Páginas de Claquete

domingo, 31 de janeiro de 2010

ESPECIAL NINE - critica

Cinema, crises e expectativas

É preciso, logo de partida, esclarecer que Nine (EUA 2009) tem duas particularidades que, por definição, afugentam o espectador comum. É um musical e, antes disso, é um filme sobre o processo criativo de um cineasta de grandeza e peculiaridade, ou seja, um musical sobre o cinema. É, portanto, um filme de público restrito e de impacto calculado.
O novo filme de Rob Marshall, adaptado do musical da Broadway que por sua vez baseia-se no filme 8 e ½ de Fellini, é um filme de muitos valores e sutilezas. Embora Marshall não seja um diretor tão habilidoso em perfilar sutilezas, a força do roteiro e a letra das músicas (algumas criadas especificamente para o filme) se encarregam de fazê-lo. Em Nine, acompanhamos a crise criativa do mais importante e admirado cineasta italiano, Guido Contini (Daniel Day Lewis). Ele precisa começar a rodar seu próximo filme, Itália, e não tem idéia de como começar a escrever o roteiro. Guido é um homem de muita vaidade, de sexualidade latente e de maturidade em suspensão. Tudo isso como fluxo e contra fluxo de sua arte. A medida que vemos Guido mergulhar no inferno de sua consciência, descobrimos o litígio interno que o homem trava com o artista. Que o menino Guido trava com o homem Guido. Os números musicais, embora alguns pareçam descolados e desnecessários à narrativa, são artifícios poderosos nessa conjuntura.

O cineasta Guido dirige com as mulheres de sua vida ao fundo: Em Nine, o incosciente fala. E canta!

Nine captura um homem que tenta responder a pressões, expectativas e a própria vaidade enquanto lida com as de outras pessoas também. Esse processo não poderia ser aludido de forma mais poderosa do que através de números musicais. Contudo, o filme nunca empolga. Talvez porque seja tão hermético quanto a personalidade que ilumina. Talvez porque seja parte do charme minimalista do cinema feito para cinéfilos. Mas a probabilidade mais forte é de que o musical transbordante de estilo, arrojo, estrelas e pretensões seja isso mesmo. Um filme destinado a ser julgado mais por sua forma do que por seu conteúdo. Não que no caso de Nine isso seja ruim, mas não é de todo justo.

OSCAR WATCH - Em que pé as coisas estão

Com o fim de janeiro e com a movimentação intensa que tivemos nesses últimos dias na temporada de premiações, pouca coisa, de fato, mudou na percepção que se tinha de quem eram os principais concorrentes às vagas no Oscar. O triunfo de Avatar no globo de ouro, aliado ao recorde de maior bilheteria de todos os tempos do cinema, vitaminaram a candidatura do filme de James Cameron. Mas em linhas gerais, o resultado do globo de ouro só serviu para dimensionar a distância dessa premiação para o Oscar. Todos os outros resultados de janeiro não privilegiaram Avatar. O sindicato dos produtores, o Critic´s choice awards e o sindicato dos diretores prestigiaram Guerra ao terror. Kathryn Bigelow, diretora de Guerra ao terror, sagrou-se ontem a primeira mulher a ser premiada pelo sindicato, em uma possível antecipação do que veremos na noite de 7 de março. O sindicato dos atores premiou Bastardos inglórios. Avatar podia não concorrer na festa dos atores, mas Guerra ao terror concorria. Quer dizer que a disputa está fechada entre Guerra ao terror, na liderança, Avatar e Bastardos inglórios? Sim e não.
Kathryn Bigelow dirige: Além de ser a quarta mulher indicada ao Oscar de direção, ela poder a primeira a ganhar um


É preciso reconhecer que desde o principio da temporada, esses três filmes, junto com Preciosa e Amor sem escalas dispararam na frente e se o Oscar ainda tivesse cinco finalistas na categoria de melhor filme, não haveria dúvidas de que esses seriam os cinco finalistas, assim como não haveria dúvidas de que a grande disputa se daria entre o filme de Bigelow e o filme de Tarantino (com as devidas desculpas aos fãs de Pandora). Só que a cerimônia do Oscar desse ano, amplia o número de postulantes ao título de melhor filme de 2009. Isso, aliado ao novo método de se eleger o melhor filme – em que cada membro da academia elenca os filmes por ordem de preferência e uma pontuação será atribuída- derruba a pecha de favoritismo inconteste. Antes bastava destacar o filme que cada um julgava melhor. É lógico que os sindicatos continuam sendo poderosas bússolas, mas por não ter o mesmo método de aferição, tornam-se imprecisos. É válido destacar que essa novidade do Oscar aplica-se somente para a categoria de melhor filme. Ironicamente, quem pode se beneficiar disso é Avatar. O filme de Cameron é o mais visto, por razões óbvias, de todos os possíveis indicados. Ou seja, mesmo que não esteja no topo da lista de muita gente, deve aparecer bem colocado na maioria das listas. O que faz com que Avatar seja uma aposta mais segura do que os queridinhos da critica Amor sem escalas e Guerra ao terror.

E os outros cinco
Direito de amar, Up – altas aventuras, Invictus, The Messenger e Distrito 9, com mais chances, brigam com Nine, Star trek, Educação, Um sonho possível e Um homem sério, com menos chances, pelas últimas cinco vagas. Não seria de todo estranho ver 500 dias com ela e/ou Se beber não case nessa lista. Explica-se: O primeiro é um filme bem amarradinho, independente e com um tema mais leve, quando todos os outros indicados parecem sérios demais. Ademais a comédia, especialmente a romântica, há muito não é prestigiada pela academia. No caso do segundo, além da vitória surpreendente no Globo de ouro que, sim, pode ter entusiasmado muita gente a votar no filme, é importante lembrar que esse é um filme que cativou os americanos. Como Claquete noticiou há duas semanas, o DVD do filme tornou-se a comédia mais vendida da história e o segundo filme de 2009 mais vendido em três semanas. Um recorde vistoso. O filme não teria chances de vitória, mas certamente puxaria a audiência do Oscar para cima.
Mathew Goodie e Colin Firth em cena de Direito de amar: um filme que pode ser melhor contemplado do que muita gente imagina


Eles & elas
George Clooney (Amor sem escalas), Colin Firth (Direito de amar), Morgan Freeman (Invictus) e Jeff Bridges (Coração louco) são certezas para a categoria de melhor ator. Os leitores de Claquete creem que a quinta vaga deverá ficar com Jeremy Renner (Guerra ao terror). Contudo, os elogiados desempenhos de Viggo Mortensen (A estrada) e Tobey Maguire (Entre irmãos) podem ser lembrados. Matt Damon poderia ser uma opção aqui por O desinformante. Já que ele apresenta um desempenho notável e muito superior ao seu trabalho em Invictus, pelo qual tem sido lembrado nas premiações. No entanto, de todas as categorias de atuação, essa parece a menos suscetível a surpresas.
Já na categoria de coadjuvantes, o páreo já parece definido. Christoph Waltz (Bastardos inglórios), Christopher Plummer (The last station), Stanley Tucci (Um olhar do paraíso), Woody Harrelson (The messenger) parecem certos. Caso Matt Damon não entre aqui, a vaga pode ir para Alec Baldwin (Simplesmente complicado), Anthony Mackie (Guerra ao terror) ou Chirstopher Mckay (Orson Welles e eu).


A indicação de Mo´Nique por sua mãe perversa em Preciosa é tão certa quanto 2+2 =4


Meryl Streep segue para sua 16ª indicação? Sim. Vai ganhar? Provavelmente não. Mas isso é assunto para depois. Além de Streep (Julie & Julia ou quem sabe Simplesmente complicado?) e Sandra Bullock (Um sonho possível) que depois do triunfo no SAG parece nome certo, Gabourey Sidibe (Preciosa) e Helen Mirren (The last station) também devem receber nomeações. Emily Blunt (The Young Victoria) e Carey Mulligan (Educação) brigam pela última vaga. Se outro nome surgir, é zebra.
Entre as coadjuvantes, o caminho está mais aberto. A favorita Mo´Nique (Preciosa) é certeza. Assim como a dupla de Amor sem escalas, Anna Kendrick e Vera Farmiga. Contudo, as outras 2 vagas estão na mira de pelo menos 5 atrizes. Melaine Laurent e Diane Kruger por Bastardos inglórios, Penélope Cruz e Marion Cottilard por Nine e Julianne Moore por Direito de amar. Há ainda Samantha Morton (The messenger) e Maggie Gyllenhaal (Coração louco) que podem roubar essas vagas.

Maggie Gyllenhaal pode ser o grande elemento surpresa da lista do Oscar

ESPECIAL NINE - Pílulas italianas

Planeta Guido
Homenagem e contemplação. As palavras de ordem em Nine. Guido Contini (Daniel Day Lewis) é o centro do universo. Dele e de todas as mulheres que gravitam ao seu redor. O planeta Guido, no entanto, ameaça sair de órbita nesse drama Felliniano travestido de musical.


Explosão de sensualidade
Uma amante sensual, disponível e desequilibrada. Opa! Temos aí um clichê. Mas todo o clichê é bem vindo quando apresentado no corpo e, olha a surpresa, na voz de Penélope Cruz. A espanhola irradia sensualidade no número musical mais hipnotizante de Nine.


