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sábado, 31 de agosto de 2013

Em off (especial listas)

Nesta edição especial da seção Em off, Ryan Gosling nas mais variadas versões GIF, as musas que surgiram no cinema em 2013, os dez melhores filmes com a chancela do saudoso Elmore Leonard, falecido há poucos dias, os slogans mais bacanas do cinema no ano, os atores que já estão se medindo na disputa pelo Oscar 2014, atores que cantam e as figurinhas do filme mais comentado do momento nos EUA.

Os dez melhores filmes baseados em Elmore Leonard

10 – Killshot – tiro certo (2009)

Dirigido por John Madden com invejável fôlego esse conto sombrio sobre a violência que bate a nossa porta tem Mickey Rourke em grande estilo e Joseph Gordon-Levitt em sua atuação mais insana.

9 – Joey Kidd (1972)

Estrelado por ninguém menos que Clint Eastwood em sua fase áurea no western, este filme acompanha um ex - caçador de recompensas que se junta um proeminente proprietário de terras no rastro de um revolucionário mexicano.

8 – Desafiando o assassino (1974)

O insuperável Charles Bronson estrela como um fazendeiro que encara o crime organizado. É um dos filmes favoritos de Quentin Tarantino e um dos roteiros originais de Leonard para cinema.

7 – Os indomáveis (2007)

Trata-se da segunda adaptação do romance de Leonard. A primeira foi Galante e sanguinário com Glenn Ford. Este aqui é melhor com Christian Bale como um homem da lei incumbido de levar o assassino vivido por Russel Crowe ao tribunal. Instigante, vibrante, humano e tenso do início ao fim.

6 – Touch (1997)

Paul Schrader adaptou e dirigiu o romance de Leonard que faz graça com o surgimento de um milagreiro e a forma como isso passa a ser um trunfo para que um líder religioso no ostracismo volte aos dias de glória.

5 – O nome do jogo (1995)

Uma sátira para lá de bem feita à Hollywood, esse é o filme mais alusivo à obra de Leonard disponível no cinema. Uma mistura de filme de gangster com comédia de erros que confirmou o bom momento de John Travolta resgatado com Pulp Fiction no ano anterior.

4 – Be cool – o outro nome do jogo (2005)

O retorno ao universo de O nome do jogo dez anos depois. Agora a indústria da música é a bola da vez em um filme cheio de ótimas sacadas e com um elenco ainda mais caprichado. De quebra, uma homenagem a Tarantino que tanto o homenageou com seu cinema.

3 – Hombre (1967)

Indíos, caubóis e Paul Newman no topo de seu jogo nesse empolgante western com forte viés político.

2- Irresistível paixão (1998)

O filme que marcou o início da parceria entre o cineasta Steven Soderbergh e George Clooney. Sexy, engraçado, sexy, moderno, sexy, inteligente, sexy, dinâmico, irônico, sexy...

1 – Jackie Brown (1997)

O tal do filme que cresce de tamanho com o tempo. O menor Tarantino? Talvez seja. Mas é o filme que reuniu a escrita brilhante e cheia de fôlego de Leonard com a criatividade pulsante e logística visual de Tarantino. 


Onze atores que geram buzz na briga pelo Oscar de melhor ator em 2014 (cinco deles devem ser finalistas)
Robert Redford (All is lost)
Michael B. Jordan (Fruitvale Station)
Forest Whitaker (O mordomo)
Leonardo DiCaprio (The Wolf os Wall Street)
Tom Hanks (Captain Phillips)
Oscar Isaac (Inside Llewyn Davis)
Bruce Dern (Nebraska)
Benedict Cumberbacht (O quinto poder)
Joaquin Phoenix (Her)
Steve Carell (Foxcatcher)
Matthew McConaughey (Dallas buyers club)

Sete Gifs de Ryan Gosling









Dez slogans de filmes do ano bem sacados
“O sonho americano deles é maior que o seu” (Sem dor, sem ganho)
“Você não pode expor os segredos do mundo, sem expor os seus próprios” (O quinto poder)
“Quando ele está mais vulnerável, ele é mais perigoso” (Wolverine: imortal)
“Não haverá aviso” (Guerra mundial Z)
“A Terra é uma lembrança pela qual vale a pena lutar” (Oblivion)
“Eles apenas não tem um link com a nova geração” (Os estagiários)
“Uma voz serena pode iniciar uma revolução” (O mordomo)
“Jude Law é Dom Hemingway e você não” (Dom Hemingway)
“A verdade vai mais fundo do que você imagina” (Lovelace)
“É um trabalho sujo chegar ao topo, mas alguém tem que fazê-lo” (Filth)

Três musas surgidas em 2013

Adèle exarchorpoulos 
A musa que causou frisson em Cannes

Marine Vacth
 A nova surpresa de Ozon

Greta Gerwig
Ela já estava por aí, mas ha...

Dez (bons) atores que estão no elenco do elogiado sucesso O mordomo
É o filme do momento nos EUA. O novo longa de Lee Daniels deve ir ao Oscar, pelo menos segundo as otimistas previsões dos gurus do Oscar que já vão elencando alguns filmes como favoritos da temporada (sendo que alguns nem mesmo estrearam). A crônica do mordomo que trabalhou na Casa Branca sob oito diferentes presidentes tem um elenco daqueles. E tem Oprah também!
Forest Whitaker
Vanessa Redgrave
Terrence Howard
Robin Williams
John Cusack
Liev Schreiber
Alan Rickman
Jane Fonda
Melissa Leo
Cuba Gooding Jr.


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Carta do editor - Parceria imbatível!

