Íntimo e pessoal
007-operação Skyfall (Skyfall, ING/EUA 2012) tem o mérito
de ser o típico filme de James Bond e, simultaneamente, ser um filme incomum de
James Bond. Esse aparente paradoxo, que se alimenta constantemente do passado
do personagem e de toda a sua mitologia, é orquestrado com fina desenvoltura
pelo cineasta Sam Mendes. O diretor aprofunda a proposta de um 007 mais
dramático e tridimensional em um filme que menos parece um evento e mais um
estudo de personagem. Há pontos positivos e negativos nessa proposta.
Logo no início, em operação na Turquia, Bond é dado como
morto após uma mal sucedida operação para reaver uma lista com o nome de todos
os agentes infiltrados em células terroristas ao redor do globo. Flagramos,
então, um Bond desamparado e entregue a vícios que retorna ao MI6 quando este
sofre um atentado. Ele é pessoalmente encarregado por M (Judi Dench) de
descobrir o paradeiro da lista e deter os responsáveis por todo esse
transtorno. É aí que entra Silva (Javier Bardem), um vilão carismático,
assustador, engraçado e tão imprevisível quanto somente um ator com a
capacidade de transmutação e decalque que Javier Bardem ostenta poderia
encarnar. Silva é um ex-agente que se sente traído por M e mais adiante
compreenderemos suas razões.
Ao apresentar um vilão em busca de vingança, Operação
Skyfall dá um passo a frente da média dos filmes do 007. As coisas aqui,
assinala Mendes, são definitivamente mais pessoais. A própria figura de M
cresce de importância. Nunca o fato de a personagem ser atualmente encarnada
por uma mulher, e uma mulher com a envergadura artística de Judi Dench, tinha
sido tão importante. Nesse contexto, a relação dela com Bond e com Silva se
configura na espinha dorsal do filme. Bond, afinal, vivencia circunstâncias que
o aproxima do sentimento experimentado por Silva e esse é apenas um dos firmes
alicerces sobre os quais Operação Skyfall erige sua dramaturgia.
Sem conexão: Bond, dessa vez, não foi muito além dos interesses superficiais pela Bond girl da vez
O bom roteiro assinado novamente por Neal Purvis e Robert
Wade, com supervisão de John Logan, ainda leva Bond a revisitar seu passado em
uma sequência que agrega estofo dramático ao personagem. Não à toa, a catarse
se dá de uma maneira pouco comum na série, com Bond chorando.
A opção por tornar a questão pessoal, não diminui o espaço
de outra discussão bem encampada por Operação Skyfall. A da readequação do
personagem à atual conjuntura geopolítica. Em um dado momento, M diz “Não
conhecemos mais nossos inimigos. Eles estão nas sombras. Não são mais países,
mas indivíduos. O mundo se tornou opaco”. É uma defesa da importância do
trabalho de espionagem e de pessoas como Bond para a manutenção da paz. É um
dos artifícios de reinvenção da série. Outros podem ser vistos na figura do
novo Q (bem adornado por um Ben Whishaw à vontade) e do personagem de Ralph
Fiennes, um burocrata do governo britânico que pressiona M por resultados mais
efetivos.
Operação Skyfall olha para o passado de James Bond para
formatar seu futuro. É poético. Não é o melhor da série, como muitos críticos
eufóricos atestaram sem ouvir a passagem do tempo, mas talvez seja o mais
importante; e é muito importante que se faça essa distinção. Operação Skyfall,
definitivamente, mostra um novo caminho. Menos apoteótico, mais realista e, seguramente,
muito desafiador. Mas Sam Mendes deixou o personagem muito bem preparado.
Foi exatamente isso que mais gostei no filme e falei em meu texto (que ainda não foi ao ar antes que vc procure, hehe). É um passo à frente, um aprofundamento na trama, nos personagens, mas ao mesmo tempo não descaracteriza a série, pelo contrário, a discute. Esse foi o maior mérito de Sam Mendes, que sem dúvidas é um belo diretor.
ResponderExcluirTambém não diria que é o melhor da série, até porque para isso teria que ver todos novamente, e alguns de fato, nem vi, hehe. Mas, um James Bond maduro, com um olhar bem realista da época em que vivemos.
bjs
Todos têm gostado, eu preciso assistir ao filme para conferi-lo e descobrir se ele me divertirá tanto quanto tem divertido e agradado aos outros cinéfilos.
ResponderExcluirMuito interessante o Blog !
ResponderExcluirMuito difícil encontrar na “ blogosfera “ espaços originais e bacanas como este !
Deixo aqui meu espaço, caso queria dar uma olhada, seguir...
http://www.bolgdoano.blogspot.com.br/
"O mérito de ser o típico filme de James Bond e, simultaneamente, ser um filme incomum de James Bond." Concordo plenamente amigo!
ResponderExcluirPra mim, foi o melhor da série, me impressionou muito e você descreve o ponto alto da trama, a relação de Bond, M e Silva, conectados! Mendes soube lidar com as emoções, ao mesmo tempo com as sequências de ação, na hora exata. A precisão de Mendes é cirúrgica, até no modo de olhar dos personagens e o choro foi uma surpresa. É bom nem compararmos aos filmes clássicos (e houve algum drama pessoal de Bond no "A Serviço Secreto De Sua Majestade", mesmo sendo estrelado por um Lazenby com cara de Tarzan). Há muitos Bonds que amamos (O Espião Que...,Goldfinger, Moscou...e por aí vai...), mas este aqui foi porreta!
Abraço.
Ótimo texto!
Amanda:Para mim, Moscou contra 007 e Goldfinger - e até mesmo Casino Royale, seguem na dianteira. Mas esse filme é muito importante para franquia.
ResponderExcluirBjs
Luís: Espero que sim meu caro.
Abs
Amanda Lemos: Vou conferir seu blog Amanda. Obrigado pelos elogios.
Rodrigo Mendes: Acho que Mendes soube eternizar seu filme em um nível bem mais profundo do que todos os filmes de 007 são eternizados. A forma como discute a série, a reverencia e enseja novos rumos é muito satisfatória.
Obrigado pelos elogios.
Abs
Ótimas observações, Reinaldo! Adorei o filme e é sempre ótimo passar por aqui para ver seu parecer e seguir refletindo sobre a obra ;)
ResponderExcluirAline: Obrigado pela deferência Aline.
ResponderExcluirbjs