Muitos cinéfilos e críticos de cinema estão se surpreendendo com a derrocada de Nine, novo musical de Rob Marshall cheio de estrelas em seu elenco, nessa temporada de premiações. O filme, adaptação de uma peça inspirada em 8 e ½ de Fellini, era tido como um pretenso bicho papão nessa corrida pelo Oscar. No entanto, o filme que conquistou 5 indicações para o Globo de ouro em dezembro, chega quase sem forças ao Oscar. Outro filme que depois de engrenar uma lua de mel com a critica parece estar sendo deixado para trás é o longa de Quentin Tarantino. Bastardos inglórios foi indicado a 10 prêmios do critic´s choice awards e a outros 4 globos de ouro. Só Christoph Waltz (uma unanimidade que pouco tem a ver com a campanha do filme) conseguiu sair vitorioso dessas premiações. O filme, embora bem contemplado, ficou de fora da disputa do Bafta de melhor filme. Nine por sua vez, além de amargar derrotas freqüentes, é cada vez menos lembrado nessas premiações periféricas ao Oscar. Esses duros golpes contra a sorte de ambos os filmes têm pouco a ver com a qualidade das fitas. Elas são odes ao cinema, e aos cinéfilos, da melhor qualidade, como bem se sabe. É um ataque direto a pessoa de Harvey Weinstein, poderoso produtor americano que ao longo da carreira conseguiu muito sucesso, e muitos inimigos, em Hollywood.
Nine sofreu outro revés na noite do SAG ontem
Weinstein surgiu no inicio dos anos 90 e bancou Quentin Tarantino e o novo cinema independente americano com Cães de Aluguel e Pulp fiction – tempos de violência. A Miramax, divisão independente da Walt Disney que ele presidia junto ao irmão Bob Weinstein, foi um dos estúdios mais vitoriosos dos anos 90. Com muitos Oscars e muito dinheiro. O produtor ficou conhecido pela indústria como um produtor tenaz, agressivo e super eficiente. O seriado americano Entourage, sobre grupo de amigos que tentam a sorte em Hollywood - produzido por Mark Walhberg, não cansa de dramatizar episódios relacionados ao produtor que faz participações esporádicas na série como ele mesmo.
Bastardos inglórios não vem tendo a performance esperada nas premiações
Depois de conseguir fazer filmes como O paciente inglês (1996) e Shakespeare apaixonado (1998) triunfarem no Oscar e emplacar na categoria de melhor filme, os não tão sensacionais Regras da vida (1999) e Chocolate (2000), Weinstein e seu irmão se retiraram da Miramax por “diferenças de visão” e foram fundar a Weinstein Company. Eles continuaram apostando no cinema independente e trabalhando com suas descobertas pessoais, como o cineasta Quentin Tarantino e o diretor Rob Marshall. Mas não conseguiram repetir o sucesso da década de 90. Bob retirou-se da empresa por não aprovar certas estratégias do irmão. Harvey Weinstein é uma pessoa muito querida por muita gente (basta lembrar de Kate Winslet agradecendo a ele toda vez que subia em um palco para receber um prêmio por O leitor), mas também tem inimizades. Robert Redford, que rodou o filme Um lugar para recomeçar em co-produção com a Weinstein company, o chamou certa vez de canalha. E Redford não costuma ceder a baixarias.
Harvey Weinstein assedia sem pudor e isso, embora tenha lhe valido indicações inesperadas ao Oscar, tem lhe causado frequentes dores de cabeça. Dificuldades de logística, produtores fechando a mão e estúdios adversários fazendo campanha contra a pessoa do produtor são alguns dos percalços cotidianos de Harvey Weinstein.
Harvey Weinstein, que produziou Gangues de Nova Iorque e O aviador para Scorsese, bate um papo com o diretor na premiere de Los Angeles de O aviador
Ano passado, no entanto, a despeito de tudo isso, o produtor conseguiu emplacar O leitor nas categorias mais nobres do Oscar. (Filme, direção, roteiro adaptado, fotografia e atriz). No caso da indicação de Kate Winslet para melhor atriz o dedo de Harvey Weinstein foi ainda mais visível. A atriz que vinha sendo considerada coadjuvante em todas as premiações foi nomeada como atriz principal por seu trabalho, superando outro trabalho vistoso que a mesma apresentava no filme Foi apenas um sonho. Harvey Weinstein sempre se orgulhou de ter os números de telefone certos em Hollywood. É bom ele começar a discar.
Excelente compilado sobre Harvey Weinstein. Parabéns, Reinaldo!
ResponderExcluirComo disse uma vez um VP de uma empresa para mim,os canalhas chegam longe por isso são canalhas e chegam aonde estão.
Beijo
Obrigado madame. Essa é minha intenção aqui em Claquete. Cobrir o cinema de todos os angulos possíveis e imagináveis. Cinema com contextualização e reflexão. E ter o prazer de sua companhia na jornada, já faz valer a pena. Bjs
ResponderExcluirReinaldo, excelente texto cara. Nele você nos traz o caráter político das escolhas dos vencedores nesses prêmios que vemos, e que para um desavisado, parece sempre premiar os melhores. Aqui, pelo contrário, você atenta para o fato que Cinema e premiações também é poder, como tantas outras coisas da nossa vida.
ResponderExcluirÉ realmente de admirar que tais longas, o do Tarantino e do Marshall estejam tão em baixa nas premiações.Mas daqui para lá, ainda vai passar muita água debaixo da ponte. E sabemos que puxar o tapete dos outros para ganhar a estatueta mais desejada no mundo do cinema também é uma estratégia válida.
Abraço!
Obrigado pela presença e pelos elogios Santiago. Essa é uma proposta aqui do meu blog. Trazer informações, criticas e notícias de maneira contextualizada. Espero que possa sempre ter o prazer da sua companhia. É verdade, até 7 de março muita coisa vai mudar. Veja só. No inicio da semana passada, Avatar dava a impressão de que tinha entornado o caldo. Que viraria um bicho papão. Os triunfos de Bastardos inglórios no SAG e de Guerra ao terror no PGA já relativizam essa impressão. A corrida está mais aberta do que nunca. Fique por aqui que mais notícias de bastidores vem por aí. Grande abraço!
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