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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Oscar watch 2011 - Insight

A importância das campanhas na corrida pelo Oscar

Não há, muito provavelmente, entre os cinéfilos que acompanhem o Oscar, a ingenuidade de crer que o critério prevalente para selecionar os indicados seja o simples fato deles serem os melhores. Os melhores entram na lista, mas escorados por uma portentosa campanha de marketing. Se você tem um ótimo filme nas mãos, mas a campanha de marketing não está à altura, o seu filme não entra. Em compensação, se você tem um filme razoável, mas um marketing que o faça parecer notável, a cerimônia do Oscar já é uma boa morada.
Algumas figuras fizeram a fama viabilizando esses cânones.Os irmãos Harvey e Bob Weinstein são exemplos disso. Nos anos 90, com o comando do selo independente Miramax, os Weinstein colocaram Quentin Tarantino no mapa e garantiram o violento e irascível Pulp Fiction – tempos de violência no Oscar. Foram eles, também, os responsáveis pela inclusão do bobinho Chocolate entre os indicados a melhor filme em 2001 e que garantiram a vitória da última comédia no Oscar, o não menos bobinho Shakespeare apaixonado (1998).

Cena de A rede social, o filme da crítica em 2010: campanha pelo Oscar facilitada


Na corrida pelo Oscar 2011, mais do que nos últimos anos, a eficiência das campanhas de marketing polariza e salta aos olhos. A rede social, do produtor Scott Rudin, foi o filme abraçado pela crítica e, quando isso acontece, a campanha de marketing com vistas para o Oscar fica muito mais fácil. Já o discurso, com o perdão do trocadilho forçoso, de O discurso do rei era focar no academicismo da produção e sublinhar que a produção inglesa trazia todos os elementos que agradavam a academia. Mas aí, estamos nos atendo a obviedades. E a inclusão de Javier Bardem? Por que Leonardo DiCaprio não foi lembrado? E por que Ilha do medo foi completamente esnobado? Essas perguntas têm muitas respostas. As mais certeiras não necessariamente são as mais importantes. Javier Bardem tem admiradores entre os atores que gozam de certa influência na academia. Estes se prontificaram a fazer uma campanha pró-bono em favor do espanhol. Ou seja, se engajaram por sua indicação por pura admiração profissional. Um fato que só reforça a beleza de um prêmio como o Oscar. Mas e o Leonardo DiCaprio não tem amigos influentes? Tem. Mas a situação aqui é diferente. O estúdio não apoiou a candidatura de DiCaprio. A Paramount, que distribui Ilha do medo, testou as chances do filme no começo de dezembro. Percebendo que a adesão estava baixa, abandonou a candidatura. Já a Warner que divulgava e promovia A origem não traçou nenhuma estratégia particularmente para DiCaprio por entender que, como tinha em mãos um filme blockbuster, deveria focar nos aspectos técnicos. DiCaprio era lembrado nos anúncios e no marketing do filme de forma protocolar. A campanha pela indicação por Bardem foi de coração. DiCaprio não recebeu nem mesmo uma profissional.

Advogando em causa própria: Melissa Leo em um dos polêmicos anúncios que pagou para impulsionar sua candidatura ao Oscar


