segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Crítica - Ajuste de contas

O valor da memória afetiva

Se os filmes esportivos flertam com a emoção em sua concepção mais genuína e idiossincrática, há dois exemplares que culminaram para esse lugar-comum. São eles Rocky, um lutador (1976) e Touro indomável (1980). Essa consciência, ampla e universal, é a razão de existir do nostálgico e bem humorado Ajuste de contas (Grudge match, EUA 2013) e é, também, a razão para que gostemos tanto do filme, a despeito de sua descompromissada ode ao clichê. 
Robert De Niro, premiado com o Oscar pelo papel do irascível Jake La Motta em Touro indomável, vive Billy “the Kid” McDonnen, um pugilista aposentado com todas as características de Jake, ainda que sob o prisma sempre tenro do humor. Já Sylvester Stallone vive Henry “Razor” Sharp, um declaque de Rocky, como o são, de certa forma, todos os personagens de Stallone (ou pelo menos os que não são decalcados de Rambo). Ambos se aposentaram sem travar uma terceira luta entre eles. Nas duas primeiras, uma vitória para cada lado. Acontece que Razor venceu seu embate, o segundo entre os pugilistas, com The Kid flagrantemente mal preparado. Como não obstante, The kid dormiu com a namorada de Razor (Kim Basinger) anos atrás. Estranhamente, é justamente Razor quem mais hesita em realizar uma negra quando a oportunidade se apresenta com os dois para lá dos 60 anos.
O humor, e o diretor Peter Segal, de filmes como Agente 86 (2008) e Tratamento de choque (2003), é carinhoso tanto no registro como com os personagens, dá um tempero mais forte e charmoso ao filme que não esconde um momento sequer o desejo de brincar com a iconografia de dois dos personagens mais reluzentes da história do cinema.

Stallone e De Niro em cena: o ridículo da situação não incomoda um minuto sequer...


Nesse contexto, o que Ajuste de contas propõe é uma construção muito rica e pouco azeitada pelo cinema contemporâneo em que pipocam remakes e reboots. O valor da memória afetiva tão desprezada por produtores que atentam contra o desejo de fãs (e o próximo Robocop dará uma boa medida desse caldo) é o principal pilar desse filme em que não há nada novo, Stallone e De Niro operam no piloto automático e que os clichês imperam e, mesmo assim, a experiência é bastante satisfatória. Reinventou-se a roda? Não, ela apenas foi lubrificada adequadamente.

2 comentários:

  1. Incrível como Robert DeNiro pula de um filme bom para um ruim em questão de segundos. Tudo bem, ele não tem mais que provar nada a ninguém.... Já Stallone continua a sua cruzada para ser relevante novamente. Esse filme, se eu assistir, será em casa!

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  2. Kamila: Acho o filme muito legal Ka. Pra quem gosta de cinema e referência, é um prato cheio. Mas entendo sua resistência.
    Bjs

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