E por falar em explosão...
Kate Hudson, como uma jornalista americana intrigada pela figura do cineasta italiano, está um vulcão. Que entra em erupção quando canta Cinema italiano, principal música do filme. Hudson dá um show de sensualidade, de fotogenia, de afinação e de, bem, ela dá um show em todos os sentidos.


Haja Botox!
A diva Sophia Loren está robótica em cena. A atriz vive a mãe falecida de Guido que se divide entre assombração e conforto para o inquieto cineasta. Loren, além de monossilábica, tem sua face paralisada por tanto botox. Chega a constranger. Uma participação que tinha como intuito servir de homenagem a ela, e ao cinema italiano, que acaba por diminuí-los.

Onde estão os italianos?
Talvez um problema de casting de Nine seja a falta de atores italianos no elenco. Day Lewis, inglês; Nicole Kidman, australiana; Fergie, americana; Judi Dench, inglesa; Marion Cotillard, francesa; Penélope Cruz, espanhola. Para um filme sobre o cinema italiano, faltam italianos. Mas como diz a personagem de Kate Hudson, outra americana no filme, todos querem estar em um filme italiano.

Quem passou no teste?
Nicole Kidman já trazia experiência (atuou em Moulin Rouge), mas parece que enferrujou um pouquinho. A atriz juntou-se a Sophia Loren e a Judi Dench como as performers mais desinteressantes de Nine. Do lado oposto estão Fergie (tudo bem, tudo bem, ela é cantora profissional), Kate Hudson, Penélope Cruz e Marion Cottilard (um verdadeiro deleite). E Daniel Day Lewis? Olha, o cara parece não saber fazer nada errado. Não empolga, mas certamente dá um caldo!

Os 25 melhores filmes da década: 17 - Onde os fracos não tem vez

“Qual foi o máximo que você já perdeu no cara ou coroa?"


Sinopse:
Após uma negociação de drogas mal resolvida, Llewelyn Moss, um típico Cowboy americano, pega uma valise cheia de dinheiro mesmo sabendo que em breve alguém irá procurá-lo devido a isso. Logo Anton Chigurh, um assassino psicótico sem senso de humor e piedade, é enviado em seu encalço. No rastro dos dois está o xerife Ed Tom Bell.

Comentário:
Um filme revisionista por vocação e cult por natureza. Esse western solene dos irmãos Coen baseado na pessimista novela de Cormac McCarthy é um elaborado estudo sobre os limites da violência. Sobre a passagem do tempo e os conflitos geracionais que se estabelecem acerca do tolerável e do condenável. Personagens fortes que trafegam com autoridade pelo caricato e pelo sutil, narrativa poderosa, fotografia arrebatadora e um discurso bem incisivo, apesar do final aberto e anticlimático. Onde os fracos não tem vez é cinema de grande qualidade artística, mas antes disso de ressonância filosófica. Um filme contundente como poucos em sua contemporaneidade.

Prêmios:
Vencedor de 4 Oscars (filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante); 3 Bafta (direção, ator coadjuvante e fotografia); melhor filme pelas associações de críticos de Boston, Dallas, Chicago, Ohio, Denver, Las Vegas, Flórida, Londres e Nova Iorque; Prêmio do sindicato dos diretores; prêmio do sindicato dos montadores; prêmio do sindicato dos produtores; prêmio do sindicato dos roteiristas; melhor elenco e melhor ator coadjuvante pelo sindicato dos atores; vencedor dos prêmios de filme, direção, elenco e ator coadjuvante pelo círculo de críticos de Phoenix, San Diego, São Francisco e Toronto; 2 globos de ouro (ator coadjuvante e roteiro); 3 critic´s choice awards (filme, direção e ator coadjuvante); competição oficial do festival de Cannes.

Curiosidades:
- Embora o filme se passe no Texas, a maior parte da produção foi rodada em Las Vegas
- No Brasil, o penteado do vilão vivido por Javier Barden foi comparado ao do personagem Beiçola do seriado da TV globo, A grande família
- Assim como Clint Eastwood, Orson Welles e Warren Beatty, os irmãos Coen conseguiram a proeza de serem indicados a 4 Oscars por um mesmo filme. No caso de Onde os fracos não têm vez, eles foram indicados por produção, direção, roteiro e montagem.
- Javier Barden que ganhou o Oscar por seu desempenho, sagrou-se o primeiro ator espanhol a levar o prêmio
- Em 2007, ano de lançamento do filme, Josh Brolin e Tommy Lee Jones também tiveram performances elogiadas em outros filmes. O gangster, no caso do primeiro, e No vale das sombras, o segundo. Tommy Lee Jones, foi inclusive indicado ao Oscar por esse outro filme.
- Quentin Tarantino, que fazia junto com Josh Brolin o projeto Grindhouse, filmou a fita que Brolin enviou para os irmãos Coen para se candidatar ao papel.
- Onde os fracos não tem vez é um dos poucos trabalhos dos irmãos Coen que não é original.

Ficha técnica:
título original: No Country for Old Men
gênero: Drama
duração: 02 hs 02 min
ano de lançamento: 2007
estúdio:Paramount Vantage / Miramax Films / Mike Zoss Productions / Scott Rudin Productions
distribuidora: Miramax Films / Paramount Pictures
direção: Ethan Coen , Joel Coen
roteiro: Ethan Coen e Joel Coen, baseado em livro de Cormac McCarthy
produção: Ethan Coen, Joel Coen e Scott Rudin
música: Carter Burwell
fotografia: Roger Deakins
direção de arte: John P. Goldsmith
figurino: Mary Zophres
edição: Ethan Coen e Joel Coen
Elenco: Josh Brolin, Tommy Lee Jones, Javier Bardem e Woody Harrelson




Fonte: arquivo pessoal

OSCAR WATCH - O balaio dos independentes

Todo ano é a mesma coisa. Um filme independente arranja uma vaginha no Oscar. E geralmente sai com um honroso Oscar de roteiro. Contudo, desde o ano de 2005, ano que foi tomado por filmes independentes na disputa do Oscar de melhor filme (O segredo de brokeback Mountain, Crash – no limite, Capote, Boa noite e boa sorte e um filme de estúdio de baixo orçamento, Munique), os filmes independentes fortaleceram sua musculatura. No ano seguinte, Pequena miss Sunshine foi um dos filmes mais festejados da temporada e , além do prêmio de roteiro, garfou o prêmio de ator coadjuvante. Em 2007 foi a vez de Juno, que ficou com o obrigatório prêmio de roteiro. 2008, no entanto, foi o ano da virada. O independente, e com o acréscimo de não ter sido rodado nos EUA e nem mesmo com dinheiro americano, Quem quer ser um milionário? faturou oito Oscars, incluindo melhor filme, e logrou de uma vez por todas o lugar dos independentes entre os protagonistas da maior festa do cinema mundial.
Esse ano, três filmes disputam a coroa de independente do ano. E os três, ironia máxima, devem angariar indicações por roteiro. Preciosa, Guerra ao terror e 500 dias com ela tiveram trajetórias bem diferentes, mas chegam às vésperas das indicações ao Oscar com boas chances de garantirem lugar na posteridade como o fizeram os outros filmes independentes acima.


O filme do coração de todo mundo


Aquele menos afeito ao gosto da acadêmia, e que justamente por isso não alimenta grandes ambições, é 500 dias com ela. O filme de Marc Webb é uma comédia romântica agridoce. Tem a mesma verve dos filmes que popularizaram Richard Linklater no cinema cult alternativo, Antes do amanhecer e Antes do pôr do sol. É um filme com roteiro engenhoso e aí está justamente sua chance de ser lembrado pela acadêmia. 500 dias com ela também tem o diferencial de ter sido o filme mais visto dos três. O que mais cativou a platéia e o único dos três que poderia ser lembrado no futuro mesmo sem a anuência do Oscar.


O filme que te assombra


Preciosa é, por conjuntura, o filme que mereceria a pecha de independente do ano. Foi o que teve menos verba dos três. Para viabilizar o projeto, o diretor e produtor Lee Daniels precisou recorrer a amigos, a cantora Mariah Carey, que faz uma pequena participação no filme, o cantor Lenny Kravitz, outro que faz uma ponta e as personalidades negras americanas Oprah Winfrey e Tyler Perry, diretor de filmes para a comunidade negra, que atuaram como produtores executivos da fita. Preciosa começou sua carreira vencendo o festival de Sundance de 2009. O filme seguiu sua carreira vitoriosa por outros festivais e tem sido lembrado em premiações nessa temporada. Foi indicado ao Globo de ouro, ao SAG, ao PGA, ao DGA, ao WGA e ao Bafta. O oscar é questão de tempo. Preciosa mostra a história de uma adolescente obesa, negra, analfabeta e abusada sexualmente pelo pai e moralmente pela mãe. Um filme que assombra para mostrar o valor da vida. Um discurso poderoso que se ajusta ao gosto da academia.


