É Operação Skyfall o filme definitivo de James Bond? É
melhor que essa resposta seja negativa. Se o 23º filme do agente secreto à
serviço de sua majestade é um triunfo de narrativa e um acerto do ponto de
vista da necessidade de atualizar o personagem, é também uma demonstração
eloquente de que Bond está se perdendo de si mesmo. Há menos histrionismo na
caracterização de um universo que sempre foi marcado pelo exagero, beirando a
sátira. O personagem também mudou. Não que se faça uma defesa do sexismo, e
James Bond sempre foi o personagem mais sexista do cinema. Mas o Bond que surge
em Operação Skyfall ,
e que surgiu nos dois filmes anteriores, está longe de ser aquele mulherengo
convicto. Ele quase se corrói de possuir uma mulher. O humor é outra matéria
prima deixada de lado. As fases estreladas por Roger Moore e por Pierce Brosnan
têm grande parte de seu apelo na forma bem humorada que sublinhavam os absurdos
do universo que retratavam. O fato da atual fase protagonizada por Daniel Craig
se levar a sério demais, nesse sentido, pode ser outro problema nessa espiral
de distanciamento de Bond de si mesmo.
Paradoxalmente, Operação Skyfall é o filme que mais
aproximou James Bond de si mesmo em um recorte totalmente diverso do que esse
texto propunha até o momento. Não só o filme vislumbra Bond encarando seu
passado em um momento de regressões emocionais que podem favorecer outros bons
momentos na série, como faz com que o personagem cresça emocionalmente –
deixando de ser um pêndulo ajustável por cada intérprete. O que reforça o
domínio de Daniel Graig sobre o personagem. Mas não só. Operação Skyfall é
clássico na administração inteligente que faz do histórico da franquia,
resgatando elementos consagrados – como a tensão sexual entre Bond e Moneypenny
e o Aston Martin DB5 usado em Goldfinger – e na proposição de elementos novos
para a continuidade da franquia – além de contribuir para galeria dos grandes
momentos da série com um vilão efeminado que flerta com Bond e o fim de um ciclo
que ajudou a revitalizar o gás da franquia.
Dessa forma, Operação Skyfall se inscreve como um filme
complexo dentro da franquia. Importante, reverente, ousado, renovado. Sam
Mendes parece assinalar, melhor do que fizeram Martin Campbell e Marc Foster,
que o James Bond de ontem não pode fazer sombra ao James Bond de hoje. Aos
nostálgicos, no entanto, o Bond de Mendes dá uma piscadinha. Mas não mais que
isso.
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