Páginas de Claquete

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Crítica - O último desafio



Pancadão do Arnold!

Ele está de volta! Enfim, e definitivamente, Arnold Schwarzenegger regressa ao cinema de ação brucutu em grande estilo com O último desafio (The last stand, EUA 2013). Depois de ensaiar um comeback na sequência de Os mercenários em 2012, o gigante austríaco ganha o seu “filme de retorno” na pele de um xerife de uma pacata cidadezinha de fronteira entre os EUA e o México que precisa conter um traficante que dispõe de um pequeno e paramentado exército disposto a garantir que ele cruze a fronteira e sele uma bem sucedida fuga do FBI.
O último desafio, no entanto, não é um legítimo filme de Schwarzenegger como o rótulo que vem dos anos 80 e 90 sugere. Há, claro, a total indiferença pela verossimilhança e uma aproximação muito saudável com o humor, mas há também outros ingredientes nesse molho. O primeiro é a globalização latente no filme. Desde o diretor, o sul coreano Jee-Woon Kim, que já rodou eficientes fitas de ação em seu país, passando pelo elenco multifacetado com as presenças do oscarizado Forest Whitaker, do talentoso ator espanhol Eduardo Noriega, do anárquico comediante Johnny Knoxville e do brasileiro Rodrigo Santoro.
Essa miscelânea acaba por se configurar na grande atração de O último desafio que resulta em um kitsch do cinema de ação.

Como andar de bicicleta: Arnold não perdeu "a manha de astro de ação" 


Isso posto, é preciso dizer que Schwarzenegger, aos 66 anos, ainda convence como astro de ação e mostra que ainda tem muita lenha para queimar depois do hiato na carreira proporcionado por sua incursão na política.
O clímax do filme, uma cena de tiroteio, é das coisas mais divertidas em um filme de ação em anos. O último desafio não tem medo do ridículo e não objetiva parecer algo que não é. Pelo contrário, a todo tempo sinaliza para a plateia a grande gozação que é. Brincar, fingindo que fala sério, é uma virtude que precisa ser apreciada.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Crítica - O mestre


Mestrado em cinema

A obra de Paul Thomas Anderson vai se erguendo como um pilar irremovível do cinema enquanto arte reflexiva, pensativa e elusiva de sua própria beleza e potencialidade. Em seus sexto longa-metragem, o cineasta americano alcança mais uma obra-prima com um trabalho de ramificações sociológicas de indevassável força. O mestre (The máster, EUA 2012) é mais do que um estudo sobre as origens de uma seita religiosa inspirada na Cientologia, como faz crer a sinopse do filme. É um estudo minucioso do homem e o meio, das circunstâncias da existência, em seu viés mais traumático e angustiante, e também em sua faceta empreendedora e oportunista. Com um dos duelos de interpretação mais cristalinos e potentes dos últimos anos, o filme se subscreve como artífice de um pensamento moderno sobre a angústia humana na busca por pertencimento e significado.
Freddie Quell (Joaquin Phoenix) é um veterano da segunda guerra que parece ruir internamente. É possível que essa condição seja também herança genética de sua mãe, internada em um hospício. Vagando de emprego em emprego, com uma postura sempre dúbia e uma obsessão por sexo familiar aos desorientados mental e emocionalmente, Freddie colide com Lancaster Dodd, um homem de muitas aptidões como o próprio se define. Dodd está por trás de uma seita emergente nos EUA dos anos 50 (A Causa) e é aí que a proximidade com a Cientologia e seu criador, L. Ron Hubbard, começa a ganhar corpo. Chamado de mestre por seus seguidores, Dodd é carismático, inteligente e calculista. Mas também bastante acolhedor. A identificação entre ele e Freddie é pulsante e imediata. Freddie rapidamente desenvolve um vínculo que vez ou outra se enuncia mais forte e proeminente do que a relação de um mestre e pupilo. Está aí parte da força do filme. Tanto Dodd quanto Freddie se mostram entusiastas da bebida manipulada por Freddie a base de clorofórmio. Dodd é frequentemente ambíguo em seus gestos e provocações para com Freddie que sempre responde com intensidade, mas nem sempre com honestidade.
Dodd, em toda a sua contradição, é um homem que vai ficando mais ambicioso ao longo do filme e, à medida que se distancia de suas postulações meramente filosóficas para se assumir como um líder espiritual, vê Freddie vacilar em sua comunhão.

Carisma, angústia e ambição: Philip Seymour Hoffman congrega todo o comentário de Paul Thomas Anderson em uma composição fascinante


O mestre pode ser lido de várias maneiras e essa riqueza de camadas é um dos muitos méritos de Anderson. Um desses méritos é erguer o filme sobre elipses narrativas que fomentam variadas interpretações para determinadas ações dos personagens, mas que de maneira alguma divergem o filme de seu sentido bruto. De seu estrato específico. De que aquela história é sobre dois homens em busca de respostas para perguntas que não sabem exatamente como formular e que durante o percurso se perdem e se encontram, transformados por essas experiências, muitas vezes.
Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, premiados no ultimo festival de Veneza e indicados ao Oscar, apresentam atuações estupendas nas minúcias e no complemento que uma dá a outra. Sem Hoffman a tilintar seu carisma envenenado na figura de Dodd, a presença turva, simplória e hesitante de Phoenix não teria a mesma força. Da mesma maneira que se Phoenix não fosse tão convincente em sua reação a Dodd, este não teria o impacto que ostenta na plateia.
O mestre, sem trocadilhos, é o mestrado em cinema de Paul Thomas Anderson. Cineasta que ousa investigar as profundezas da alma humana nos lugares mais inóspitos e valendo-se de temas complexos. Com brilhantismo, conjuga o dínamo das atuações com a força de um texto soberbo em ilações e pontual em licitudes para apresentar ao mundo um filme apoteótico em matéria de cinema e, também, de humanidade.  

