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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Crítica - Invocação do mal

O mal está nos detalhes

O malaio James Wan é aquele tipo de cineasta que vai evoluindo conforme se exercita. Causou grande comoção em 2004 com um pequeno e altamente original filme de terror em que dois homens acorrentados em um banheiro precisavam entender o jogo sádico que os propunha soluções drásticas para sair daquelas circunstâncias. Ali, Wan criara um monstro. Jogos mortais virou uma das principais e mais influentes franquias de terror da atualidade. Ele então se retirou do terror gore e foi exercita-se em filmes como Sentença de morte (2007), em que um insano Kevin Bacon adentra uma devastadora espiral de vingança e destruição, e Sobrenatural (2010), que acabou de ter sua segunda parte lançada nos cinemas americanos. Prestes a conferir novo rumo na carreira, assumindo a direção do sétimo Velozes e furiosos, Wan apresenta aquele que no contexto de sua filmografia é sua obra-prima: Invocação do mal (The conjuring, EUA 2013). O filme que foi sensação nos cinemas americanos, tem todos os predicados para repetir o feito nos cinemas brasileiros.
Se visualmente, Wan já era um diretor impressionante, aqui ele obtém graduação em termos narrativos. Ele domina como poucos no cinema mainstream contemporâneo os expedientes do cinema do gênero. Há cenas em Invocação do mal muito bem pensadas, planejadas para ensejar aquele frio na espinha da plateia. Você pode até não tomar sustos ao longo do filme, embora recursos de sonoplastia cá e lá surjam com a convicção habitual, mas cenas como a de uma singela brincadeira de esconde-esconde ou de sonambulismo, ou mesmo de pés puxados à noite elevam Invocação do mal àquele patamar narrativo em um filme de horror que não se verificava desde O sexo sentido (1999), curiosamente o último filme do gênero a surpreender em uma temporada do verão. Lá M. Night Shyamalan apresentou com sagacidade toda essa verve narrativa que Wan tão candidamente oferece aqui e depois virou refém dela. O que diferencia os dois filmes, é que enquanto em O sexto sentido a originalidade da proposta se intensifica no desfecho, em Invocação do mal há uma concessão da realização ao manual hollywoodiano para o gênero.

Agonia e desespero: filme consegue suscitar medo, ainda que espectadores mais escaldados no gênero não levem sustos

É inegável que ancorar seu filme na realidade é uma estratégia vencedora. Os investigadores do sobrenatural e demais atividades paranormais Ed e Lorraine Warren, vividos com competência por Patrick Wilson e Vera Farmiga, existiram de fato, assim com o caso – aqui condecorado com os artifícios da ficção – que move o filme. Não duvidar de seus heróis e firmar a lógica narrativa no ceticismo da plateia, que vai sendo destrinchado à medida que os fenômenos sobrenaturais vão se avolumando, se revela outro acerto da realização.
Outra grande sacada de Invocação do mal é “samplear”, importando um termo afeito ao universo da música, filmes de terror de outrora para melhor fundir a própria identidade do filme. De O iluminado ao contestado A casa amaldiçoada, além do resgate que promove da estrela daquele filme, Lili Taylor, passando pelo ventrículo de Jogos Mortais, as homenagens e influências resultam em um filme novo, vibrante e assustador na concepção clássica do termo.

4 comentários:

  1. De fato, um belo filme em todos os sentidos, há tempos não víamos uma novidade tão boa no gênero, que tá tão surrado, coitadinho.

    bjs

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  2. Nossa, eu não sou nada fã de filmes de terror simplesmente porque eles não conseguem me assustar ou são muito apelativos e esse conseguiu superar, pelo menos pra mim, esses dois defeitos. Fiquei super tensa o filme inteiro e gostei muito da escalação dos atores: Vera Farmiga e Lily Taylor são as maiores fiadoras do sucesso do filme, juntamente com o diretor. Não vi os filmes anteriores do Wan, mas acredito que os posteriores vão ganhar minha atenção, rsrsrs

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  3. Fiquei curioso. Mais uma vez um texto muito bem escrito pelo autor do Claquete. ;)

    Me fez lembrar de "A Casa Amaldiçoada" morria de rir com aquele filme (sim, nenhum um pouco terrificante. Zeta-Jones lésbica, Owen Wilson sempre chato e Neeson canastrão. Salvo pelos efeitos visuais). Lili Taylor é uma ótima atriz e a única naquele filme que valia a pena, injusto não ser tão valorizada em Hollywood e acho que já atuou em trocentas produções.

    Abs.

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  4. Amanda:Verdade. Se bem que, para mim, "Mama" tb foi um highlight. Ainda que este aqui seja superior...
    bjs

    Aline: É só se alinhar à escola Hitchcock e Polanski que ótimos exemplares de terror se erguerão... Foi mais ou menos por aí que Wan trilhou aqui...
    Bjs

    Rodrigo Mendes: rs. Valeu pelo elogio meu brother. "A casa amaldiçoada" é um blockbuster de terror em todas as suas virtudes e defeitos. Lili Taylor era o melhor daquele filme msm...
    abs

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