A guerra sempre tem vez


Mas o independente do ano, por força das circunstâncias, é Guerra ao terror. O filme que não é de guerra propriamente dito, mas sobre os efeitos dela nos homens destacados para dar lhe corpo, foi descoberto pela critica tardiamente. Contudo, depois de levar os prêmios do Critic´s choice awards e do PGA, além de obter indicações a todos os prêmios que Preciosa obteve, Guerra ao terror se estabelece como o filme independente do ano. Mesmo que todos vão ao Oscar, será sobre esse filme que todo mundo pousará os olhos.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Contexto - Amor sem escalas

De passagem

O filme Amor sem escalas mostra a história de um homem confortável em sua pequenez. Sua meta na vida é conseguir atingir a marca de 10 milhões de milhas aéreas, seria o sétimo no mundo ao alcançar tal marca, e tornar-se imortal. Ao contrário do que dita a normalidade em que pessoas querem dar seguimento ao seus nomes tendo filhos, constituindo famílias e construindo um legado particular, Ryan Bingham (George Clooney) não vê, ou prefere evitar a consciência de, que a vida está passando e ele está ficando para trás. Nesse sentido a impessoalidade dos aeroportos, lugares que o próprio admite fazê-lo sentir-se em casa, é uma metáfora poderosa para o estado de espírito do personagem. Quando conhecemos Ryan, seu mundo está prestes a ser chacoalhado por uma dessas convergências cósmicas em que o universo conspira a favor. Duas mulheres aparecem em sua vida, com propósitos e perfis distintos, para fazer com que Ryan acorde de sua hibernação prolongada.
A idéia de Amor sem escalas não é redimir esse homem tão receoso de contato humano. Tão pouco, torná-lo outro completamente diferente. É acompanha-lo durante um momento definidor de sua vida e, com isso, fornecer ao público material para refletir sobre suas próprias escolhas nesse departamento. Estamos fazendo o melhor de nós? Estamos nos isolando em um casulo? As perguntas não são tão fáceis de responder quanto podem parecer. Mais difícil ainda é mudar de atitude sem se ferir. Algo que é perfeitamente emulado no filme. Outros filmes contemporâneos abordaram a mesma questão sob perspectivas variadas. Alguns com mensagens mais convencionais, como Um homem de família, dirigido por Brett Ratner e estrelado por Nicolas Cage e outros com uma linha mais obtusa, como Marcas da violência de David Cronenberg, em que um homem com um passado criminoso tenta remontar sua vida. Em comum, todos esses filmes trazem personagens que sentiram o alarme tocar. A necessidade premente de construir uma história. De ceder ao conforto do tradicional. Do familiar.



Se você gostou do tema abordado nessa seção e quiser repercuti-lo, Claquete recomenda:

As confissões de Schmidt, de Alexander Payne (About Schmidt, EUA 2002)
Um homem de família, de Brett Ratner (A family man, EUA 2000)
Marcas da violência, de David Cronenberg (A history of Violence, EUA 2005)
Melhor é impossível, de James L. Brooks (As good as it gets, EUA 1997)
Ninguém é perfeito, de Joel Shumacher (Flawless, EUA 2000)

De olho no futuro... Preview 2010

The social network
Estréia nos EUA: 15/10/2010
Estréia no Brasil: Sem previsão
Qual é o hype? David Fincher dirige um filme sobre os bastidores da criação do facebook. Curioso? Pois bem, além do elenco com Justin Timberlake, Jesse Eisenberg (em cartaz nos cinemas com Zumbilândia) e Rashida Jones, pode esperar muitas intrigas. É o que promete Fincher para um dos projetos mais aguardados e mais imprevisíveis de 2010.

Hereafter
Estréia nos EUA: Dezembro de 2010
Estréia no Brasil: Janeiro de 2011
Qual é o hype? O novo drama dirigido por Clint Eastwood restabelece a parceria com o astro Matt Damon e é escrito pelo inglês Peter Morgan de filmes como A rainha e Frost/Nixon. A história versa sobre três pessoas de diferentes idades e nacionalidades que tiveram experiências com a morte. Drama e suspense pelas mãos de Clint Eastwood com uma trupe dessas. Vai dizer que você não vai querer ver?

Shrek para sempre
Estréia nos EUA: 21/05/2010
Estréia no Brasil: 9/07/2010
Qual é o hype? O ogro mais famoso do cinema, e o responsável direto pela criação da categoria de animação no Oscar, está de volta para um quarto filme. É verdade que Shrek já não apresenta a forma de outrora, mas continua sendo um personagem com a cara do século 21. E o título dessa quarta aventura do monstrengo verde assume isso definitivamente.



Salt
Estréia nos EUA: 23/07/2010
Estréia no Brasil: 3/09/2010
Qual é o hype? Angelina Jolie fazendo uma agente durona em poses sexies e segurando armas dignas do exército israelense. Não. Não se trata da (inevitável) continuação de O procurado. Salt é um filme sobre uma espiã americana acusada de ser agente dupla. Além de ótima ação, espera-se algum conteúdo do filme, já que o diretor é Philip Noyce, o mesmo de Jogos patrióticos e Perigo real e imediato (os filmes que solidificaram o status do agente Jack Ryan nos cinemas).

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O fim de uma era

Semana passada Claquete trouxe avante um pequeno dossiê sobre Harvey Weinstein, figura polivalente dos bastidores de Hollywood, em virtude da queda de rendimento e da percepção negativa de dois dos filmes produzidos por ele. Ontem, a Miramax, estúdio criado por Harvey e seu irmão, sob controle da Disney desde os anos 90, fechou as portas. A Disney encerrou as atividades desse que foi o primeiro selo de arte de um grande estúdio e o primeiro a mostrar, de várias formas e ângulos, a viabilidade do cinema independente. Hoje a FOX tem a Fox searchlight, a Sony a Sony Classics, a Universal a Focus, a Warner tinha a Warner independent (que encerrou as atividades durante a forte crise econômica que chegou em 2008).Harvey Weinstein continua patrono do cinema independente com sua vaticinante Weinstein Company. Mas, inegavelmente, uma era se encerra junto com a Miramax. Vejamos agora como fica a situação do cinema independente. Ironia suprema esse anúncio ocorrer durante a realização do festival de Sundance. Celebração mor desse modelo de produção cinematográfica.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Cenas de cinema

O jeito George de ser
Que George Clooney é um sujeito admirado por quase toda a indústria do cinema (e por quase, fala-se de 99% dela), a gente já sabia. Mas essa admiração cresceu exponencialmente nos últimos dias. Clooney se encarregou pessoalmente de organizar o maior Teleton, com finalidade humanitária, da história. O ator conduziu negociações com emissoras de TV, com empresas de telefonia (para disponibilizar linhas telefônicas), fez o corpo a corpo pessoalmente com astros e estrelas da música, do cinema, da tv e do esporte para que integrassem o espetáculo que foi ao ar, para todo o mundo, na última sexta-feira.
A iniciativa louvável e frutífera, somente durante as duas horas de exibição do show as doações somaram mais de U$ 50 milhões, foi muito bem recebida não só pela comunidade artística, como por toda a comunidade internacional. O próprio Clooney efetivou uma doação de U$ 1 milhão no ar, assim como o fizeram Sandra Bullock e o galã Leonardo DiCaprio.
No dia seguinte, na cerimônia do SAG, os atores e atrizes eram só amor para com George Clooney. Mais do que exaltarem o orgulho de serem atores naquela festa, eles exibiam o orgulho de ter George Clooney entre eles.
Clooney entrega o SAG ao elenco de Bastardos inglórios: 'Por favor, vocês são as estrelas'

Tarantino, eu te-amo
Pode até fazer parte da campanha de viabilizar um Oscar para Tarantino. Mas ao que tudo indica, o diretor e roteirista mais molecão da história do cinema cativa mesmo seus atores. Além das efusivas demonstrações de gratidão de Christoph Waltz, o xodó da temporada de premiações, Tarantino recebeu uma declaração de amor robusta do premiado elenco de Bastardos inglórios, quando este foi declarado o vencedor da categoria no SAG. “Seja você Brad Pìtt, o maior astro da terra, ou um cara que nunca atuou. Tarantino é seu diretor. Se ele acha que você é certo para o papel, ele é seu”, disse um embasbacado Eli Roth.

