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terça-feira, 11 de junho de 2013

Crítica - Faroeste Caboclo


Sangue nos olhos!

O primeiro plano de Faroeste caboclo (Brasil 2013), aguardado filme baseado na música homônima de Renato Russo, já revela que se trata de um filme singular na cinematografia nacional. A inspiração em Sergio Leone paira sobre o filme desde aquele flagra nos olhos endiabrados de João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira). Contudo, o diretor René Sampaio, publicitário estreante na direção de longas-metragens, não se deixa tomar por refém das referências de um gênero essencialmente americano e enxerta uma brasilidade amarga em seu registro.
Desnecessário dizer que há a preocupação da realização em seguir à risca a música – que surge recodificada quando os créditos sobem. Marcos Bernstein, que também poliu o texto de Somos tão jovens, faz de Faroeste Caboclo um drama existencial na melhor linha dos westerns clássicos de Ford, Hawks e companhia, mas sem perder de vista o comentário social tão perseguido pelo cinema brasileiro.
Agrada, também, a articulação dramática. O herói (ou anti-herói) de poucas palavras; seu amor repentino e supremo pela mocinha; a ingenuidade do herói ao pensar que pode (ou merece) ter uma vida melhor; a violência da urbanidade em contraponto com a violência do interior e o choque gerado por ele. Sampaio estrutura seu filme com belos planos e se apropria da ideia de uma Brasília sem lei – ainda que contornada de maneira renovada e inédita, no cinema ao menos.

Boliveira se arma com o olhar: um ator cheio de fúria em um filme com sangue nos olhos


João de Santo Cristo é um homem movido à vingança. Da desgraça que nasceu. Da vida que lhe foi negada. Da violência que lhe foi outorgada. Do estupro do qual foi vítima. Do sacrifício que seu amor teve de fazer por ele. "A vida às vezes não te dá escolha", brada o personagem em pensamento pouco depois de assassinar um de seus algozes em pleno asfalto brasiliense.
Ainda que a música de Russo seja a bússola suprema, Faroeste Caboclo é um filme imaginativo. Sagaz no uso da imagem e na apropriação de símbolos (o western, o filme de agudez social, Brasília, etc).
Com vibração e poesia, o filme concilia sua vocação romântica – o amor impossível entre um pobre preto e ladrão e uma jovem rica, branca e filha de senador – a um desfecho trágico (e já famoso pela música) que se materializa como provocação em um cinema sempre redondinho, de finais felizes e redentores como o é o cinema nacional.
Faroeste Caboclo é, dentro dessa perspectiva, um filme obtuso e rarefeito, mas de incrível beleza. Necessário em última instância. Um filme, que assim como seu protagonista esplendidamente encarnado por Boliveira, chega com sangue nos olhos.

2 comentários:

  1. Um filme digno mesmo. Acho que você gostou até mais do que eu. Belo testo, Reinaldo.

    Bjs

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  2. Amanda: Obrigado Amanda. Sei que gostei mais do que pensava que gostaria.
    bjs

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