É estranho que esse editorial, geralmente publicado no primeiro dia de cada mês, surja agora no crepúsculo desse agosto de 2013. Mas é por uma boa causa que essa antecipação se dá. Outros ótimos blogs dessa vasta e ainda inexplorada internet já foram contemplados, mas chegou a vez de Claquete. O blog foi escolhido para firmar parceria com o site AdoroCinema. Muitos leitores do blog talvez já conheçam este que é um dos sites mais proeminentes da internet brasileira no tocante ao noticiário cinematográfico. Com uma presença já consagrada nas redes sociais e com uma audiência mensal de 5,6 milhões de visitantes únicos, a estrutura oferecida pelo site à Claquete, no formato de uma parceria capaz de prover benefícios a ambas as partes, tem o potencial de melhorar a experiência que este blog intenciona para seu leitor. Além de possibilitar que novos leitores sejam formados e conquistados.
Uma das omissões do blog em relação à concorrência toca justamente no quesito promoções. Por seu viés amador, no sentido de falta de patrocínio, o blog não reunia condições de capitalizar e contemplar seus leitores nesse aspecto. Essa será uma das correções que essa nova parceria irá promover. 
O AdoroCinema, agora parceiro, é uma referência antiga para este editor e que sempre buscou o site como fonte fidedigna para consulta sobre o universo cinematográfico. Recentemente, a página virtual passou por uma modernização, em termos de design, layout e conteúdo, destacando-se ainda mais da concorrência estabelecida no universo online. 
Como o leitor mais atento já deve ter percebido, Claquete vem tendo uma semana com pegada mais erótica. Muito em virtude do lançamento do filme Lovelace, agora adiado para 13 de setembro, e da visita de Sasha Grey ao Brasil para promover sua estreia como escritora de ficção. A sintonia é tanta que um dos destaques do AdoroCinema neste momento é uma postagem para lá de sugestiva: 25 cartazes de conteúdo erótico no cinema. Clássicos como Beleza americana, Assédio sexual, A bela da tarde e O povo contra Larry Flynt e de obscuridades como Regras da atração, cujo cartaz está em destaque nesta carta do editor,  e Querelle estão lá para lembrar que criatividade pode rimar com sensualidade nas artes promocionais no cinema. 
Outra novidade é que o blog agora também está no twitter. Quem deseja ficar ainda mais sintonizado com o mundo do cinema e essa claquete aqui é só seguir o perfil @ClaqueteC.
Setembro, que já está começando em agosto, promete ser realmente primaveril para o leitor do blog. Elysium é o grande lançamento do mês e receberá um especial à altura no blog. O saldo do verão americano de 2013 será reverberado e teremos, ainda, uma análise do boom de festivais nesse segundo semestre. Isso é bom ou ruim? Bom, mais do que nunca, é ficar por aqui!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Afundando na garganta - tudo o que você precisa saber sobre o filme Lovelace


A estreia estava prometida para o dia 30 de agosto, mas foi remanejada para 13 de setembro Trata-se de um dos filmes independentes americanos mais aguardados em muito tempo. Em parte pela curiosidade sobre a carreira da mais famosa atriz pornô de todos os tempos e de como Linda Lovelace, no terceiro ato de sua vida, se transformou em uma ferrenha ativista contra a indústria pornô. A produção da The Weinstein Company, desde que foi anunciada, alimenta expectativas de público e crítica. Nessa reportagem especial, Claquete esmiúça os detalhes da produção e de todo mundo que está por trás dela...


Entre o hard e o soft...

Repare na carinha de anjo. No jeito de menina travessa. Amanda Seyfried dá corpo a fantasias e justamente por isso foi uma das primeiras opções para viver a personagem, a primeira mesma foi a não menos instigante Olivia Wilde. Mas Seyfried tem mais currículo, quiçá mais sex appeal, para encarnar uma personagem que precisa trafegar entre a inocência e a depravação.
Com uma carreira ainda em ascendência, mas já consolidada, a atriz de 27 anos enfileira projetos tão distintos quanto midiáticos como Os miseráveis, Lovelace, O preço do amanhã e A garota da capa vermelha. Desde Mamma mia (2008) é uma realidade hollywoodiana, mas se experimenta em projetos ousados como O preço da traição, tira um sarro em participações especiais em programas como American dad, enquanto se prepara para o primeiro papel de sua vida como uma lenda do cinema pornô.
Do filme teen Meninas malvadas (2004) a ousada série da HBO Big love, Amanda Seyfried transita com graça, desenvoltura e talento por uma indústria que tem no sexo àquela esquina super conhecida.

O hype
Garganta profunda arrecadou mais de U$ 600 milhões, é reconhecidamente o filme erótico mais visto da história e foi capaz de provocar uma revolução nos costumes dos anos 70, capitalizando em uma época de revolução sexual. O filme gerou, até mesmo, um documentário (Por dentro da garganta profunda) lançado em 2004. Por tudo isso, Lovelace, filme que se predispõe a dar a versão dos fatos da protagonista de Garganta profunda, ganha destaque. O hype do filme é mergulhar nessa época que o cinema pornô estava se construindo, se descobrindo e sendo descoberto e o processo de imersão de uma “garota da  porta ao lado” que a levou à fama e às drogas.
Linda Lovelace depois de ser um dos principais rostos do pornô se tornou uma das principais vozes contra essa indústria. O hype está todo aí!

Mr. Sex drive

É uma ponta. Talvez um pouco mais do que uma ponta. Mas é seguramente uma das sensações de Lovelace a presença de James Franco como Hugh Hefner, o criador da Playboy e que estava envolvido com o cinema (o pornô e o convencional) nos idos dos anos 60 e 70 que marcaram a contracultura. Hefner, um tipo legitimamente interessado em sexo, ganhou em James Franco que recentemente declarou que “faria sexo real em um filme pelo papel certo” um intérprete a altura do mito.

Nossos loucos anos
Não é segredo para ninguém, mesmo quem pouco se importa com a vitalidade do cinema pornô, que a internet mudou as regras do jogo. O cinema pornô vive seu crepúsculo no sentido de indústria. Havia uma época que faturava tanto quanto Hollywood. Os cinemas eróticos eram frequentados por celebridades e personalidades nos anos 70 na esteira do sucesso de obras como Garganta profunda. A moda pegou no Brasil, ainda que com perfil mais marginalizado. Ainda assim, os cinemas eróticos lotavam nos centros do Rio de Janeiro e São Paulo. Emanuelle viraria frisson nas sessões Privê das madrugadas da tv aberta. Se há um filme contemporâneo que registra essa nostalgia ensimesmada de uma era mais ingênua e devassa é Boogie Nights – prazer sem limites (1997), escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson.
O filme acompanha justamente o apogeu do cinema pornô e como ele, por um certo período, deu viço ao sonho americano.

Too sexy for your love: os boys do filme de Paul Thomas Anderson

Com vocês, os garanhões...



Ah, esses títulos...