Diário de sundance
O festival de Sundance está a todo vapor. Foi-se o tempo em que o festival do cinema independente, realizado na gélida Utah, só atraia filmes e estrelas de segundo escalão. Já há algum tempo, a campanha pelo Oscar começa lá (vide os vitoriosos casos de Pequena miss sunshine e Preciosa que estrearam no festival). Nesse ano, o festival idealizado por Robert Redford recebe muitos filmes pequenos estrelados por gente grande. Já desfilaram no tapete vermelho, nomes como Katie Holmes (que divulga o filme The extra man que também conta com Kevin Kline), Ryan Gosling e Michelle Willians (que dividem a cena no filme Blue Valentine) e Kristen Stewart que beija Dakota Fanning no filme The runways. Mas a polêmica da vez (em Sundance sempre têm uma) é o novo filme de Michael Winterbottom, The killer inside me. O filme estrelado por Casey Affleck, Jessica Alba e Kate Hudson, dizem, é violento demais. Mas com tantas estrelas circulando por aí, quem se importa?
Na montagem da esquerda para a direita: a senhora Cruise, Jessica alba e Ryan Gosling e Michelle Willians. Todos desfilaram em Sundance essa semana
O elenco do já badalado The runaways fazendo pose

É amanhã!
Mel Gibson chega amanhã, depois de um hiato de 8 anos, as telas de cinema de todo o mundo. O thriller policial O fim da escuridão tem sido elogiado pela critica americana (obviamente saudosa de um dos mais importantes astros do século 20), mas a curiosidade geral diz respeito a performance de Mel. No filme (já que ele andava meio canhestro quanto a atuar, preferindo dirigir) e nas bilheterias (já que Avatar não parece disposto a largar o osso).
Mel Gibson e sua namorada russa na premiere do filme na noite de ontem em Los Angeles

O samba do crioulo doido das distribuidoras
Sempre foi assim. É verdade. As distribuidoras nacionais sempre bateram cabeça para batizar alguns filmes. Na maioria das vezes saíram-se com os pavorosos Corpo fechado (Olha a macumba aí gente) do original Umbreakable ou Amor sem escalas (Nova novela das oito?) do original Up in the air. As vezes optam por não se comprometer. Como nos casos de Vanilla Sky (já se imaginou indo ao cinema ver Céu de baunilha?) ou 007 – Quantum of Solace (ou uma aventura de James Bond com o infame, um tantinho de conforto?). De qualquer maneira, nada se compara ao que aconteceu recentemente. Primeiro o filme An education (cotado para o Oscar) recebeu o título nacional de Sedução; já que a história versa sobre a sedução de uma jovem por um galanteador. Há cerca de um mês o título foi mudado para o literal Educação. Sem maiores justificativas. Outro caso espantoso foi o do novo drama estrelado por Sandra Bullock. The blind side havia recebido o título óbvio, porém enigmático para o público em geral, de O lado cego. Essa semana a Warner anunciou que o filme, que chega ao Brasil em fevereiro, se chamará Um sonho possível. A pergunta que fica é: Será possível?

Sandra Bullock em cena de Um sonho possível: Alguém pode me dizer qual é o nome do meu filme?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

OSCAR WATCH - O último astro de cinema


O título da matéria é emprestado da matéria de capa da revista Time, como pode se ver. O detalhe é que a capa da revista é de dois anos atrás, quando George Clooney levava Conduta de risco ao Oscar. Um drama jurídico sofisticado como poucos e que apresentava personagens mais tridimensionais do que se via em filmes do gênero. Ativista social, liberal engajado, lindo, charmoso, solteiro, inteligente, bem humorado, influente e bom ator. Esses, em linhas gerais, foram os predicados que valeram o título a Clooney. E hoje, ainda o fazem maior do que há dois anos atrás. A revista Time, principal semanário do mundo, não costuma estampar em sua capa grandes nomes da cultura. A política e a economia são os assuntos que predominam nas chamadas matérias de capa. Clooney, no entanto, fez por merecer a exceção. Para a revista, não é só o charme e o estilo que lembram Gary Grant, um dos maiores nomes da Hollywood da era de ouro, que fazem de Clooney um legítimo superstar. Para a revista, George emula tudo o que esperamos e mais importante, ansiamos, em uma estrela de cinema. Com as produções circulando cada vez mais em torno de efeitos especiais e franquias milionárias, a Time adverte para a o fim da ressonância das estrelas. A elogiosa matéria de capa com George Clooney lembra que as estrelas estão cada vez menores em Hollywood. Daí a importância de alguém como George.

O ator em um ensaio exclusivo para uma revista feminina: Credibilidade e modelo para os homens; sonho de consumo para as mulheres

Reinvenção
Clooney precisou se reinventar para atingir o olimpo hollywoodiano. De ator de produções B a astro mor, o caminho foi longo e árduo. Não é segredo para ninguém que o ator foi o doutor Doug Ross, o egocêntrico pediatra do hospital County General na série de grande sucesso da década de 90, E.R. Depois veio a carreira como astro de ação, com filmes como O pacificador, Batman & Robin e Irresistível paixão. Aos poucos Clooney foi se experimentando. Pela comédia peculiar (E aí meu irmão cadê você?), pelo blockbuster (Mar em fúria), até que fez o filme que ajudou a definir seu status atual. Herdou o papel de Frank Sinatra (o pai do cool) em Onze homens e um segredo. Daí em diante o ator só deslanchou. Combinando blockbusters como Doze homens e um outro segredo (continuação descolada do remake do filme estrelado por Sinatra) e O amor custa caro, com filmes menores como Syriana e Solaris. Estreou na direção de maneira promissora com Confissões de uma mente perigosa e se garantiu no oficio com Boa noite e boa sorte, outro projeto pequeno, muitíssimo bem sucedido.
O apelo de George Clooney vem da forma como ele se apresenta irresistível. Seja em um projeto meramente comercial, seja em um filme com conteúdo, como no recente Amor sem escalas, Clooney é sempre uma atração. Com o passar dos anos melhorou muito como ator, o que ajudou a redimensionar seu status na Meca do cinema. É hoje uma das figuras mais queridas da indústria. Uma demonstração de seu carisma e influência foi o Teleton que organizou no curto espaço de três dias para ajudar as vitimas do terremoto no Haiti. Foi a maior reunião de astros da música e do cinema já feita na história da humanidade. Os dividendos da empreitada ainda estão sendo calculados, mas a quantia arrecadada nas duas horas de show foi superior a U$ 59 milhões.
Foto do ensaio da Time de dois anos atrás: O James Bond da vida real

Amigos, prazer e Itália
Clooney não esconde seu entusiasmo pela vida e pelo que ela tem de bom para oferecer. Solteiro convicto e mulherengo incorrigível retirou-se na Itália, onde tem sua residência oficial. Atualmente namora a modelo italiana, Elisabetta Canalis, e vive em contato com seus amigos. Gosta de trabalhar com gente em quem confia. Por isso, as repetidas colaborações com os irmãos Coen, com o diretor Steve Sodebergh e com os atores Matt Damon e Brad Pitt.
Ator dedicado, ser humano preocupado com o próximo, e excelente administrador da própria carreira. George Clooney não aconteceu por acaso. Existe uma razão para se ter o sucesso que se tem. Mas qual?
“George Clooney é magnético”, disse certa vez a amiga Julia Roberts. A percepção que a última queridinha da América tem de Clooney é o que se costuma chamar por aí de cereja no bolo de qualquer comentário sobre o ator.


5 grandes momentos de George Clooney:
Tenente Tomas Devoe em O pacificador (1997)

No filme inaugural do estúdio de Steven Spielberg (Dreamworks), O pacificador, George Clooney era uma aposta arriscada. Estava em evidência, e com relativo sucesso, na TV americana, mas ainda não havia sido testado como leading man. Ao lado de Nicole Kidman, o ator brilhou na pele de um militar que precisa salvar o mundo. O filme foi bom para o estúdio, que se sedimentaria no futuro com filmes como Gladiador, Beleza americana e Shrek e para Clooney.


Danny Ocean em Onze homens e um segredo (2001)

Como o charmoso e insinuante Danny Ocean de Onze homens e um segredo, George Clooney provou-se um ator de carisma único, capaz de ofuscar um estrelado elenco e sair andando com o filme embaixo do braço. A química com Brad Pitt, Julia Roberts e Matt Damon acabou em amizade.


Michael Clayton em Conduta de risco (2007)

Como um advogado endividado, frustrado e algo solitário, George Clooney brilha nesse inteligente drama escrito e dirigido por Tony Gilroy. Conduta de risco foi a prova definitiva de que George Clooney era um ator de verdade. Se é que alguém ainda tinha dúvidas.


Harry Pfarrer em Queime depois de ler (2008)

A terceira colaboração de George Clooney com os irmãos Coen, foi a primeira em que Clooney não era o protagonista. Ainda assim o ator conseguiu roubar as cenas em que aparecia como um policial aposentado super paranóico. Na campanha de divulgação do filme, Joel Coen saiu-se com o dúbio elogio: "Ninguém interpreta um babaca como George".

Ryan Bingham em Amor sem escalas (2009)
O mais recente filme de George Clooney é daqueles projetos que parecem feitos sob medida para sua persona. Em Amor sem escalas ele vive um executivo isolado do mundo por vontade. Até ser confrontado com sentimentos e valores que evitava. O filme não teria metade de seu impacto sem Clooney. Essa constatação permite aferir o quão bom ele é em cena.

OSCAR WATCH -10 injustiças do Oscar na categoria de melhor filme

10 – Dança com lobos (Oscar de 1990)
Não que o trabalho de Kevin Costner seja ruim. Mas esse épico sobre as relações turbulentas do homem branco consigo mesmo, com os índios e com a natureza não tinha metade da força de seus demais concorrentes. Os bons companheiros, talvez o mais encorpado dos clássicos modernos, era o melhor filme do ano. Mas se fosse para manter a maldição a Scorsese (desfeita recentemente) que premiasse o terceiro filme da saga O poderoso chefão (inferior aos dois primeiros, mas ainda assim genial), ou o romance Ghost (um sucesso de bilheteria irresistivelmente charmoso).


