quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Crítica - As aventuras de Pi


A melhor estória

 O ator Suraj Sharma e o tigre digital Richard Parker são pontos fortes do belo e sensível As aventuras de Pi, um filme sobre resiliências da vida e da fé
 
Existem filmes que são capazes de nos tocar profundamente. As aventuras de Pi (Life of Pi, EUA 2012) é um desses filmes. Adaptado da obra homônima de Yann Martel, o filme de Ang Lee é um tratado sobre fé e, também, sobre as circunstâncias em que nos relacionamos com esse poderoso e místico elemento. Não é possível pensar em um cineasta mais adequado para conceber visualmente a extraordinária estória retratada em As aventuras de Pi do que o taiwanês Ang Lee. De forte sensibilidade e com uma vocação extraordinária para envernizar estórias intrincadas e potencialmente complexas, Lee confere leveza e maravilhamento ao filme.
Pi (vivido pelos atores Gautam Belur, Ayush Tandon, Suraj Sharma e Irrfan Khan em diferentes fases da vida) desde cedo demonstrava apreço fora do comum pela religiosidade. Do hinduísmo ao cristianismo, todas as orientações religiosas fascinavam o jovem Pi. Quando seu pai, um homem cético em relação à religião, decide sair da Índia em busca de um melhor provimento para sua família, Pi e seus familiares embarcam em um navio cargueiro com destino ao Canadá, onde seu pai deseja vender os animais que mantinha em um zoológico. O navio, porém, naufraga. Pi é o único sobrevivente. Humano, diga-se. Estão com ele em um bote uma zebra, uma hiena, um orangotango e Richard Parker, um tigre de bengala cujos simbolismos extravasam qualquer articulação mais racional.  
É da convivência entre Pi e Richard Parker, e da necessidade dela por diferentes razões, que As aventuras de Pi extrai sua matéria prima: um filme sobre sobrevivência. Do corpo físico, da organização emocional, mas principalmente do poder da fé. Não que Pi não questione seu Deus, ou deuses – uma  vez que esse conflito surge pacificado para ele que, a posteriori, em uma entrevista que faz com um escritor interessado em sua história diz que a fé tem muitos quartos e que se serve também da dúvida.
Pi, na encarnação adulta vivido pelo ator Irrfan Khan, conta sua história com indesviável emoção ao escritor vivido por Rafe Spall e sempre ressaltando a importância de Richard Parker para sua sobrevivência.
 
Relatos: Pi trasmite sua vivência e sua visão de mundo a um escritor em busca de uma boa estória

É justamente esse recorte o que mais interessa a Ang Lee. Ora, não importa o que de fato tenha sido crucial para a sobrevivência de Pi e sim o que ele acredita que tenha sido. Até mesmo porque, nas circunstâncias em que ele se encontrava como desviar uma coisa da outra? Mas o tratado sobre fé brilhantemente arredado por Lee não se esgota aí. Ao terminar de contar sua história, prometida por um terceiro ao escritor ser do tipo que “faz você acreditar em Deus”, Pi lhe oferta uma outra história. Mais aguda no tom trágico e menos esperançosa em seu cerne e questiona seu interlocutor a respeito de sua preferência. À plateia é feito o mesmo desafio. A fé pode ser múltipla, mas jamais excede o campo pessoal. A maneira como interiorizamos isso é que nos define e define nossas experiências. Essa lição, tão bela e sutilmente ministrada por esse filme tão robusto e tão simples simultaneamente, é potencializada no olhar do espectador. Cabe a ele, em última análise, testemunhar no que crê.

4 comentários:

  1. Vi o trailer e fiquei fascinado. Ainda essa semana eu confiro.

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  2. É um belo tratado de fé mesmo, e a forma como ele conclui seu raciocínio é incrível.

    bjs

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  3. Brenno: O filme vale muito a pena Brenno.
    Abs

    Amanda: É vero!
    Bjs

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  4. Achei muito fraca a crítica, não citou as cenas MARAVILHOSAS que o filme tem, no sentido de "imagem", tem cenas do filme que eu poderia ficar parado, olhando por horas, de tão lindas que são. Não gostei do final do filme, mas enfim, o filme se despede como o Leão se despede: sem olhar pra traz.

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