Filmografia parcial de Linda Lovelace
As minhas loucas aventuras na selva (1969)
Dog fucker (1969)
Garganta profunda (1972)
Exóticas fantasias francesas (1974)
Confissões de Linda Lovelace (1974)
Linda Lovelace para presidente (1976)

Documentário ou ficção?
A versão dos fatos por Linda Lovelace. Essa é, sob coação, a justificativa da equipe por trás de Lovelace para o filme. Mas por que não um documentário? Rob Epstein, um dos diretores do filme é um documentarista de longa data e prestigio. São seus os oscarizado The times of Harvey Milk (1984) e o vanguardista The Aids show, rodado em 1986 com a Aids então uma novidade. O interesse por aquela época e pelas reminiscências da contracultura acompanham Epstein que junto com Jeffrey Friedman, seu codiretor em Lovelace, lançou Uivo, sobre a geração beat em 2010. Foi no curso desse filme que resolveram abraçar a história de Lovelace. A ideia era fazer uma ficção tão bem fundamentada como a do filme estrelado por James Franco e que valeu a dupla alguns prêmios ao redor do mundo.

Sete curiosidades sobre o filme

Amanda Seyfried achou Garganta profunda “um pouco chato”. Ela fez a confissão durante o último festival de Berlim

O orçamento do filme foi de U$ 10 milhões

Olivia Wilde, de Tron – o legado e Eu queria ter a sua vida, era a primeira opção para viver Linda Lovelace

A personagem de Sarah Jessica Parker, Gloria Steinem, foi cortada da versão final do filme

Os produtores de Garganta profunda tentaram vetar o lançamento do filme na Justiça de Nova Iorque sob argumentação de violação das leis de direitos autorais

Chloë Sevigny, que no filme faz uma jornalista feminista, é a campeã entre o elenco feminino de aparições nuas em filmes. A atriz, no entanto, já declarou que não tirará mais a roupa em frente às câmeras

Wes Bentley e Amanda Seyfried contracenaram em 12 horas, de Heitor Dhalia

Amanda Seyfried pediu para não rodar cenas em que surgisse completamente nua

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Crítica - Flores raras

By reading your poems...

É um projeto ambicioso, não só por ser um filme nacional que obriga o espectador a ler legendas em uma época que os filmes estrangeiros surgem majoritariamente dublados nas salas de cinema do país, mas porque Flores raras (Brasil 2013) quer conciliar a veracidade da trajetória de duas mulheres de reiterado e merecido destaque – a paisagista e arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires) e a poetisa americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto) – à beleza e lógica de uma história de amor.
Nesse contexto, o filme de Bruno Barreto apresenta méritos, vícios e crises que resultam em um filme muito acima da média, ciente de suas potencialidades, mas também que deixa suas limitações visíveis a um olhar mais experimentado.
Flores raras não é um filme apenas sobre a história de amor entre duas mulheres em uma época em que isso provocaria escândalo ainda maior do que podemos imaginar hoje, mas uma história sobre como esse sentimento balizou mudanças significativas na vida das duas. É, ainda, um drama capaz de provocar algum ruído sobre o desatino das personalidades fortes – nesse sentido Lota é um personagem fascinante – e de como a arte está ligada ao ideário de liberdade (o homossexualismo bem estabelecido no círculo social das protagonistas e a breve conotação política aferida na trama reforçam esse recorte).
Se Elizabeth era alguém insegura de si, de sua condição, de seu desejo de viver, Lota – que se deixava cativar por essas qualidades que a outros repeliria – era alguém capaz de cuidar, tratar, enfim, abrandar essa insegurança. Dessa necessidade mútua, de se aceitar por uma, e de se afirmar, por outra, surge uma historia de amor por vias tortas. A companheira de Lota, Mary (Tracy Middendorf), é escanteada sem cerimônias revelando o aspecto centralizador da personalidade de Lota – que muitos descreveriam como um aspecto masculinizado de sua figura.

Relação problemática: a rápida e devastadora paixão que une as protagonistas não submerge os defeitos e carências de nenhuma delas

Aliás, a opção por não romantizar as personagens é um acerto de Barreto e do roteiro de Carolina Kotscho e Matthew Chapman, baseado no livro “Flores raras e banalíssimas” de Carmem L. Oliveira. As agruras das personalidades das protagonistas surgem sem retoques lhe conferindo humanidade insuspeita em um filme que se pretende, também, uma homenagem. 
Mas há sobressaltos. A edição nem sempre é a que se poderia desejar. Principalmente no momento em que Lota e Elizabeth se aproximam amorosamente, a montagem do filme flerta com o amadorismo não amarrando pontas cruciais para que a audiência perceba o que une, afinal, aquelas duas mulheres tão distintas. A efemeridade com que a vida política do país é tratada pelo filme é outro fator a incomodar. Por certo, um desvio dessa natureza poderia prejudicar o ritmo do filme, mas a maneira com que Barreto insere o contexto político no filme é superficial e pouco tange às vibrações que exerceu na separação conjugal das personagens.
As três atrizes principais do filme estão muito bem dirigidas, é importante frisar. Glória Pires está muito a vontade em uma personagem compreensivelmente difícil para se interpretar. Além de atuar majoritariamente em inglês, sempre de maneira muito convincente, havia o aspecto das cenas de teor homossexual – sempre matéria de polêmica para alguém de sua estatura na cena midiática nacional. Glória tira tudo de letra, mas não deixa de ser engolida por Miranda Otto em cena. A australiana acha o ponto certo para viver Bishop, personagem muito fácil de cair no clichê, e dignifica a memória da poetisa com um registro complexo, sensível e marcado por sutilezas. Já Tracy Middendorf, com bem menos atenção da narrativa, consegue na base do gestual fazer justiça a uma mulher injustiçada por Lota e mesmo pelo filme, entregando nuanças jamais desprezíveis.
Flores raras não deixa de ser um monumento romântico á vida dessas figuras que são agora descobertas por muitos nas telas de cinema. Há uma beleza maior que a vida em reclamar o parque do Flamengo, hoje já muitas vezes reformado e conhecido como Aterro do Flamengo, em souvenir de uma história de amor.