9- Shakespeare apaixonado (Oscar de 1999)
Ainda hoje críticos de cinema balbuciam quando instigados a explicar como essa bobinha, mas bem realizada, fita de John Madden, prevaleceu ao poderoso e atordoante O resgate do soldado Ryan de Steven Spielberg. Um dos melhores filmes de guerra da história do cinema, e seguramente o melhor filme de 1998, ficou sem o aval que o Oscar de melhor filme lhe devia. Uma injustiça que por mais premiado que Spielberg fosse, ou que ainda seja, jamais será justificada.


8 – O senhor dos anéis: O retorno do rei (Oscar de 2003)
Ok, a trilogia baseada na obra de Tolkien é um triunfo de realização que merecia ser reconhecido. Mas a indicação dos três filmes ao Oscar de melhor filme mais o sem número de Oscars que a trilogia angariou já deveriam fechar a conta. Não só é incoerente dar o Oscar de melhor filme a uma produção que é literalmente uma continuação metrada de outros dois filmes que não foram premiados, como o é, fazê-lo quando há, competindo na mesma categoria, o filme Sobre meninos e lobos. O filme de Clint Eastwood era um triunfo em todos os aspectos possíveis e imagináveis. O filme acabou ganhando dois Oscars de atuação e Eastwood fez Menina de ouro no ano seguinte para deixar a Academia encurralada. Tiveram de premiá-lo com os Oscars de direção e filme.

7- Titanic (Oscar de 1998)
Essa é histórica. Titanic, uma história de amor com efeitos especiais de última geração, abocanhou 11 Oscars, na esteira de bilheteria recorde que construía. Ao sagrar a história de amor impossível de James Cameron como um dos melhores filmes da história, a academia deixou de premiar filmes muito mais contundentes e importantes como Melhor é impossível, Gênio indomável e Los Angeles, cidade proibida.

6 – Gente como a gente (Oscar de 1981)
O filme de Robert Redford é muito bom, é preciso ressaltar.Mas Gente como a gente, estréia na direção vitoriosa do ator e liberal Redford, não faz sombra a Touro indomável, preterido na disputa. A injustiça foi tão grande e defenestrada que hoje, enquanto o filme de Scorsese é tido como um dos melhores filmes da história, Gente como a gente não é nem mesmo lembrado em listas protocolares.


5 – Rock – um lutador (Oscar de 1977)
Esse é o outro caso de ceder a antropologia para tentar entender a razão de tamanha injustiça. Em um ano com filmes excepcionais, como Taxi Driver, de Scorsese (de novo ele), Todos os homens do presidente, de Pakula e Rede de intrigas de Sidney Lumet parece até piada premiar Rocky – um lutador. Apesar do filme estrelado por Stallone ter a poderosa simbologia do sonho americano, algo que o Oscar ajudou a tangenciar, é inegável que o filme era o mais fraco dos concorrentes. Ao invés de premiar a arte, a Academia optou por um viés político-sociológico, como faria mais algumas vezes no futuro.

4 – A ponte do rio Kwai (Oscar de 1958)
Um outro caso de filme bom, mas inferior a seus concorrentes. A ponte do Rio Kwai, perto dos excepcionais e inovadores Doze homens e uma sentença, Testemunha de acusação e Sayonara, parecia arroz de festa. E como muitos penetras por aí, saiu com o melhor da festa.

3 – Crash – no limite (Oscar de 2006)
Mais um caso de filme bom, mas inferior aos concorrentes (Gente estamos falando da categoria de melhor filme!). A vitória de Crash- no limite foi um sinal de que a academia ainda não estava pronta a se livrar de certas amarras. Reconhecer um drama sobre preconceito racial (coisa que já havia feito antes) seria melhor do que reconhecer um filme que discutia abertamente o preconceito de ordem sexual (O segredo de brokeback Mountain), reconhecer um filme que admitia que os judeus, grande maioria da academia, também foram anjos vingadores (Munique) ou um filme que falasse do passado negro da América para advertir sobre o futuro (Boa noite e boa sorte). Ficou-se com o filme bom, não o melhor.

2 – Quem quer ser um milionário? (Oscar de 2009)
Essa é uma injustiça homérica. Quem quer ser um milionário?, um filme cheio de vícios e deficiências ganhou oito Oscars e sagrou-se o melhor filme de 2008. A injustiça aqui não é tão grande por esse filme independente ter superado filme superiores como O leitor e O curioso caso de Benjamin Button; ela é gritante por ele ter sido o primeiro independente a triunfar nesses termos, sendo que filmes independentes muito melhores não o fizeram em anos anteriores. Pequena miss sunshine, Juno, Brilho eterno de uma mente sem lembranças e Encontros e desencontros são todos superiores ao filme de Danny Boyle. Não para o Oscar.

1 – Avatar? (Oscar de 2010)
Ok, essa ainda não aconteceu. Mas está no ar. Avatar, tal qual Titanic, amealha dólares aos montes nas bilheterias de todo o mundo e pode se beneficiar de um Oscar (o programa de TV) carente por audiência. Só para constar, existem filmes muito, mais muito melhores na disputa. Alguns exemplos: Amor sem escalas, Bastardos inglórios, Guerra ao Terror e a ficção científica Distrito 9. Se Avatar prevalecer com sua história xoxa e sua bilheteria transcendental ante filmes de verdade, estará configurado um desserviço da academia ao bom cinema.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ESPECIAL NINE - Elas também querem atuar

Cat Power com uma camisa de Bob Dylan e com o zíper aberto: Ela é cool, cult e graciosa. Ela mantém o status aparecendo descolada em um filme ou outro

Não é segredo nenhum que as estrelas de cinema são as maiores na órbita das celebridades. É natural, e compreensível, que celebridades de outros nichos queiram se experimentar no cinema. Isso ocorre com mais freqüência com as estrelas da música. Madonna, talvez a maior estrela da música ainda viva, já se experimentou repetidas vezes no cinema, não só como atriz, mas até mesmo como diretora. Também se experimentaram em sets de filmagens a mega star Beyonce, a popozuda Jennifer Lopez, a fulminante Jennifer Hudson e Fergie, que depois de uma breve aparição no filme catástrofe Poseidon, atua, e canta, em Nine.
Elas não são as únicas. Muitas outras tentaram e até conseguiram se estabelecer de alguma maneira como Queen Latifah e Cher; outras fazem esporádicas participações cults em filmes de diretores igualmente cults como é o caso de Norah Jones, Alicia Keys, Cat Power e Alanis Morissete.


Claquete destaca três cantoras que se saíram muito bem no cinema:

Jennifer Hudson



Jennifer e seu Oscar: Ela foi um acontecimento



E ex- integrante do American Idol foi execrada por Simon (um jurado celebridade do programa), mas deu a volta por cima na sua estréia no cinema. Por Dreamgirls, no qual ela também canta, ganhou o Oscar de coadjuvante. Nunca antes, uma cantora havia ganhado um Oscar em sua estréia nos cinemas. Hoje, Hudson divide a carreira de atriz (já fez mais três filmes depois do Oscar) com a de cantora (lançou seu segundo álbum no ano passado).


Norah Jones

Norah Jones: o cineasta Kar Wai só tinha olhos para ela...


Ela só atuou em um filme. Mas um filme escrito especialmente para ela. O diretor Wong Kar Wai escreveu Um beijo roubado com Norah Jones em mente. A estréia no cinema americano do cineasta chinês se deu, então, com um charme além de particular, ao que tudo indica, irreprodutível.

Beyonce

Beyonce em cena de Dreamgirls: Talento e carisma como cantora e como atriz


Ela é a pessoa abaixo dos 30 anos mais endinheirada do mundo, segundo os cálculos da revista Forbes. Beyonce é uma artista carismática tanto nos palcos quanto na tela. Já se aventurou em comédias (Resistindo as tentações), musicais (também esteve em Dreamgirls), suspenses (Obsessiva) e dramas (Cadilac records). Saiu-se bem sempre.



...enquanto isso: Cher volta aos cinemas e divide a cena com a estreante Cristina Aguilera em Burlesque

... e 12 anos depois

O recorde de Titanic que, certa vez, pareceu inquebrável, caiu. Avatar, segundo números do site americano boxofficemojo, ultrapassou nessa terça-feira a impressionante marca de U$ 1,835 bilhões nas bilheterias mundiais, tornando-se o filme de maior bilheteria da história do cinema. Mais de U$ 1.200 bilhões vêm das bilheterias mundiais. Nos EUA, o filme ainda não superou Titanic, mas analistas preveem que isso deva ocorrer já na semana que vem. Apesar dos ingressos mais caros, devido a grande maioria das cópias estarem disponíveis em salas IMAX ou 3D, impressiona a ferocidade do feito de Avatar. Tombou um recorde dessa magnitude, construído ao largo de seis meses em 6 semanas. Um senhor feito. Espera-se agora pelo novo trabalho de James Cameron. E que começem as apostas de quanto tempo o novo recorde se sustentará.
E para efeitos de registro, o filme que já se mantém a seis semanas no topo das bilheterias americanas, que já atraiu mais de 6 milhões e meio de brasileiros ao cinema e que acaba de dar nome a uma região montanhosa na China ainda não encerrou sua carreira comercial. Avatar ainda tem um longo e bilionário caminho até o Oscar em 7 de março e esse novo recorde deve encorpar ainda mais.

