Os excluídos: em nenhuma outra categoria, seja de atuação, técnica ou mesmo melhor filme, ficaram de fora candidatos tão bem conceituados como na corrida por melhor ator
Joaquin Phoenix (Ela), Oscar Isaac (Inside Llewyn Davis –
balada de um homem comum), Robert Redford (Até o fim), Tom Hanks (Capitão
Phillips), Idris Elba (Mandela: long walk to freedom) e Forest Whitaker (O mordomo
da Casa Branca). Estes são apenas alguns dos bons atores, com ótimos e bem
conceituados desempenhos, que ficaram de fora da categoria de ator no Oscar
2014. Não é a primeira vez que a categoria suprime trabalhos de atuação
superiores inclusive a performances lembradas em outras categorias de
interpretação.
A disputa pelo Oscar de melhor ator roubou a coroa da
disputa na categoria principal, de melhor filme do ano. Já há algum tempo a
disputa concentra a mais agitada, imprevisível, emocionante e, por que não,
contestada corrida pelo Oscar.
Nomes prestigiados como Tom Hanks e Robert Redford se viram
de fora da corrida em 2014 em uma providencial mudança de paradigma no Oscar
que se verifica primeiramente, como não poderia deixar de ser, na categoria
mais acirrada da premiação. Banca e prestígio não garantem mais indicação ao
Oscar. Meryl Streep, pode-se dizer, prevaleceu sobre nomes como Emma Thompson
(Walt nos bastidores de Mary Poppins), Brie Larsom (Short term 12) e Julia
Louis-Dreyfus (À procura do amor) na envergadura de seu nome, mas isso revela a
sintomática fraqueza da categoria que apenas pontualmente se encontra forte.
Não é o caso de 2014, que tinha a corrida razoavelmente definida desde os
primórdios da temporada de premiações.
A razão da concorrência entre os atores ser tão forte deriva
de duas polarizações do cinema contemporâneo. A primeira delas é o fato de a
grande maioria dos filmes ser centrada em personagens masculinos. O segundo
aspecto, menos incisivo, mas com efeitos ainda mais alarmantes, é o fato de que
o cinema, americano em especial, produz melhores atores do que atrizes. Não à
toa, o Oscar viu-se na contingência de premiar estrelas de cinema nos últimos
20 anos. Julia Roberts, Sandra Bullock, Reese Whiterspoon, Gwyneth Paltorw e Nicole
Kidman foram oscarizadas por trabalhos discutíveis. Fora Jennifer Lawrence e
Marion Cottilard que venceram merecidamente, mas também se encaixam nesse
perfil de estrela a se exportar e consolidar. Em contrapartida, astros da
estirpe de Tom Cruise, Brad Pitt, Richard Gere, Leonardo DiCaprio, Johnny Depp
e Ryan Gosling jamais venceram o Oscar. Atrizes costumam estabelecer repetições
de indicações com mais frequência do que os atores. Cate Blanchett, Amy Adams, Kate Winslet e a já citada Meryl Streep são exemplos vívidos dessa realidade.
A necessidade de promover estrelas e a opção por não fazer o
mesmo com seus astros, revela o caráter político e consciencioso da Academia na
distribuição de seu principal prêmio.
É bastante factível, mesmo para quem acompanha o Oscar a
certa distância, que a categoria de melhor ator costuma ser aquela com mais
esnobados e cujo vitorioso ao fim da corrida mais suscita contestações. Se por
um lado essa característica enobrece a disputa na categoria, por outro a torna
invariavelmente falível por adensar termômetros nem sempre confiáveis como
campanhas de marketing e hypes passageiros. Chagas que, ao longo do tempo, vêm
tirando o brilho da disputa por melhor filme. Paradoxos dessa natureza costumam
transformar sonhos dourados em pesadelos. Ainda que o dourado não saia de
cena.
Tenho a mesmo impressão que você, a categoria de atriz premia estrelas e a categoria masculina premia atores. Algumas atrizes se tornam estrelas por serem grandes intérpretes, caso de Kate Winslet, Cate Blanchett e Meryl Streep; mas na maioria das vezes o prêmio é dado mais pelo culto à celebridade. Eu sei que você gosta de "O Lado Bom da Vida", mas acho um absurdo que um roteiro tão bobo tenha rendido um Oscar de melhor atriz. Jennifer pra mim se encaixa na categoria de estrela premiada também, apesar de achá-la super talentosa.
ResponderExcluirParece que a facilidade que eles têm de premiar as atrizes estrelas é proporcional à resistência em reconhecer um astro na categoria de melhor ator. Leonardo DiCaprio e George Clooney são os exemplos mais ilustrativos na história recente do prêmio, na minha opinião. Será que vão premiar o astro Matthew McConaughey em sua primeira indicação e deixar o astro DiCaprio com as mãos abanando em sua quarta tentativa?
Ótima análise, Reinaldo. É mesmo curioso que a Academia pareça analisar homens e mulheres de uma maneira tão diferente. Ainda que alguns astros sejam também ótimos atores. E esse ano a categoria tá bem acirrada mesmo, ainda que o vencedor já seja uma aposta quase certa.
ResponderExcluirOutra observação não exatamente no tema, achei que com a morte do líder Sul Africano, Mandela: long walk to freedom tivesse mais destaque, mas não vai chegar nem aos cinemas brasileiros, sendo lançado diretamente em Home Vídeo...
bjs
Anônimo: Não sei, mas desconfio que apenas DiCaprio reúne chances de bater McConaughey entre os atores. No entanto, se observarmos com atenção, e como destaquei há alguns dias em #oscarfacts, trata-se de um ano de atores em busca de redenção. Talvez tirando Ejiofor, todos são figuras escanteadas pela Academia, ainda que Bale já tenha um Oscar. Bale, McConaughey e DiCaprio, no entanto, apresentam histórico recente de esforço em destoar da imagem de astro. Justamente por isso, DiCaprio e McConaughey são os favoritos, na minha avaliação, ao prêmio. De qualquer maneira, farei um post a respeito disso mais para frente.
ResponderExcluirAgora, se me permite discordar, eu acho o roteiro de "O lado bom da vida" muito bom e o desempenho de Lawrence, do gestual à volatilidade de seu temperamento e emoção, certeiro. Na minha avaliação, das indicadas, ela era realmente a que apresentava o melhor trabalho.
abs
Amanda:Obrigado Amanda. Pois é, a distribuidora esperava por um desempenho melhor no Oscar... hashtag cenas brasileiras, né?
Bjs