domingo, 25 de agosto de 2013

Insight - O pornô vive


Não é exatamente em virtude de “50 tons de cinza”, cuja adaptação cinematográfica move mundos e fundos em Hollywood polarizando muita atenção no circuito hollywoodiano. Mas é inegável que a versão cinematográfica do fenômeno literário de E.L James é a cereja no bolo de um movimento, e momentum, do cinema pornô junto a seu primo mais nobre, o cinema dito convencional.
Na próxima sexta-feira estreia nos cinemas brasileiros um dos filmes independentes americanos mais comentados do ano. Lovelace, cuja reportagem a respeito será publicada ainda esta semana em Claquete, é uma cinebiografia da atriz pornô mais famosa de todos os tempos.
O sexo paira sobre 2013 desde o festival de Sundance, realizado em janeiro, no qual Lovelace teve sua premiere mundial. Foi lá que Joseph Gordon-Levitt exibiu sua estreia na direção, Don Jon, então chamado Don Jon´s addiction, um filme em que interpreta um garotão vidrado em filmes pornôs ao ponto de deixar isso prejudicar suas relações sociais e amorosas. E a namorada no filme é Scarlett Johansson. O filme estreia em setembro nos EUA e ainda não tem data fechada para chegar por aqui.
Entre os inúmeros projetos de James Franco listados para 2013 está Kink, em que ele atua como produtor. O documentário parte do escrutínio do funcionamento do site que batiza o filme para discutir a relação do público com a pornografia, no geral, e com o sadomasoquismo, em particular. Para Franco, a pornografia é uma arte subestimada. Em Sundance, ele afirmou que “esses caras são artistas porque fazem você se excitar. Não é algo fácil”.  A despeito de se concordar ou não com James Franco, o sexo em sua versão mais gráfica parece mesmo na ordem do dia em Hollywood. Jeffrey Friedman, um dos diretores de Lovelaceem que Franco também atua – disse em entrevista à revista Preview que “o público está mais liberal e tolerante. A TV forçou o cinema a ser mais autêntico”.
O estreitamento com o cinema pornô não é algo novo. Steven Soderberg foi chamado de visionário por Sasha Grey, ex-atriz pornô que quando em atividade rodou com ele o experimental Confissões de uma garota de programa (2009). Sasha esteve em São Paulo na última semana para promover sua estreia como escritora de ficção. Ela lançou o que a crítica literária vem chamando de “um mergulho ainda mais sexualmente insano no mundo descoberto por ’50 tons de cinza”. Sasha, nas entrevistas que fez no Brasil, não se sentiu muita a vontade com comparações entre "Juliette society" – seu livro – e “50 tons de cinza”. Em muito por não se reconhecer, ou não se sentir representada, pelo que oferece o livro de E. L James. Mas ela admite a importância do livro para o ensejo do sexo, mais precisamente de seu componente sadomasoquista, no âmago da cultura pop.

Sasha empunha seu livro: mais um filme com pegada erótica a caminho...

O ator pornô James Deen e Lindsay Lohan em cena de The canyons, que a despeito das críticas negativas, é um dos filmes mais falados do momento nos EUA

O novo livro de Grey, sobre uma mulher que adentra uma sociedade secreta do sexo, já teve seus direitos vendidos para o cinema e a autora já disse que, por ela, Mia Wasikowska (Minhas mães e meu pai) faria a protagonista.
Recentemente, James Deen, conhecido como o “Ryan Gosling do pornô” por fazer muito sucesso com as mulheres (não as que atuam), estrelou The canyons, de Paul Schrader, ao lado de Lindsay Lohan. O filme não tem nenhum lastro de pornografia, mas uma forte aura sexual o permeia, e Deen faz um homem obcecado por uma estrela de cinema.
O cinema pornô, de maneira geral, já foi mais reluzente na ensolarada Califórnia. Mas esse estreitamento pode beneficiar ambas as indústrias. Em um movimento de tomada de consciência mútua, esse namoro entre Hollywood e a indústria pornô deve oferecer apimentados próximos capítulos.

sábado, 24 de agosto de 2013

Ser Batman é a verdadeira segunda chance de Ben Affleck?


Foto: Acess Hollywood

A notícia foi cataclísmica nas redes sociais. Ben Affleck será o novo Batman. A percepção majoritária é negativa, mas não poderia se esperar nada diferente de um anúncio até certo ponto surpreendente como esse. Daniel Craig foi o último a experimentar a grita dos fãs comumente chamados de xiitas. Tobey Maguire para homem-aranha e Heath Ledger para o coringa também experimentaram fúrias semelhantes. No caso de Affleck não são nem mesmo esses que promovem um levante contra sua escolha para encarnar Bruce Wayne e seu alter ego neste novo ciclo do personagem.
A Warner soltou essa informação na quinta-feira e Claquete foi um dos primeiros veículos do Brasil a reproduzi-la em sua fan page. De acordo com o comunicado oficial, a opção por Affleck é de oferecer um contraponto ao Superman ainda em formação interpretado por Henry Cavill. “Ben provê um interessante contraponto ao Superman de Henry. Ele tem os atributos e recursos para caracterizar um homem mais velho e mais sábio que Clark Kent; que carregue cicatrizes da experiência que é combater o crime, mas que mantém certo charme que o mundo vê no bilionário Bruce Wayne”, disse Zack Snyder no documento liberado pela Warner à imprensa. A contestação à Affleck diz respeito a seus recursos como intérprete e sua capacidade de dar conta da complexidade de um personagem como Bruce Wayne.
A fala da presidente mundial de marketing e distribuição da Warner, Sue Kroll, no entanto, permite ir além do óbvio na análise da escolha de Affleck para o papel. Ela disse que “estamos entusiasmados que Ben esteja dando sequência ao extraordinário legado da Warner com o personagem. Ele é um ator tremendamente talentoso que dominará esse papel neste que já é o mais antecipado filme do verão de 2015”.
A Warner queria Ben Affleck envolvido com os personagens da DC de qualquer maneira. Há algum tempo especula-se seu nome para a direção do filme da Liga da Justiça. Essa especulação tinha corpo antes mesmo da confirmação oficial de que o filme seria, de fato, feito; o que só veio a acontecer em julho na última edição da Comic Con.
Affleck desconversava, mas jamais negou de fato que voltar a se envolver com um filme de super-heróis estivesse fora de seu rol de interesses neste momento da carreia. Já é notório para o leitor de Claquete, que Ben Affleck desperta grandes expectativas na Warner que o quer em seu rol de grandes artistas, pelo menos como diretor. Tê-lo como Batman é uma demonstração que essa intenção está ganhando terreno. Uma demonstração de ambas as partes. Primeiro porque a responsabilidade não deve ter vindo sem ônus para o estúdio. Affleck já chamou a atenção por conciliar estética comercial e veia autoral em seus filmes. É um dom raro em um diretor e um baita de um diferencial aplicado em filmes de super-heróis no cenário pós O cavaleiro das trevas (2008). O ator e diretor, assumindo o traje de Batman deve ter mais liberdade para tocar seus projetos como diretor no estúdio. Além do mais, é possível que tenha ficado encaminhado para que Affleck assuma a cadeira de diretor em um eventual futuro filme do homem morcego e da Liga da Justiça. A ideia é criar um universo e com Affleck a bordo isso torna-se plenamente possível. O que não quer dizer que irá acontecer. É preciso ter em mente que Zack Snyder, que para todos os efeitos não foi feliz na reinvenção do Superman em O homem de aço, será o primeiro a pôr as mãos nesse novo Batman. Portanto, o que é bonito no papel, pode não permanecer assim na prática.