Movie Pass

E já que o nome do momento é Jeff Bridges, o ator vem papando prêmios e mais prêmios por seu papel em Coração louco. O Movie Pass desse mês destaca um filme que ajudou a fazer do ator uma figura para lá de cult nos EUA. O grande Lebowski (The big Lebowski, EUA 1998), filme dos irmãos Coen, traz Bridges como o personagem título. Um sujeito fanfarrão que vive chapado e ouvindo rock que é confundido com um milionário por bandidos tão tapados quanto ele. O grande Lebowski não é para todos os públicos e certamente não é um grande filme. Mas é um filme carismático que se assenta primordialmente sobre o talento de Bridges. O grande Lebowski é indicado também para quem gosta, ou quer conhecer, a obra dos irmãos Coen. Os irmãos melhoraram muito o seu texto desde então, mas já ali apontavam sua verve corrosiva para a América profunda e seus tipos antiquados.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Critica - Amor sem escalas

Sobre relações humanas

Amor sem escalas é um triunfo de todos os angulos que se observe. Um roteiro afiado, atores em estado de graça e um diretor firme em seu propósito ajudam a construir um clássico moderno


O novo filme do diretor Jason Reitman, dos bem sucedidos Juno e Obrigado por fumar, é um filme destinado a se tornar um clássico. Um filme que no futuro poderá ajudar a explicar como nos situamos no presente. Amor sem escalas (Up in the air, EUA 2009), adaptado do romance de mesmo nome de Walter Kirn, versa sobre um homem que trabalha em uma empresa de consultoria. Só que o ofício de Ryan Bingham (George Clooney) é pouco convencional. Ele viaja por toda a América para demitir pessoas. Essa tarefa ingrata, cai como uma luva para Ryan que não se estimula em desenvolver laços afetivos. Portanto, a primazia, esse status de anjo da morte não lhe incomoda. Contudo, duas mulheres aparecem em sua vida para radicalizar suas convicções. A primeira, Alex (Vera Farmiga), é uma executiva que vive se deslocando pelos ares tal qual Ryan. A atração é mútua. A segunda, Natalie (Anna Keendrick), é uma jovem promissora que desenvolveu um método revolucionário de demitir pessoas; pela internet. Por determinação da chefia ela tem de fazer um estágio com Ryan para aprimorar sua técnica.
O surgimento concomitante dessas duas mulheres na vida de Ryan e a proximidade do casamento da irmã, com a qual mal tem contato, são catalisadores para o que poderíamos chamar de crise de meia idade. Mas rotular a experiência de Ryan em Amor sem escalas de crise de meia idade seria diminuí-la. O que Jason Reitman faz é submeter esse personagem tão cheio de suas convicções a um choque de realidade. A tristeza de Ryan, na verdade, é de todos nós. A solidão, e a vontade de estar só, que movem o personagem desaparecem conforme ele se apaixona. Desse ponto de vista, Amor sem escalas é um romance maravilhoso e uma parábola sobre auto-descobrimento. Mas não é só. O sagaz roteiro escrito por Reitman e Sheldon Turner cobre também a volatilidade das relações sociais e corporativas. Nos tempos de crise econômica, enquanto a América rui, o negócio de Ryan prospera. Não está aí uma alegoria anticapitalista, mas um poderoso comentário sobre o quanto a vida profissional, queiramos admitir ou não, influi diretamente em nossas relações sociais. Quanto mais se abria para sentimentos que antes não via valor, menos Ryan sentia-se apto para fazer o que sempre se orgulhou de fazer tão bem.
Amor sem escalas é sintomático de tempos cínicos e contraditórios. Onde modelos e sonhos não se ajustam mais como costumavam se ajustar e que as pessoas não perseveram tanto quanto costumavam perseverar.
Reitman sabiamente evita o final do livro, não havia necessidade de ser tão drástico, mas preserva a idéia aventada. Amor sem escalas não provê respostas aos dilemas que apresenta, mas aponta caminhos. Permite a inflexão. Justamente por isso, é um filme sobre relações humanas.
Um adendo em relação ao desempenho do elenco merece ser feito. George Clooney entrega, no que talvez seja o melhor desempenho de sua carreira, uma atuação memorável. Vulnerável e cool, cansado e confiante, o ator consegue atingir sutilezas insuspeitas, potencializando a força do registro. Vera Farmiga e Anna Kendrick também estão encantadoras na pele das mulheres que ditam o tom da mudança de Ryan. Os três devem ser indicados ao Oscar, assim como o filme. Justiça para com um dos melhores filmes do ano. E uma das melhores teses sobre o homem e o meio a ganhar forma nesse princípio de século.

"A vida é melhor com companhia"

A frase, que é uma contumaz verdade, é proferida por Ryan Bingham (George Clooney) em certo momento de Amor sem escalas, péssimo título nacional para Up in the air. O novo trabalho do cineasta Jason Reitman teria uma tradução mais eficiente se se chamasse “Nas alturas” “Lá em cima” ou até mesmo o vago “Nas nuvens”. Amor sem escalas, o título, falha em antecipar o que se verá na tela. E o que se verá na tela? “George Clooney no papel de sua carreira”, disse o Chicago Sun times. Em Amor sem escalas, Clooney vive um executivo que vive de demitir pessoas. Ryan Bingham passa 322 dias do ano voando de aeroporto em aeroporto, se hospedando de hotel em hotel, e demitindo pessoas que nunca viu antes e que nunca verá novamente. Seu lema “Sua vida tem que caber em uma mala de viagem”.
Há algo de melancólico nesse personagem que valoriza a solidão. E há algo de George Clooney também. “Estou ciente de como as pessoas me percebem. Eu pensei: se for para lidar com isso, essa é provavelmente a melhor maneira de fazê-lo”, explicou o ator a Entertainment Weekly sobre as razões que o levaram a aceitar o papel. Jason Reitman também enxerga um pouco de si em Ryan. “Esse sou eu”, disse o diretor de 32 anos em entrevista recente ao UOL cinema, sobre sua solteirice e a via crúcis que é ficar viajando grande parte do ano.

Clooney e Vera Farmiga em cena: Um filme que mostra que é preciso ter química para o amor e para os negócios

Amor & negócios
Amor sem escalas mostra também, com crueza calculada, os bastidores de uma crise econômica e seus efeitos pormenorizados. O personagem de Clooney só existe por que há pessoas para serem demitidas e por que há patrões sem colhões para fazê-lo. “É um filme sobre nosso tempo”, disse o ator ao receber seu prêmio de melhor ator de 2009 pelo filme em jantar organizado pelo National Board of Review no inicio do mês. “E essa é maior razão que tenho para me orgulhar desse filme”.
Mas não são apenas os negócios que estão no horizonte. Amor sem escalas também é sobre o amor (de onde você acha que tiraram o infame título nacional?). Vera Farmiga, vista recentemente em Os infiltrados e A órfã, interpreta Alex. Que por força de definição, seria o equivalente feminino de Ryan. É justamente quando Ryan e Alex se cruzam que Ryan passa a almejar por algo mais convencional.
A personagem de Vera Farmiga, assim como a outra personagem feminina do filme, interpretada por Anna Kendrick, não existiam no livro original. “Tive de criar personagens para Ryan ter com quem interagir”, explica Jason Reitman. “No livro, ele só pensava e demitia; isso não funcionaria em termos de cinema”, continua o diretor.
As mudanças providenciais que Jason Reitman e seu co-roteirstia, Sheldon Turner promoveram, agradaram o autor do original. Walter Kirn disse a mesma Entertainment Weekly que quando viu George Clooney olhando para o painel de chegadas e partidas com aquela expressão melancólica na face, viu o personagem que imaginou. “De um jeito que chegava a assustar”, encerrou Kirn.
A cena que fez o autor Walter Kirn ter certeza de que o filme estava a altura de sua obra

Movies Great Partnerships - Clint Eastwood & Morgan Freeman



Eles não são melhores amigos. Tão pouco mestre e pupilo. Na verdade, Clint Eastwood, 79 anos, e Morgan Freeman, 72 anos, não se ajustam às convenções das grandes parcerias cinematográficas. Ambos já haviam consolidado suas carreiras antes de estabelecerem parceria. Mas foi justamente no momento dessa união que Morgan Freeman e Clint Eastwood atingiram o melhor momento de suas carreiras. Duas vezes.
Clint e Morgan são hoje bons amigos que confiam um no outro sem amarras e sem pré-condições. “Isso facilita na hora de rodar um filme”, admitiu Morgan Freeman à época do lançamento de Menina de ouro, sobre o fato de ambos os veteranos se conhecerem de outros carnavais.
“Clint Eastwood é um diretor econômico e eu gosto de pensar que sou um ator simples”, disse Morgan em recente entrevista a revista Empire, durante um ensaio fotográfico que rememorou Os imperdoáveis. A parceria de Morgan e Clint, embora possa parecer restrita a relação de ator e diretor, é mais extensa; o que configura mais um aspecto pouco convencional dessa grande parceria do cinema. Eles também dividem a cena, com extrema desenvoltura, em Os imperdoáveis e Menina de ouro, ambos vencedores dos Oscars de filme e direção. A terceira colaboração, Invictus, que chega agora aos cinemas brasileiros, é mais convencional. Clint está apenas na direção e Morgan tem o show todo para ele. Ou seria o contrário? Como se trata de uma parceria, quem ganha mesmo, somos nós.


