Se transformando no mesmo
Novo filme do diretor mais criticado do cinema moderno é um filme de ação cheio de humor e marombeiros situado em Miami e que busca devolver Michael Bay ao momentum de sua estreia no cinema em 1995
Michael Bay estava atribulado. Em meio ao fim do processo de
edição e o início de divulgação do terceiro Transformers, o diretor se dizia
cansado. Vinha de um desentendimento que gerou muito bafafá com Megan Fox, já
superado, e de comandar praticamente sem qualquer interrupção três filmes
gigantes que juntos arrecadaram mais de U$ 2 bilhões somente nas bilheterias.
Ele queria fazer algo menor. E, em meio às negociações que se arrastaram por
seis meses para que assumisse o quarto filme da franquia Transformers, Bay
confirmou que queria fazer um filme pequeno. Mas pequeno para Michael Bay é na
casa dos U$ 30 milhões. Sem dor, sem ganho, que chega nesta sexta-feira (23)
aos cinemas do país, teve orçamento de U$ 26 milhões. Como já ressaltado em seção Insight
recente no blog, o novo filme de Michael Bay faz parte de uma leva de produções
de cinema amparadas em reportagens investigativas. No caso de Sem dor, sem
ganho, a referência é uma reportagem de 1998 do Miami News Times sobre uma
gangue de criminosos marombeiros.
As filmagens ocorreram no segundo trimestre de 2012 e o
filme foi lançado no fim da primavera deste ano nos EUA. Não fez a melhor das
bilheterias e, tratando-se de Michael Bay, apresentou um rendimento de cinema independente
com bilheteria superior a U$ 50 milhões nos EUA. Ou seja, não deu lucro, mas
também não deu prejuízo.
Bombas, realidade e humor
Mas não se enganem, Sem dor, sem ganho é um filme de Michael
Bay. Com todas as vantagens, vícios e hipérboles que essa constatação possa
acarretar.
A primeira providência era arranjar os marombeiros perfeitos
para viverem marombeiros criminosos. Mark Wahlberg, mais inchado do que nunca,
e Dwayne “The Rock” Johnson foram as primeiras e únicas alternativas de Bay para
assumirem os protagonistas. Depois vieram Anthony Mackie (Guerra ao terror),
Tony Shalhoub (Monk), como uma vítima em potencial, Ed Harris, como alguém que
não é o que parece, Rebel Wilson (A escolha perfeita), a mulher que quer tirar
o trono de mulher mais engraçada da América de Tina Fey, e Ken Jeong, que já
havia feito o terceiro Transformers com Bay e é mais conhecido como o Mr. Chow
da trilogia Se beber, não case. Estava montado um elenco capaz de fazer bonito
em um filme de ação que não se leva a sério.
Na trama, os personagens de Johnson e Wahlberg sequestram o
empresário vivido por Shalhoub, mas não conseguem o dinheiro do resgate. Eles
deixam o refém à beira da morte, mas ele sobrevive e planeja uma
vingança. “O mais interessante quando você lê o roteiro é que você pensa,
'Não tem como isso ter acontecido de verdade'. É muito absurda a maneira como
esses homens fizeram o sequestro, não é possível que aqueles assassinatos
tenham acontecido mesmo. Mas aconteceu, e não apenas aconteceu, como aqueles caras
ainda estão presos esperando a pena de morte”, comentou Dwayne Johnson na
coletiva de imprensa de lançamento do filme na cidade de Miami, que obviamente
foi o local escolhido para receber a premiere mundial do filme.
Sem dor, sem ganho é um Michael Bay de volta às origens do
primeiro Bad boys (também sediado em Miami) lá do longínquo 1995. “Talvez seja
o melhor filme que Michael Bay já fez”, escreveu em sua crítica no Newark
Star-Ledger, o crítico Stephen Witty. Até mesmo os detratores de Bay devem apreciar
‘a dor de curtir o ganho’”, anotou o crítico da Time, Richard Corliss. Para
Peter Travers, da Rolling Stone, no entanto, Sem dor, sem ganho reitera o gosto
de Bay por “objetificar” mulheres e prover humor de situações brutalizadas.
Sem grandes aspirações dramáticas, o filme se dirige ao
público contumaz de Bay, mas sem a pirotecnia característica dos últimos filmes
lançados pelo diretor. Nessa reciclagem, Bay pode conquistar novos fãs,
refrescar a memória de fãs perdidos e, finalmente, mostrar que não perdeu o
jeito de dirigir filmes que não se escoram única e exclusivamente em efeitos
especiais.
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