A internet foi à loucura com a escolha de Affleck para viver Batman. Claquete selecionou algumas montagens bacanas a respeito do imbróglio que se deu no mundo digital. Na primeira imagem, uma brincadeira com a curtição no QG da Marvel a respeito da escolha da rival. Na foto seguinte, o texto diz "George Clooney deve estar aliviado com a possibilidade de que finalmente alguém interpretará um Batman pior que ele" e no texto baixo, aludindo o fenômeno nerd "Guerra dos Tronos", a chamada: "Se prepararem... uma fúria nerd está chegando".



Assumindo os riscos
Todo mundo sabe o histórico de mau ator que Ben Affleck carrega. Aqui mesmo em Claquete este tópico frequentemente volta a receber certo destaque. Todo mundo sabe, também, que Affleck foi um dos responsáveis para o fracasso, ainda que o filme não seja de todo ruim, de Demolidor – o homem sem medo (2003), uma da primeiras incursões de um personagem Marvel no cinema depois do êxito do primeiro X-men em 2000. A partir daquele fatídico 2003, Affleck carregou um estigma tão duro para um ator quanto para um atacante em jejum de gols: não ser bom em seu ofício.
Desde que começou a dirigir, mostrando ser genuinamente bom e cada vez melhor nisso, Affleck recuperou muito da simpatia de público, crítica e, principalmente, indústria. Mas era diferente. O incômodo com as constantes comparações e apartes entre o Ben Affleck diretor e o Ben Affleck ator ainda estavam lá. Pairando sobre um ator que evoluía conforme se consolidava, também, como diretor.
Entrar no olho do furacão ao assumir o papel do Homem-morcego depois de sua mais bem sucedida encarnação com a dupla Christopher Nolan/Christian Bale é um risco calculado. O que não quer dizer que não seja um risco grande. Affleck se investe da responsabilidade de apagar o lastro de más impressões deixadas desde que despontou como ator no fim dos anos 90. Somente um papel de grande projeção midiática, nos termos de Tony Stark/Homem de ferro para Robert Downey Jr pode fazer isso. Mas se o tiro sair pela culatra, o tombo poderá pôr a perder as recentes conquistas de Affleck como artista.

Ben Affleck aceitando a pressão: o risco é calculado, seu efeitos imprevisíveis...

De qualquer jeito, é Hollywood sendo cinematográfica também nos bastidores. Sob a perspectiva do marketing, a escolha é ótima. Affleck hoje é um artista respeitado e uma marca de prestígio no cinema americano. Em termos de ambição é um gol de placa, pois se vislumbra critério e aplicação nos planos da Warner de consolidar o universo DC nos cinemas. Resta observar o desenvolvimento dessa história e torcer para que ele em si não seja mais interessante do que os filmes que vem por aí.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Crítica: Bling ring - a gangue de Hollywood


Existência canibalizada

Bling ring – a gangue de Hollywood (The bling ring, EUA 2013) é uma progressão natural do cinema de Sofia Coppola. É pop, aprofunda o olhar da cineasta sobre o mundo da fama e acentua os interesses formais de sua dramaturgia pelas divagações existenciais no mundo dos ricos e famosos.
Baseado em uma reportagem da revista americana Vanity Fair, Bling ring é um filme cuja maior ousadia é comportar em si todo o glamour que objetiva criticar. Ou seja, Sofia se ressente de ir muito a fundo na crítica que enseja com seu filme, talvez por se reconhecer no universo que retrata, talvez porque antes da crítica venha o esforço, e genuíno interesse, de compreensão desse mundo perdido entre dois universos. O dos mortais e dos imortalizados pelo show business. A participação de Paris Hilton, que abriu sua casa à produção e faz uma ponta no filme, nesse contexto, destaca esse aspecto de retroalimentação que Bling ring se presta. É o feitiço de Narciso em sua encarnação mais insinuante. Essa dialética, que passa incólume para muitos observadores, torna Bling ring um filme muito mais interessante. Mais concatenado. Mais senhor de sua essência. Ainda não é o filme que o talento de Sofia Coppola, tão bem insinuado em Encontros e desencontros, pode ofertar, mas é um passo consciencioso nesse sentido.
Como já se sabe, o filme acompanha um grupo de jovens de classe média alta de condomínios ostensivos de Los Angeles que invadiam e furtavam as casas de famosos quando eles estavam ausentes. O absurdo da história ganha contornos ainda mais espetaculares porque eles localizavam a casa de suas vítimas pelo google street view e sabiam de suas agendas pelo site de fofocas TMZ. Esse tipo de culto, em que se se canibaliza ao máximo seu ídolo, é um prato cheio para o cinema de questionamentos irresolutos de Sofia Coppola. Rebecca, a personagem de Katie Chang, mentora intelectual da informal gangue, não por caso se mira em Lindsay Lohan (conhecida por seus inúmeros problemas emocionais), quando interrogada pelo policial quase surta para saber o que Lindsay, afinal, havia comentado sobre ela. É aí, nesse particular comentário, que Sofia Coppola brilha.

