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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Semana Philip Seymour Hoffman em Claquete - o depoimento de um fã



Quando vi Perfume de mulher (1992), estava concentrado em Al Pacino. Ator de credenciais invejáveis e notórias e que, afinal, havia ganhado seu Oscar pelo papel. Tinha alguma noção de quem era Chris O`Donnell e fui hipnotizado pela cena do tango, reconhecidamente um dos grandes momentos sem diálogos da história do cinema.
Mas a figura detestável do antagonista de O´Donnell me chamou a atenção. Apenas alguns anos mais tarde, em uma das muitas vezes que revi Perfume de mulher, liguei o nome de Phillip Seymour Hoffman àquela figura.
Quando o fiz, já admirava muito o ator que, como tantos outros, somente descobri em Boogie Nights – prazer sem limites, um dos filmes justificadamente mais festejados de 1997. Naquele momento, Hoffman já era um ator que tinha minha atenção, mas ainda não havia conquistado minha adoração.
É um tanto como percorrer o alfabeto de A a Z discorrer sobre como Philip Seymour Hoffman fez isso, mas a homenagem deste artigo não se legitimaria se me furtasse a esse pequeno exercício de nostalgia entristecida. Suas performances intuitivas, oxigenadas e sempre significativas no entorno do filme colocavam Hoffman no meu ultra criterioso grupo de atores interessantes. O conjunto de filmes Magnólia (1999), Ninguém é perfeito (2000), um favorito discreto, O talentoso Ripley (1999), Quase famosos (2000) e A última noite (2002) me impactaram, mas ainda assim – no alvorecer do novo milênio – não colocava Philip Seymour Hoffman no panteão dos meus ídolos imortais. A Heath Ledger, para citar outra trágica perda recente do cinema, bastou o desempenho em O segredo de Brokeback Mountain em 2005 para que fosse elevado a esse distinto, gosto de pensar, panteão. Foi mais ou menos na mesma época que Hoffman me seduziu de vez. Se fosse membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood em 2006, e ainda não sou, teria votado em Ledger naquele ano (assim como teria votado em Ledger em 2009 quando novamente se enfrentaram no Oscar), mas tinha consciência do trabalho fenomenal e maior do que adjetivos podem tangenciar de Hoffman em Capote.  Ali, “smoothly” (adjetivo em inglês que une um pouco de "suavemente" e "sutilmente" do nosso português) Hoffman começou a me transformar em tiete. Em 2008, não só o considerava o maior ator americano de sua geração, como melhor ator em atividade no cinema americano. E ouvia das pessoas que “um filme com Hoffman vale a pena mesmo que ruim”. Robert De Niro perdeu esse paradigma há algum tempo. Jack Nicholson talvez tenha abdicado dele, mas Hoffman – por mais febris que fossem seus demônios – lutava por ele com a garra dos intérpretes incansáveis, desalmados no sentido de impiedosos na dominação de seu ofício.
Eu teria o indicado ao Oscar mais vezes. Merecia por Sinédoque Nova Iorque (2008), merecia por A família Savage (2007), merecia por Antes que o Diabo saiba que você está morto (2007), merecia por Tudo pelo poder (2011) e merecia, sim, por Quero ficar com Polly (2003) – seu talento para a comédia talvez comece a ser revisto, e mais apreciado, no futuro próximo. Hoffman merece um busto em toda e qualquer escola de cinema que se preze.
Até Barkhad Abdi (olho nele!) no ano passado em Capitão Phillips, quem havia roubado a cena de Tom Hanks com tanto gosto quanto Hoffman em Jogos de poder (2007)? Hoffman ainda o fez sorrindo, sem perder de vista o tom grave do personagem.
Gigante da atuação, tão camaleônico quanto sensível à verdade de cada personagem, Hoffman sabia ser o que os americanos chamam de “character actor”, assim como sabia ser a bússola de filmes que demandavam um ator maior que a vida (o que ele foi e para sempre será).
Essa versatilidade rendeu a admiração de uma comunidade cética, egocentrada e que geralmente ignora todos aqueles que não são astros.
Philip Seymour Hoffman se foi, mas como o clichê traz conforto o abraço com toda a resignação de um fã brasileiro tão imemorial como tantos outros espalhados pelo mundo ao dizer que, de alguma maneira, ele permanecerá conosco.

Por Reinaldo Matheus Glioche

2 comentários:

  1. Belo depoimento. Um dia desses, no início do ano, estava fazendo companhia à minha irmã, enquanto ela dava mais uma das mamadas para a minha sobrinha, durante a madrugada, e estávamos assistindo a "Quando um Homem Ama uma Mulher". Nesse filme, o Philip Seymour Hoffman participa, de uma forma bem pequena. Foi bem interessante reconhecê-lo ali! :)

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  2. Esses momentos são tudo né Ka? É a descoberta da cinefilia renovada...
    bjs

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