Praticamente todo ano são lançados filmes que abordam, de
algum ângulo, o nazismo ou o holocausto. E não só pelo cinema americano, o
cinema europeu também se alimenta dessa aparentemente inesgotável fonte
temática. É o caso de Lore (2012), filme alemão lançado este mês nas principais praças do país. No drama, com o fim
terceiro reich, uma família capitaneada por um oficial nazista se desintegra.
Com o pai e a mãe em fuga, a jovem Lore é instruída a conduzir seus irmãos até
uma cidade afastada onde sua avó reside. Além da fome e outras mazelas, ela
precisará administrar as relações pandêmicas com judeus naquele cenário de
pós-guerra ainda incerto. O filme propõe uma subversão no papel de presa e
predador e vai além da retórica habitual das grandes narrativas erguidas depois
do colapso do nazismo.
Os falsários (2008), Bastardos inglórios (2009), A
queda – as últimas horas de Hitler (2004), Um homem bom (2008), O leitor (2008)
e Hannah Arendt (2012) são alguns exemplos de filmes recentes que abordaram o
nazismo e o holocausto de perspectivas diferenciadas, renovadas por um olhar
menos reverente e mais reflexivo.
Nesse contexto, de revisão histórica, de análise profunda da
essência humana, de suas contradições, fraquezas e fragilidades, atentando para
a perenidade das mesmas, reforça o nazismo como um tema riquíssimo do ponto de
vista cinematográfico. A multiplicidade de enfoques é tamanha que apenas os
seis filmes citados no parágrafo acima demonstram como o tema – ainda que
provoque fadiga vez ou outra – está longe de se esgotar no cinema.
Lore, Hanna Arendt e O leitor são frutos de um refinamento
que apenas o tempo imprime ao tratamento do nazismo pelo cinema. Não quer dizer
que não haja dramalhões como O menino do pijama listrado (2008), mas o nazismo,
à medida que sua memória vai ficando confinada ao século XX, se torna alvo de
descobertas por outros olhares. É um momento de impensável vigor tanto para o
tema no cinema como para aqueles que por ele se interessam.
Cena de Hanna Arendt, excelente filme alemão que vocaliza uma controversa teoria da filósofa que dá nome ao filme de que oficiais nazistas não faziam o que faziam por serem maus, mas por serem comprometidos com suas funções
Em um Um homem bom, dirigido pelo brasileiro Vicente Amorim, Viggo Mortensen faz um intelectual sem afinidade com o ideário nazista que aos poucos vai compactuando com o regime de Hitler simplesmente por omitir-se
Por que o nazismo ainda move mundos e fundos no cinema? Levaríamos horas respondendo (ou tentando) essa pergunta. Sem sombra de dúvida o nazismo tem servido de inspiração para todo tipo de manifestação artística desde seu surgimento. Seja em produções cinematográficas ou histórias em quadrinhos. Ou seja, em todos os meios de comunicação que podem também ser utilizados como propaganda de ideologias governamentais, por exemplo.
ResponderExcluirVale ressaltar que o próprio cinema alemão enquanto máquina de propaganda do III Reich serviu de escola para o que Hollywood faz até hoje. Por meio de maniqueísmos você traça fortes limites entre você e o outro. Delimitando seu inimigo você tenta reafirmar sua identidade. Esse é o pensamento utilizado. Nos anos 80 durante a Guerra Fria, podemos ver os russos sendo frequentemente sendo representados como os vilões nos filmes. Já nos anos 90 os árabes e orientais começam a aparecer com mais regularidade.
Como a fábrica de sonhos é desde seus primórdios financiada e comandada por judeus podemos esperar a temática nazista dando as caras ainda por um bom tempo no cinema norte-americano. Os judeus tomaram para si o monopólio do papel de vítimas eternas e através da reverberação dos males do nazismo parecem justificar todas as atrocidades que têm cometido contra os palestinos.
Porém, é ótimo que as corajosas revisões históricas, ainda tímidas no campo das pesquisas históricas já estejam chegando no cinema, no caso, no alemão, em filmes ótimos como "Hannah Arendt". O próprio Steven Spielberg (judeu) realizou em seu filme "Munique" uma pequena crítica à política de Israel, mas tomou cuidado em explicar cautelosamente que não estava de forma alguma atacando Israel.
Todos temem a fúria dos judeus de Hollywood e não faltam exemplos do que pode acontecer quando eles cismam que alguém é antissemita. Vide Mel Gibson e outros. O problema é que qualquer um que não concorde com a política agressiva de Israel ou que tente enxergar o contexto da Segunda Guerra por outros pontos de vista é acusado de ser antissemita.
Parabéns pelo texto e pela oportunidade da discussão. Abraços!
Eu é que agradeço por tão rica digressão neste espaço Rogério. Sinta-se à vontade para comentar mais vezes. De fato, há uma tensão muito grande em tudo que gira em torno de Israel. Vc foi muito feliz em evocar Munique e a crítica sutil de Spielberg. Há, no entanto, uma mudança de postura em curso na política externa americana no tocante a Israel.Não é algo para já, mas podemos esperar mudanças significativas nesse esquadro político em algum tempo. O que também é ótimo para o cinema..
ResponderExcluirGrande abraço!