Pode não parecer, mas a atuação pontual de Emma Watson - como uma patricinha periguete deslumbrada - é um dos alicerces do novo filme de Sofia Coppola

A alienação da juventude atual, constantemente conectada na internet em um ritual de auto-adoração frenética nas redes sociais, é a argila perfeita para Sofia moldar suas reflexões (ainda que elas sejam as mesmas) sobre esse universo tão perseguido nesse mundo de realities shows e toda sorte de derivados da profecia de Andy Warhol.
A construção do filme favorece esse distópico caráter de crítica e glamourização. É uma abordagem corajosa enfatizar o vazio da existência e se deixar por ele seduzir. Costuma-se dizer que para se entender determinada questão, deve-se procurar olhar com “outros olhos”. É o que Sofia procura fazer aqui. Para depois retomar as alças do filme e oferecer um contraponto até certo ponto esperado por quem se predispõe a assisti-lo. Justamente por isso ela radicaliza alternando o desenvolvimento da ação, com o recolhimento de depoimentos dos envolvidos por uma jornalista da Vanity Fair. É uma maneira de lembrar o público que seu filme se trata, afinal, de uma versão. Nesse sentido, os personagens de Emma Watson e Israel Broussard são pontuais. Seus personagens, nos caminhos emocionais distintos que seguem depois que seus delitos se tornam públicos, são as duas faces de uma moeda que todos, admitam ou não, guardam em seus bolsos.
Bling ring, com um elenco no ponto certo, uma trilha sonora eloquente, uma fotografia pulsante e uma direção que sabe precisamente aonde quer chegar, é o filme mais maduro de Sofia Coppola. Ainda que não seja o melhor.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Filme em destaque - Sem dor, sem ganho


Se transformando no mesmo
Novo filme do diretor mais criticado do cinema moderno é um filme de ação cheio de humor e marombeiros situado em Miami e que busca devolver Michael Bay ao momentum de sua estreia no cinema em 1995

Michael Bay estava atribulado. Em meio ao fim do processo de edição e o início de divulgação do terceiro Transformers, o diretor se dizia cansado. Vinha de um desentendimento que gerou muito bafafá com Megan Fox, já superado, e de comandar praticamente sem qualquer interrupção três filmes gigantes que juntos arrecadaram mais de U$ 2 bilhões somente nas bilheterias. Ele queria fazer algo menor. E, em meio às negociações que se arrastaram por seis meses para que assumisse o quarto filme da franquia Transformers, Bay confirmou que queria fazer um filme pequeno. Mas pequeno para Michael Bay é na casa dos U$ 30 milhões. Sem dor, sem ganho, que chega nesta sexta-feira (23) aos cinemas do país, teve orçamento de U$ 26 milhões. Como já ressaltado em seção Insight recente no blog, o novo filme de Michael Bay faz parte de uma leva de produções de cinema amparadas em reportagens investigativas. No caso de Sem dor, sem ganho, a referência é uma reportagem de 1998 do Miami News Times sobre uma gangue de criminosos marombeiros.  
As filmagens ocorreram no segundo trimestre de 2012 e o filme foi lançado no fim da primavera deste ano nos EUA. Não fez a melhor das bilheterias e, tratando-se de Michael Bay, apresentou um rendimento de cinema independente com bilheteria superior a U$ 50 milhões nos EUA. Ou seja, não deu lucro, mas também não deu prejuízo.

Bombas, realidade e humor
Mas não se enganem, Sem dor, sem ganho é um filme de Michael Bay. Com todas as vantagens, vícios e hipérboles que essa constatação possa acarretar.
A primeira providência era arranjar os marombeiros perfeitos para viverem marombeiros criminosos. Mark Wahlberg, mais inchado do que nunca, e Dwayne “The Rock” Johnson foram as primeiras e únicas alternativas de Bay para assumirem os protagonistas. Depois vieram Anthony Mackie (Guerra ao terror), Tony Shalhoub (Monk), como uma vítima em potencial, Ed Harris, como alguém que não é o que parece, Rebel Wilson (A escolha perfeita), a mulher que quer tirar o trono de mulher mais engraçada da América de Tina Fey, e Ken Jeong, que já havia feito o terceiro Transformers com Bay e é mais conhecido como o Mr. Chow da trilogia Se beber, não case. Estava montado um elenco capaz de fazer bonito em um filme de ação que não se leva a sério.
Na trama, os personagens de Johnson e Wahlberg sequestram o empresário vivido por Shalhoub, mas não conseguem o dinheiro do resgate. Eles deixam o refém à beira da morte, mas ele sobrevive e planeja uma vingança. “O mais interessante quando você lê o roteiro é que você pensa, 'Não tem como isso ter acontecido de verdade'. É muito absurda a maneira como esses homens fizeram o sequestro, não é possível que aqueles assassinatos tenham acontecido mesmo. Mas aconteceu, e não apenas aconteceu, como aqueles caras ainda estão presos esperando a pena de morte”, comentou Dwayne Johnson na coletiva de imprensa de lançamento do filme na cidade de Miami, que obviamente foi o local escolhido para receber a premiere mundial do filme.
Sem dor, sem ganho é um Michael Bay de volta às origens do primeiro Bad boys (também sediado em Miami) lá do longínquo 1995. “Talvez seja o melhor filme que Michael Bay já fez”, escreveu em sua crítica no Newark Star-Ledger, o crítico Stephen Witty. Até mesmo os detratores de Bay devem apreciar ‘a dor de curtir o ganho’”, anotou o crítico da Time, Richard Corliss. Para Peter Travers, da Rolling Stone, no entanto, Sem dor, sem ganho reitera o gosto de Bay por “objetificar” mulheres e prover humor de situações brutalizadas.
Sem grandes aspirações dramáticas, o filme se dirige ao público contumaz de Bay, mas sem a pirotecnia característica dos últimos filmes lançados pelo diretor. Nessa reciclagem, Bay pode conquistar novos fãs, refrescar a memória de fãs perdidos e, finalmente, mostrar que não perdeu o jeito de dirigir filmes que não se escoram única e exclusivamente em efeitos especiais.