Crítica - Amor


A dureza da realidade

Se na temática, a visita da morte e o dissabor de sua presença cadenciada, Amor (Amour, AUS/FRA/ALE 2012) encontra referências diversas na produção cinematográfica internacional, na hollywoodiana em particular, na construção estética alinhavada por Michael Haneke, que tem na aspereza do registro o seu norte, o filme encontra sua singularidade.
Haneke acompanha a rotina do casal de idosos formado por Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), de boa ascendência cultural – estão ligados à música clássica – e tranquilidade financeira. Essa rotina é modificada a partir do momento que Anne sofre um AVC (acidente vascular cerebral), ainda que a doença nunca seja nomeada, os sintomas a sugerem. Georges passa a cuidar da esposa que gradativamente tem seu quadro piorado.
O que Amor propõe é uma observação seca, algo incômoda e certamente desarborizada do desfalecimento de uma mulher, de um casal e de uma história de amor. A opção por um registro naturalista valeu a Haneke críticas reiteradas a seu “desprezo pela humanidade”, mas não é culpa do cineasta que a vida seja tão sufocante e absorta em sua crueza. O que Haneke propõe aqui é um demorado olhar sobre a espessura da crueldade com que a vida pode nos experimentar. Tanto no aspecto físico, quanto emocional. Ao acompanhar sem trilha sonora, uma marca de seu cinema, a jornada de exaustão e frustração tanto de Georges quanto de Anne, Haneke firma com seu público um entendimento de honestidade ímpar. O que há de belo em Amor, há também de terrível. Assim é a vida, uma convergência de superlativos em sua banalidade. Em certo momento, Anne diz a George, quando ainda conseguia elaborar sentenças verbais, que seu marido às vezes é um monstro, mas também capaz de gestos de incrível gentileza. Esse paradoxo capitaliza não só Georges, capaz de gestos monstruosos em sua generosidade, mas o filme também.
Trintignant: um ator expressivo das tribulações
internas de seu personagem
Com cinco indicações ao Oscar (Filme, direção, roteiro original, atriz e filme estrangeiro), Amor é um retrato de cores fortes do padecimento de um sentimento e de uma alternativa francamente desagradável de como perpetuá-lo. Dessa complexa bifurcação, o filme tira sua força. Providenciais para esse resultado são Emmanuelle Riva e, especialmente, Jean-Louis Trintignant. Riva oferece-se ao olhar concentrado e rigoroso de Haneke com o despudor das grandes atrizes, enquanto Trintignant reveste Georges de toda a complexidade que habita um homem desesperado, cansado, desnorteado e, ainda assim, fiel apaixonado.
Amor certamente não é o filme mais cândido a tratar de amor e morte, contudo é o mais pungente a fazê-lo. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Oscar Watch 2013 - Cenas de Cinema (SAG 2013)

Muita calma nessa hora...
Argo venceu, novamente proporcionando alguma surpresa a Ben Affleck, como melhor elenco do ano no SAG. Essa vitória certamente ajuda, mas não confirma o filme como favorito ao Oscar de melhor filme ou “embanana” a Academia como se apressaram a sacramentar alguns. Ano passado, por exemplo, Histórias cruzadas prevaleceu nessa categoria sem ter a menor chance no Oscar. Em 2007, em um caso que parece mais parelho ao de Affleck, Pequena miss Sunshine triunfou no PGA e no SAG, mas não levou o Oscar que ficou, merecidamente, diga-se, com Os infiltrados.

De vento em polpa: até Jennifer Garner subiu no palco para comemorar...


Porém...
A força de Argo desmonta certas expectativas. É certo que essa temporada de premiações precisará ser analisada com o peso da história no futuro, mas o alinhamento entre crítica, imprensa estrangeira e sindicatos, além de serem mais raros do que se imagina, costumam resultar em Oscar. O segredo de Brokeback mountain, Pequena miss Sunshine e Apollo 13 foram pontos fora da curva. O que será de Argo?


Ninguém foi!
Um fato inusitado. Não havia um concorrente sequer da categoria de melhor ator para filme ou minissérie para a tv presente no Shrine Auditorium. Woody Harrelson, Bill Paxton, Kevin Costner, Ed Harris e Clive Owen protagonizaram um fato raro na história das premiações.

Empolgação pouca é bobagem...
Dick Van Dike, o homenageado com o prêmio pela carreira no SAG 2013, era só sorrisos. Fez um social, quando louvou atores engajados em causas humanitárias, e agradeceu, agradeceu e agradeceu seus pares pela emocionante deferência. Estava tão extasiado que saiu do palco sem seu prêmio, mas cheio de sorrisos...

Dick ao lado da mulher no backstage: ainda só sorrisos...


Jackman and Hathway still got it!
É como se o Oscar 2009 ainda corresse por suas veias. Quando Hugh Jackman e Anne Hathway subiram ao palco para apresentar o clipe de Os miseráveis, que concorria a melhor elenco do ano, eles apresentaram o mote do clássico de Victor Hugo nos termos do século XXI. A transcrição completa: “Wolverine is being chased by gladiator. Catwoman gets knocked up and goes to see Bellatrix Lestrange from Harry Potter and Borat. Then Wolverine agrees to raise catwoman's baby, and she grows up to star in Mamma Mia."  Sensacional!

“The role of my life”
O sensacional Bryan Cranston foi o ator mais premiado da noite. Saiu com um SAG pelo elenco de Argo e como ator dramático em série por Braking bad. Por este último, pelo qual já foi multiplamente premiado, mas nunca no SAG, Cranston emocionou ao agradecer sua filha, Taylor, que criou o papel de sua vida. Pura classe!

Tommy Lee Jones magoado?
Ele deve comparecer ao Oscar, mas porque estava ausente do SAG? Pode ser que o meme com sua expressão rabugenta no Globo de Ouro tenha deixado Tommy Lee Jones magoado. De qualquer jeito, com a vitória no SAG e com a categoria de ator coadjuvante amplamente aberta, Tommy Lee Jones, rabugento ou não, pode ter assumido o favoritismo na corrida pelo Oscar.

Ah, Daniel...
Daniel Day Lewis é o bem amado no SAG. Há dez anos ganhava sua primeira estatueta por Gangues de Nova Iorque. Ontem ganhou a terceira por Lincoln e mesmerizou os sindicalizados uma vez mais com sua deferência ao personagem que viveu nos cinemas: “Foi um ator quem matou Lincoln, nada mais justo que seja um ator que tente trazê-lo à vida de vez em quando...”.

Gripada e com vestido rasgado, mas premiada
A noite de Jennifer Lawrence foi bem intensa. A atriz estava gripada, e a gripe dividiu as atenções no tapete vermelho junto com os vestidos, e na hora de subir para pegar seu prêmio conquistado pela atuação em O lado bom da vida, seu vestido rasgou. Jennifer não se fez de rogada e com muita elegância fez um discurso emocionante.
Jennifer e De Niro pós-festa oferecido pela The Weinstein Company: o vestido rasgado é um detalhe menor...

domingo, 27 de janeiro de 2013

Filme em destaque - Lincoln


O filme certo sobre o personagem perfeito

Steven Spielberg faz um perfil do presidente americano mais celebrado de todos os tempos no filme recordista de indicações ao Oscar 2013 e que pode lhe valer o terceiro Oscar de direção


