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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Crítica - Burlesque

Bursleque toda a vida!


Existem referências que de tão explícitas podem incomodar espectadores menos propensos aos delírios propostos pelo colorido de um musical extravagante que reúna Cher e Cristina Aguilera. As referidas referências de Burlesque (EUA 2010) vão de perolas do cinema trash como Showgirls (1995) e Showbar (2000) a filmes mais sérios e pomposos como Nasce uma estrela (1976) e Cabaret (1972). Não havia como resultar algo diferente do que um novelão tão kitsch quanto óbvio. A fita do debutante e inseguro Steve Antin, cujo currículo ostenta alguns videoclipes, é uma colagem pop que serve de figuração para Cristina Aguilera debutar no cinema (em um momento de profunda recessão artística para a moça) e Cher dá o ar de sua graça uma vez mais. E Cher na tela grande é sempre um acontecimento.
Burlesque foi difamado a torto e a direito. É aquela história batida de garota do interior que chega a cidade grande com um sonho de grandeza. Descobre um vozeirão, se enamora com o bonitão e vira alvo do ricão. É isso mesmo. Sem tirar nem pôr. Argumentam que falta ao filme a energia dos bons musicais. Não chega a ser verdade. É pretensão de quem analisa.

Show me what you got: o glamour pode ser meia boca e o botox exagerado, mas Burlesque dá um caldo...


Burlesque pode até ser uma comédia involuntária com sua assustadora camada de botox, mas também tem graça e diverte bastante quem não esperar revolução de um filme que pela sinopse já afasta essa possibilidade. Stanley Tucci, que pelo trailer já sinalizava repetir seu papel de O diabo veste Prada, não incomoda com sua caracterização. Pelo contrário, surpreende na afinação com Cher. Cristina Aguilera não é boa atriz, e talvez essa produção não seja o melhor dos parâmetros, mas quando sobe ao palco, literalmente, hipnotiza.
Burlesque tem acertos que a má vontade generalizada impede o destaque. Como o filme se passa prioritariamente em uma casa noturna, os números musicais (que vá lá são coreografados sem muita inventividade) se ajustam a veia narrativa com naturalidade. O elenco dança bem (se há alguém que destoa é a coadjuvante Kristen Bell) e o ritmo do filme segue alternando boas canções (se não há uma música inesquecível, o conjunto é bem equilibrado).
Burlesque não merece prêmios, mas também não merece essa malhação crítica a qual vem sendo submetido. É um panelão kitsch que jamais rejeitou sua condição. Deve ser encarado como entretenimento fugaz. Afinal, quem patenteou que todo musical tem que ser genial?

7 comentários:

  1. De imediato, pareceu mais um filme dirigido por Rob Marshall. Ainda não me despertou a vontade de ver, parece um carnaval. rsrs.

    Beijos! ;)

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  2. Meu caro Reinaldo eu fugi deste filme. Não é algo que mereça a minha atenção e ingresso pago. Só no DVD.

    Showgirls é um filme que tenho predilação (lembranças da Cine Privé, hehehehe).

    Agora este filme não me despertou nenhum interesse. Ótimas referências que você colocou em sua crítica, e respondendo a pergunta final, há alguns nomes no cinema que deram a patente do gênero musical ser genial: Gene Kelly, Bob Fosse, Busby Berkley e Stanley Donen. E Vincent Minelli, é claro!

    Abs.
    Rodrigo

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  3. Vixi Reinaldo, sabe que estou doido pra conferir? Acho uma pena que os musicais estejam tão escassos como agora, eu como fã do gênero, tenho que me contentar com produções meia boca que nem essas. Fazer o quê, é o jeito.

    Ótimo texto!
    Abs.

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  4. Parece bem Marshall mesmo, mas eu ADORO Marshall, ou seja, por mais trash e 'referenciativo' que esse filme possa ser, acho que vou encontrar alguns aspectos que vou gostar.

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  5. Bom, Reinaldo, eu critiquei Burlesque, apesar de destacar as qualidades dos números musicais, principalmente Cher cantando “You haven’t seen the last of me” que é uma cena emocionante. Pois, apesar de entender referências e clichês, esse filme me incomodou muito. Além da história ser boba e forçada, referência tem limite. Há muita cópia de Cabaret, Chicago e Moulin Rouge, principalmente. Aquela cena inicial mesmo dos dedos estalando, esperei a entrada de Liza Minnelli, hehe.

    Vejo A Noviça Rebelde 500 vezes, mas prefiro não rever esse nem um segunda vez. Mas, respeito seu ponto de vista.

    bjs

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  6. Olha aí vc de novo me convencendo a ver um filme que eu já tinha riscado da minha lista, rsrs Não quero dizer q eu vá correndo ao cinema, mas a minha má vontade diminuiu consideravalmente - acho que na medida diametralmente oposta ao quanto ao me surpreendi por você ter encarado essa pérola dos musicais, rsrsrs

    Vai ver é um filme tubaína - um daqueles guilty pleasures, como vc diria.

    Beijos,

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  7. Mayara: Rob Marshall é referência para uma geração mais atual. O que se vê em Burlesque é, em certo sentido, prévio a Marshall...
    Bjs

    Rodrigo: É verdade. Rende uma boa sessão de DVD. Sobre a resposta a pergunta Rodrigo, a pergunta não foi bem essa. Concordo que essas figuras listadas por ti alçaram o gênero musical a um status diferente. Mas assim como Scorsese não patenteou que todo o filme de gangster tem de ser um filme de Oscar, eles não galvanizaram que todo o musical tem de ser genial. Essa foi a retórica que aferi.Essa é uma pretensão dos admiradores desses filmes...
    Abs

    Alan: A produção não é tão meia boca assim como falam Alam... Abs

    Luis Galvão:Certamente. Abs

    Amanda: Amanda, por favor não encare minha crítica como uma crítica a sua. Não é o caso. Apenas vejo uma tendência em diminuir um filme porque ele não se ajusta a padrões que, em si,não se justificam. O musical, historicamente, é um gênero calcado em colagens. Burlesque excede isso? Sim. Deve ser penalizado? Não. Como observo, na sinopse o filme já diz a que veio. Nesse contexto, decepcionar-se com Nine (coisa que não aconteceu nem comigo nem com vc) é possível, mas não com Burlesque. É falta de honestidade dizer que o filme é ruim. No que ele se propõe ele é muito bom. A questão é a sua tolerância ao que ele propõe?

    Beijos

    Aline:Sou a favor de assistirmos um filme desarmados. Filmes tb são vítimas de preconceito. E Burlesque exemplifica isso perfeitamente.
    bjs

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