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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Filme em destaque - O mestre

Caos e ordem
Joaquin Phoenix é um dos alicerces do novo filme de Paul Thomas Anderson, que lança um olhar sobre as entranhas do pensamento religioso na medida que ilumina os conflitos que aproximam dois homens de diferentes vivências



“Tom Cruise viu e ainda somos amigos”. Essa foi a frase mais repetida pelo cineasta americano Paul Thomas Anderson, no festival de Veneza do ano passado, onde O mestre teve sua première internacional e de lá saiu com os prêmios de ator (dividido entre Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman) e direção.
A razão do comentário é porque o mais novo filme do diretor de Magnólia (1999) e Sangue negro (2007) é inspirado na cientologia, religião da qual Cruise é espécie de relações públicas.
Se admite similaridades com o movimento que originou a Cientologia, Anderson não vai além. “Não conheço muito da Cientologia hoje. Não posso ser mais específico do que isso”. Mas basta o que conhece para erigir um drama profundo sobre as ramificações e influências da religião e discutir, com esse escopo, de política a sexo. O mestre é, ainda, uma análise pormenorizada do homem e seu meio. Nas palavras da jornalista e crítica de cinema Ana Maria Bahiana, que considera este o melhor filme de 2012, é uma “dança delicada e imprevisível entre o forte e o fraco, o mestre e o discípulo, o senhor e o escravo. O caos e a ordem, a verdade e a mentira, a lucidez e a inconsciência”.
A história acompanha a trajetória de Freddie Quell (Joaquin Phoenix), veterano da segunda guerra que muitos diriam estar enlouquecendo. Acolhido por Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), um intelectual que organiza teorias com a mesma sagacidade que as experimenta, Freddie passa a ser peça central no pensamento que Dodd deseja constituir.
“Mas O mestre não é a história de Lancaster”, adverte Bahiana. “Mas de Freddie, torto, ferido, quase mudo como o Plainview (personagem de Daniel Day Lewis) de Sangue negro. Ele é o id para o superego delirante de Lancaster; a massa bruta, o impulso primal, que ao mesmo tempo anseia e rejeita a ordem, o carinho, o conforto”. Peter Travers, da Rolling Stone americana, diz que Anderson ao negar-se “pensar pelo público”, enfurece parte dele. Travers, em sua crítica, classificou o filme como “nirvana para amantes do cinema”. Para ele, O mestre também é um filme sobre “pertencimento e o preço que você paga por esse privilégio”.

Intelecto e força bruta: os dois personagens principais de O mestre apresentam múltiplas camadas

Seguramente um dos filmes mais elogiados dos últimos tempos, o presidente do júri de 2012 em Veneza, o cineasta americano Michael Mann, defendeu diversos prêmios para o filme, mais foi impedido de levar sua ideia adiante porque o estatuto do festival proíbe que o vencedor do leão de ouro receba outros prêmios, mas não é exatamente uma unanimidade. Um dos críticos de cinema mais prestigiados do mundo, o americano Roger Ebert, não vê essa força toda no filme de Anderson. “O mestre é fabulosamente interpretado, mas quando eu tento alcança-lo de fato, minhas mãos ficam no ar”, ponderou. Para o crítico, faltou transpiração ao filme. “Tem um material rico, mas não fica claro o que pensa a respeito dele”. O que é defeito para Ebert, é mérito para outros. “Não é um filme fácil”, finaliza Bahiana.

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