Os homens certos para a tarefa
Em Os imperdoáveis Morgan Freeman e Clint Eastwood vivem cowboys desesperançados. São homens amargurados e perseguidos pelo passado que aceitam um novo trabalho. Achar e punir os responsáveis por retalhar uma prostituta. O filme de Clint Eastwood é um western definitivo, em sua estrutura e em seu discurso. Passa a limpo todo um gênero cinematográfico e, de quebra, tece comentários tenazes sobre o deslocamento do ideário do machão no cinema americano. Freeman e Clint vivem amigos de longa data aqui. Chama a atenção a naturalidade dos gestos e da química entre os atores.


Clint e Morgan posam para o ensaio especial de 20 anos da revista de cinema Empire: Um filme que marcou época


Essa vida que vivemos
Em Menina de ouro, Clint Eastwood, o diretor, novamente escala Morgan Freeman para ser o melhor amigo do Clint Eastwood ator. O filme que emite a cada fotograma uma tristeza emulada em nostalgia ganha força na performance dos dois atores que foram lembrados pelo Oscar(Freeman venceu como coadjuvante). A amizade e o respeito que os personagens de Clint e Morgan tem um pelo outro são um dos muitos trunfos dessa vitoriosa fita. Menina de ouro versa sobre arrependimentos, redenção, confiança, amor, abandono e muitas outras coisas. É um filme, que em certo nível, mimetiza a obra dessas duas lendas vivas.


Em Menina da ouro, filme sobre as tragédias da vida, Clint e Morgan têm seus melhores momentos como atores


Para honrar uma lenda
E por falar em lendas, nada melhor do que duas lendas vivas reunidas para honrar uma terceira. Invictus, que antes se chamaria de The human factor, tinha uma diretriz muita clara. Narrar a experiência de Nelson Mandela em unificar a África do sul. O projeto foi oferecido a Eastwood e foi questão de tempo até Freeman entrar a bordo. O próprio Mandela disse em certa oportunidade que só o ator poderia vivê-lo em um filme sobre sua vida. Freeman e Eastwood juntos pela terceira vez por Mandela. Ele não poderia pedir melhor.


Morgan Freeman, Clint Eastwood e Matt Damon, os homens que deram vida a Invictus em outro ensaio fotográfico para deleite cinéfilo


Os números da parceria:
+ 3 filmes
+ Os imperdoáveis ganhou quatro oscars (filme, direção, montagem e ator coadjuvante para Gene Hackman)
+ Menina de ouro ganhou 4 oscars (filme direção, atriz para Hillary Swank e ator coadjuvante para Morgan Freeman)
+ As duas indicações ao Oscar de melhor ator da carreira de Clint Eastwood vieram dessas duas colaborações com Freeman
+ Foram também por essas duas colaborações que Clint Eastwood ganhou seus oscars de direção
+ Foi por Menina de Ouro que Morgan Freeman recebeu seu primeiro Oscar, depois de 4 indicações
+ Morgan Freeman foi o narrador de um documentário sobre a vida de Clint Eastwood produzido pela Warner em 2005
+ Menina de ouro e Os imperdoáveis estão na lista American Film institue (AFI) dos 100 melhores filmes da história do cinema americano
Fotos: Empire , Parade e Reusters

domingo, 24 de janeiro de 2010

Os 25 melhores filmes da década: 18 - Medo da verdade

“De onde venho, você é enterrado com seus segredos”



Sinopse:
Dois detetives particulares são contratados para investigar o misterioso desaparecimento da pequena Amanda McCready. Quando começam as buscas eles descobrem que nada no caso é o que parece ser.

Comentário:
A estréia na direção do ator Ben Affleck é um trabalho dos mais vigorosos dos últimos anos. Medo da verdade teoriza sobre o antagonismo velado, e contraditório, entre as convenções de certo e errado. Sobre a responsabilidade moral e as demandas emocionais que engendram determinadas escolhas que fazemos. A história do detetive que revira toda uma cidade em busca da verdade por trás do desaparecimento de uma menina é um eloquente retrato dos tempos cínicos em que vivemos. Affleck conduz, com insuspeita maestria, um excepcional thriller policial, um elaborado drama psicológico e um estudo sobre as imperfeições humanas e suas origens. Parece muito para um filme só; e é. Daí o estrondoso mérito dessa subestimada fita americana.

Prêmios:
Indicado ao Oscar de atriz coadjuvante; indicado ao SAG de melhor atriz coadjuvante; melhor filme pelas associações de críticos de Boston e Austin; melhor atriz coadjuvante pelas associações de críticos de Boston, Los Angeles, Chicago, São Francisco, Nova Iorque, Londres e Phoenix; Melhor direção pelo National Board of Review.

Curiosidades:
- Ben Affleck estrelaria o filme, mas pensou que sua estréia na direção seria uma boa oportunidade de retomar a parceria com seu irmão, Casey Affleck
- Esse foi o primeiro roteiro escrito por Affleck depois da vitória no Oscar por Gênio indomável
- Affleck admitiu ter escolhido o projeto em virtude da história se passar em Boston (cidade natal do ator/diretor) e por ser um thriller de Dennis Lehane (autor de quem é fã)
- O filme não foi lançado nos cinemas brasileiros, sendo distribuído diretamente em DVD
- 2007, ano de lançamento de Medo da verdade, foi o melhor ano da carreira de Casey Affleck até aqui. O ator esteve em dois filmes muito elogiados pela crítica, chegou inclusive a ser indicado ao Oscar pelo outro filme que estrelou no ano, O assassinato de Jessé James pelo covarde Robert Ford
- Os atores Ed Harris e Morgan Freeman não receberam cachê por suas participações no filme. Receberam apenas o salário básico estabelecido pelo sindicato dos atores.
- O famoso, e mais importante critico de cinema dos EUA, o jornalista Roger Ebert, disse na ocasião do lançamento do filme, que o final de Medo da verdade era dos mais impactantes que vira no cinema

Ficha técnica:
título original: Gone Baby Gone
gênero: Drama
duração: 01 hs 56 min
ano de lançamento: 2007
estúdio: Miramax Films
distribuidora: Miramax Films / Buena Vista International
direção: Ben Affleck
roteiro: Aaron Stockard e Ben Affleck, baseado em livro de Dennis Lehane
produção: Ben Affleck, Sean Bailey, Alan Ladd Jr. e Danton Risster
música: Harry Gregson-Williams
fotografia: John Toll
direção de arte: Chris Cornwell
figurino: Alix Friedberg
edição: William Goldenberg
Elenco: Casey Affleck, Amy Ryan, Michelle Monaghan, Morgan Freeman e Ed Harris




Fonte: Arquivo pessoal

OSCAR WATCH - Por que Nine e Bastardos inglórios estão perdendo forças?

Muitos cinéfilos e críticos de cinema estão se surpreendendo com a derrocada de Nine, novo musical de Rob Marshall cheio de estrelas em seu elenco, nessa temporada de premiações. O filme, adaptação de uma peça inspirada em 8 e ½ de Fellini, era tido como um pretenso bicho papão nessa corrida pelo Oscar. No entanto, o filme que conquistou 5 indicações para o Globo de ouro em dezembro, chega quase sem forças ao Oscar. Outro filme que depois de engrenar uma lua de mel com a critica parece estar sendo deixado para trás é o longa de Quentin Tarantino. Bastardos inglórios foi indicado a 10 prêmios do critic´s choice awards e a outros 4 globos de ouro. Só Christoph Waltz (uma unanimidade que pouco tem a ver com a campanha do filme) conseguiu sair vitorioso dessas premiações. O filme, embora bem contemplado, ficou de fora da disputa do Bafta de melhor filme. Nine por sua vez, além de amargar derrotas freqüentes, é cada vez menos lembrado nessas premiações periféricas ao Oscar. Esses duros golpes contra a sorte de ambos os filmes têm pouco a ver com a qualidade das fitas. Elas são odes ao cinema, e aos cinéfilos, da melhor qualidade, como bem se sabe. É um ataque direto a pessoa de Harvey Weinstein, poderoso produtor americano que ao longo da carreira conseguiu muito sucesso, e muitos inimigos, em Hollywood.


Nine sofreu outro revés na noite do SAG ontem


Weinstein surgiu no inicio dos anos 90 e bancou Quentin Tarantino e o novo cinema independente americano com Cães de Aluguel e Pulp fiction – tempos de violência. A Miramax, divisão independente da Walt Disney que ele presidia junto ao irmão Bob Weinstein, foi um dos estúdios mais vitoriosos dos anos 90. Com muitos Oscars e muito dinheiro. O produtor ficou conhecido pela indústria como um produtor tenaz, agressivo e super eficiente. O seriado americano Entourage, sobre grupo de amigos que tentam a sorte em Hollywood - produzido por Mark Walhberg, não cansa de dramatizar episódios relacionados ao produtor que faz participações esporádicas na série como ele mesmo.