“Tenho loucura por biografias. É o que leio em meu tempo livre”, disse o cineasta Steven Spielberg em entrevista ao UOL Cinema sobre a gênese do projeto que levaria Lincoln, campeão de indicações ao Oscar 2013, aos cinemas. Segundo Spielberg, tudo começou quando a historiadora Doris Kearns Goodwin, que colaborou com ele em Amistaad (1997) lhe informou que estava preparando uma biografia de Abraham Lincoln focada nos últimos quatro meses de vida do presidente.
Mas o caminho para a realização do filme foi árduo. A começar pela escalação do personagem título. Spielberg sempre teve em mente Daniel Day Lewis, mas Day Lewis se mostrou resistente a aceitar o papel. O roteiro teve de ser rescrito duas vezes até que o ator entrasse a bordo.  Mas é o ator, de acordo com a grande maioria das críticas, o sopro de vida do filme. ´”Daniel Day Lewis em uma minuciosa composição é mais Lincoln do que o próprio Lincoln”, escreveu elogioso o The New York Times. A revista Time deu capa para o filme e chamou Day Lewis de “o maior ator do mundo”. Spielberg conta que se emocionou quando Day Lewis retornou ao corpo de Day Lewis ao fim das gravações. “Trabalhei muito com ele, dirigi Daniel assim como faço com todos os outros atores. Mas a verdade é que ele apareceu no set como Abraham Lincoln no primeiro dia de filmagem e voltou a ser Daniel Day Lewis depois do último dia de filmagem. Fui até ele para dar parabéns e ele me respondeu com sua voz normal, com o sotaque britânico. Desatei a chorar. Foi emoção demais. Não estava preparado para reencontrar Daniel”.
Spielberg e emoção são elementos próximos, mas em Lincoln o cineasta surge contido e menos propenso à manipulação de emoções na plateia. Na crítica do portal G1, essa condição não passou despercebida. “(Lincoln) - a despeito de facilidades como a música chorosa e clichê, de certa militância – existe para contar uma história. E não apenas para santificar alguém que era, de antemão, tido por santo”.
Spielberg e Day Lewis: respeito e admiração mútua
A história em questão é essencialmente americana. Justamente por isso, a versão que circulará no mercado internacional tem cenas adicionais. Spielberg justifica sua opção pelo fato de que não pode exigir do exterior o mesmo conhecimento da história dos EUA que os americanos devem ostentar. Essa decisão vem de outra proposta de Spielberg. “Eu não queria começar o filme com um longo prólogo ao estilo de Star wars. Queria que todas as informações viessem da própria narrativa”.
Lincoln deixa de fora momentos decisivos da jornada do 16º presidente americano e se concentra nas negociações que deram vida a emenda que aboliu a escravidão nos EUA. Foi justamente essa opção por um recorte mais humano do estadista, sem se desvencilhar de sua expertise política, que garantiu Daniel Day Lewis na produção.
Indicado a 12 Oscars e com grandes chances de render as terceiras estatuetas de ator, a Day Lewis, e de diretor, a Spielberg, Lincoln, nas palavras do homem louco por biografias, não é um filme para engrandecer a figura de um dos mais importantes presidentes dos EUA. “Ele está na nota de U$ 5 e na moeda de um centavo. Não precisamos de mais monumentos a Lincoln. O que precisamos é de um olhar sobre este homem, o tempo em que ele viveu, como ele viveu e como ele tomou as decisões históricas que ele tomou”.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Em off


Nesta edição da seção Em off, confrontos inusitados nos cinemas; os principais destaques do festival de Sundance; os melhores do ano na opinião democrática dos leitores; um tempo para Leonardo DiCaprio reenergizar e um favorito improvável para viver Christian Grey (aquele mesmo de 50 tons de cinza) nos cinemas

O melhor de Sundance I
O festival de Sundance 2013 que acaba neste domingo (27) já é um dos maiores sucessos das edições recentes do festival que acontece na gelada Salt Lake, em Utah nos EUA; com um número de produções adquiridas por estúdios de pequeno e médio porte bem próximo de um recorde histórico (o balanço final deve sair nos próximos dias). Duas características, no entanto, chamam a atenção. A disposição dos estúdios em pagar quantias relativamente vultosas para garantir filmes com potencial de prêmios (Fruitvale) ou de público (Don Jon´s addiction) e também pelo sucesso de vendas para plataforma video on demand. Nunca Sundance contemplou tanto o formato. Ótimos negócios foram feitos como, por exemplo, com o polêmico filme Two mothers de Anne Fontaine. A fita que dividiu a crítica e parecia destinada a não ser adquirida por nenhum estúdio se viu abrigada pela Exclusive Releasing que irá distribuí-lo na plataforma. “É um novo balcão de negócios que se mostra aquecido em Sundance”, observou a Variety.
Boa notícia para o cinema independente que andava modorrento nos últimos anos e um sinal claro de que a famigerada crise econômica de 2008 que acertou de cheio esse tipo de produção começa a ficar para trás.

O melhor de Sundance II
Fruitvalle, sobre os eventos que antecederam o assassinato de Oscar Grant pela polícia de São Francisco no último dia do ano de 2008, foi adquirido pela The Weinstein Company pelo valor de U$ 2,5 milhões. O burburinho super positivo sobre o filme dá conta de que será o próximo Preciosa ou Indomável sonhadora a sair de Sundance e chegar ao Oscar. Octavia Spencer, já ganhadora do Oscar, e Chad Michael Murray estão no elenco de apoio.
A estreia de Jospeh Gordon-Levitt na direção em Don Jon´s addiction não poderia ter sido mais festejada. Misturando elementos de comédia romântica com um valoroso estudo de personagem, o filme agradou a crítica e foi comprado por U$ 4 milhões pela Relativity Media. Outros filmes comentados em Sundance e que devem figurar entre os interesses de público e crítica são Kill your darlings, com Daniel Radcliffe, Ben Foster e Michael C. Hall, sobre a geração beat; Antes da meia-noite, terceira parte da trilogia Antes do amanhecer de Richard Linklater; The necessary death of Charlie Countryman, que, dizem, apresenta a melhor performance da carreira de Shia LaBeouf, que precisa desesperadamente de um buzz desse para saciar seu ego; The way,way back, comédia intimista dos roteiristas de Os descendentes estrelada por Steve Carell, Sam Rockwell e Toni Colette; e o já muito anunciado Lovelace, bio da atriz pornô linda Lovelace- disparado o filme mais pop dessa edição do festival e que valeu um negócio de U$ 3 milhões.

Alguns dos melhores cliques de Sundance
Adam Brody, Amanda Seyfried e Peter Sarsgaard de Lovelace em foto do Los Angeles Times 

O roqueiro, e agora diretor de cinema, David Grohl e o diretor David Gordon Green 

Pelo filme The east, Ellen Page, Alexander Skarsgard e Brit Mailing também compareceram 

 Shia LaBeouf brinca com seu celular

 Toni Collette, Sam Rockwell e Maya Rudolph se divertem


Os melhores do ano pelo leitor
A eleição contou com amplo endosso do leitor. O blog quis saber os melhores do ano na avaliação do leitor em face da pré-lista apresentada em dezembro em que Claquete apontou os melhores de 2012 na avaliação do editor do blog. A seguir, os resultados!

Diretor

Foi uma eleição acirrada, com boa margem de votos para todos os concorrentes. Mas com 44%, o vitorioso foi o iraniano Asghar Farhadi por A separação.

Roteiro

Com 31% dos votos cada, Argo e Moonrise kingdom dividiram a preferência do eleitorado. A surpresa ficou com Ted, que chegou perto com 22%.

