Fama, vingança, violência, desespero, manipulação, desamparo. Os melhores personagens do ano mimetizam algumas das idiossincrasias mais identificáveis no nosso convício social. Mas há, também, espaço para outras particularidades. Do cruel escravagista vivido por Leonardo DiCaprio em Django livre à solar personagem defendida por Jennifer Lawrence em O lado bom da vida. Os dez melhores personagens do ano no cinema no crivo de Claquete.
10 - João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira) em Faroeste
caboclo
Calado e quieto, são mesmo duas características diferentes,
Santo cristo carrega no olhar o esfacelamento da esperança. Pelo menos até se
descobrir apaixonado por Maria Lucia e é aí que se transforma em um personagem
esfomeado por algo que não consegue exatamente definir. A redenção é uma via de
mão única e Santo Cristo, personagem nascido na música da Legião Urbana e adensado
no filme robusto de René Sampaio, não é homem de desviar o olhar.
9 - Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman) em O mestre
Visionário, manipulador, líder religioso, picareta. Na
assombrosa construção de Phillip Seymour Hoffman, Lancaster Dodd projeta todas
essas sombras. O criador e principal articulador de uma seita religiosa é um
dos personagens mais enigmáticos e fascinantes do ano e, ainda, um brilhante
arquétipo das maquinagens institucionais em voga na sociedade contemporânea.
8- Daniel Lugo (Mark Wahlberg) em Sem dor, sem ganho
Em um ano com especial atenção à intensa, frenética e
renovada busca pelo sonho americano no cinema, Daniel Lugo, o brucutu vivido
por Mark Wahlberg em Sem dor, sem ganho, subestimado filme de Michael Bay,
ganha merecido destaque na lista. Seria mais sofisticado ressaltar Jay Gastby,
de O grande Gatsby, personagem clássico e com pedigree da mais fina literatura
americana, mas Lugo é mais bruto, triste, melancólico e, por que não,
verdadeiro em sua jornada tragicômica. O personal trainer que resolveu roubar
tudo de um cliente e foi cometendo uma burrada atrás da outra é tão
inacreditável quanto verdadeiro e tirou toda a sua “expertise” do cinema.
Bingo!
7- Luciano (Aniello Arena) em Reality – a grande ilusão
Não é exatamente o sonho americano que move Luciano, mas uma
variação mais encorpada e universal. O sonho pela fama e a ganância que deriva
dele. No ótimo drama italiano premiado em Cannes, Luciano encasqueta que será
selecionado para o Big Brother e passa a guiar suas ações e relações nessa
percepção, que não se afasta nem mesmo quando o programa começa. Uma análise
dolosamente bem urdida da loucura pela fama tão inserida em nosso contexto
social.
6- Malkina (Cameron Diaz) em O conselheiro do crime
Fria. Sexual. Duas variações que dificilmente se aproximam.
Mas a personagem defendida com brio e mesura por Cameron Diaz nesse
incompreendido filme de Ridley Scott alimenta a duas descrições com igual
voracidade. Implacável e impiedosa, a personagem se identifica com felinos selvagens
e aos poucos o espectador vai se dando conta da acuidade dessa relação.
5- Tiffany (Jennifer Lawrence) em O lado bom da vida
Carente? Não é exatamente esse o problema de Tiffany,
personagem que valeu o Oscar de melhor atriz a Jennifer Lawrence. Em sofrimento
depois da morte do marido e com um quadro psiquiátrico francamente
incompreendido, ela vê na promissora relação com Pat (Bradley Cooper), sofrendo
também do coração e da mente, um caminho de volta para a felicidade. Impossível
não ceder aos encantos da personagem mais “porra louca” do ano.
4- Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) em Django livre
O que de pior há na humanidade. Essa é uma das melhores
descrições de Quentin Tarantino para o personagem que criou e Leonardo DiCaprio
tão brilhantemente deu vida em Django livre. Senhor escravagista do Sul dos EUA
no século XIX, Candie é um homem que vai conquistando o asco da audiência aos
poucos, ainda que não consigamos desviar o olhar dele.
3- Joe (Matthew McConaughey) em Killer Joe – matador de
aluguel
O terceiro lugar da lista é um tipo mais aterrador, complexo
e, justamente por isso, mais fascinante do que Candie. Por isso se situa a sua
frente na lista. O policial e assassino de aluguel vivido com esplendor por
Matthew McConaughey parece não ter limites em seu sadismo, mas na verdade
apresenta uma ética e um pragmatismo que o civilizam. Ainda que de uma maneira
insanamente doentia.
2- Jon (Joseph Gordon-Levitt) em Como não perder essa mulher
Ele tem um vício em filmes pornográficos, mas o grande vício
de Jon é tentar esconder suas fragilidades emocionais. O personagem criado e
vivido por Joseph Gordon-Levitt é uma síntese de um conflito geracional ainda
não resolvido. A tomada de consciência pelo personagem, e não exatamente uma
maturação pré-condicionada, deflagra reflexões necessárias nessa altura do novo
milênio.
1-Jasmine (Cate Blanchett) em Blue Jasmine
Defendida com bravura e talento incomensuráveis por Cate
Blanchett, Jasmine é o reflexo de mudanças de paradigmas que não são exatamente
compreendidos. No novo e pessimista filme de Woody Alle, Jasmine precisa se
adaptar à vida de pobre depois que seu marido vai para a prisão, e se mata
pouco depois, por fraude financeira. Tudo em Jasmine fascina. Sua loucura, seu
deslocamento, seu esforço para se reinventar, sua humanidade... a personagem
mais imperfeita e mais completa de 2013 nos cinemas.
Ótima lista, Reinaldo, só feras, rs. Eu acrescentaria apenas Violet Weston de Álbum de Família...
ResponderExcluirbjs
Amanda: Pensei em colocá-la, mas na minha avaliação ela não carrega tão bem o "DNA de 2013", digamos assim...
ResponderExcluirBeijos