quarta-feira, 31 de julho de 2013

Euro & Travelling - Viva le blue ( o cinema francês no coração da pauliceia)

O cinema francês é a coqueluche definitiva do cinéfilo paulistano. Nenhuma cinematografia é tão bem adornada por programadores das salas alternativas da cidade como os filmes que vem da terra de Napoleão Bonaparte, Luis XIV e Amelie Poulain. O cinema argentino bem que tenta, mas não consegue arranhar o domínio francês em terras brasileiras. Uma rápida pesquisa demonstra que em São Paulo, há menos lançamentos franceses apenas do que há de estreias brasileiras e americanas. Um feito e tanto para um cinema que começa a projetar por aqui produções mais comerciais como Os nomes do amor e Paris-Manhattan. Além dos lançamentos obrigatórios de gente como François Ozon, Audrey Tautou, Daniel Auteuil e Juliette Binoche. Não à toa, todos tiveram filmes lançados na cidade em 2013.
Cena de A espuma dos dias, de Michel Gondry, atualmente
em cartaz em São Paulo
Essa profusão francesa pode ser percebida sob dois aspectos distintos, mas complementares. O primeiro é de ordem política no fomento da produção cinematográfica. A chamada “exceção cultural” vigora na França há pouco mais de 20 anos e é uma política de reserva de mercado, não apenas para o cinema como para outros objetos da cultura como literatura, teatro e música. Existe uma cota de filmes franceses que devem ser exibidos nas salas de cinema do país e um repasse muito bem regulamentado e auditado de dinheiro público (oriundo de taxação sobre produtos culturais estrangeiros) para o fomento do cinema francês. Vive-se atualmente um momento de apreensão com um possível acordo econômico entre EUA e União Europeia (bloco econômico integrado pela França) que torne ineficaz a “exceção cultural”.  Muitos cineastas europeus, inclusive, já se pronunciaram contra esse possível acordo econômico que praticamente feriria de morte os mercados de cinema europeus em face do poderio da armada hollywoodiana.

Juliette Binoche, estrela da última edição desta coluna, no cartaz de Camille Caludel, 1915, filme que entra em cartaz na cidade na próxima semana: esse será o terceiro longa francês com a atriz no elenco lançado em 2013 nos cinemas paulistanos

Há muita gente que defende reserva de mercado, mas porque nem todos conseguem ser como a França? Porque além da efetividade dos repasses financeiros naquele país, há desprendimento da classe artística em expandir seus limites e criatividade no trato com eles. Há, também, um interesse genuíno em dilatar a percepção que se tem do cinema francês. Vieram da França os primeiros filmes a tratar abertamente da união homossexual sem conferir peso à polêmica. Vêm da França produções esteticamente questionadoras e narrativamente envolventes. O cinema francês tampouco se avexa em importar talentos. Cineastas iranianos, alemães, austríacos, espanhóis e de outras tantas nacionalidades se apropriam da dialética cinematográfica francesa para enriquecer tanto a própria filmografia como o cinema do país que abriga o mais prestigiado festival de cinema do mundo.
São detalhes que somados ensejam um panorama aparentemente simples, mas que exige vontade política, convicção cultural e apetite socioeconômico.
Como um efeito borboleta, medidas que começaram a ser desenhadas quando Collor acabou com a produção de cinema no Brasil refletem em uma competitividade parelha, em termos de interesse segmentado, entre os cinemas produzidos na França e no Brasil na maior metrópole brasileira. Um sintoma disso é que o festival Varilux de cinema francês chegou em 2013 a sua 12ª edição e foi ampliado para mais algumas capitais brasileiras. Esse tipo de ação promocional, patrocinado pelo ministério da cultura francês, demonstra que todo bom time precisa de uma boa gestão para dar certo.

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