Ator

Em uma disputa de foice, Michael Fassbender (Shame), com 44%, ganhou pela incrível diferença de um voto de Jean Dujardin (O artista)

Atriz

Em uma categoria disputada, em que todas as atrizes receberam votos, a britânica Tilda Swinton (Precisamos falar sobre o Kevin) ultrapassou Rooney Mara na reta final e ficou com 40% da preferência do eleitorado

Ator coadjuvante

Em outra briga sanguinolenta, a categoria que obteve mais votos, consagrou Javier Bardem por 007 – operação skyfall o melhor com 37% dos votos

Atriz coadjuvante

Jessica Chastain comprova a sua boa fase ao ostentar a votação mais expressiva da enquete. Por Histórias cruzadas, ela é dona da preferência de 50% dos votantes


Tom X Arnold
Vigora nas telas de cinema do Brasil um confronto entre dois astros de primeira grandeza do cinema, com especial trânsito no cinema de ação. Tom Cruise, tentando reabilitar uma carreira que não parece mais engrenar defende Jack Reacher: o último tiro, enquanto que Arnold Schwarzenegger defende O último desafio. São filmes de ação à moda antiga, cada qual no quadrado de seu astro. O mais cerebral e vaidoso Tom Cruise estrela uma produção que resgata os bons tempos do cinema de espionagem, enquanto o bem humorado Schwarzenegger, em seu famigerado comeback, protagoniza uma fita “pancadona”. Entre Cruise e Scharza, o público brasileiro está mesmo de pernas para o ar... e pela segunda vez! 

Casa Branca X Casa Branca
Dois filmes com aquela alma B prometem botar a Casa Branca abaixo. O alemão Roland Emmerich está de volta ao cinema espalhafatoso com Ataque à Casa Branca em que Jamie Foxx vive o presidente dos EUA e Channing Tatum o agente do serviço secreto incumbido de protegê-lo de, bem, de um ataque à Casa Branca. Já em Olympus has fallen tem Aaron Eckhart e Gerard Butler nos mesmos papéis. Morgan Freeman também estrela As tramas são parecidas e o filme de Antoine Fuqua (Dia de treinamento) chega antes nos EUA. Não é a primeira vez que Morgan Freeman se vê nesse caso de duplicantes. Em 1998 ele estrelou Impacto profundo que chegou algumas semanas depois de Armageddon naquele ano. Agora, pelo menos, ele vai chegar primeiro...




Ele vai dar um tempo, mas...
Leonardo DiCaprio, na esteira dos elogios por sua maravilhosa atuação em Django livre, anunciou que vai dar um tempo na carreira. DiCaprio está cansado, segundo o próprio. O período sabático que lhe proporcionará mais tempo para namorar (está na quinta modelo em dois anos) e para se dedicar às causas ambientais que tanto lhe urgem.
Mas o ator ainda será visto em duas badaladas produções que chegam aos cinemas em 2013. The great Gatsby, de Baz Luhrmann, e The Wolf of Wall Street, de Martin Scorsese. São filmes amplamente comentados para o Oscar de 2014, em especial o segundo.
Com a pausa, DiCaprio porá fim uma sequência de trabalhos brilhantes realizados em parceria com cineastas prodigiosos. De Diamante de sangue (2006), pelo qual recebeu sua última indicação ao Oscar, para cá foram seis filmes de grande qualidade dirigidos por papas como Ridley Scott, Martin Scorsese, Sam Mendes, Christopher Nolan, Clint Eastwood e Quentin Tarantino. É uma folha corrida de respeito.

Christian Grey, gay?

Em enquete promovida pelo portal IG para apurar quem deveria assumir o papel de Christian Grey, o príncipe encantando que adora um sexo sadomasoquista no soft porn best seller mundial "50 tons de cinza", na adaptação cinematográfica que está em pré-produção, o eleito foi o ator Matt Bomer, de 35 anos. Protagonista da série White Collar, Bomer foi um dos peladões de Magic Mike e por pouco não foi o novo Superman. À época da escolha de Henry Cavill, surgiu o boato de que Bomer foi preterido por ser gay. Meses mais tarde, o ator sairia do armário.
A questão eu se coloca, independentemente da boçalidade de barrar Bomer como super-homem por ser gay, algo que jamais excederá o viés especulativo, é imaginar que mulheres cientes da opção sexual do galã sinalizem preferência por vê-lo na pele de um homem que, mais do que atiçar a libido feminina, é a representação de desejos que convergem para um homem heterossexual. Que Bomer é lindo, charmoso e sensual é bem óbvio, mas não deixa de chamar a atenção essa sinalização do público, brasileiro ao menos. Pesquisa semelhante realizada pelo blog de cinema da revista Veja SP colocou Bomer na segunda posição, atrás de Channing Tatum. Nos EUA, Ryan Gosling e Ian Somehalder são os favoritos do público. As interpretações que se apresentam sobre o favoritismo de Bomer são: ou o público está desinformado ou está disposto a dar uma senhora lição de perspectiva em estúdios e produtores sempre presos a paradigmas ultrapassados.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Oscar Watch 2013 - ... e Deus criou Daniel Day Lewis




Ele é quase um meme de toda temporada de premiações. É certamente uma sombra vultosa em que deseja, mesmo antes de iniciada a temporada do Oscar, participar dela. E um modelo para atores e aspirantes a atores em todo o planeta. Quando Daniel Day Lewis tem um filme na praça, a competição por qualquer prêmio torna-se menos competitiva e mais contemplativa. Para uma carreira de mais de 30 anos, Day Lewis ostenta um número relativamente pequeno de filmes: são 23 ao todo, se consideras produções para a televisão inglesa nos anos 80. Mas a qualidade dos filmes e de seus trabalhos compensam a preleção aguda. Day Lewis ostenta um invejável número de 106 nomeações a prêmios, das quais incríveis 74 foram convertidas em vitórias e algumas mais devem vir até 24 de fevereiro, quando ele muito provavelmente erguerá sua terceira estatueta do Oscar.
O londrino sempre se mostrou avesso à badalação de Hollywood e não costuma se engajar em busca de novos projetos. Diretores que anseiam por trabalhar com ele precisam frequentemente cortejá-lo, como fez Steven Spielberg que teve que bancar três versões de roteiro até que encontrasse a que motivou o ator a embarcar no projeto Lincoln. O 16º presidente americano sempre foi do interesse de Spielberg que via em Day Lewis o intérprete perfeito para o personagem. Mas Day Lewis é sempre o intérprete perfeito de qualquer personagem. Houve, no entanto, quem questionasse sua última incursão no cinema, no musical Nine, de Rob Marshall. Fazendo as vezes de Fellini, no entanto, o ator conferiu mais pompa e dramaticidade a um registro que se pretendia apenas pop.
A filmografia do ator revela um homem sem medo de personagens desafiadores e coerente com a metodologia que elegeu para exercer seu ofício. Devido a sua energia na tela e às histórias de bastidores que dão conta de como prefere permanecer encarnado no personagem, Day Lewis criou para si um estigma de ator difícil, genioso e genial. Um dos poucos que fará por merecer uma cinebiografia no futuro mais por seu talento, do que por sua celebridade.
Se mantivesse um ritmo de produção mais assíduo, na década passada foram apenas quatro filmes, Day Lewis poderia banalizar seu status de divindade da atuação. A Time, mais importante revista semanal do mundo, recentemente lhe fez matéria elogiosa e lhe outorgou o título de “maior ator do mundo”. No entanto, a opção por projetos selecionados entrecortados por longos hiatos não é algo com esse fim. Day Lewis gosta de cinema, mas entende ser esse seu trabalho e um trabalho privilegiado que lhe proporciona outros privilégios, como maior atenção à família.
Dono de personagens icônicos, Day Lewis pode fazer história no domingo, 24 de fevereiro de 2013. Pode tornar-se o segundo homem a ter três Oscars por atuação. A diferença entre ele e Jack Nicholson, o outro homem que até agora detém exclusividade sobre essa marca, é que dois dos Oscars de Nicholson foram como coadjuvante. Se Day Lewis conquistar o terceiro por Lincoln, os três terão sido como protagonista. E mais: Day Lewis terá conquistado seu terceiro Oscar na quinta indicação. Nicholson teve doze. Um atestado da referida perfeição que não deixa margem para erros e desencontros.