Dois recentes desdobramentos marqueteiros chamam a atenção em Hollywood atualmente. O primeiro deles, e mais disseminado, é a forte oposição que o filme O discurso do rei vem recebendo da crítica americana. Atentando para incorreções históricas e omissões graves, sublinha-se o fato do filme não ser preciso naquilo que uma obra de reverberação histórica deveria ostentar. Objetiva-se minar as chances do filme, cuja candidatura foi impulsionada pelos prêmios dos principais sindicatos americanos. Delineiam-se dois resultados desse fronte: ou o golpe funciona ou dá tremendamente errado. Como a academia é constituída majoritariamente por judeus (e a grande omissão do filme dá conta da simpatia da coroa britânica pelo nazismo), as chances do feitiço vingar são grandes. Por outro lado, existe a teoria de que a manobra é visível e será refutada com propriedade (o que justificaria uma vitória ainda maior do filme).
Outro assunto que tem rendido nos bastidores de Hollywood é Melissa Leo. A atriz que, ainda, é favorita ao troféu de melhor coadjuvante fez campanha própria (pagou por anúncios em revistas e jornais americanos). O que, é bom que se diga, não é proibido (como, por exemplo, mandar e-mails pedindo votos – algo que aconteceu no ano passado). Contudo, o gesto é visto como de mau gosto. A deselegância de Melissa pode custar-lhe o Oscar. Ela está desesperada. Já foi até na Oprah! Tenta desfazer a má impressão. Pode ser tarde. Ingenuidade em Hollywood não dá Oscar. Resta saber se o marketing em curso para taxar Melissa como a mais ingênua das ingênuas divergirá dessa assunção.

5 comentários:

  1. Mais do que as campanhas, acho que, para vencer o Oscar, a imprensa é um grande aliado. Os postulantes ao prêmio têm que estar dispostos a dar MUITAS entrevistas, a fazer aparições em programas que eles nunca considerariam antes... E isso, de certa forma, é fazer campanha! :) Mas, de alguma forma, acho que o buzz criado pela imprensa acaba sendo mais importante do que a campanha. O que vem depois é somente o povo seguindo a maré...

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  2. Com certeza é um grande jogo de xadrez, onde dinheiro, influência e prestígio contam e muito. Mas, a gente gosta de torcer, né? hehe.

    Adorei a foto do topo.

    bjs

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  3. Muito bom o post. Não sabia que a Melissa Leo estava assim desesperada tirando dinheiro do bolso por um Oscar.
    Eu acho extremamente triste essas questões de marketing, compensações, politicagens ou mesmo de imprensa como a Kamila disse, influenciarem de forma decisiva numa premiação que deveria ser a mais séria de todas, premiando aqueles que realmente foram os melhores do ano. É uma pena. Achei perfeita a lembrança de Shakespeare Apaixonado, na minha opinião, o mais fraco dos indicados, assim como já havia ocorrido no ano anterior com Titanic, que eu penso que foi só pra Academia se aproximar do público em geral devido ao sucesso bilheteria. Bem que podiam fazer isso este ano e premiar A Origem, imensamente superior a Titanic. Eu sei que não vai ser, mas seria legal.
    Reinaldo, você não acha que com essa campanha contra O Discurso do Rei e pelo fato de A Rede Social não ser mais tão comentado, Bravura Indômita ainda pode surpreender e faturar melhor filme?
    Abraço.

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  4. Marcelo: É a capa da Hollywood issue da Vanity fair deste ano. Show de bola, né? Abs

    Kamila: Generosidade sua atribuir a imprensa esse destaque Ka. Não acho que seja o caso. É o marketing, influência, prestígio e outras coisinhas mais que alinham a coisa. A imprensa é apenas um dos canais em que o movimento se dá. Mas é lógico que a crítica especializada é importante. Só não é tanto quanto gostaria e esse ano dá uma boa dimensão disso.
    Bjs

    Amanda: ô se gostamos! Bjs

    Vitor Batista: Obrigado Vitor. Mas o Oscar é honesto Vitor. Pode não ser justo (e não o é na maioria das vezes), mas é honesto. E democrático. Se quase seis mil pessoas escolheram Quem quer ser um milionário? o melhor de 2008 é pq gostaram do filme. Isso é legítimo. Muitos hj já se arrependem da escolha, notadamente injusta, mas ela foi honesta. As campanhas servem para direcionar o olhar. Tb as considero legítimas. Shakespeare apaixonado realmente é o ó. Assim como Titanic. Mas são demonstrações da beleza do Oscar. Esse prêmio que se reinventa, mesmo sendo o mesmo de sempre.
    Venho apontando para uma possível premiação de Bravura indômita desde o começo de dezembro. Mas torço para que a justiça prevaleça e A rede social seja louvado o melhor de 2010 pela academia.
    Grande abraço!

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