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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Crítica - À procura do amor

As nossas sabotagens de cada dia

À procura do amor (Enough said, EUA 2013) é um filme de verdade. No sentido de que busca amparar sua narrativa, e seus personagens, na realidade, por vezes amargurada e em outras tantas, estimulante. O filme de Nicole Holofcner apresenta um dilema tão inusitado quanto possível, mas não se dedica exclusivamente a ele; expandindo o alcance do brilhante roteiro nos bons coadjuvantes e subplots aparentemente despretensiosos.
Julia Louis-Dreyfus vive com admirável e cativante sutileza Eva, uma massagista que beija os cinquenta anos e vive a expectativa de ter sua filha única longe de casa, já que ela irá para a faculdade do outro lado do país. Eva se depara com o mal estar de ficar sozinha e inesperadamente se abre a uma relação improvável com Albert (James Gandolfini em um de seus últimos papéis no cinema), um tipo mais gordo e bruto do que seu gosto admite, mas que vai vencendo-a pelo senso de humor afiado e a generosidade incontida. Acontece que uma nova cliente de Eva, papel que Catherine Keener faz brincando, desanda a falar mal do ex-marido e o que Eva vai perceber eventualmente é que esse ex-marido e seu potencial novo amor são a mesma pessoa.

Gandolfini e Dreyfus: sutileza e fragilidade a serviço de uma narrativa envolvente e verdadeira

A questão que se coloca é: deixar-se contaminar pela percepção de outra pessoa de Albert ou bloquear essa curiosidade mórbida, se é que isso é possível? Holofcner, que também assina o roteiro, reveste esse questionamento de nuanças que falam a cada espectador com uma experiência amorosa mal sucedida (praticamente toda a população mundial) e enxerga nas miudezas do cotidiano toda a força desestabilizadora que elas insurgem na vida conjugal das pessoas. O casal de amigos de Eva formado pelos atores Toni Collette e Ben Falcone cristalizam essa percepção de Holofcner nas mais esdrúxulas situações, como a incapacidade de demitir a empregada ou na constante mudança de decoração da sala de estar da casa deles.

À procura do amor sinaliza como o processo de sabotagem é contínuo em nossas vidas. Seja pela imobilidade emocional a que nos sujeitamos, pela recusa em mudar uma postura qualquer ou mesmo em querer antecipar resultados que não podem ser antecipados, como anos de convivência em uma fase de início de relação amorosa. Essa crueza tão bem adornada em uma embalagem de comédia romântica torna a procura pelo amor mais conscienciosa para sabotadores e sabotados, ainda que estes sejam a mesma pessoa.  

2 comentários:

  1. Concordo com você, o roteiro do filme é mesmo muito bom. Gostei tanto do filme que cheguei a ler o script. A Julia Louis-Dreyfus é muito boa comediante e está muito bem no papel. Aproveitando, queria dizer que os posts sobre os filmes do Oscar estão demais! Será que o roteiro de "À Procura do Amor" tem chance? Abraço

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  2. Oi José, tudo bem?
    Saudade dos seus comentários por aqui. Fico feliz que esteja gostando dos posts sobre a corrida pelo Oscar. Vem muita coisa boa por aí ainda! Acho que o roteiro tem chances sim. A categoria de roteiro original está muito menos concorrida do que a de adaptado. É a grande chance do filme, já que Dreyfus não deve ter chances, embora esteja ótima. Acho que Inside Llweyn Davis e Ela são realidades na categoria. Blue Jasmine e À procura do amor estão muito perto de indicações, mas não são certezas ainda.
    Abs

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