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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Crítica - Amor


A dureza da realidade

Se na temática, a visita da morte e o dissabor de sua presença cadenciada, Amor (Amour, AUS/FRA/ALE 2012) encontra referências diversas na produção cinematográfica internacional, na hollywoodiana em particular, na construção estética alinhavada por Michael Haneke, que tem na aspereza do registro o seu norte, o filme encontra sua singularidade.
Haneke acompanha a rotina do casal de idosos formado por Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), de boa ascendência cultural – estão ligados à música clássica – e tranquilidade financeira. Essa rotina é modificada a partir do momento que Anne sofre um AVC (acidente vascular cerebral), ainda que a doença nunca seja nomeada, os sintomas a sugerem. Georges passa a cuidar da esposa que gradativamente tem seu quadro piorado.
O que Amor propõe é uma observação seca, algo incômoda e certamente desarborizada do desfalecimento de uma mulher, de um casal e de uma história de amor. A opção por um registro naturalista valeu a Haneke críticas reiteradas a seu “desprezo pela humanidade”, mas não é culpa do cineasta que a vida seja tão sufocante e absorta em sua crueza. O que Haneke propõe aqui é um demorado olhar sobre a espessura da crueldade com que a vida pode nos experimentar. Tanto no aspecto físico, quanto emocional. Ao acompanhar sem trilha sonora, uma marca de seu cinema, a jornada de exaustão e frustração tanto de Georges quanto de Anne, Haneke firma com seu público um entendimento de honestidade ímpar. O que há de belo em Amor, há também de terrível. Assim é a vida, uma convergência de superlativos em sua banalidade. Em certo momento, Anne diz a George, quando ainda conseguia elaborar sentenças verbais, que seu marido às vezes é um monstro, mas também capaz de gestos de incrível gentileza. Esse paradoxo capitaliza não só Georges, capaz de gestos monstruosos em sua generosidade, mas o filme também.
Trintignant: um ator expressivo das tribulações
internas de seu personagem
Com cinco indicações ao Oscar (Filme, direção, roteiro original, atriz e filme estrangeiro), Amor é um retrato de cores fortes do padecimento de um sentimento e de uma alternativa francamente desagradável de como perpetuá-lo. Dessa complexa bifurcação, o filme tira sua força. Providenciais para esse resultado são Emmanuelle Riva e, especialmente, Jean-Louis Trintignant. Riva oferece-se ao olhar concentrado e rigoroso de Haneke com o despudor das grandes atrizes, enquanto Trintignant reveste Georges de toda a complexidade que habita um homem desesperado, cansado, desnorteado e, ainda assim, fiel apaixonado.
Amor certamente não é o filme mais cândido a tratar de amor e morte, contudo é o mais pungente a fazê-lo. 

5 comentários:

  1. O final do filme. Ah, esse final me matou! Adorei o filme e estou na torcida para que Emmanuelle leve esta!

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  2. Pense num filme que estou morrendo de vontade de assistir. Não só por causa dos excelentes elogios que anda obtendo, mas principalmente por causa da história, que parece ser emocionante. Espero que "Amor" estreie, em breve, na minha cidade. Beijos!

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  3. Belo texto, Reinaldo. Realmente, Amor é cru, gentil e cruel ao mesmo tempo. Nos sufoca e nos acalenta como a vida.

    bjs

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  4. Adorei a crítica, Reinaldo!
    E aqui você mata a todos que reclamam dessa "isenção emocional e intencional" de Haneke: "não é culpa do cineasta que a vida seja tão sufocante e absorta em sua crueza". Acho que essa frase pode ser adaptada a qualquer obra do diretor.
    Riva e Trintignant em performances genais. Fico muito feliz pela atriz ter seu reconhecimento, mas desejava o mesmo ao ator, que segura grande parte do filme nas costas.
    Resta-me ver vários dos indicados ao Oscar, mas Amor é um dos que seguem na dianteira (perde apenas para "Indomável Sonhadora") por enquanto e se o filme sair vitoriosa... isso também é vitória para o cinema! Tem a minha torcida.

    Abs!

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  5. Alan: Acho que ela tem boas chances de vitória, Alan.
    Abs

    Kamila: Tb espero qye vc possa ver tão logo possível Ka.
    bjs

    Amanda: Amanda, a poeta!
    Bjs

    Elton Telles: Grande Elton. Obrigado pelo elogio e pela deferência que vem com ele. Acho que Trintignant está impecável e merecia que prestassem tanta atenção nele quanto prestam em Riva. A inclusão de "Amor" e "Indomável sonhadora", da forma vistosa que ocorre, no Oscar já é uma vitória do cinema.
    Abs

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