

Quentin Tarantino em momento "Epa" ao receber seu Oscar pelo roteiro original de Pulp fiction-tempos de violência em 1995  

Hugh Jackman foi seguramente o melhor host do Oscar nos últimos 20 anos. O charme do apresentador da cerimônia de 2009 pode ser percebido nessa foto promocional

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Oscar Watch 2012 - A peleja dos diretores

Alexander Payne (Os descendentes), Martin Scorsese (A invenção de Hugo Cabret), Woody Allen (Meia-noite em Paris), Michel Hazanavicius (O artista) e Terrence Malick (A árvore da vida)


O artista

Ninguém conhecia Michel Hazanavicius até outro dia. Mas ele provou, com seu apaixonado filme (O artista), que conhece muito de cinema. Em uma disputa de pesos pesados, ele faz questão de manter-se um aprendiz. Ainda que seja o responsável pelo filme mais premiado da temporada. Hazanavacius não é nem mesmo dos diretores mais proeminentes da França e agora pode ser o primeiro francês a ganhar o Oscar de direção.

Prós:
- É o diretor do filme mais festejado da temporada
- Demonstra estilo e perícia na construção de um filme à moda antiga, mas muito bem adornado pelos recursos disponíveis na atualidade
- Ganhou alguns dos principais prêmios da temporada como o DGA (prêmio do sindicato dos diretores), o Critic´s Choice Awards e o Bafta
- Realiza uma excelente direção de atores e essa característica pode prevalecer

Contras:
- Há quem possa achar melhor premiar o americano Scorsese por um filme genuinamente americano e que apresenta o mesmo “espírito”
- Compete contra verdadeiros monstros sagrados do cinema americano (Allen, Scorsese e Malick)
- Pode ser prejudicado em uma eventual cisão dos dois principais prêmios da noite. A academia pode optar por premiar O artista e escolher outro diretor em uma premiação pulverizada
- Também concorre como produtor e roteirista e pode ser vítima da superexposição, tendo em vista que não é exatamente um Coen
- É o único estrangeiro concorrendo na categoria e há quem possa se ressentir de conceder o Oscar dois anos consecutivamente a não americanos

Primeira indicação


O mestre  

Não há necessidade de apresentações. Martin Scorsese talvez seja o grande diretor americano da atualidade.Seu retrospecto recente em nomeações ao Oscar demonstra isso. São sete na carreira e quatro nos últimos nove anos. Nenhum outro diretor americano em atividade ostenta tamanho repertório. E estamos falando de um injustiçado histórico pelo Oscar. A invenção de Hugo Cabret, filme que o leva novamente à disputa pela estatueta dourada, é aquele em que Scorsese mais deixa transparecer seu amor pelo cinema. Isso pode lhe render mais do que comoção de público e crítica.

Prós:
- Existe um consenso de que um Oscar é insuficiente para a estatura artística de Scorsese
- Ganhou o Globo de ouro na categoria e foi eleito o melhor diretor do ano pela maior parte dos círculos de críticos de prestígio
- Está a frente do filme líder de indicações e isso há de contar para alguma coisa
- É uma figura extremamente querida por todos na indústria
- O prêmio também seria uma forma de legitimar o uso do 3D por cineastas do primeiro time; o que, em última análise, também seria bom para a indústria

 Contras:
- Existe um consenso de que um Oscar é insuficiente para a estatura artística de Scorsese, mas pode prevalecer o sentimento de que ainda é cedo para premia-lo de novo
- Perdeu a dianteira na corrida para o concorrente Michel Hazanavicius que conquistou o prêmio do sindicato
- Levou décadas para ser premiado. Difícil crer que o premiem novamente em tão curto espaço de tempo

Décima indicação (produção e direção)
Indicações anteriores: 
Melhor diretor por Touro indomável (1981), A última tentação de Cristo (1989), melhor roteiro adaptado por Os bons companheiros (1991), melhor diretor por Os bons companheiros (1991), melhor roteiro adaptado por A época da inocência (1994), melhor diretor por Gangues de nova Iorque (2003), melhor diretor por O aviador (2005) e melhor diretor por Os infiltrados (2007).
Vitória anterior: melhor diretor por Os infiltrados


Mais do que o independente do ano

Alexander Payne não é exatamente um estreante na categoria. Já concorreu ao Oscar antes. Contudo parece deslocado em meio a cineastas tão expressivos. Talvez porque as histórias que conta sejam minimalistas na essência. A ideia de construir uma filmografia calcada nos personagens é um diferencial que, no entanto, pode lhe render mais frutos como roteirista (categoria a qual também está indicado e pela qual já ganhou um Oscar) do que como diretor.