Cinco grandes momentos de Daniel Day Lewis


Sangue negro

Nesse poderoso filme, o ator reproduz com assombrosa força o mito do capitalista nessa obra perene e fundamental de Paul Thomas Anderson

O último dos moicanos

Nessa impactante fita de Michael Mann, o ator provou ser eficiente em cenas de ação sem descuidar do relevo dramático do personagem

Em nome do pai

Na segunda colaboração com o cineasta Jim Sheridan, a primeira foi em Meu pé esquerdo, Day Lewis faz um homem injustamente acusado de terrorismo. Uma atuação potente com tons agudos

Gangues de Nova Iorque

Em seu segundo trabalho com o diretor Martin Scorsese, o primeiro foi Na época da inocência, Day Lewis rouba o protagonismo de um ascendente Leonardo DiCaprio ao construir um gangster primordial de uma Nova Iorque em formação

Minha adorável lavanderia

A estreia efetiva de Day Lewis no cinema não poderia ter se dado de maneira mais intensa do que nesse drama com fundo gay de Stephen Frears. Day Lewis demonstra toda a sua minúcia e deixa transparecer o talento que logo o marcaria para todo o sempre



quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Crítica - Jack Reacher: o último tiro



Tiro certo

A impactante abertura de Jack Reacher: o último tiro (Jack Reacher, EUA 2012), em que um homem calmamente seleciona vítimas na mira de um fuzil de longo alcance, instiga o espectador pelo que vem adiante. E o novo filme protagonizado por Tom Cruise, como o Jack Reacher do título – um ex-militar com tino investigativo apurado – não decepciona. Escrito e dirigido por Christopher McQuarrie, esse thriller de espionagem começa com uma sofisticação singular, mas vai perdendo espaço para os clichês que banalizam a trama. Mesmo assim, um inspirado Tom Cruise – sempre confiável como ator de ação – segura as pontas.
Reacher lança mão de uma investigação paralela sobre o militar que atirou aleatoriamente em cinco vítimas. A cena que abre o filme já nos adverte de que se trata de uma armação, pois o atirador não é o mesmo homem que está sendo acusado pelo crime. O fôlego de Reacher para investigação se prova acurado e a primeira hora do filme é bastante assertiva na forma como o personagem vai mapeando uma conspiração bem urdida. No entanto, a meia hora final se divide entre o frenesi da ação e laudatórias explicações. O arremedo de Jack Reacher: o último tiro é mais convencional do que sua abertura faz crer e é justamente por estabelecer inconscientemente essa comparação que o filme não obtém uma avaliação melhor. Mesmo assim é um entretenimento certeiro para quem aprecia um filme de ação com siso. De bônus, Werner Herzog surge monossilábico como The zec, o vilão por trás de toda a tramoia testemunhada no filme. Herzog aparece pouco, mas é de longe a presença mais sólida do filme depois de Tom Cruise. 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Filme em destaque - O mestre

Caos e ordem
Joaquin Phoenix é um dos alicerces do novo filme de Paul Thomas Anderson, que lança um olhar sobre as entranhas do pensamento religioso na medida que ilumina os conflitos que aproximam dois homens de diferentes vivências



“Tom Cruise viu e ainda somos amigos”. Essa foi a frase mais repetida pelo cineasta americano Paul Thomas Anderson, no festival de Veneza do ano passado, onde O mestre teve sua première internacional e de lá saiu com os prêmios de ator (dividido entre Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman) e direção.
A razão do comentário é porque o mais novo filme do diretor de Magnólia (1999) e Sangue negro (2007) é inspirado na cientologia, religião da qual Cruise é espécie de relações públicas.
Se admite similaridades com o movimento que originou a Cientologia, Anderson não vai além. “Não conheço muito da Cientologia hoje. Não posso ser mais específico do que isso”. Mas basta o que conhece para erigir um drama profundo sobre as ramificações e influências da religião e discutir, com esse escopo, de política a sexo. O mestre é, ainda, uma análise pormenorizada do homem e seu meio. Nas palavras da jornalista e crítica de cinema Ana Maria Bahiana, que considera este o melhor filme de 2012, é uma “dança delicada e imprevisível entre o forte e o fraco, o mestre e o discípulo, o senhor e o escravo. O caos e a ordem, a verdade e a mentira, a lucidez e a inconsciência”.
A história acompanha a trajetória de Freddie Quell (Joaquin Phoenix), veterano da segunda guerra que muitos diriam estar enlouquecendo. Acolhido por Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), um intelectual que organiza teorias com a mesma sagacidade que as experimenta, Freddie passa a ser peça central no pensamento que Dodd deseja constituir.
“Mas O mestre não é a história de Lancaster”, adverte Bahiana. “Mas de Freddie, torto, ferido, quase mudo como o Plainview (personagem de Daniel Day Lewis) de Sangue negro. Ele é o id para o superego delirante de Lancaster; a massa bruta, o impulso primal, que ao mesmo tempo anseia e rejeita a ordem, o carinho, o conforto”. Peter Travers, da Rolling Stone americana, diz que Anderson ao negar-se “pensar pelo público”, enfurece parte dele. Travers, em sua crítica, classificou o filme como “nirvana para amantes do cinema”. Para ele, O mestre também é um filme sobre “pertencimento e o preço que você paga por esse privilégio”.

