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sábado, 12 de outubro de 2013

Especial Gravidade - crítica

Fazendo cinema "cinematográfico"

De tira o fôlego! Obra- prima! Revolução cinematográfica! O melhor filme do ano! São todas interjeições conhecidas e válidas depois de se assistir Gravidade (Gravity, EUA 2013), o filme que o mexicano Alfonso Cuarón fez para ser visto e apreciado no cinema.
Com um espetacular plano sequência de aproximadamente 15 minutos, o diretor diz a que veio logo no início. Gravidade pretende ser um daqueles “game changers” que o cinema nem sempre cerimoniosamente recebe de tempos em tempos. O apuro técnico do filme assombra, mas o que assombra mais é como Cuarón não permite que todo esse sobejamento estético se sobreponha à narrativa que desenvolve. A estética se funde à narrativa de maneira inédita no cinema. A experiência de imersão em Gravidade é algo novo e encantador. É o mais perto que 99% de todos nós ficaremos do espaço. Mas não é só! Gravidade valoriza um estudo primoroso sobre solidão. O espaço, nesse aspecto, jamais havia sido tão bem aproveitado no cinema. A agonia de estar à deriva na imensidão sideral é outro aporte desse cinema sensorial emulado por Cuarón em imagens belíssimas, plano arrebatadores e enquadramentos inovadores.

Beleza e agonia: nenhum filme transportou o espectador para fora da sala de cinema em 2013 como Gravidade, em que Clooney e Bullock brilham atuando nos limites da tecnologia sem serem eclipsados por ela

Não há interesse em investigar os personagens Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney), os astronautas à deriva no espaço depois que destroços de um satélite atingem a Explorer, nave que os levou até lá. Mas há um genuíno interesse da realização em abordar a fé e a vontade de viver e um interesse maior ainda em confrontar esses dois elementos. Nesse sentido, o luto da personagem de Bullock combinada à agonia de estar a esmo no espaço propiciam um sentimento difuso e profundamente alarmante para a audiência, incrementado essa experiência sensorial objetivada por Cuarón com seu filme.
Outro aspecto inerente à estrutura de Gravidade é sua habilidade no trato com símbolos. Da dimensão filosófica que afere à solidão à carga dramática que impõe sobre o renascimento da personagem de Stone, tão sorumbática na Terra (nas palavras da própria personagem) e revigorada no espaço, Gravidade se articula como um filme de incrível objetividade, sem prescindir de um relativo grau de subjetividade – desejável para qualquer filme que ambiciona ser grande.
É preciso fazer um adendo aos atores. George Clooney é o ponto de equilíbrio de Gravidade. Mais do que qualquer coisa, e mais do que ser o alívio cômico do filme de Cuarón, seu personagem é a bússola do personagem de Bullock; desempenhando, portanto, valiosa função narrativa. Clooney empresta seu carisma habitual ao experiente astronauta. Já Bullock atende às demandas físicas e emocionais de uma personagem cheia de nuanças e entrega uma performance ímpar em sua carreira já consolidada. É seguro dizer que a atriz nunca esbanjou tanta confiança como interprete e tanta vulnerabilidade em um personagem.
Por todas essas razões, Gravidade não é apenas um dos grandes momentos do cinema em 2013, mas em toda a sua história. 

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