Espaço Claquete - Contrabando

Contrabando (Contraband, EUA 2012) pode ser descrito vulgarmente como o melhor e o pior que Hollywood tem a oferecer em matéria de entretenimento. É, também, aquele tipo de filme que cresce exponencialmente na telinha (ou mesmo telona) de casa. Mark Wahlberg estrela como um sujeito de passado criminoso que se endireitou na vida e tem o respeito de seus antigos comparsas por isso. No entanto, ele é levado de volta à vida criminosa em virtude de um desarranjo de seu cunhado com um traficante de drogas local. Para manter sua família fora do radar dos criminosos, aceita contrabandear uma remessa de dinheiro falsificado do Panamá para os EUA. Obviamente, nem tudo sairá como o planejado.
Estão todos lá. Os principais códigos do filme de gênero que ergueram o bastião dos filmes B com estilo e classe. O desconhecido Baltasar Kormákur, na direção, consegue manter a tensão viva, mesmo que o público saiba precisamente para que ponto a trama vai. As reviravoltas, ainda que previsíveis, estão bem contextualizadas na trama e o bom elenco coadjuvante formado por Kate Beckinsale, Giovanni Ribisi, Ben Foster e Diego Luna ajuda a aumentar a boa vontade com o filme.
Mas a presença desses códigos e a total indisposição de “mudar um time que está ganhando” faz de Contrabando um filme símbolo do jeito industrial como Hollywood despeja filmes no mercado. Não à toa, a produção não foi sequer lançada nos cinemas brasileiros, indo direto para o home vídeo. Nos EUA, por exemplo, fez respeitáveis U$ 70 milhões (custou pouco mais de U$ 20 milhões), renda superior ao recente e muito mais caro Depois da terra. O que nos leva a constatação que esse tipo de filme vende. Existe um público cativo e fiel a esse tipo de produto que potencializa-se ainda mais nas megastores e locadoras. Se for bem feito, como no caso de Contrabando, o custo é mais do que bem recompensado.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Perfil - Mark Wahlberg



Sem dor, sem ganho – de Marky Mark a expoente de Hollywood, a trajetória de um vencedor


Dois restaurantes em Nova Iorque, uma rede de fast-food denominada WahlBurger, uma marca de vitaminas denominada Marker, produtor de filmes e séries premiadas como O vencedor, "In treatment" e "Boardwalk Empire". Sim, estamos falando de Mark Wahlberg ou do outrora conhecido Marky Mark, como era conhecido quando tentava fazer do rap o sol da sua vida. Certo é que Mark Robert Michael Wahlberg, nascido em Boston no Estado de Massachusetts (EUA), é o mais novo de nove irmãos e o que chegou mais longe, pelo menos em termos financeiros e de fama. Pelo quarto filme da série Tranformers, uma espécie disfarçada de reboot do filme de 2007 que será lançada no cabalístico 2014, ele recebeu U$ 30 milhões. Tem em Michael Bay, seu diretor no referido filme e no lançamento deste mês nos cinemas, Sem dor, sem ganho, um novo parceiro. E Mark é assim. Um cara de parcerias. Fez uma série sobre como elas foram importantes para sua formação pessoal e profissional – essa série se chama "Entourage", um dos primeiros sucessos da hoje cheia de sucessos HBO – e foi fazer parcerias estreladas com gente como George Clooney, David O. Russell, James Gray, Seth MacFarlane, Martin Scorsese entre outros.
Seu talento, que muitos teimaram em não reconhecer mesmo depois da indicação ao Oscar em 2007 como ator coadjuvante por Os infiltrados, já estava lá desde cedo. Fosse como um lobo em pele de cordeiro no teen sombrio Medo (1996), em que contracenava ao lado de uma jovem Reese Witherspoon, fosse como o porra louca que dá maus conselhos a Leonardo DiCaprio em Diário de um adolescente (1995), ou como um bem dotado ator pornô nos loucos anos 70 de Boogie nights: prazer sem limites (1997). Paul Thomas Anderson não o escalou como protagonista dessa crônica agridoce à toa.
Wahlberg disse em entrevista recente que se resgarda. Todos esses negócios às margens do cinema são para consolidar seu futuro e o de sua família. Filho de pais divorciados, Wahlberg faz o tipo família e depois de alguns envolvimentos amorosos que nunca causaram reboliços midiáticos casou-se em 2009 com a modelo Rhea Duham, com quem já namorava desde 2001, e tem quatro filhos.
Wahlberg sabe que Hollywood é uma ilusão e que precisa se agarrar a coisas reais. “Roubava carros porque gostava de dirigir, vendia drogas porque precisava do dinheiro para ficar doidão. Mas, ao mesmo tempo, também tinha um ‘emprego formal’ porque queria comprar coisas bacanas”, disse em entrevista à revista Serafina no ano passado à época do lançamento de Ted nos cinemas.

Mark Wahlberg inchado nas filmagens de Sem dor, sem ganho em Miami: a Forbes o colocou no topo da lista dos atores mais rentáveis de 2012... 

Family man: receber estrela na calçada da fama foi programa de família em 2010 


Wahlberg não esconde seu envolvimento com o crime no passado. Foi o irmão Donnie, à época fazendo sucesso com o grupo musical New Kids on the Block, quem colocou o rap em seu caminho e Marky Mark como seu nome de guerra no início dos anos 90. Uma coreografia abusada, abaixar as calças no palco, o levou a assinar um contrato com a Calvin Klein para ser o garoto propaganda das cuecas da grife. Daí vieram trabalhos com Kate Moss, a prestigiada fotógrafa Annie Leibovitz e Um novo homem, seu primeiro filme.
Mesmo aí, depois de toda mudança, era difícil crer que aquele Mark Wahlberg, ex- Marky Mark seria o Mark Wahlberg que conhecemos hoje.  Voltou a estudar, concluiu o ensino médio pela internet e hoje, paizão, se declara fã de Justin Bieber. Mexe os pauzinhos em Hollywood até mesmo para estrelar um filme com o popstar canadense.
A estrela na calçada da fama veio em 2010, mesmo ano em que tornou a ser indicado ao Oscar, desta vez como produtor, por O vencedor – terceiro filme que fez com o amigo e parceiro David O. Russell, no qual apresenta uma das melhores atuações de sua carreira.
Wahlberg já se drogou, já traficou, já esteve preso e hoje entende que é um homem em busca de realizações simples na vida, embora tenha ganhado U$ 30 milhões para protagonizar um dos maiores lançamentos de 2014 nos cinemas.