Intelecto e força bruta: os dois personagens principais de O mestre apresentam múltiplas camadas

Seguramente um dos filmes mais elogiados dos últimos tempos, o presidente do júri de 2012 em Veneza, o cineasta americano Michael Mann, defendeu diversos prêmios para o filme, mais foi impedido de levar sua ideia adiante porque o estatuto do festival proíbe que o vencedor do leão de ouro receba outros prêmios, mas não é exatamente uma unanimidade. Um dos críticos de cinema mais prestigiados do mundo, o americano Roger Ebert, não vê essa força toda no filme de Anderson. “O mestre é fabulosamente interpretado, mas quando eu tento alcança-lo de fato, minhas mãos ficam no ar”, ponderou. Para o crítico, faltou transpiração ao filme. “Tem um material rico, mas não fica claro o que pensa a respeito dele”. O que é defeito para Ebert, é mérito para outros. “Não é um filme fácil”, finaliza Bahiana.

Homem do mês - Joaquin Phoenix



Porto-riquenho de nascença, e americano de formação, Joaquin Rafael Phoenix, que já foi perfilado em Claquete, viu seu irmão sucumbir a uma overdose em sua frente. Por muito tempo se imaginou que Joaquin viveria à sombra de River, intenso e saudoso. Não foi o que aconteceu. Ainda mais intenso e grave do que seu irmão, o Phoenix mais novo rapidamente galgou posições em Hollywood. De participações pequenas em filmes como Circulo de paixões e Reviravolta, ambos de 1997, passando pelo notável papel coadjuvante em 8 milímetros (1999) até a glória alcançada no ano 2000. Foi nesse ano que estrelou o filme que redefiniria sua carreira: Gladiador. Mas esteve também em Caminho sem volta, no qual fundou a parceria com o cineasta James Gray, e em Contos proibidos do marquês de Sade. O melhor ano da carreira de Joaquin Phoenix, desde então, talvez tenha sido 2012, quando protagonizou O mestre, nova hiperbólica obra de Paul Thomas Anderson. "Sempre convidei Joaquin e ele sempre dizia não; até que dessa vez ele disse sim", contou o cineasta sobre sua intenção de trabalhar com o ator.
Joaquin Phoenix, é bem verdade, destronou a si mesmo em Hollywood. Há quatro anos anunciou que abandonaria a carreira de ator para ser rapper e fez todos crerem que tinha surtado. Tudo não passava de uma pegadinha em prol de um documentário amplamente experimental que patrocinava junto a seu cunhado Casey Affleck. A brincadeira custou caro e muitas portas se fecharam em Hollywood. Afeito à polêmicas, Phoenix, em plena jornada de volta à cidade dos anjos, maldisse a temporada de premiações - um dos alicerces hollywoodianos por excelência. Mesmo assim, chegou ao Oscar 2013 por seu trabalho em O mestre
Ator de proporções agigantadas, Phoenix faz o tipo bad boy, mas é também o tipo de profissional que alcança perfeição. "Ele é uma força da natureza", disse Philip Seymour Hoffman em entrevista recente. "Não me deixo tomar por um personagem dessa maneira". A forma passional com que Phoenix faz cinema e seu bem vindo retorno aos cinemas brasileiros em janeiro o alçam ao posto de homem do mês no blog.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Crítica - Django livre


Western vingador

Depois de Bastardos inglórios (2009), a missão de Quentin Tarantino não era fácil. Ainda que expectativas sejam sempre ruidosas em torno de seu cinema, depois da obra prima que revelou ao mundo o talento de Christoph Waltz, acrescentou-se à espera por Django livre (Django unchained, EUA 2012), a percepção de que Tarantino fizesse pelos negros o que fez pelos judeus em Bastardos inglórios. Não foi essa a opção artística de Tarantino, ainda que ele tenha alimentado essa expectativa em entrevistas promocionais. Há sim o espírito revanchista visto em Bastardos inglórios e licenças poéticas equivalentes. Mas não há a mesma sofisticação no argumento e sua flagrante ramificação nos diálogos. Ainda que o roteiro seja tão esperto quanto se poderia imaginar, as referências empregadas por Tarantino, salvo a participação de Franco Nero e o peso de uma menção a Alexandre Dumas, são menos entusiasmantes do que o diretor de Pulp Fiction acostumou sua plateia. De maneira alguma, no entanto, depõem contra o entretenimento salutar que é Django livre; especialmente para os fãs do cineasta.
Tudo começa com o dr. King Schultz (Christoph Waltz), um caçador de recompensas alemão que compra Django (Jamie Foxx) para ajudá-lo a identificar três irmãos fugitivos com cabeças à prêmio. Mais adiante, Schultz e Django, a quem o alemão libertou por abominar a escravidão, gozando de indubitável afinidade, travam um acordo: Django será o parceiro de Schultz em suas caçadas pelo inverno e depois Schultz o ajudará na missão de libertar sua mulher Broomhilda – parte daí um das coisas mais sedutoras em Django livre. Tarantino se apropria de uma lenda nórdica, bastante popular na Alemanha, para temperar a história de amor que move Django e confere mais estofo à trama de vingança.  

Os bons companheiros: o alemão e o negro contra a tirania americana do sul no western revanchista de Tarantino


Broomhilda está em Candyland, fazenda de propriedade de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), um exótico apreciador de “mandigo fights”, lutas entre escravos.
Tarantino investe em um western de fotografia saturada, com atuações caricaturais e tiros espalhafatosos. É uma alternativa reverente a um de seus gêneros preferidos. Mas como western, Django livre é um ótimo filme de Tarantino. Talvez aí esteja parte do problema da obra. Para se ter uma ideia, os Coen foram muito mais bem sucedidos na releitura que fizeram de um clássico do gênero com Bravura indômita (2010).
No entanto, Tarantino articula algumas boas aventuranças em sua empreitada. A figura do escravo vingador Django é a mais nítida de todas, mas o conchavo de um emergente Ku Klux Klan é outro grande momento. A ojeriza do europeu civilizado em face da selvageria americana em pleno século XIX é outro comentário sutil muito eloquente do cineasta que ganha nas expressões sempre febris de Waltz uma força tremenda. A relação de Candie com seu escravo Stephen (Samuel L. Jackson), uma relação de um homem com seu pet, também é um assombro em sua eloquência. O mesmo Stephen, personagem vivido com gosto por Jackson, um negro que se acha superior aos outros negros – um personagem tão real quanto incômodo – é outro esqueleto no armário que Tarantino revela com seu filme.
Django livre, como todo bom Tarantino, opta pela via violenta em seu desfecho. Mas há um comentário valoroso embutido no ato que desencadeia a violência que dita o clímax do filme. Um homem que mata por dinheiro é mais honrado do que um homem que o faz apenas para seu entretenimento. É um comentário poderoso que se fosse mais bem articulado nas cenas que se seguem poderia fazer de Django livre um filme mais significativo do que de fato é. E aí entra outro problema do filme. A edição. É certo que o filme poderia ser pelo menos uns 25 minutos mais curto. Cenas inteiras são desnecessárias. Um peso que certamente abala a estrutura do filme.
Um abalo positivo, porém, reside na pomposa trilha sonora. Todas as composições, inclusive as quatro do mestre Ennio Morricone, tornam a jornada de Django e Schultz mais potente.

