segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Crítica - Biutiful

Pretensão e sutileza


Alejandro Gonzáles Iñarritu tem um cinema calcado em idéias bastante sólidas. Ao mesmo tempo essas idéias são facilmente abstraídas em escolhas conceituais equivocadas. Se Amores Brutos e 21 gramas representam a excelência dessas idéias em termos de execução e depuração, Babel se inscreve como um fervoroso meio termo. O que se não é ruim, também não é bom.
Biutiful, primeiro filme de Iñarritu sem a colaboração de Arriaga, se situa mais próximo de Babel do que dos outros filmes. Isso ocorre porque Iñarritu, em certo nível, potencializa certas idiossincrasias de seu cinema (cidades sujas, uma câmera intrusa, truques de montagem, o interesse pelo choque cultural, o assédio da morte, entre outras) e rejeita a principal marca de Arriaga, a estrutura cíclica do roteiro. É, portanto, um projeto de afirmação. Iñarritu busca a legitimação ao revisitar aspectos que trabalhara em outros filmes, mas sob outra formatação. É uma busca genuína, pena que o que se vê em Biutiful não dê substância a ela.
A trama se dilata em miudezas que só não enfadam devido ao magistral trabalho de Javier Bardem. Nesse sentido, a opção de Iñarritu de valorizar a face do ator espanhol, investigando suas expressões a cada take, é uma vitória incalculável do ponto de vista dramático. Ganhou Bardem, que teve sua performance potencializada, e o filme, em estofo dramático.


A morte à espera: Iñarritu acompanha os últimos dias de Uxbal, brilhantemente vivido por Javier Bardem



O problema de Biutiful é ter de conciliar as muitas pretensões de Inãrritu (a principal é provar que não precisa de Arriaga), ainda que lhe tenha aferido algumas sutilezas. Esse desequilíbrio prejudica o resultado final. Seja ao não aproveitar o aspecto sobrenatural da história, seja por enveredar – se pelo tema da imigração sem dar caldo a ele, seja pelo uso de certos recursos narrativos que desapropriam a sutileza investida pela atuação de Bardem, Iñarritu peca bastante; mas também acerta. Seja pela opção de usar a cidade de Barcelona como metáfora, por investir no escrutínio da relação familiar de seu protagonista ou por sublinhar que é melhor diretor do que roteirista.
A fotografia de Rodrigo Prieto, que já havia trabalhado com o diretor em Babel, é de pontual felicidade para subsidiar os acertos de Iñarritu.
Biutiful é um filme que, ainda que nivelado pelos mesmos interesses que pautam a obra do cineasta, se inferioriza perante seus demais trabalhos. Mesmo que belas sutilezas (como a metáfora que se cristaliza no nome do filme) estejam vivas, as pretensões fazem com que tudo o mais engasgue. No final das contas, Biutiful é um filme bonito, mas como antecipa no próprio título, grafado erradamente.

6 comentários:

  1. É, mas é bom ver Javier Bardem em boa forma novamente.
    bjs

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  2. Amanda: Para mim ele nunca saiu da boa forma. É um ator sempre interessante.
    Bjs

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  3. Biutiful decepcionou um pouco, está bem abaixo dos outros da parceria Iñarritu/Arriaga.
    Ainda que Javier Barden esteja de fato soberbo, falta foco ao filme, que não consegue desenvolver direito nenhuma das tramas paralelas.

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  4. Diego: Posso ver que concordamos em gênero, número e grau. Aquele abraço!

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  5. uma das criticas mais pontuais que li na internet!
    a analise final do titulo com a critica e o melhor acerto! parabens

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  6. Pedro Lucio: Obrigado Pedro. Fico feliz pelo elogio. Grande abraço!

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