Segura o tchan: causando no mundo da moda junto com Kate Moss


Dono de um timing cômico fantástico, Wahlberg é um ator que vai na tentativa e erro. Substituiu (mal) Ryan Gosling em Um olhar do paraíso (2009), de Peter Jackson e pagou mico no suspense inadvertidamente engraçado de M. Night Shyamalan, Fim dos tempos (2008), mas acertou na química improvável com Will Farrell (2010) em Os outros caras e fazendo o tipo “exército de um homem só” em Atirador (2007). É dono de uma filmografia surpreendentemente diversificada, com mais altos do que baixos, e não foge da briga. Em recente entrevista, disse que adoraria interpretar o homem de ferro, o personagem mais dominado da atualidade, que carrega o DNA de Robert Downey Jr.
Sem dor, sem ganho. Wahlberg sabe muito bem como dosar a pressão em sua carreira.

Mark Wahlberg em cinco takes

Funny man
Ted (2012)
Como um sujeito imaturo que precisa escolher entre o ursinho de pelúcia maconheiro e desbocado e a namorada atenciosa vivida por Mila Kunis, Wahlberg demonstra todo o seu tato para a comédia. E convence até saindo na mão com um urso de pelúcia...

Fuck, fuck, fuck
Os infiltrados (2006)
Como um sargento da polícia de Boston esquentado e incorruptível brilha intensamente em um elenco com feras como Jack Nicholson, Leonardo DiCaprio e Matt Damon. E com menos tempo em cena!

I play George Clooney
Uma saída de mestre (2003)
No remake deste filme originalmente estrelado por Michael Caine, Wahlberg segura as pontas como um charmoso ladrão em busca de payback. E leva Charlize Theron como recompensa!

I can go deep
Caminho sem volta (2000)
Na primeira parceria com James Gray, Wahlberg faz o tipo em busca de redenção que é tragado para a vida criminosa novamente. Papel que se tornaria recorrente em sua carreira. Mas foi nesse papel que mostrou que podia segurar um filme sozinho na base do talento também...


Much more than a prosthesis 
Boogie Nights: prazer sem limites (1997)
A cena final com uma exuberante prótese peniana marcou, mas Wahlberg, então um ilustre desconhecido, deixou vestígios de um ator de enorme potencialidade (sem trocadilhos pretendidos) vivendo um ator pornô acidental em busca do sonho americano.

domingo, 18 de agosto de 2013

Insight - Mudança nas regras da temporada de blockbusters à vista?

Imagem: nerdsontherock


O verão americano de 2013 ainda não acabou. Ainda restam alguns filmes de médio porte para serem lançados no mercado americano como Kick Ass 2, Paranoia, Jobs (todos lançados neste fim de semana), entre outros, mas já é possível extrair alguns ensinamentos de uma temporada com altos e baixos bem mais proeminentes do que se poderia imaginar. O raio x do verão, como já tradicional aqui em Claquete, será publicado em setembro, mas vencedores e vencidos já são de conhecimento público.
A maior derrotada da temporada é a produção de grande orçamento. Os fracassos de filmes como Depois da terra, Círculo de fogo, O cavaleiro solitário, O ataque e R.I.P.D mostraram que produções gigantes nem sempre são a melhor alternativa para se assegurar o lucro, como vem sendo a praxe em Hollywood há alguns anos. Curiosamente, fracassaram justamente as produções que, se não essencialmente originais pelo menos não faziam parte de franquias estabelecidas, o que oferece um contraponto dentro do mesmo argumento.
Outro aspecto que acusa a necessidade de relativização é o número que o saldo das bilheterias da temporada já arranha: U$ 4,15 bilhões segundo reportagem da Variety, publicação norte-americana que cobre o mundo do entretenimento. Esses números colocam o verão de 2013 abaixo apenas do verão de 2011 em matéria de arrecadação, mas ainda há um mês de movimentação no box office americano que pode levar 2013 a ser a temporada mais lucrativa dos últimos seis anos. Como é possível?
Em parte pelo êxito de produções de médio porte como Truque de mestre, This is the end, Invocação do mal e The purge e da força de franquias baratas como Meu malvado favorito 2 e Velozes e furiosos 6.
Cartaz de This is the end: ideia original de
Seth Rogen que agradou na temporada
Reside justamente aí a raiz dessa equação. Estúdios de cinema estiveram ávidos por produções gigantes que pudessem fisgar o interesse da plateia. Mas com esses filmes cada vez mais caros, o rendimento precisa ser cada vez mais elevado. Todos os grandes lançamentos da temporada, incluídos os sucessos (Guerra mundial Z, Homem de ferro 3, os que não fizeram feio (O homem de aço, Wolverine: imortal) e os fracassos  (O cavaleiro solitário e Círculo de fogo) custaram U$ 200 milhões ou mais. O lucro passou a ser uma variante arriscada. “Eles fizeram um filme sobre dois homens a cavalo no deserto ao custo de U$ 225 milhões”, disse Mark Wahlberg sobre o prejuízo de U$ 200 milhões que O cavaleiro solitário dará à Disney depois de render pouco mais de U$ 200 milhões até agora. “Para onde o dinheiro está indo?”, indagou o ator.
É esse o questionamento na cabeça dos grandes executivos de estúdio neste momento. Principalmente quando uma mudança capital, como o acordo da Legendary com a Universal (para saber mais clique aqui) promete mudanças radicais no sistema de capitalização para grandes lançamentos.
As animações continuam imunes a essas variações de humor do mercado e representam um alento para os estúdios. Com a Pixar fora de sua melhor forma (Universidade monstro, terceira sequência do estúdio em quatro anos, está longe de ser uma unanimidade) todos os estúdios beliscam uma boa fatia das bilheterias com animações que fisgam um público cada vez mais amplo.

Spielberg disse há algum tempo atrás que acreditava que ocinema no futuro só exibiria filmes de grande orçamento. Essa profecia está agora em choque. Há dois caminhos a serem seguidos no curto prazo: ou se investe mais nesse tipo de filme, inflacionando ainda mais o custo dessas produções se aproximando do cenário previsto por Spielberg ou se abre para as produções de médio orçamento favorecendo uma mescla no portfólio de cada estúdio na temporada. O verão de 2015, que já conta com um sem número de grandes lançamentos, talvez enseje uma resposta mais definitiva à pergunta que abre esta reportagem.