Visceral: Leonardo DiCaprio tem em Django livre um dos melhores momentos de sua carreira


Potente, aliás, é Leonardo DiCaprio em cena. O ator cria um personagem asqueroso em toda a sua existência que representa com clareza toda a ignorância e selvageria que avexam esse recorte da história americana. Com bem menos tempo em cena do que Foxx e Waltz, DiCaprio atinge os melhores agudos de Django livre com sua interpretação.
Por fim, o mais recente Tarantino é um filme imperfeito. Não tem a força e inteligência de Bastardos inglórios, sua obra prima, nem a originalidade e ousadia, de Pulp Fiction, sua antologia, mas é um filme que sobrevive em suas boas intenções para com o cinema e com a humanidade.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Oscar Watch 2013 - O fator Argo na corrida pelo Oscar, o boom das bilheterias e outras reminiscências da temporada de premiações



Existe uma grita contra o Oscar. Bem, ela sempre existe. Mas em 2013 ela é um pouco diferente. Parte majoritariamente dos chamados “Oscar pundits”, figuras que se notabilizam por comentar e antever o raciocínio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Como a lista dos indicados divulgada em 10 de janeiro pela Academia reservou algumas surpresas, a gritaria foi geral. Muitas expectativas foram desarmadas; inclusive as nomeações de Ben Affleck e Kathryn Bigelow como diretores de Argo e A hora mais escura, os dois filmes mais festejados pela crítica no ano. O que se passa, na realidade, é que a crítica americana em geral andava empolgada com a maneira que vinha influenciando o Oscar nos últimos anos. Desde a consagração feroz de Guerra ao terror em 2010 até a inserção potente de candidatos como A rede social (2011) e A árvore da vida (2012), filmes pouco compatíveis com o gosto histórico da academia, mas celebrados pela crítica, entre os principais concorrentes a melhor filme. Em 2013, mais do que qualquer outra coisa, essa porta foi fechada. Filmes bem criticados obviamente tiveram vez no Oscar, como sempre ocorreu, mas os filmes defendidos ardorosamente pela crítica se viram diminuídos na lista dos indicados.
Com a antecipação do anúncio dos indicados ao Oscar, como reflexo, a corrida ganhou ainda um outro componente paradoxal. Argo, mesmo sem Affleck na categoria de direção no Oscar, ganhou um momentum que não pode ser desconsiderado com a consagração no Critic´s Choice Awards e no Globo de Ouro. Ambas as instituições, formadas por críticos americanos e jornalistas e estrangeiros respectivamente, elegeram Argo o melhor filme do ano e Affleck o melhor diretor. O filme, assim, se mantém na mídia com um recorte bem positivo e pode gerar reavaliações de acadêmicos que não o enxergam como preferência, mas gostam bastante do filme. É preciso dizer, contudo, que uma vitória de Argo continua imensamente improvável. Mas em um cenário de pulverização como em 2006, em que o vencedor do Oscar de melhor filme, Crash – no limite, só levou outros dois prêmios (roteiro original e montagem) e empatou em número de Oscars com outros três filmes (O segredo de brokeback mountain, Memórias de uma gueixa e King Kong), Argo veria suas chances aumentarem.
Do outro lado, Lincoln, um sucesso de bilheteria invejável com um herói americano de carne e osso altamente venerado, estrelado por um ator festejado e dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg, é um produto talhado para o Oscar. É uma competição quase desleal em matéria de lobby, dadas as circunstâncias.

Argo, ainda que não seja o favorito ao prêmio de melhor filme, conseguiu ser o protagonista da corrida pelo Oscar. Vantagem que não pode ser desprezada...


O recado do box office
O que nos leva a outro recorte. É sabido que indicações ao Oscar impulsionam bilheterias de filmes. Segundo dados coletados pela Moviemaker magazine, que monitora o cinema independente americano, todos os filmes indicados ao Oscar de melhor filme este ano experimentaram aumento de bilheteria no fim de semana passado. Lincoln, por exemplo, a maior bilheteria entre os indicados, teve uma elevação de 17%. Nada se compara, porém, aos 40% obtidos por O lado bom da vida, filme com indicações para atores nas quatro categorias de atuação. Vencedor do prêmio do público no último festival de Toronto, a fita independente distribuída pela The Weinstein Company vinha sofrendo nas bilheterias com um circuito reduzido às principais cidades americanas. Agora, às vésperas da estreia internacional e da ampliação do circuito nos EUA, o filme experimenta essa expressiva expansão no interesse do público. Esse dado nas mãos de Harvey Weinstein pode ser desestabilizador. Ademais, é bem óbvio que o filme caiu na graça dos atores – maior colegiado da Academia.
O filme também é o que reúne melhor avaliação em redes sociais, segundo auditoria independente encomendada pelo The New York Times. São aspectos que podem adquirir peso mais significativo em uma corrida um tanto mais longa do que o usual, ao invés dos tradicionais 28 dias, em 2013 serão 44 dias entre o anúncio dos indicados e a realização do Oscar.

Bradley Cooper em cena de O lado bom da vida: o melhor avaliado nas redes sociais entre os indicados a melhor filme

Entretanto
Outra pandemia que parece tomar conta de quem acompanha mais de perto a temporada de premiações é o atrofiamento de certas convicções superadas, como a de que o melhor filme do ano tem que ter obrigatoriamente a melhor direção. Não é verdade. É fato que o melhor filme do ano precisa ter um excelente trabalho de direção, mas há tantos elementos que precisam se harmonizar com eficácia e brilhantismo que reduzi-lo à direção soa maniqueísta. É mais sensato, porém, advogar que um filme que não tem seu diretor reconhecido entre os melhores do ano (sejam dez ou cinco como no caso do Oscar) não reúne chances reais de vencer como melhor produção do ano. É preciso separar uma noção da outra. Embora elas sejam intrinsecamente relacionáveis, elas são distintas.
Por isso, não existe anomalia na lista do Oscar, como advogam alguns. A academia entende, como colegiado, que Indomável sonhadora, Amor, Lincoln, O lado bom da vida e As aventuras de Pi são filmes melhores dirigidos do que Argo e A hora mais escura. O que torna inerente a leitura de que, no entendimento da Academia, são filmes melhores, mais bem urdidos em suas minúcias. O que não implica em desprestígio para os outros filmes, que com a flexibilização da lista de indicados a melhor filme, conseguiram vaga na categoria de melhor produção do ano. A anomalia, como já previra Claquete em diversos posts anteriores, é na temporada de premiações. Não que essa anomalia, para quem gosta de emoção, seja uma notícia ruim.

sábado, 19 de janeiro de 2013

TOP 10 - Dez filmes imperdíveis de 2013


Será um ano com muitas estreias promissoras e alguns filmes bastante aguardados. Tem o retorno do homem de aço aos cinemas sob a batuta do pressionado Zack Snyder, um Wolverine pretensamente mais sério, um novo Kick ass, Roland Emmerich destruindo a Casa Branca pela enésima vez, a união de M.Night Shyamalan a Will Smith para tempos melhores na carreira de ambos, comédias românticas, comédias, filmes de grandes cineastas, etc, etc. Justamente pela infinidade de ofertas, e por muitos filmes ainda nem mesmo estarem finalizados, Claquete não listou os dez filmes mais aguardados de 2013 ou coisa do gênero. Estão listados nesse top 10, dez filmes que são imperdíveis. Ponto. Por razões diversas que são apresentadas nos breves textos que acompanham as escolhas. A ideia foi distribuir lançamentos que merecem atenção ao longo do ano. Justificadamente, o fim do ano (sempre pretenso a surpresas e remanejamentos) tem menos lembranças, mas são filmes pelos quais vale esperar.

