segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crítica - 127 horas

Conjugando emoção e técnica!


O novo filme do inglês Danny Boyle é um tour de force de seu protagonista, James Franco e 127 horas (127 hours, EUA/INGL 2010) é, também, uma ostentação de perícia e técnica de seu diretor enquanto narrador. A dramatização dos eventos que se sucederam no período de tempo que dá nome ao filme e que marcaram definitivamente a vida do engenheiro com paixão pelo alpinismo Aron Ralston (James Franco), é um exemplo de como o cinema moderno aceita intervenções estéticas e ainda se esmera em preceitos básicos – como uma sólida e centrada atuação.
Franco´s way: presente em 99% das cenas, James Franco
dá um show em 127 horas
A trajetória de Aron que tem seu braço esmagado por uma rocha em uma fenda montanhosa em um Cânion nos confins de Utah é dolorida e suficientemente angustiante para calejar o espectador incauto. Se este já tiver ciência do que o espera, a experiência não será menos impactante. Contribui para isso, o esmero visual de Boyle e suas constantes intervenções estéticas. 127 horas começa a mil. Acompanhando o estado ansioso de seu protagonista, o filme dimensiona toda essa ansiedade, com música frenética, tela dividida, múltiplas cores, granulação do registro (entre a câmera amadora de Aron e a câmera de Boyle) se alternando, entre outros recursos que acentuam 127 horas e muito o aproxima de um vídeo publicitário. No entanto, conforme a história de Aron vai ganhando contornos dramáticos, o filme vai encontrando novo ritmo. 127 horas vai ficando mais lento. Persuasivo. Boyle encontra na contemplação um bom refúgio. Embora resista a confiar plenamente em Franco como catalisador das emoções, os recursos que lança mão funcionam maravilhosamente bem. Sejam nos flashbacks ou nos longos takes do isolamento de Aron, a montagem e a fotografia se enfileiram como grandes trunfos do filme.
Embora Boyle transpareça essa hesitação de confiar a seu ator o status quo do filme, Franco é o grande fiador das emoções que 127 horas provoca em seu público. Dono de uma energia não menos que cativante, o ator se apodera de todos os pormenores de um papel de imenso potencial dramático e alinha outras nuanças a ele. Existe uma cena em que Franco de tão bom chega a assustar. É aquela em que Aron, já imerso em sua própria resignação e flagelo, simula ser convidado de um talk show. O ator expõe, visceralmente, tristeza, senso de humor, delicadeza, arrependimento, dor, amor, solidão e inteligência. Em 2010, nenhum outro ator conseguiu ser tão tangencial em um espaço tão delimitado física e emocionalmente falando.
Mesmo que Danny Boyle não perceba, James Franco ajudou 127 horas a distinguir-se do equivoco manipulativo que foi Quem quer ser um milionário?. A técnica, salienta James Franco com sua atuação colossal, não é capaz de fomentar emoção tão genuína quanto a própria emoção.

5 comentários:

  1. Perfeito! Perfeito texto, Reinaldo. Digo tanto pelas argumentações, como pela estrutura, pelo poder de concisão. Demais! O que muits veem essa linguagem moderna de Boyle como um defeito, vc rebate com louvores aqui: "um exemplo de como o cinema moderno aceita intervenções estéticas e ainda se esmera em preceitos básicos – como uma sólida e centrada atuação". Afinal, quem disse que um registro convencional potencializaria a catarse? Isso varia de pessoa em pessoa, mas, pra mim, o ritmo frenético causou ainda mais incomodo em mim. Gostei muito mesmo desse filme.

    mas, ah, o parágrafo derradeiro hehe. Gosto de "Quem Quer Ser um Milionário?". Acho bem bom, mas este aqui tem várias outras virtudes.


    abraço!

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  2. Fala Reinaldo, tudo bem?
    Cara, ontem vi esse link e queria compartilhar com você, amigo cinéfilo: http://www.dihitt.com.br/barra/sobre-a-critica-cinematografica-pablo-villaca-x-mauricio-saldanha

    Não sei se vc ficou sabendo disso, mas é um debate entre duas visões bem diferentes da crítica de cinema. Se é que podemos chamar de crítica o que esse Maurício faz...

    Também te convido para dar uma olhada no meu blog, onde coloquei minhas apostas para o Oscar deste domingo:
    http://www.cambioedesligo.blogspot.com/

    Abração,
    Diego

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  3. Aquela cena do talk show é assustadora mesmo, marcante. Gostei muito do filme, de James Franco, de Danny Boyle e do resultado angustiante que vimos.

    bjs

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  4. Recursos que aproxima de um vídeo publicitário? I like it! rsrs.

    Mas, brincadeiras a parte, vou tentar ver o filme essa semana, pelo menos, antes da festa do Oscar.

    Beijos! ;)

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  5. Elton: Obrigado Elton. De fato, Danny Boyle pode servir muito bem a algumas quebras de paradigmas. Críticos conservadores, no entanto, há de seguir resistindo a seu cinema.
    Quanto a Quem quer ser um milionário?, é lógico que o filme é bom. Mas tem uma série de subterfúgios narrativos que o diminui como cinema. Abs

    Diego: Grande Diego. já comentei lá. Pois é, acompanhei sim essa pendenga entre os dois. É aquela velha questão da crítica. Há espaço para ambas. Mas é preciso ter a humildade de reconhecer a superioridade de uma critica que se presta a problematizar o filme sobre outra que só se interessa por dizer se ele é bom ou ruim segundo critérios bem particulares.
    Abs

    Amanda: É uma cena impressionante mesmo. De arrepiar! bjs

    Mayara: rsrs. Vc vai perceber esse aspecto publicitário Ma. É uma linguagem muito específica. Bjs

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