Prós:
- Está a frente de um filme independente e a academia têm reconhecido diretores nesse perfil no histórico recente. Alguns exemplos (irmãos Coen em 2008 por Onde os fracos não têm vez, Danny Boyle em 2009 por Quem quer ser um milionário? e Kathryn Bigelow em 2010 por Guerra ao terror).
- É notadamente um bom diretor de atores e isso pode contar pontos a seu favor
- Realiza um filme acessível e aprazível. Características mais marcantes em Os descendentes do que em Meia-noite em Paris (que tem um ar de erudição indisfarçável) e O artista (mudo e em preto e branco)

 Contras:
- Existem diretores/roteiristas mais festejados na disputa e isso pode prejudicar Payne em ambas as corridas
- Ainda que seu filme tenha sido apontado como o melhor do ano por alguns grupos de críticos e ganhado o Globo de ouro de melhor filme drama, Payne não ganhou nenhum prêmio
- A percepção de que ele já fez filmes melhores
- A festa em torno da atuação de George Clooney pode ter desviado o foco de outros pontos fortes do filme como, inclusive, as sutilezas imprimidas por Payne na condução da história

Quinta indicação (produção, direção e roteiro)
Indicações anteriores:
Melhor roteiro adaptado por Sideways – entre umas e outras (2005)
Melhor direção por Sideways – entre umas e outras (2005)
Vitória anterior:
Melhor roteiro por Sideways – entre umas e outras (2005)


O estranho no ninho

Não chegou a ser uma surpresa a inclusão do cineasta Terrence Malick entre os finalistas na briga pelo Oscar. Mas com tantos nomes mais badalados na disputa, não deixou de ser um tanto anti-climática a lembrança. Malick, por seu turno, é do tipo que não faz o jogo do Oscar. Bissexto, embora prestes a mudar esse hábito, o cineasta não costuma fazer aparições públicas e saúda a natureza em seus filmes. A árvore da vida é um projeto tão megalomaníaco que, por vias tortas, só podia acabar no Oscar. Mas é certo que já chegou longe demais.

Prós:
- Venceu a Palma de ouro em um júri presidido pelo ator americano Robert De Niro. Não é pouca influência não...
- É um diretor muito admirado por seus colegas e recompensá-lo por um projeto desta envergadura seria um gesto de carinho e consentimento
- Apresenta uma direção sem sombra de dúvidas vistosa, ainda que por um filme “difícil”, a academia pode ser suscetível a esse perfil de trabalho
- Um Oscar a Malick significaria prestigiar mais diretores autorais
- Ganhou alguns prêmios de círculos de críticos no início da temporada de prêmios

Contras:
- Há muita gente que não gosta do filme
- Malick não faz campanha e , combinada a excentricidade de a A árvore da vida, suas chances se veem consideravelmente diminuídas
- Não é o melhor trabalho de direção do ano e todo mundo sabe disso
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- Pode ser “esquisitão demais” para muitos votantes

 Terceira indicação
Indicações anteriores:
Melhor roteiro adaptado por Além da linha vermelha (1999)
Melhor diretor por Além da linha vermelha (1999)

O retorno do filho pródigo

Quem não gosta de Woody Allen? Surpreendentemente, muita gente. Mas isso não impediu que o mais neurótico dos autores americanos quebrasse o recorde de Billy Wilder de indicações ao Oscar nas categorias de direção e roteiro. São 23 nomeações (computadas as duas de 2012 por Meia-noite em Paris) contra 21. Woody Allen, definitivamente, se inscreve como uma das figuras mais queridas da História de Hollywood. Ganhar ou não o quarto Oscar, neste momento, é apenas um detalhe.

Prós:
- É o “grande retorno de Woody Allen” ao Oscar e esse é um “catchy slogan”
- Foi um dos poucos diretores premiados por uma comédia. Seria ainda mais notável e distinto ser premiado novamente pelo mesmo gênero
- Woody, na última década, voltou a apresentar um cinema mais inquieto e altivo, além de ter feito as pazes com a crítica
- Não costuma chamar a atenção para o trabalho de direção

Contras:
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- O fato de ser mais admirado (pela academia) como roteirista do que como diretor
- Ser partidário de uma direção econômica, até certo ponto quadrada, pode lhe privar dos votos de uma ala mais moderna da academia
- Não é o melhor trabalho de direção do ano e todo mundo sabe disso
- Não costuma chamar a atenção para o trabalho de direção

23ª indicação
Indicações anteriores:
Melhor ator por Noivo neurórico, noiva nervosa (1977), melhor roteiro original por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), melhor direção por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), melhor roteiro original por Interiores (1979), melhor direção por Interiores (1979), melhor roteiro original por Manhattan (1980), melhor roteiro original por Broadway Danny Rose (1985), melhor direção por Broadway Danny Rose (1985), melhor roteiro original por A rosa púrpura do Cairo (1986), melhor roteiro original por Hannah e suas irmãs (1987), melhor direção por Hannah e suas irmãs (1987), melhor roteiro original por A era do rádio (1988), melhor roteiro original por Crimes e pecados (1990), melhor direção por Crimes e pecados (1990), melhor roteiro original por Simplesmente Alice (1991), melhor roteiro original por Maridos e esposas (1993), Melhor roteiro original por Tiros na Broadway (1995), melhor direção por tiros na Broadway (1995), melhor roteiro original por Poderosa Afrodite (1996), melhor roteiro original por Desconstruindo Harry (1998), melhor roteiro original por Match point – ponto final (2006)
Vitórias anteriores:
Melhor roteiro original por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977)
Melhor direção por Noivo neurótico, noiva nervosa (1977)
Melhor roteiro original por Hannah e suas irmãs (1987)