Uma história de violência
O retorno de William Friedkin ao cinema não poderia ser mais
impactante. O diretor de obras atemporais como Operação frança e O exorcista
realiza o filme mais inquietante e vigoroso dos últimos tempos. Killer Joe –
matador de aluguel (Killer Joe, EUA 2012) é, à primazia, sobre a perversidade
humana. Mas também sobre a ignorância, loucura, degeneração familiar e ganância.
Tudo imerso em uma lógica de humor negro e violência dosadas com invejáveis
equilíbrio e assertividade por um diretor no auge de sua forma. Friedkin
reconhece a potência do material original que serve de base ao filme. Não à
toa, os créditos iniciais enunciam se tratar do filme de William Friedkin da
peça homônima de Tracy Letts – que também a adapta para o cinema.
A abertura do filme é qualquer coisa de fora de série. Debaixo
de torrencial chuva e sob os latidos de um pitbull chamado T-Bone, Chris (Emile
Hirsch) bate à porta de um trailer e chama por sua irmã Dottie (Juno Temple). Quem
atende a porta é Sharla (Gina Gershon), sua madrasta. Ela está com seu sexo
exposto. Chris, expulso de casa por sua mãe, quer falar com seu pai. Ele tem
uma proposta. Matar a mãe e rachar o seguro de vida, cuja beneficiária seria
Dottie, no valor de U$ 50 mil. A dúvida que se estabelece, pois ninguém parece
hesitar em relação a matar um membro da família, é sobre como será feita a
divisão da fatia.
Joe (Matthew McConaughey) é um detetive que entre suas
atividades extracurriculares está ser um assassino de aluguel. É a ele que
Chris e seu pai Ansel (Thomas Haden Church) recorrem para realizar o serviço. No
entanto, como não há como pagar o serviço de Joe antes dele estar concluído,
pai e filho aceitam que Joe desvirgine Dottie como “calção” (garantia). Joe, no
entanto, subverte essa lógica e decide que ficará por perto (de Dottie e da família)
até que receba seu pagamento (U$ 25 mil).
Humor negro e violência: Killer Joe é ácido, inteligente e pessimista
Como Joe, McConaughey alcança o maior pico de sua carreira.
Ilegível em sua polidez amedrontadora, McConaughey se vale de seu sotaque
interiorano do Texas para criar um tipo único na galeria de personagens icônicos.
Joe oscila entre o surto psicótico e o cálculo com uma naturalidade que apenas
um bom ator poderia dar conta. Gina Gershon, Emile Hirsch e Juno Temple também
estão ótimos, mas é Thomas Haden Church que impressiona ao compor um tipo
totalmente desprovido de luz própria e que enseja os momentos de respiro em um
filme francamente alucinado.
Esse talvez seja o filme que Quentin Tarantino sempre quis
fazer, mas jamais conseguiu. Eloquente na análise profunda que faz de uma América
corrompida, divertido na elaboração dos conflitos, chocante em cenas sempre
surpreendentes, engraçado e aterrorizante, por vezes simultaneamente, e
rigoroso na mise-en –scène.
Friedkin faz, certamente, um dos maiores filmes da década. Killer
Joe – matador de aluguel pode lhe provocar tontura com sua violência bifurcada
entre o físico e o psicológico, mas lhe proporcionará, também, a satisfação de
estar vendo uma excepcional história desvelada na tela. Ainda que seja uma história
de violência.
Tenho lido ótimas críticas em relação a este filme, incluindo a sua. O que tem me deixado muito curiosa para conferir "Killer Joe". Espero que estreie em breve na minha cidade.
ResponderExcluirAinda preciso ver.
ResponderExcluirbjs
Nossa, quando vi também tive essa impressão de que o filme tinha uma pegada a la "Tarantino"! Não sei se diria que é o filme que ele (Tarantino) sempre sonhou e não conseguiu, mas gostei bastante.E que família é aquela???? rsrsrs
ResponderExcluirHá! Que filme brilhante, não é mesmo?
ResponderExcluirCrítica bem entusiasmada e com motivos, Reinaldo. "Killer Joe" é um louvor à desgraça, né? Uma adoração à tragédia rs.
Eu me diverti e fiquei igualmente enojado com algumas situações.
Um grande filme! Tão bom como o anterior de Friedkin, "Bug", que, assim como este, infelizmente, passou batido em várias premiações e na bilheteria. Pena.
Abs!
Kamila:É um filmaço Ka.
ResponderExcluirBjs
Amanda:I hope you enjoy it as much as I did!
ks
Aline: Digo q é o filme que Tarantino quis fazer mas nunca conseguiu, pq Friedkin tem mais domínio da mise-en-scène do que Tarantino jamais teve. A história também não apresenta um humor negro análogo e sim embutido na tragédia e horror que se testemunha. O que não necessariamente ocorre em filmes como Pulp Fiction e Cães de aluguel. Além do mais, há uma análise dos EUA que Tarantino jamais fez. Em parte por desinteresse e em parte por dar mais atenção a cenas e a engenhosidade da narrativa do que a seu subtexto. Mas, a afirmação não incide em demérito do Tarantino de maneira alguma.
bjs
Elton: Brilhante! Brilhante! Acho "Possuídos" um ótimo filme, mas "Killer Joe" está alguns níveis acima.
Abs