quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Oscar Watch 2012 - Ao mestre com carinho

O grande Christopher Plummer assume um personagem cativante em Toda forma de amor, um dos filmes independentes mais festejados de 2011 e que pode chegar ao Oscar. Claquete revela como Mike Mills fez de um filme com recortes biográficos, algo incrivelmente otimista



Todo artista coloca um pouco de sua experiência de vida em sua arte. Mas a forma como Mike Mills fez isso em Toda forma de amor (Beginners, EUA 2011), considerado por muitos críticos um dos melhores filmes de 2011, afere ainda mais charme a essa história de amor, tolerância e luto.
Mills surgiu com louvores no festival de Sundance em 2005 com Impulsividade, um filme que reunia grande elenco para contar a história de inadequação de um garoto que não conseguia deixar de chupar o dedão. Seis anos depois e com mais um documentário na bagagem, Mills volta à cena com essa ficção que remonta um episódio central de sua existência. Após a morte de sua mãe, seu pai, aos 74 anos, resolveu sair do armário. Admitiu que sempre foi gay e estava disposto a viver essa vida em toda a sua plenitude. E assim foi até que um câncer fatal o vitimou quatro anos mais tarde. Mills filtra essa experiência e realiza um filme poético sobre a essência da vida, a busca pela compreensão e, consequentemente, a busca pelo amor.
No filme, Ewan McGregor vive Oliver Fields – o alter-ego de Mills – um designer gráfico que em pleno luto se vê apaixonado por uma atriz francesa (Mélanie Laurent). O filme recorre a flashbacks para mostrar a relação de Oliver com seu pai (Hal), interpretado por Christopher Plummer, que após a morte da esposa revela ao filho sua homossexualidade e externa o desejo de viver plenamente essa nova fase de sua vida. “Eu adorei fazer. Foi uma ótima experiência”, afirmou Ewan McGregor à época em que divulgava o filme. Toda forma de amor foi lançado nos Estados Unidos em julho de 2011, mas chega relativamente forte à temporada de premiações. Após ser escolhido o melhor filme do ano no Gotham Awards e ser um dos principais figurantes do Spirit Awards (duas premiações do cinema independente), o filme desperta grande buzz para Christopher Plummer na categoria de ator coadjuvante e para Mike Mills na categoria de roteiro original.
“É dos textos mais arejados que vi no último ano”, escreveu A.O. Scott, principal crítico de cinema do New York Times. McGregor acha que o grande achado do filme é a forma como Mills trabalha a plenitude da vida gay de Hal, sempre apoiada de muito perto pelo filho, e o despertar do amor entre Anna (Laurent) e Oliver, com este ainda em luto. “Acho muito interessante como temos estas duas coisas opostas acontecendo no filme”.


Crítica

Pelo prazer de começar!
Existe certa angústia que permeia Toda forma de amor (Beginners, EUA 2011). Mas há, também, um indissociável gosto pela vida que exala dos personagens. Esse potencial agridoce é que faz do novo filme de Mike Mills algo notável. Não que seja um excelente filme. Está bem abaixo do que a sucessão de críticas elogiosas faz crer. Mas há um encantamento no filme que não se pode resistir. O afeto pela vida. Por sua beleza fundida ao amor. “Não quero ser apenas teoricamente gay. Eu quero fazer algo a respeito”, diz Hal para seu filho quando, aos 74 anos, revela sua homossexualidade pouco depois da morte da esposa. Oliver processa essa nova condição com a parcimônia que ela exige. Afinal, quem era aquele novo homem amante de uma vida colorida totalmente distinto do homem que ele chamava de pai? Não por acaso, Oliver confronta a noção de beleza e de plenitude que se tinha nos idos dos anos 60 e a noção de beleza e plenitude que se experimenta no século XXI.
Mills ousa em ampliar o escopo do seu filme. Toda forma de amor, portanto, não é só sobre um homem reavaliando sua formação e sua relação com o pai após este se assumir gay.  É também sobre um homem se abrindo para o amor em pleno estágio de luto e descobrindo o valor de uma última lição valiosa deixada pelo pai.
Toda forma de amor se divide em dois atos. No primeiro deles, Oliver assiste seu pai viver o momento decisivo de sua vida. A batalha contra o câncer não o afasta da nova faceta baladeira e festiva. Em outro momento, Toda forma de amor captura um introspectivo Oliver que não sabe ao certo como elaborar seu luto, muito menos se deve aceitar seus sentimentos por Anne (Mélanie Laurent) a quem conhece fantasiado de Freud em uma festa a fantasia na qual compareceu por insistência dos amigos.
Mills realiza um filme oxigenado pelo prazer de começar. A vida está aí para ser vivida. Experimentada. Os medos não devem nos paralisar, sim nos mover adiante, atesta Mills com sua obra. É essa ode à vida com um recorte biográfico que só acresce sentimento que Toda forma de amor pretende ser.

3 comentários:

  1. Pocha, eu já estava afim de conferir, agora em enlouqueço! rs Excelente crítica, Reinaldo. Uma de suas melhores, com certeza!

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  2. Belo texto, Reinaldo e ótima crítica. Ainda não conferi Toda forma de amor, mas agora parece mesmo prioridade máxima, hehe.

    bjs

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  3. Alan: Valeu meu brother. Acho que vc vai gostar do filme.
    Abs

    Amanda: rsrs. Não é tão bom assim, mas vale a pena sim.
    Bjs

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