domingo, 25 de julho de 2010

Contexto

Quando fazer rir da política é um bom (e inteligente) negócio

A política brasileira pode ser considerada um excelente celeiro para o humor nem sempre sofisticado do brasileiro. Figuras como Lula, Severino Cavalcanti, José Sarney, Roberto Jefferson, Collor, Paulo Maluf e Fernando Henrique Cardoso são alguns componentes de uma fauna tão multifacetada quanto dotada, em si, de poderosos elementos cômicos.
O cinema se habituou a reverberar essa curiosidade cultural. A ideia de político bonachão, cafajeste, popularesco, embora esteja intrinsecamente relacionada a nossa cultura, não é patrimônio brasileiro. Filmes estrangeiros já se valeram de figuras históricas, tanto em filmes biográficos quanto em tramas ficcionais, para explicar o imponderável através de um viés humoristíco.
Dentro desse contexto, o filme O bem amado, baseado no texto de Dias Gomes, vem engrossar as fileiras de produções como Chá com Mussolini (1999), de Franco Zeffirelli, Jogos do poder (2007), de Mike Nichols, Segredos do poder (1998), de Mike Nichols, O grande ditador (1940), de Charles Chaplin, Mera coincidência (1997), de Barry Levinson, A comédia do poder (2006), de François Ozon, entre tantos outros.

No calor da segunda guerra mundial, Charles Chaplin ousou ridicularizar a figura de Hitler em O grande ditador
Em comum, essas fitas têm a proposta de fazer rir no mesmo compasso que pretendem fazer o espectador pensar. As abordagens são sempre inspiradas e, quando não reproduzem fielmente, se esmeram grandemente em figuras e eventos reais.
Em O Bem amado, Odorico Paraguaçu, personagem vivido com gosto por Marco Nanini, é o prefeito da fictícia cidade de Sucupira no litoral baiano. Corrupto, cheio de malandragens e traquinagens, é dono de uma lábia e carisma que estão acima de qualquer suspeita. O fluxo de O bem amado, dirigido com propriedade por Guel Arraes, não traz nada de novo em relação àquelas máximas familiares a quem entende de política ou a quem entende de humor. O mérito está justamente na ambientação, na construção do comentário e na introdução de aspectos novos, trabalhando com a memória do espectador, a um uma estrutura narrativa manjada.
Independentemente das virtudes e das falhas da fita, é louvável que se objetive aproximar o público de um tema tão importante como a política. Se fizer com que o público de divirta, melhor ainda.
Marco Nanini como Odorico em cena de O bem amado: o ator já havia encarnado o personagem no teatro

Se você gostou deste artigo e do tema debatido, Claquete recomenda:

Jogos do poder, de Mike Nichols (EUA 2007)
Mera coincidência, de Barry Levinson (EUA 1997)
O grande ditador, de Charles Chaplin (EUA 1940)
O candidato aloprado, de Barry Levinson (EUA 2006)

5 comentários:

  1. É bem capaz que eu não veja "O Bem Amado" no cinema, vou esperar chegar em DVD. Dos citados não vi nenhum, mas lembrei de um agora "A Mulher Fazo Homem" um ótimo filme que também fala sobre política e corrupção.
    Abs.

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  2. Quero muito conferir O Bem Amado. Já curti muito Nanini no teatro; um ator completo e, a princípio, é o que mais me interessa no filme.
    bjs!

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  3. Assisti a "O Bem Amado" hoje e acho importante que obras com este teor de crítica política sejam lançadas. Até mesmo porque uma das funções do cinema é nos ajudar a compreender o mundo em que vivemos e a política é uma parte importante disso.

    beijos!

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  4. Quero muito assistir a "O Bem Amado", parece ser um filme agradável, nos moldes de "O Auto da Compadecida" - uma das melhores comédias que já assisti. Interessante o post, Reinaldo, e gostei muito das suas recomendações. Tive a sorte de assistir alguns desses filmes, mas o do Nichols e "O Candidato Aloprado" (aquele com Robin Williams, né?) passaram batido, mas vou tirar o atraso =)


    abraço!

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  5. Alan: De fato A mulher faz o homem é um ótimo filme Alan, mas é um drama. Portanto, não preenche os requisitos adotados como parâmetros para a seção Contexto deste mês em que apenas filmes que abordavam a política e seus intestinos pelo viés cômico teriam vez. Abs

    Madame: O filme é fraco. Tem um ótimo texto, um ótimo Nanini, mas é mal resolvido como cinema. Ainda assim, vale a espiada. bjs

    Kamila: Concordamos plenamente Ka. Bjs

    Elton: Obrigado Elton. Sua opinião é sempre muito querida e apreciada. É, de fato, um filme agradável. Embora Guel Arraes tenha sido mais bem sucedido com O auto da compadecida. Qual de Nichols vc não viu? Jogos do poder? Tem que ver para ontem! rsrs O candidato aloprado é esse mesmo com Robin Williams. Muito bom.
    abs

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