Bastardos inglórios não vem tendo a performance esperada nas premiações



Depois de conseguir fazer filmes como O paciente inglês (1996) e Shakespeare apaixonado (1998) triunfarem no Oscar e emplacar na categoria de melhor filme, os não tão sensacionais Regras da vida (1999) e Chocolate (2000), Weinstein e seu irmão se retiraram da Miramax por “diferenças de visão” e foram fundar a Weinstein Company. Eles continuaram apostando no cinema independente e trabalhando com suas descobertas pessoais, como o cineasta Quentin Tarantino e o diretor Rob Marshall. Mas não conseguiram repetir o sucesso da década de 90. Bob retirou-se da empresa por não aprovar certas estratégias do irmão. Harvey Weinstein é uma pessoa muito querida por muita gente (basta lembrar de Kate Winslet agradecendo a ele toda vez que subia em um palco para receber um prêmio por O leitor), mas também tem inimizades. Robert Redford, que rodou o filme Um lugar para recomeçar em co-produção com a Weinstein company, o chamou certa vez de canalha. E Redford não costuma ceder a baixarias.
Harvey Weinstein assedia sem pudor e isso, embora tenha lhe valido indicações inesperadas ao Oscar, tem lhe causado frequentes dores de cabeça. Dificuldades de logística, produtores fechando a mão e estúdios adversários fazendo campanha contra a pessoa do produtor são alguns dos percalços cotidianos de Harvey Weinstein.



Harvey Weinstein, que produziou Gangues de Nova Iorque e O aviador para Scorsese, bate um papo com o diretor na premiere de Los Angeles de O aviador

Ano passado, no entanto, a despeito de tudo isso, o produtor conseguiu emplacar O leitor nas categorias mais nobres do Oscar. (Filme, direção, roteiro adaptado, fotografia e atriz). No caso da indicação de Kate Winslet para melhor atriz o dedo de Harvey Weinstein foi ainda mais visível. A atriz que vinha sendo considerada coadjuvante em todas as premiações foi nomeada como atriz principal por seu trabalho, superando outro trabalho vistoso que a mesma apresentava no filme Foi apenas um sonho. Harvey Weinstein sempre se orgulhou de ter os números de telefone certos em Hollywood. É bom ele começar a discar.

sábado, 23 de janeiro de 2010

OSCAR WATCH - A glória bastarda



Quentin Tarantino é um sujeito polarizador. Há aqueles que o amam incondicionalmente, mesmo que ele enfie os pés pelas mãos, e aqueles que o odeiam tão raivosamente que teimam em reconhecer quando ele acerta na mosca.
Bastardos inglórios não está sendo considerado apenas por Tarantino e seus fiéis como a obra prima do cineasta. A critica internacional em peso se deslumbrou com o filme. Reconhecendo inclusive o amadurecimento de Tarantino como cineasta e contador de histórias. Muitos se apressaram a promovê-lo ao panteão dos grandes autores da história do cinema. Idiossincrasias a parte, Bastardos inglórios não havia sido bem recebido pela critica americana na ocasião de seu lançamento, em agosto do ano passado. Depois de uma critica virulenta da Vanity Fair em Cannes (onde o filme teve Premiere internacional), Harvey Weinstein (produtor o filme) determinou que Tarantino voltasse a sala de edição e remontasse o filme. O filme que hoje é apontado como certo na lista dos melhores do ano no Oscar é um tanto diferente do que se viu em Cannes. Tarantino alega ter enxugado uma ou duas cenas e cortado um pouco da narração em off (quem viu o filme sabe que ele cortou muito). De qualquer jeito, Bastardos inglórios foi muitíssimo bem acolhido pela critica européia e brasileira. O sucesso internacional fez com que a critica americana redescobrisse o filme. A segunda chance dada a produção, aliada a mudança de 5 para 10 filmes entre os finalistas na disputa pelo Oscar de melhor filme, fizeram de Bastardos inglórios um dos filmes da temporada. Mesmo sendo o único dos principais competidores a já estar disponível em DVD nos EUA.
Tarantino ficou tão animado com o que tem ouvido de seu filme que parece outro. Está engajado na campanha do filme para o Oscar (prêmio ao qual ele costumava execrar a poucos anos) e é só manifestações de carinho por onde quer que passe. Está pensando em fazer um prequel (filme que mostra os eventos que precedem um filme original) de Bastardos inglórios e parece um pai todo prosa quando vê Christoph Waltz subir nos palcos para ser laureado pelo filme. Resta saber se a glória de Bastardos inglórios segue até 7 de março.

De olho no futuro... Preview 2010

Harry Potter e as relíquias da morte, parte 1
Estréia nos EUA: 19/11/2010
Estréia no Brasil: 19/11/2010
Qual é o hype? O fim se aproxima. Em 2001 fomos apresentados ao maravilhoso e mágico mundo de Harry Potter. O último dos sete livros chega ao cinema dividido em dois. O primeiro capítulo chega em novembro desse ano para preparar o terreno para a despedida definitiva que deverá ocorrer em julho de 2011. Harry já não é mais criança. Nem nós.



Eu te amo Phillip Morris
Estréia nos EUA: 22/01/2010
Estréia no Brasil: 2/04/2010
Qual é o hype? O filme está pronto desde o inicio do ano passado. Passou nos festivais de Sundance, Cannes e Toronto. Por onde passou, a comédia existencial estrelada por Jim Carrey, Ewan MgGregor e Rodrigo Santoro tem agradado. Embora contenha a excentricidade de abordar um relacionamento gay (que se deixe claro a excentricidade que se refere concerne aos padrões da comédia romântica americana), o filme independente pode ser um sucesso. Carrey é uma figura querida e que sempre chama a atenção e para os brasileiros há a curiosidade de ver Rodrigo Santoro, como o amante latino do personagem de Carrey.




Eclipse
Estréia nos EUA: 30/06/2010
Estréia no Brasil: 30/06/2010
Qual é o hype? Quem resistirá ao apelo do terceiro capítulo da saga de Edward, o vampiro amargurado, Bella, a apaixonada histérica e Jacob, o lobo enciumado? Para adorar ou para falar mal, fato é que todo o mundo vai girar em torno de Eclipse quando o filme estrear.

Wall street 2: Money never sleeps
Estréia nos EUA: 23/04/2010
Estréia no Brasil: maio de 2010
Qual é o hype? Gordon Gekko, talvez o maior símbolo de Wall street depois de Rupert Murdoch, está de volta. Oliver Stone retoma seu grande sucesso de critica às margens de uma das maiores crises econômicas da história. Além de Michael Douglas, fazem figura no elenco os portentosos Josh Brolin, Shia Labeouf e Frank Langella. Por isso e muito mais, um filme obrigatório.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cantinho do DVD

A seção destaca hoje outro filme que constou da lista de melhores de 2009 do blog e que não teve sua critica publicada aqui em Claquete. Dúvida é um filme de muitos predicados e nenhum texto critico sobre a obra pode fazer justiça a eles. Mas pode instigar o leitor a conhecer o filme.


Um jogo de opostos

Adaptado da peça vencedora do Pulitzer e de vários Tonys, Dúvida (Doubt, EUA 2008) é sob muitas perspectivas um triunfo. O filme, escrito e dirigido por John Patrick Shanley - a partir de sua própria peça, é obviamente eloquente em vários níveis. Primeiramente, o filme impressiona não só pelo elenco reunido, mas pela forma que este se apresenta.
Meryl Streep vive a freira Alouisius, diretora conservadora e centralizadora de uma escola do Bronx nos EUA dos anos 60. A madre, mão de ferro, identifica no padre Flynn (Philip seymour Hofman) que atende a paróquia da escola, um agressor sexual. Suas suspeitas arremedadas pela suscetível irmã James (Amy Adams) não se sustentam, mas a certa altura tornam-se incontornáveis.
Shanley preserva todo o cerne de sua obra. A discussão sobre a crise enfrentada pela igreja. Sob o advento da modernidade, há aqueles que entendem necessário redimensionar o papel da igreja (na figura do padre Flynn) e aqueles que entendem que a igreja deve ser imune a tais leviandades (na figura da irmã Alouisius). O diretor promove também um acalorado debate sobre como perspectivas conflitantes sobre um assunto espinhoso pode resultar em mais intolerância, fragmentações e marcas arrasadoras no intimo dos envolvidos.
Do ponto de visto dramático, Dúvida é excelente. O esmero narrativo, a engenhosidade do roteiro, as muitas camadas reveladas pacientemente por Shanley e por um conjunto de atores em estado de assombro, os diálogos ambiguamente escritos e nebulosamente proferidos pelos atores constituem uma atmosfera aterradora. Embora não se trate de um filme de terror, Dúvida causa impacto semelhante mais pela força do registro do que pela história propriamente dita.
Indicado a 5 oscars (Roteiro adaptado, Atriz para Meryl Streep, Ator coadjuvante para Philip Seymour Hofman, atriz coadjvante para Amy Adams e Atriz coadjuvante para Viola Davis), Dúvida teve seus maiores trunfos justamente lembrados pela acadêmia. Hofman e Streep brilham de forma intensa e Amy Adams consegue capitalizar toda a indulgência de sua personagem.
Dúvida se mantém afastado de maiores julgamentos. O debate e sua inflexão são o que interessam a Shanley. O alcance de seu filme é ampliado por essa escolha acertada. De manter o espectador no dilema experimentado por todos os seus personagens. Alguma conclusão pode até imergir, mas Shanley em um momento inspiradissímo, via um sermão do padre Flynn, já previra o efeito devastador das conclusões precipitadas.