10 - Oblivion (EUA 2013), de Joseph Kosinski

Novo e ambicioso filme do diretor de Tron- o legado. O filme de 2010 decepcionou, mas o visual marcou. A favor do novo projeto de Joseph Kosinski talvez esteja Tom Cruise no protagonismo e um primeiro trailer promissor. A ideia de um planeta Terra condenado parece ser regra em 2013, o novo longa de M.Night Shyamalan (After Earth) também tem essa premissa, mas Oblivion, pelo menos nesse momento, provoca mais curiosidade. E chega primeiro também.
Data prevista: 12 de abril



9 – O lado bom da vida (Silver linings playbook, EUA 2012) de David O. Russell

Cotadíssimo para o Oscar deste ano, o novo filme de David O. Russell é daquelas comédias dramáticas que prometem acertar em cheio. Vencedor do prêmio do público no último festival de Toronto, o filme pode ser o único com chances de faturar o big five (prêmios de filme, direção, roteiro, ator e atriz) no próximo Oscar. Para se ter uma ideia, o último filme a reunir essas chances foi Beleza americana no longínquo ano 2000. Bradley Cooper faz um homem bipolar que precisa pôr sua vida em ordem após sair da clínica de reabilitação e Jennifer Lawrence, no papel de viúva ninfomaníaca, pode ser sua perdição ou redenção.
Data prevista: 1º de fevereiro


8 - Homem de ferro 3 (Iron man 3, EUA 2013), de Shane Black

Trata-se do primeiro filme do novo ciclo da Marvel no cinema. Para onde vai o estúdio depois da consagração de seu mais ambicioso e elaborado projeto nos cinemas, Os vingadores? A resposta começa a ser dada em Homem de ferro 3, primeiro filme do selo Marvel após o mega sucesso de 2012 e, também, o primeiro filme do personagem sem Jon Favreau na direção. A aposta é novamente no carisma de Robert Downey Jr. Será o suficiente? A Marvel planeja repetir a campanha de marketing que possibilitou a realização de Os vingadores? Esse filme, mais do que respostas, permitirá saber se o estúdio tem para onde ir depois de Os vingadores.
Data prevista: 26 de abril

7 - A morte do demônio (The evil dead, EUA 2013), de Fede Alvarez

Um do maiores clássicos dos anos 80, que conferiu vigor a emergente onda do “terrir” (mescla informal de terror e comédia) reimaginada para o século XXI com a chancela de seu criador, Sam Raimi. A morte do demônio tem tudo para ser um dos filmes mais cool de 2013. A história? Grupo de adolescentes em uma remota cabana descobre um livro dos mortos.
Data prevista: 19 de abril

6- Pain & Gain (EUA 2013), de Michael Bay

O filme “independente” de Michael Bay consumiu um orçamento de cerca de U$ 25 milhões. Mas esse filme, estrelado por Mark Wahlberg e Dwayne “The Rock” Johnson, promete o clima e a sensação que Os bad boys causou no cinema em 1995. O filme mostra um grupo de assaltante que também são “ratos de musculação”. O trailer é das coisas mais hilárias dos últimos tempos. Promessa de ser um dos filmes mais divertidos da temporada!
Data prevista: 10 de maio

5 - Elysium (EUA 2013), de Neil Bloomkamp

A nova ficção científica do diretor de Distrito 9. Nesse seu trabalho subsequente ao sucesso que o revelou, Bloomkamp promove a estreia em Hollywood do ator brasileiro Wagner Moura, revestindo a fita de mais interesse ainda para a plateia nacional. Na trama, a Terra é habitada apenas pela população pobre e o espaço tem colônias para ricos. Mas uma missão de um grupo rebelde pode mudar essa situação. O elenco também inspira. Além de Moura, Matt Damon, Jodie Foster, Alice Braga, Sharlto Copley, Sonia Braga e  Diego Luna estrelam.
Data prevista: 16 de agosto

4 - Para maiores (Movie 43, EUA 2013), vários diretores

Hugh Jackman, Naomi Watts, Halle Berry, Gerard Butler, Jason Sudeikis, Kate Winslet, Justin Long, Anna Faris, Richard Gere, Josh Duhamel, Uma Thurman, Emma Stone, Terence Howard, Johnny Knoxville, Elisabeth Banks e Chloë Grace-Moretz. Está bom para você? Para maiores é um filme que reúne diversas esquetes cômicas estreladas por algumas das maiores celebridades da Hollywood atual. O filme promete muita diversão para o público que enuncia no título.
Data prevista: 8 de fevereiro

3 - Gravity (EUA 2013), de Alfonso Cuarón

Prometido para 2012, a nova ficção científica de Cuarón, que causou espanto com o excelente Filhos da esperança (2006), promete ser um longo plano sequência com dois astronautas à deriva no espaço tentando voltar à órbita terrestre. George Clooney e Sandra Bullock estrelam. É demais esperar por revolução cinematográfica? Talvez não!
Data prevista: outubro

2- The nymphomaniac (FRA,DIN,ALE 2013), de Lars Von Trier

Esse provavelmente debutará em Cannes, mas o filme que será exibido lá o leitor nunca verá. Talvez em um lançamento em mídia digital daqui a alguns anos. Isso porque o diretor dinamarquês disse que montará duas versões de seu filme que acompanhará a trajetória de uma mulher ninfomaníaca. Uma com cenas de sexo hardcore, para ser exibida em festivais, e outra, mais soft, para lançamento comercial. Von Trier promete alcançar o ápice de sua longeva carreira de polêmicas com esse filme.
Data prevista: indefinida



1-Only god forgives (EUA 2013), de Nicholas Winding Refn

Outra produção que deve aportar em Cannes 2013. Trata-se da nova colaboração entre Ryan Gosling e Nicolas Winding Refn, seu diretor no cult Drive, premiado no festival francês em 2011. Gosling vive um gangster dono de um bar na Tailândia que, por pressão da sua mãe, à caça dos assassinos de seu irmão. Nasce um novo cult?
Data prevista: Segundo semestre